Mentalidades em evolução: destaques do Global Philanthropy Forum 2023

30 de outubro de 2023

Aconteceu, em outubro, o Global Philanthropy Forum 2023 em São Francisco. O evento atraiu cerca de 250 participantes e 86 palestrantes ao longo de dois dias e meio de intensa programação. A delegação brasileira, organizada e liderada pelo IDIS, reuniu 13 membros de diferentes organizações do país.

Os debates do evento abordaram temas como a dinâmica de poder entre doadores e beneficiários, a decolonização da filantropia, doações irrestritas, além de causas relacionadas à diversidade, ajuda humanitária e a correlação entre vulnerabilidades socioeconômicas e os impactos das mudanças climáticas.

A sessão de boas-vindas teve a participação de Philip Yun, presidente e CEO do World Affairs/Global Philanthropy Forum, e Gloria Duffy, presidente e CEO do Commonwealth Club of California, que anunciaram a fusão dessas duas organizações. O IDIS foi mencionado durante o discurso, destacando a parceria duradoura e relevante para a filantropia internacional, sendo o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais um dos maiores representantes do evento fora dos Estados Unidos.

No painel ‘Grandes dólares, grande impacto: o que torna as grandes apostas eficazes?’, fundadores e CEOs discutiram o que foi importante para que suas organizações alcançassem a escala e o impacto esperados pela crescente filantropia de recursos substanciais e de uso irrestrito. A conversa enfatizou a necessidade de estruturar as organizações para receber e gerir esses recursos, abordando uma temática que apareceu de maneira contundente durante o evento: a governança.

O painel “Adotando a responsabilidade (accountability) para amplificar as vozes da comunidade” abordou a responsabilidade dos filantropos. Foi destacado que se os executivos das organizações estão mais preocupados com o que o conselho pensa do que com o que os beneficiários pensam de suas decisões, não há responsabilidade (accountability).

Foi levantada também a questão do papel e do perfil pouco diverso dos membros dos conselhos das organizações doadoras. Isso é visto como um dos obstáculos para a construção de relações de confiança com organizações receptoras de recursos e comunidades beneficiadas. “Por séculos valorizamos nossos conselheiros voluntários, sem questionar se estão realmente servindo às nossas organizações e propósitos. Amamos nossos voluntários, mas talvez precisemos reavaliar esse modelo”, afirmou um dos participantes.

Na sessão ‘Capacidade em vez de dinheiro: usando as práticas empresariais para repensar a resposta a emergências’, foi mencionado que 60% das doações in-kind (bens, serviços e transações que não envolvem dinheiro) nas duas primeiras semanas após o choque são inadequadas e não atendem às necessidades das comunidades afetadas. Além disso, 70% dos recursos doados para desastres se perdem na cadeia de entrega, com apenas 30% chegando às mãos dos beneficiários finais. A sessão que abordou esses números foi esclarecedora, enfatizando a importância das organizações possuírem parceiros locais competentes e articulados.

O tema dos recursos livres foi explorado em diversas sessões, juntamente com a questão do desafio da prestação de contas dos recursos irrestritos recebidos, alinhados com a filantropia baseada na confiança. O uso da tecnologia para geração de dados, monitoramento e escalabilidade de projetos também foi um tema recorrente, com uma sessão dedicada inteiramente a explorar o papel da filantropia no apoio ao desenvolvimento de ferramentas responsáveis, seguras e éticas de Inteligência Artificial Generativa.

Outra sessão abordou a importância do envolvimento do governo na efetividade e escalabilidade de projetos. Durante a discussão sobre parcerias com governos, foram destacados desafios, como a diferença de velocidade em comparação às organizações filantrópicas e o risco reputacional associado a essas colaborações.

“Participar do Global Philanthropy Forum 2023 foi uma experiência enriquecedora, que nos permitiu conectar com pessoas de experiências incrivelmente diversas. Acreditamos firmemente que as conversas e conexões estabelecidas no evento têm o potencial de gerar parcerias transformadoras para o futuro”, comentaram Andrea Hanai e Guilherme Sylos, ambos do IDIS.

 

Brasil no GPF

Liderada por Andrea Hanai, gerente de projetos do IDIS, e Guilherme Sylos, diretor de prospecção e parcerias, a delegação do GPF teve a participação de Carla Duprat (ICE), Caroline Almeida e Giovanni Harvey (Fundo Baobá), Cristiane Sultani (Instituto Beja), Fernanda Quintas e Livia Magro (Liga Solidária), Marco Camargo (Vetor Brasil), Maria Amália Souza (Fundo Casa), Marisa Ohashi (Instituto Alana), Maure Pessanha (Artemisia) e Raphael Mayer (Simbi).

Como parceiros do evento, o IDIS anualmente organiza a viagem, fortalecendo o relacionamento entre os participantes e com a comunidade filantrópica global. Tem interesse em participar? Entre em contato conosco. O próximo GPF ainda não tem data definida, que será divulgada à nossa comunidade assim que for anunciada.