Publicado originalmente no Nexo em 11 de outubro de 2025. Acesse clicando aqui
Por Paula Fabiani, CEO do IDIS, e Carla Reis, Chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES
Os 35 anos do Sistema Único de Saúde mostram sua força e seu caráter essencial, sobretudo para territórios do país com desafios agudos
No ano de 1990, o Brasil deu um passo histórico ao criar o SUS (Sistema Único de Saúde). Três décadas e meia depois, celebramos sua longevidade e força. O cuidado chega a todos os cantos do país e se faz ainda mais essencial no Norte e Nordeste, onde vivem cerca de 72 milhões de pessoas — nove em cada dez dependentes exclusivamente do SUS, segundo o IBGE (2020).
Nesse território, os desafios são agudos. A densidade médica, inferior à média nacional, revela a urgência: enquanto o Brasil conta com 3,08 médicos por mil habitantes, segundo o estudo Demografia médica Brasil 2025, o índice cai para 1,7 no Norte e 2,21 no Nordeste. Os indicadores de saúde também refletem essa desigualdade: a expectativa de vida é menor do que a média nacional — cerca de 75,7 anos no Norte e 75,9 no Nordeste, contra 76,4 anos no Brasil — e a mortalidade infantil permanece mais alta, com 15,9 óbitos por mil nascidos vivos no Norte e 13,8 no Nordeste, frente a 12,6 na média nacional, de acordo com dados do DATASUS. É nesse cenário de vulnerabilidade que o SUS se torna ainda mais essencial, pois fortalecer a atenção primária faz toda a diferença na vida de milhões de brasileiros.
O SUS é um marco de cidadania, um sistema público, gratuito e universal, reconhecido internacionalmente por sua estratégia de atenção primária, por resultados expressivos na redução da mortalidade materna e infantil, além do controle de doenças crônicas. O sistema garante o direito à saúde de forma igualitária, sem discriminação de classe, gênero, raça ou condição econômica, e reafirma diariamente seu papel como uma política pública de sucesso.
Inovar é necessário para um sistema como o SUS. É pensando justamente nessa inovação que o programa Juntos pela Saúde, iniciativa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) gerida pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), foi criado. Uma parceria entre poder público e investidores sociais privados, ou seja, empresas e fundações, investiu em iniciativas inovadoras executadas por organizações do terceiro setor. Até 2024, beneficiou indiretamente cerca de 4 milhões de pessoas no Norte e Nordeste, capacitou mais de 10 mil profissionais de saúde, mobilizou 1.345 unidades de saúde ou Caps (Centro de Atenção Psicossocial), entregou mais de 4.300 equipamentos tecnológicos e impactou 139 municípios. Até 2026, serão mais de R$ 100 milhões direcionados a projetos em mais de dois mil municípios das duas regiões.
Ao conectar recursos, conhecimento e tecnologia, iniciativas como o Juntos pela Saúde fortalecem a rede de saúde pública local, aceleram a resolutividade da atenção primária e contribuem para reduzir desigualdades históricas.
Os 35 anos do SUS são motivo de celebração e, também, de responsabilidade. Para sustentar e ampliar esses resultados, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, é indispensável consolidar políticas que fortaleçam a base do sistema. E neste processo precisamos contar com o apoio de vários atores nessa jornada.
O caminho passa pela colaboração entre governo, sociedade civil e setor privado. Quando unimos forças, o impacto é ampliado, mais vidas são preservadas, trajetórias mudam e o direito à saúde se torna mais concreto. Que o SUS continue a nos inspirar a investir, inovar e acolher, com coragem e responsabilidade, a saúde como um bem comum, inalienável e de todos.

