Por Maria Elena Pereira Johannpeter, empreendedora social, inovadora e reconhecida por diversas premiações nacionais e internacionais, fundadora da Parceiros Voluntários Rio Grande do Sul e uma das coordenadoras da Década do Voluntariado.
“Quando estamos conectados com os valores humanos e espirituais, começa uma verdadeira aventura, a satisfação de sermos nós mesmos e de podermos usar nossas aptidões para ajudar outras pessoas. São experiências gratificantes. É isso que nós, os voluntários, fazemos: disponibilizamos nossa energia e aptidões pessoais como um pequeno presente para o mundo e o que recebemos como retorno vai além das palavras.” Flávio Lopes Ribeiro, brasileiro, coordenador do Projeto do Voluntariado da Organização das Nações Unidas (ONU) em El Salvador.
As celebrações pelo décimo aniversário do Ano Internacional dos Voluntários (AIV+10) culminaram, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com o lançamento do primeiro exemplar do Relatório Mundial do Voluntário.
Asha-Rose Migiro, vice-secretária-geral da ONU, em nome do secretário-geral Ban Ki-moon, reconheceu a dedicação dos voluntários e seus esforços para cumprir os objetivos da ONU. “Como a população mundial já ultrapassou os sete bilhões”, declarou, “precisamos estimular o potencial de todas as pessoas para que colaborem com as questões voluntárias”.
Enfatizando a contribuição do voluntariado para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e requerendo pessoas concentradas em uma abordagem holística, na Resolução A/RES/66/67, a Assembleia Geral da ONU estabeleceu o caminho para o futuro do voluntariado. A resolução ressalta a importância da participação de pessoas e de empresas para a obtenção do desenvolvimento sustentável.
A coordenadora executiva, Flávia Pansieri, declarou que o objetivo principal das celebrações de 2011 foi promover uma mudança: o voluntariado deixou de ser considerado como fator secundário e passou a ser reconhecido como caminho principal.
Na Assembleia Geral da ONU, foi lançado o primeiro documento sobre a situação do voluntariado global, o “Relatório sobre a Situação do Trabalho Voluntário – Universal Values for Global Well-being (Valores Universais para o Bem-estar Global)”. Helen Clark, administradora do Programa de Desenvolvimento da ONU (United Nations Development Program – UNDP), observou que há elos muito fortes entre o voluntariado, a paz e o desenvolvimento humano, os quais ainda não foram amplamente reconhecidos pelos Governos.
Nessa década, é criada a Rede Brasil Voluntário. Os Centros de Voluntariado integrantes da Rede Brasil Voluntário (RBV) eram: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. A Rede Brasil Voluntário e a Rede Paulista de Centros de Voluntariado se uniram, em 2011, e organizaram, além da Pesquisa, a Conferência Internacional do Voluntariado, tendo como parceiro o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Programa de Voluntariado das Nações Unidas (VNU). A Conferência ocorreu em paralelo à feira ONG Brasil 2011 e proporcionou um ambiente de diálogo e articulação intersetorial. Mais de 500 organizações de todos os estados brasileiros e redes de apoio ao voluntariado da Argentina, Colômbia, Peru, Panamá, Chile e Uruguai marcaram presença no evento das comemorações da Década do Voluntariado, em São Paulo.
Certamente, o maior legado foi a Pesquisa Voluntariado no Brasil 2001+10, organizada pela Rede Brasil Voluntário. Realizada pelo IBOPE Inteligência, a pesquisa mostrou que um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos já fez ou faz trabalho voluntário, ou seja, eram cerca de 35 milhões de pessoas em ação.
As entrevistas foram realizadas com 1.550 voluntários, nas regiões Nordeste, Norte/Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país e apontaram que:
- 25% da população faz ou fez serviço voluntário;
- A maioria (67%) dos que fazem serviço voluntário trabalha;
- A dedicação ao serviço voluntário é de 4,6 horas/mês, em média;
- 39% realizam o serviço voluntário com crianças e adolescentes;
- 62% dos voluntários usam a internet e 53% participam de redes sociais.
Atualmente, em 2022, o Voluntariado já está implantado na cultura brasileira, tanto no comportamento quanto nas leis brasileiras. Além da Lei 9608/98, que reconhece o Serviço Voluntário, em 2014, a Lei 13.019, criou os instrumentos jurídicos: o Termo de Fomento, o Termo de Colaboração e o Acordo de Colaboração. O Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) veio aperfeiçoar o ambiente jurídico e institucional das OSCs e suas relações e parcerias com o Estado.
A Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em sua terceira edição, legitima o trabalho de milhares de voluntários na construção de um Brasil melhor, tanto no presente, quanto para as gerações futuras.
Este artigo integra uma série de conteúdos escritos à convite dos realizadores da Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, com intuito de analisar e enriquecer os achados do estudo. Não nos responsabilizamos pelas opiniões e conclusões aqui expressadas.