Desafio
Imagine uma realidade em que quase metade dos brasileiros não tem controle sobre o próprio dinheiro. Uma pesquisa da SPC Brasil revela que 48% dos brasileiros não controlam seus orçamentos financeiros. Outro dado da Serasa revela que 25% da população negativada está na faixa etária entre 18 e 25 anos.
A situação levanta uma questão: como é possível desenvolver uma geração apta a tomar decisões financeiras conscientes e sustentáveis? Para além disso, uma vez implementada, como é possível avaliar e aprimorar um projeto que busque solucionar esse problema?
Diante do desafio da falta de conhecimento do brasileiro sobre o tema, especialmente entre a população mais jovem, o Instituto Sicoob propôs ensinar finanças para crianças por meio da educação básica.
Assim nasceu o Programa Financinhas nas Escolas, uma iniciativa direcionada a crianças entre 6 e 10 anos do Ensino Fundamental. O programa tem como objetivo realizar atividades teóricas e práticas que contribuam para educar financeiramente desde a infância, fornecendo conhecimentos não apenas sobre finanças, mas também sobre como isso pode ser realizado de forma interdisciplinar, visando a sustentabilidade e a participação da comunidade.
Depois de uma aplicação inicial do Programa em 2021, o Instituto Sicoob se juntou ao IDIS para elaborar um Plano de Avaliação de médio prazo, com o objetivo inicial de avaliar os resultados da iniciativa piloto na vida dos beneficiários e identificar pontos de melhoria.
Solução
Inicialmente, o IDIS apoiou o Instituto Sicoob na realização de uma avaliação de processo. Diferente de outros métodos de avaliação como o SROI, o modelo concentra sua análise na qualidade da implementação do piloto do projeto, permitindo a identificação dos pontos fortes e oportunidades de melhoria logo no início da iniciativa.
Essa avaliação diz respeito à primeira fase de um plano mais amplo de Monitoramento e Avaliação. O plano abrange um primeiro ano de validação e aperfeiçoamento do programa (etapa concluída), seguido por um ano de consolidação e outro dedicado à expansão e aprimoramento. Durante a fase 1, o foco estava em coletar contribuições que pudessem colaborar para que o Programa Financinhas se aperfeiçoasse em suas próximas etapas.
Para isso, o primeiro passo foi a realização de entrevistas junto aos atores-chave envolvidos na gestão e execução do Programa. Isso possibilitou compreender o histórico, os objetivos, os pontos fortes, os riscos, as fragilidades e as lições aprendidas para a continuidade do programa a partir do projeto piloto.
Em seguida, um Workshop foi realizado para apresentar a Teoria da Mudança gerada. O termo se refere a um instrumento de gestão que indica de que forma as atividades previstas em dado programa buscam alcançar produtos e resultados (consequências a pequeno e médio prazo). O conceito também aponta o objetivo estratégico, de longo prazo, visado pela organização. Assim, a Teoria da Mudança delimitou que o objetivo a longo prazo visado pelo programa seria “formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, bem como das consequências resultantes de suas decisões financeiras, por meio de uma educação integrada com os valores do cooperativismo”.
Posteriormente, foram realizados grupos focais, uma ferramenta de coleta de informações e compreensão do fenômeno estudado por meio de conversas realizadas em grupo, na presença de um pesquisador moderador. Os grupos focais foram realizados junto a professores e outros profissionais da educação (coordenadores, diretores, entre outros) também envolvidos com o Programa Financinhas.
Por fim, foi realizada uma pesquisa quantitativa com um universo maior de professores envolvidos com o programa. Essa etapa de pesquisa tinha como objetivo confirmar as impressões identificadas na etapa de grupos focais.
Resultados
A primeira fase do plano de Monitoramento e Avaliação do Financinhas gerou diversas conclusões e recomendações para a continuidade do projeto. Os resultados da iniciativa piloto foram positivos, trazendo impactos significativos para alunos, famílias e professores.
Os alunos mostraram grande interesse na continuação do programa, relatando que já colheram frutos do aumento do conhecimento financeiro. Eles passaram a se envolver mais no planejamento familiar, adotando hábitos de consumo consciente.
Os professores também se beneficiaram, adquirindo conhecimento que influenciaram positivamente não apenas suas vidas financeiras pessoais, mas também sua habilidade de ensinar esses conceitos aos alunos.
O IDIS também deixou recomendações para a continuidade do Programa. Foi sugerida uma maior conexão com a rede pública de ensino, ampliando o alcance do programa, além da proposta de realização de um levantamento de informações detalhadas sobre os alunos impactados, permitindo uma compreensão mais abrangente do programa.
Outra sugestão foi a promoção de encontros online que serviriam como espaços para os professores compartilharem práticas e experiências, enriquecendo a colaboração entre os envolvidos no projeto.
Programa Cooperativa Mirim
Anteriormente, o IDIS já havia apoiado o Instituto Sicoob com a realização de avaliação de impacto do Programa Iniciativa Mirim. Após feito o estudo através da metodologia do SROI (Retorno sobre Investimento Social), descobriu-se que a cada R$1 real investido na iniciativa nos estados do Paraná e Pará – locais onde foram realizados os estudos – é criado R$ 1,68 em valor social, demonstrando, assim, a grande contribuição do Programa na vida dos cooperados mirins e professores orientadores nos estados do Paraná e Pará.
“A formação de avaliação de impacto, oferecida pelo IDIS, foi importante para o aprimoramento de competências dos profissionais que atuam diretamente no planejamento e execução dos programas do Instituto Sicoob. O curso contribuiu para ampliar o conhecimento dos participantes que, certamente, saíram motivados a aplicarem os aprendizados na sua rotina de trabalho”, comenta Gleice Morais, Supervisora de Cidadania e Sustentabilidade.
ODS
Sobre a organização
Fundado em 2004, o Instituto Sicoob é uma instituição privada de utilidade pública e sem fins lucrativos cujo objetivo é difundir a cultura cooperativista e contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável das comunidades. Como agência de investimento social estratégico do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil — Sicoob, atua no território nacional por meio de ações conjuntas e integradas com as cooperativas e na formação de voluntários para promover o desenvolvimento local.
Conteúdos relacionados
#Conhecimento: Avaliação de Impacto e SROI
Nota técnica: A diferença de ‘impacto’ no desenho e na avaliação dos projetos sociais