Estratégias de Grantmaking: qual a mais adequada para minha organização?

Por Aline Herrera e Luiza Helena Cordeiro, ambas da área de Gestão da Doação do IDIS

O grantmaking é uma prática filantrópica que vem ganhando força entre os investidores sociais brasileiros. A alternativa garante uma maior descentralização de recursos, em termos sociais, geográficos e de causas, embora também permita o desenho de recortes específicos que respondam à estratégia e aos temas prioritários do investidor. As estratégias de grantmaking consistem em distribuir um montante de recursos (principalmente financeiros, mas também técnicos e políticos) entre uma ou mais organizações, em vez de utilizá-los para projetos próprios. A ideia é confiar na expertise e legitimidade da ponta, ou seja, das organizações destinatárias para alcançar o impacto desejado. 

O ponto de partida para essa modalidade é entender a causa e/ou o território a ser contemplado, a partir de uma análise estratégica que considere os interesses e as possibilidades do doador, bem como as demandas locais. Além disso, o grantmaking é um instrumento que estimula o fortalecimento da sociedade civil organizada e pode até mesmo ser uma ferramenta de aprimoramento para as organizações participantes.

Há diversos caminhos para o financiamento de iniciativas e organizações pela modalidade de grantmaking. Neste texto abordaremos três alternativas mais usuais e conhecidas pelos investidores sociais. 

Edital

O Edital é um instrumento de seleção de ampla concorrência, que estabelece publicamente um conjunto de regras, critérios e condições para as organizações proponentes. Essa modalidade possibilita ao investidor um processo seletivo mais aberto e com ampla participação, que geralmente está associado com um esforço de divulgação

A seleção dos projetos é regulamentada por um conjunto de documentos, incluindo o termo de doação, o formulário de inscrição, e outros instrumentos que possam ser requeridos pelo doador, como modelos de cronograma de projeto, orçamento e quadro estratégico, além do regulamento. O regulamento é o documento central, que contém seções relacionadas à informações gerais do processo de seleção, como público alvo, período de inscrições e de divulgação dos resultados do edital, verba destinada e número de contemplados, além de outras informações como detalhamento das etapas e regras de participação e avaliação. Isso amplia as possibilidades de inscrição de organizações.

É desejável que, de largada, um edital já conte com uma matriz de critérios bem delimitada, ou seja, que seja capaz de filtrar e avaliar os projetos de maneira objetiva possibilitando análises mais assertivas e alinhamento prático com os objetivos do edital. Uma boa matriz de critérios também é integrada com o formulário de inscrição, refletindo automaticamente os pontos estabelecidos.

A principal característica diferenciadora do Edital em relação a outras modalidades é o caráter mais isonômico e transparente do processo. Isso estimula um método de concorrência em que as proponentes se inscrevem e são avaliadas de maneira imparcial. No geral, essa modalidade é indicada para cenários em que a causa (ou as causas) apoiadas tenham um grande leque de organizações atuantes e aptas, seja pela atuação na temática ou pela capacidade institucional para executar o tipo de projeto desejado. Também é recomendada para situações em que os recursos provêm de fontes públicas, como governos ou crowdfunding (iniciativas de financiamento coletivo) – casos em que caráter democrático e a transparência devem ser ainda maiores. 

É importante em um edital que os critérios de seleção e de eliminação estejam claramente definidos no regulamento, garantindo a máxima lisura do processo e preservando a integridade do doador e da organização apoiada. Para proteger o doador e garantir a potencialização do recurso, as organizações inscritas também precisam passar por um processo de compliance, que consiste na verificação de regularidade documental, institucional e midiática para mitigar riscos da doação e garantir sua legitimidade perante o poder público e a sociedade civil. Outra prática recomendável é a realização de entrevistas com as organizações finalistas para esclarecimento de dúvidas e estreitamento das relações entre doador/organizador e as organizações beneficiadas, conferindo maior materialidade para os projetos a serem apoiados.

De todas as modalidades, o Edital é o que dá maior ênfase ao processo de seleção. Sua estrutura documental é orientada para essa fase, estabelecendo diretrizes e instrumentos de avaliação para escolha das organizações e iniciativas inscritas e garantindo que, ao final do processo, os resultados sejam públicos.

Alguns exemplos de editais bem sucedidos são o Edital Educação com Cidadania, que está em sua quarta edição, do Instituto Chamex; e o Edital da Água, do Instituto Mosaic, ambos realizados com o apoio técnico do IDIS. Apesar de terem diferentes escopos e objetivos, ambas seleções prezam pelas mesmas etapas acima descritas, garantindo um processo aberto e transparente.

