Especialistas Criticam “Altruismo Eficaz” Por Fazer Juízo Moral do Investimento Social Privado

5 de fevereiro de 2014

O “altruísmo eficaz” – ideia de que as ações solidárias devem privilegiar as causas de impacto – é considerado um conceito nocivo, pois intensifica a disputa por financiamento entre causas e entre beneficiários ao ter a pretensão de apontar onde seria moralmente mais aceitável investir recursos privados.

A crítica é de dois representantes da Charity Navigator, que analise entidades e orienta doadores: o presidente da organização, Ken Berger, e o consultor Robert Penna. Os dois assinam um texto no blog da Stanford Social Innovation Review. Um dos alvos é o defensor mais famoso do altruísmo eficaz, o filósofo australiano Peter Singer. Em um evento público, Singer questionou: o que seria melhor: dar um cão-guia para um cego norte-americano ou curar 2 mil cegos de um país em desenvolvimento? Berger e Penna chamam a atenção para o uso do termo “norte-americano”, que seria uma forma de apelar para o complexo de culpa do público.Eles também criticaram a proposição de um dilema por Eric Friedman, em seu livro “Reinventing Philantropy: A framework for more effective giving”: doar para um hospital dos Estados Unidos ou para um de Angola? Friedman escreve: “Eu provavelmente ficaria muito irritado com doadores que estão continuamente investindo no Hospital Saint Jude e deixando o Hospital Malanje Provincial lamentavelmente subfinanciado. Por que os pacientes do Saint Jude são mais dignos de viver?”.

Os autores argumentam que, “obviamente, vale a pena apoiar ambas as instituições se elas dão resultados que salvem vidas; mas Friedman e outros indicam que se deveria apoiar Malanje, e não Saint Jude, como a ‘melhor’ escolha, e apoiam essa afirmação com nada mais do que uma moralidade distorcida”. Chamam a postura de Friedman de caridade imperialista, “na qual a ‘minha causa’ é justa, e a sua é um desperdício de recursos preciosos”.

Berger e Penna até afirmam que o conceito de “altruísmo eficaz” não seria um problema se estivesse restrito a nichos. No entanto, escrevem eles, a organização GiveWell, criada para orientar doadores, adotou e popularizou esse tipo de critério em suas análises. “A GiveWell está fazendo mais mal do que bem tanto para a comunidade de doadores quanto para aquelas milhares de organizações que fazem um trabalho muito necessário em áreas que esse altruísmo ineficaz considera indignas.”

Os autores concluem que este tipo de abordagem vai fazer com que cada vez mais sejam os especialistas, e não os indivíduos, quem escolherão o destino dos recursos doados. Eles citam mais uma passagem de Friedman: “Ainda que não necessariamente superiores moralmente do que os que fazem o bem, os que fazem melhor são intelectualmente superiores”.

Até por isso, os autores afirmam que os doadores devem escolher tanto com a cabeça quanto com o coração qual seria a melhor forma de destinar seus recursos. Eles não são contra, portanto, um ambiente filantrópico mais informado, mas sim contra uma situação em que se diga que uma causa é melhor do que outra.

 

 

A Charity Navigator, defendem-se Berger e Penna, não diz qual é a melhor organização, mas sim confiam nas pessoas para que tomem a melhor decisão com base nos dados que são fornecidos. “Isto – e não um Big Brother disfarçado de altruísmo ineficaz – significa a doação informada com que nós acreditamos honrar o espírito altruístico”, finalizam.