O investimento social em prol do esporte de alto desempenho

23 de janeiro de 2015

A relação mais clara entre empresas e esporte aparece em bonés, camisetas, chuteiras, casacos e até cuecas: o patrocínio. Esse aporte de recursos é fundamental para cobrir custos em áreas tão distintas como futebol, vôlei, ginástica rítmica e luta greco-romana. Mas há outras parcerias, menos visíveis, em que o investimento privado é igualmente importante.

Quando, por exemplo, a judoca Rafaela Silva chegou ao ponto mais alto do pódio no Mundial de Judô, em 2013, não só inscreveu seu nome na história de uma das modalidades mais vitoriosas do Brasil. Ela representou uma vitória do Instituto Reação, projeto de investimento social privado que mirou no esporte como fator de inclusão de crianças pobres e acertou o alvo da formação de atletas de elite.

“A organização foi criada voltando-se para o lado mais social mesmo”, diz a coordenadora executiva da entidade, Joana Miraglia. Olhando a história da entidade, não é difícil entender como também conseguiu formar atletas de alto rendimento. Por trás da iniciativa está o judoca Flávio Canto, campeão pan-americano e medalha de bronze nas Olimpíadas de 2004.

“Canto já fazia algumas coisas pontuais, como entregar comidas e roupas para populações carentes, mas ele percebeu que isso não mudava muita coisa”, conta Joana. Ao mesmo tempo, Geraldo Bernardes, que foi técnico da seleção brasileira de judô durante 20 anos, estava iniciando um trabalho na Cidade de Deus, na periferia do Rio de Janeiro. Canto se juntou, então, ao Bernardes e a outras pessoas e criou o instituto.

Aliar a modalidade de seus fundadores à educação foi algo natural. “O judô é um instrumento educacional privilegiado, por causa de seus rituais, da necessidade de respeito ao mestre e da disciplina”, diz Joana. O esporte de alto rendimento acabou se tornando uma das vertentes do instituto na medida em que as crianças, que entram no projeto a partir dos 4 anos, começaram a envelhecer.

Atualmente, a organização conta com cinco polos de treinamento em comunidades vulneráveis cariocas, e atende cerca de mil pessoas, entre as quais cerca de 200 fazem parte do programa de alto rendimento.

Se, no começo, os recursos vinham principalmente de amigos de Canto, hoje há patrocínios mais sólidos, como o da Petrobrás, Multiplus e do fundo de investimentos Gap. Além disso, a Universidade Estácio de Sá oferece bolsa de estudo integral aos participantes. O Instituto Reação também conta com doações de pessoas físicas.

O financiamento é uma questão de extrema importância para a organização, cujo orçamento está em torno de R$ 3 milhões por ano. “O esporte de rendimento é muito caro, e, às vezes, custa mais sustentar os 200 atletas de elite do que os outros 800”, constata Joana, que ainda levanta outra preocupação: “O Brasil está muito visível por causa da Copa e das Olimpíadas, mas como será depois de 2016?”

Tênis

O Instituto Tênis é outro exemplo de como o investimento social privado pode fomentar atividades de alto rendimento. Nesse caso, no entanto, os objetivos esportivos são os principais, e não uma consequência de outro trabalho. A meta é ter um brasileiro no topo do tênis mundial até 2022.

A organização foi criada em 2002 em Santa Catarina pelos empresários Jorge Paulo Lemann e Nelson Aerts, na esteira do sucesso do tenista catarinense Gustavo Kuerten – hoje conselheiro do instituto –, e sempre teve a finalidade de formar atletas de elite. No início, trabalhava com tenistas entre 17 e 18 anos, mas, como explica o diretor executivo da organização, Cristiano Borrelli, “vimos que era difícil trabalhar com uma idade já avançada, e decidimos buscar pessoas mais jovens para trabalhar mais na formação”.

O instituto passou a escolher atletas a partir dos 11 anos e, em 2014, vai passar a trabalhar até com crianças de 6. “O tênis é um esporte muito precoce. Aos 17 anos, o tenista já está em fase de transição para o profissional”, justifica Borrelli.

A mudança de faixa etária e de cidade – o instituto agora funciona em São Paulo – não foram as únicas. O projeto se baseia muito na meritocracia, de certa forma refletindo o pensamento de Lemann, pentacampeão brasileiro de tênis e um dos homens mais ricos do mundo, e que agora faz parte do conselho do Instituto, no qual também há outros empresários.

Para atingir a meta de ter um tenista no topo, o instituto adotou um “ambiente competitivo, mas lúdico, em termos de treinamento, até para criar atividades atrativas aos jovens”, diz Borrelli. Segundo ele, a meritocracia é medida menos por resultados do que pelo comprometimento dos jovens.

“Entendemos que o trabalho depende de três fatores: os critérios de seleção dos atletas, um ambiente de treinamento altamente competitivo e desafiador, e capacidade de executar um planejamento adequado para que os jovens sempre compitam com os melhores de suas categorias”, afirma o diretor executivo.

O custo para criar o novo Guga é alto: em 2014, deve ficar em torno de R$ 5 milhões. “O orçamento vem crescendo na medida em que aumentamos a base de atletas com os quais trabalhamos”, explica Borrelli. No momento, 37 tenistas são auxiliados por 17 profissionais, entre treinadores, fisioterapeutas, psicólogos e educadores.

“Nós mantemos um bom relacionamento institucional com grandes empresas, e 90% dos nossos recursos estão vinculados à lei de incentivo ao esporte”, comenta. No momento, o Itaú é o principal parceiro do instituto, que também conta com apoio da Tetrapak e da Braskem. “Buscamos sempre diversificar nossos apoiadores, ampliar nossa base, até para não ficarmos muito dependentes”, finaliza Borrelli.

www.sxc.hu

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