 

Carta Convite

Outra prática utilizada para o financiamento por grantmaking é a carta convite. Esta ferramenta é indicada principalmente em situações em que há uma demanda por projetos com alta especificidade, quando o doador já possui um conhecimento prévio das organizações e iniciativas que se enquadram na temática desejada, ou quando há um número reduzido de organizações aptas a atingir os objetivos do doador. Quando o doador já tem um rol de organizações em mente, mas possui recursos limitados e dúvidas sobre qual apoiar, a carta convite também pode servir como uma ferramenta de concorrência para auxiliar na decisão

Na carta convite, o doador assume uma postura ativa no mapeamento de organizações. Assim como no Edital, os proponentes passam por um processo de compliance prévio, garantindo que todas as organizações previamente mapeadas estejam aptas para o aporte.

Uma vez convidada, a organização deve submeter um projeto que atenda os moldes, condições e objetivos estabelecidos na Carta Convite, que atua de forma correspondente a um regulamento. A principal diferença dessa modalidade em relação ao edital é o caráter prospectivo do doador, que seleciona um número limitado de projetos ou iniciativas para escolha. Não à toa, essa prática também é comum para grandes grantmakers que são recorrentemente acionados com propostas em um volume maior do que conseguem processar, optando por prospectar ativamente organizações que se destacam.

 

Seleção Direta

A terceira ferramenta é a modalidade de seleção direta. Diferentemente das anteriores, esta contém uma escolha de financiamento mais simplificada, como já indica o próprio nome. Aqui, o processo de seleção é completamente internalizado. O doador realiza um mapeamento prévio de organizações e iniciativas que, após a aprovação das mesmas no processo de compliance, recebem o aporte por repasse direto – se assim desejar..

Essa forma de repasse, além de ser mais ágil, também cria um processo mais particularizado para o doador. Ela pode servir como um meio para a co-construção de um projeto customizado para os interesses do doador e da organização apoiada. Nesta modalidade, o grantmaker pode associar mais livremente o aporte a possíveis encargos, ou seja, estabelecer condições e contrapartidas, ou optar por não fazê-lo. 

Da mesma forma, sendo o grantmaking uma via de mão dupla, as organizações convocadas podem negociar os termos de apoio recebido, ou, em última instância, rejeitar a proposta, considerando seus próprios valores e necessidades.

 

Além do financeiro: como o grantmaking pode apoiar o trabalho das organizações?

Neste ponto, está claro que um dos grandes diferenciais do grantmaking é justamente a sua capacidade de abrangência para além das estratégias de repasse, possibilitando um investimento social privado que mobilize e transforme o desenvolvimento do campo. 

É importante frisar que o repasse de recursos não se limita a recursos financeiros, uma vez que há possibilidade de utilizar-se de instrumentos de capacitação e apoio técnico durante a vigência do aporte, a fim de assegurar mudanças e fortalecer as bases institucionais das organizações beneficiárias. O apoio técnico proporcionado pelo investidor confere um caráter diferenciado em financiamento, tornando o investimento social mais robusto e sofisticado.

Uma prática consolidada no uso de instrumentos técnicos para a estruturação de bases institucionais e a atuação de projeto é a capacitação para construção de uma Teoria da Mudança (TdM). A Teoria da Mudança é uma ferramenta de planejamento utilizado que visa definir o impacto desejado, estabelecendo o ‘como’ e o ‘porquê’ por meio de tópicos estruturais como objetivos e impactos a longo prazo. Além disso, a TdM delineia espaços de atuação, estabelecendo eixos que fornecem insumos para traçar os resultados desejados e, por consequência, as atividades que deverão ser realizadas para alcançá-los.

Essa estrutura, muito utilizada, capacita com clareza o direcionamento de um projeto, norteando ações a curto, médio e longo prazo. Ela define indicadores mensuráveis de acompanhamento para cada eixo ou resultados esperados, possibilitando um monitoramento próximo do progresso e fornecendo apoio constante para as organizações, caso necessário, para potencializar ações ou recalcular a rota. Esta qualidade modifica a visão do investimento social e consegue aproximar tanto o olhar do investidor quanto da organização à mudança de realidade que está sendo gerada na sociedade.

Ainda no âmbito de monitoramento, outra prática a ser estimulada por meio do grantmaking é a filantropia por confiança (Trusted Based Philanthropy). Esse modelo, que vem crescendo globalmente, enfatiza o investimento com maior flexibilidade e confiança no trabalho das organizações de ponta. O Trusted Based Philanthropy possibilita uma aproximação maior entre doador e organização beneficiária, promovendo uma relação aberta para feedbacks, trocas e ajustes nas ações do projeto. 

