Estudos Derrubam Certezas Sobre Comportamento Solidário

15 de janeiro de 2014

O que faz uma pessoa doar dinheiro a quem precisa? É melhor pensar muito antes de responder. Uma reportagem do The New York Times destacou estudos científicos que questionam alguns dos motivos mais citados como incentivo ao comportamento solidário dos norte-americanos: reconhecimento social, valores morais, bem-estar pessoal… nenhum desses fatores parece ser capaz de oferecer uma boa explicação a essa questão.

texto especula as razões que poderiam mover os doadores nos Estados Unidos – além dos incentivos tributários (a matéria pressupõe que tal estímulo funciona). De início, apresenta um estudo publicado no The Journal of Marketing que aponta que a busca por reconhecimento social move apenas um pequeno grupo de pessoas, que consideram importante expressar seus valores morais para outros.

Uma das autoras do estudo, Karen Winterich, diz em entrevista que indivíduos com valores morais mais internalizados – por causa da religião, por exemplo – não precisam da promessa de um reconhecimento futuro para doar. Em vista disso, “organizações da sociedade civil talvez queiram reconsiderar seus gastos em coisas como jantares de premiação e presentes”, ironiza a especialista.

A reportagem sublinha, porém, que a solidariedade baseada em valores morais não é necessariamente um comportamento desinteressado. O professor de economia James Andreoni, por exemplo, chegou a usar o termo “warm glow” (algo como “calor”, usado como metáfora para sensação de bem-estar), para explicar por que as pessoas doam. Segundo ele, doadores experimentariam um sentimento pessoal de prazer com o ato altruísta. Por isso, doar ao outro envolve também autointeresse.

Mas, como lembra o texto, o próprio Andreoni já disse que “agir com autointeresse não significa necessariamente agir egoisticamente”, e haveria uma tendência natural dos seres humanos a estarem conectados e serem úteis uns aos outros.

Ainda assim, outra pesquisa mostrou que tentar apelar a essa sensação de bem-estar não necessariamente é uma maneira efetiva de conseguir doações. O estudo usou uma campanha de arrecadação de dinheiro para compra de cobertores em Chicago para testar o efeito da teoria.

Em um caso, as pessoas que pediam a doação também diziam que os doadores poderiam mandar um cartão no qual se lia: “Espero que você aproveite esse cobertor”. Já outros arrecadadores só pediam a doação, sem nada extra.

Os resultados surpreenderam, pois mostraram que a opção do cartão não era efetiva. Pessoas que doariam pequenas quantidades (U$ 5) tinham menos probabilidade de fazê-lo quando se deparavam com a opção de preencher o cartão. Para uma das autoras do estudo, isso se deve ao fato de que essas pessoas eram motivadas a doar por pressões sociais, e, ao se apelar a seu altruísmo, elas acabavam não doando. Já quem estava disposto a doar quantidades maiores de dinheiro o fazia sendo ou não submetidas à opção do cartão, o que demonstraria seu altruísmo.

Se (ainda) não há resposta certa para aquela questão inicial, e se por enquanto sobram dúvidas e faltam certezas nas pesquisas científicas sobre o assunto, o melhor que as organizações da sociedade civil podem fazer – sugere a própria reportagem do New York Times – é testar várias estratégias de captação. “No fim das contas, a verdadeira natureza do altruísmo é uma questão para os filósofos”, conclui o texto.