Diálogos MCD: aprendizados sobre a Doação Livre de Mackenzie Scott e novos caminhos para a filantropia brasileira

2 de setembro de 2025

Artigo originalmente publicado no Movimento por uma Cultura de Doação, em 18/08/2025

Por Movimento por uma Cultura de Doação – MCD, a partir de encontro realizado em 15 de agosto de 2025, com Cynthia Betti (Plan International Brasil) e Guilherme Sylos (IDIS).


Retomamos o “Diálogos MCD” na sexta-feira, 15 de agosto, e foi inspirador!

Com Cynthia Betti (Plan International Brasil) e Guilherme Sylos (IDIS) como anfitriões, conversamos sobre as experiências de receber uma doação de MacKenzie Scott e refletimos sobre o que esse modelo pode ensinar à filantropia no Brasil.

Começamos com um momento de conexão em pequenos grupos, que abriu espaço para um debate rico sobre processos de doação baseados em confiança, usos estratégicos dos recursos e como ampliar esse modelo no Brasil.

Partimos da experiência das 2 organizações, que foi expandida para a aprendizagem coletiva do grupo que foi criado com 17 organizações que receberam doação da filantropa americana desde 2021 no Brasil. 

O processo: confiança no centro

Diferente do que estamos acostumados a experienciar – editais complexos  e exigências excessivas –  o processo de seleção foi uma “pesquisa silenciosa”: consultoras analisaram relatórios públicos, conversaram com as equipes e avaliaram governança, sustentabilidade e gestão, sem anunciar valores ou doador. 

A doação praticada pela MacKenzie Scott é o que chamamos de “One Time Gift”, e chega sem amarras. Isso não significa que não vem carregada de responsabilidade para “fazer jus ao privilégio” de ter sido uma organização selecionada, muito pelo contrário.

Como o dinheiro ganhou vida

Cada organização encontrou seu caminho, e os seguintes pontos foram identificados:

  • Fortalecimento institucional: capacitação, comunicação, inovação, captação de recursos,  novas contratações em posições chave, no caso da Plan.
  • Captação estratégica: matching e fundos patrimoniais para sustentabilidade de longo prazo, no caso do IDIS.
  • Programas e inovação: expansão e testes de novas iniciativas.
  • Fundos específicos: para mulheres, empreendedores, coletivos.
  • Participação: editais onde as próprias organizações participantes votam nos contemplados.

💡 Exemplo Plan International Brasil: criou um fundo de contingência, lançou uma chamada para meninas, coletivos e organizações pequenas. Em setembro, lançará, em parceria com o IACP, o projeto Bacuri que vai apoiar organizações de base comunitária no Maranhão e Piauí com formação, mentoria e recursos financeiros. 

💡 Exemplo IDIS: reforçou seu fundo patrimonial com matching, atraindo doadores brasileiros e garantindo a perenidade do investimento.

Divulgar ou não divulgar a doação recebida?

Algumas organizações preferiram não tornar pública a doação, por receio de perder apoiadores ou pelo contexto político. A experiência também mostrou que a transparência pode atuar como chancela e até atrair novos financiadores.

Aprendizados e provocações

  • Validação e credibilidade: passar pelo crivo de MacKenzie Scott foi percebido como reconhecimento de atuação

  • Impacto no ecossistema: o recurso não é só para crescer individualmente, mas para fortalecer redes e territórios.

A provocação que ficou: por que a filantropia brasileira não adota um modelo similar a este?

Estudos já mostram os benefícios das doações flexíveis, mas ainda há pouca discussão a respeito.

Os aprendizados do grupo das 17 organizações foram transformados em um relatório que foi compartilhado em diversas instâncias.

“O grande desafio é fazer esta informação chegar nas pessoas tomadoras de decisão, filantropas e filantropos, de forma a buscarmos uma reflexão do que precisamos fazer para mudar a forma que estamos conduzindo a filantropia aqui no Brasil. Um diálogo urgente e necessário.”

Próximos passos e desafios

  1. Amplificar a voz: usar aprendizados e dados para inspirar mais doadores.

  2. Inspirar pelo processo: mostrar que o valor não está só no dinheiro, mas na confiança e liberdade.

  3. Trabalho de desenvolvimento institucional: fortalecer organizações para que estejam prontas quando oportunidades assim surgirem.

  4. Sair da bolha: dialogar com filantropos e investidores que ainda não conhecem ou praticam esse modelo.

  5. Expandir o debate: traduzir e compartilhar relatórios, realizar eventos direcionados e criar casos inspiradores.