Dessa maneira, o monitoramento se torna um ponto de apoio entre o beneficiário e o investidor, fortalecendo a relação por meio de práticas como a prestação de contas e realização de relatórios, bases para a garantia da confiança e transparência. A prestação de contas para além de uma boa prática de confiança, também é um mecanismo facilitador de governança, aprimorando o relacionamento entre implementadores e financiadores.

 

Qual modalidade escolher?

Não há uma ‘receita de bolo’ para determinar qual estratégia de aporte é mais adequada; essa decisão depende intrinsecamente da disposição, recursos e objetivos do doador.

Como mencionado, os editais são a modalidade mais comum e abrangem um público mais amplo. No entanto, essa prática pode ser excessivamente objetiva, o que tende a reproduzir vieses (conscientes e inconscientes) e impossibilita o doador olhar para particularidades que possam envolver determinados grupos de organizações proponentes.

Por outro lado, as estratégias de seleção direta e carta convite podem se limitar a círculos já conhecidos e não serem efetivas em promover uma descentralização de recursos. O Guia das periferias para doadores, publicação do Instituto PIPA, aborda como públicos como as periferias podem ter dificuldades de acesso aos recursos de grantmaking por meio dessas modalidades:

“Sabemos que os editais não são a única forma de ‘chegar ao dinheiro’, mas essa forma permanece sendo a mais próxima da realidade das periferias. Tendo em vista que, ainda, estamos falando de um cenário com grande centralização de recursos, que acabam circulando entre as mesmas organizações e não chegam à ponta. Mesmo assim, as periferias ainda são as principais responsáveis por assegurar a própria existência. A quem deve servir os recursos senão aqueles que fazem a realidade acontecer? Quem está olhando para isso quando o problema transborda? 

Reforçamos que, mesmo não sendo o cenário ideal, a forma mais habitual dessas organizações acessarem os financiamentos para além dos recursos próprios, são os editais. Do mapeamento apenas 18% continham editais como forma de investimento para a execução de projetos, destes, 10% contemplam as organizações periféricas, contra 8% que não incluem a periferia como parte do seu público-alvo. Ainda assim, cabe destacar que a periferia é apenas um, dentre outros públicos, que são contemplados pelo recurso dos editais. Se os editais são fontes de recurso tão necessárias para as periferias porque há tão poucas organizações adotando este método de financiamento?”

O processo de grantmaking é multifacetado e interdisciplinar, além de precisar estar alinhado com seu contexto a nível interno (necessidades do doador) e externo (necessidades do campo). 

O IDIS conta com um time de consultores especialistas em formas de grantmaking para apoiá-lo nessa decisão. Confira nossos cases e entre em contato em comunicacao@idis.org.br

Um convite urgente para mudar as práticas de financiamento

 

O Catalyst 2030, rede global que atua em rede para tornar o mundo melhor e mais justo para todos, lançou uma carta aberta destinada a doadores e financiadores de organizações não-governamentais com um apelo para mudanças em suas práticas, tornando-as mais eficazes e melhorando o impacto social sustentável. 

A ação tem como objetivo reunir 1.000 assinaturas em todo o mundo, chamando atenção a esta importante questão. Até 25 de maio, mais de 500 organizações de 60 países já haviam assinado a petição.

Nós do IDIS, assinamos a carta e convidamos você, membro de uma organização não-governamental, a se juntar a nós neste chamamento. Esta é uma oportunidade para acelerar a mudança social, tornando as práticas de financiamento mais eficazes para o setor. 

“Para ter alguma esperança de tornar o mundo um lugar melhor, trabalhando para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, devemos enfrentar de forma mais eficaz as causas dos problemas por meio de mudanças transformadoras nos sistemas. Um número crescente de financiadores e organizações percebeu que agora é a hora de avançar no progresso global e encontrar novas maneiras de apoiar a mudança, mudando as práticas e normas atuais de financiamento no setor social”. Catalyst 2030.  #ShiftingFundingPractices

 

Conheça o site da iniciativa.

