Por Vitória Vivian, analista do administrativo-financeiro do IDIS
O mundo está mudando muito rápido, mas os problemas e os ‘nós’ são os mesmos há muitos séculos. Afinal, como podemos finalmente avançar com esses desafios, de maneira coletiva? Esse foi o questionamento central para a construção da sessão ‘Tecendo respostas coletivas para desafios sistêmicos’, realizada durante o 13º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.
A mesa contou com a participação de Carla Reis (Chefe do Depto do Complexo Industrial e de Serviços da Saúde da Área de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES); Luiz Edson Feltrim (Superintendente do Instituto Sicoob); e Sylvia Siqueira Campos (Oficial de Programas para Governança na América Latina e Caribe na Open Society Foundation; sob moderação de Carola Matarazzo (Diretora Executiva do Movimento Bem Maior).
Veja a sessão completa em:
Uma roda de conversa com organizações muito distintas: uma empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, uma cooperativa de crédito e uma fundação privada compartilhando suas experiências, novos arranjos e intencionalidades para melhorar a vida das pessoas. Ainda assim, todas muito semelhantes em suas finalidades.
Cada um desses atores possuem um papel relevante na filantropia brasileira e ocupam espaços complementares de atuação. O BNDES contribui para a mobilização de recursos destinados ao terceiro setor e projetos de impacto, como o Programa Juntos pela Saúde, gerido pelo IDIS. A iniciativa apoia e fortalece o Sistema Único de Saúde (SUS) nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, com financiamento do BNDES e de doadores privados, a partir da metodologia de matchfunding. A abordagem multiplica o financiamento, os impactos e resultados dos projetos, com base nas necessidades locais de saúde, apoiando ações estruturantes que garantem a perenidade dos territórios e oferecem um atendimento de qualidade à população. Segundo Carla Reis, as instituições filantrópicas respondem por cerca de 60% de todo o atendimento da média e alta complexidade no SUS, reforçando o impacto que programas desta magnitude refletem na oferta de saúde de qualidade para todos.
Em consonância, o cooperativismo é sinônimo de construção coletiva, realizada por muitas mãos. No Instituto Sicoob, isso se concretiza a partir de três eixos de atuação: cooperativismo e empreendedorismo, desenvolvimento sustentável e cidadania financeira. As iniciativas promovem o desenvolvimento das comunidades e de lideranças locais, ao mesmo tempo que fortalece boas práticas de atuação, como o Monitoramento e Avaliação, conforme reforçou Luiz Edson Feltrim. “A avaliação qualitativa amplia a possibilidade de investimento nos programas, o que possibilita maior robustez e escalabilidade do programa e da metodologia para que seja aplicado em todo o país”.
Da mesma forma, fundações privadas e organizações da sociedade civil potencializam pessoas, políticas públicas e organizações por onde atuam, como a Open Society Foundations, que defende princípios democráticos, direitos humanos e justiça em mais de 100 países.
Estabelecer laços de confiança, cooperação e trocas entre esses atores, torna-se fundamental na descolonização da filantropia e para desatar os ‘nós’ que permeiam nosso cotidiano. Como destacou Sylvia Siqueira Campos:
“É preciso ter a sensibilidade de se colocar junto ao outro e saber que o sujeito coletivo, precisa ser maior do que o individual, e que a confiança se costura a partir do respeito, da autonomia das pessoas, dos territórios e da nossa capacidade de ser responsável pelo que faz, independentemente de onde a gente faça”.
Sendo a aliança desses atores uma resposta para nossos desafios sistêmicos, como ressaltou Carola Matarazzo.
“Filantropia é um ato político, por que todas as vezes que a gente coloca recurso público privado, pessoal ou de uma organização a serviço de poder ajudar a encontrar novos caminhos, para soluções de problemas antigos e enraizados ou problemas novos gerados por esse, às vezes são recursos que a gente corre risco, são recursos que são testados e que podem inspirar políticas políticas públicas, e por isso que o recurso filantrópico é tão importante, porque é um recurso que pode usar desse risco que recurso público não pode, que às vezes de crédito não pode, então o recurso filantrópico vem, quem sabe, para costurar esses novos arranjos”.
Fotos: André Porto e Caio Graça/IDIS.