 

CONHEÇA A CARTA ABERTA E ASSINE VOCÊ TAMBÉM

Um Convite Urgente para Mudar as Práticas de Financiamento

Estamos agora numa fase da nossa viagem civilizacional onde o nosso mundo enfrenta um conjunto de desafios globais em cascata e interrelacionados que ameaçam o futuro das pessoas e do planeta.  Desde a pobreza endêmica, a desigualdade racial e de gênero, a extinção de espécies, e o desmatamento, até o fascismo crescente, e a crise climática, a combinação destes desafios concorrentes e sobrepostos sinaliza a necessidade urgente de transformar fundamentalmente os sistemas entrincheirados subjacentes a estes grandes problemas. Para termos alguma esperança de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e inverter a trajetória destrutiva que as pessoas e o planeta enfrentam, temos de abordar com mais eficácia as causas profundas de problemas complexos, em vez de tratar os sintomas.  Isto é possível se transformarmos políticas, práticas, costumes, mentalidades, dinâmicas de poder e fluxos de recursos para alcançar um impacto duradouro ao nível local, nacional, e global.  Este é o trabalho conhecido como mudança de sistemas.  É uma perspectiva abrangente à mudança social que procura abordar as características complexas, em grande escala e profundas, das questões sociais.   Um aspecto chave da mudança de sistemas é a colaboração sustentada.  A verdadeira mudança de sistemas ocorre quando múltiplos atores entre setores, disciplinas e grupos sociais – incluindo financiadores e líderes de movimento – trabalham em conjunto para objetivos comuns ao longo de prazos prolongados.Embora encorajemos os financiadores a explorar diferentes oportunidades de financiamento de projetos que possam conduzir ao bem social, incluindo os que oferecem algum retorno financeiro aos investidores, a realização de mudanças eficazes nos sistemas, em particular os muitos aspectos que necessitam de financiamento de doações, exigirá uma poderosa mudança em relação às abordagens filantrópicas tradicionais onde:

1 – os financiadores tendem a confiar nos conhecimentos empresariais e acadêmicos para compreender o impacto social em vez de centrarem a liderança e a experiência vivida daqueles que estão mais próximos das questões que procuramos abordar;
2 –
a maior parte do financiamento é direcionado para aliviar os sintomas de sistemas falidos e não para o trabalho a longo prazo de compreensão, abordagem e mobilização da mudança para abordar as causas profundas;
3 –
o financiamento específico do projeto é concedido em loteamentos de curto prazo, o que também envolve frequentemente papelada excessiva, dinâmica de poder transacional, e uma dependência excessiva em métricas com curto espaço de tempo para avaliar o sucesso; e
4 –
processos e critérios de candidatura podem levar a uma concorrência inútil entre organizações em vez de incentivar os tipos de colaborações necessárias para mudar os sistemas.Um número crescente de financiadores e organizações estão descobrindo que existe uma oportunidade em tempo real para avançar no progresso global e modelar novas formas de apoiar a mudança através da transformação das atuais práticas de financiamento do setor social.  Estas mudanças necessárias abrangem múltiplos tipos de financiadores, incluindo financiamento de filantropia privada, governos, e organismos multilaterais.  Os seguintes princípios descrevem o que nós, um grande grupo de organizações da sociedade civil e inovadores para a mudança de sistema, bem como muitos líderes do pensamento filantrópico, acreditamos ser as práticas mais críticas e eficazes que os financiadores precisar adotar à medida em que lidamos com os problemas complexos que o nosso mundo enfrenta atualmente.  Convidamo-los a considerar a adoção das práticas transformadoras de financiamento abaixo indicadas.  Dado o poderoso papel dos financiadores e doadores em influenciar o trabalho e o âmbito das organizações que trabalham com questões sistêmicas, estas mudanças permitirão e capacitarão melhor o sector social e fomentarão colaborações multisetoriais que trabalham para os tipos de mudanças de sistemas que são urgentemente necessárias.  

PRINCÍPIOS

1 – Dê Financiamento Plurianual e Irrestrito: Abordar as causas profundas dos problemas sistêmicos interligados requer uma adaptação e aprendizagem contínuas a longo prazo. Contar com organizações que tem fundos operacionais gerais durante vários anos (pelo menos três a cinco anos, e de preferência mais tempo) permitem-lhes a flexibilidade necessária para adotarem a abordagem iterativa e a longo prazo para enfrentar grandes problemas sistêmicos, complexos e de longo prazo.  Este tipo de investimento flexível liberta as organizações para se adaptarem às mudanças nas condições e permite que as organizações sem fins lucrativos se concentrem no seu trabalho de missão crítica em vez de se concentrarem na origem das doações do próximo ano.  Se um financiador só pode oferecer doações restritas a projetos, torná-las plurianuais e garantir que cobrem os custos reais diretos (incluindo salários do pessoal) e indiretos da entrega do impacto (tais como alugueis de escritórios e equipamento).  Considerar providenciar mais do que o suficiente para que estes custos permitam que as organizações sem fins lucrativos aumentem um excedente e reservas.

2 – Investir na Capacitação.  Boas ideias não são suficientes.  Ajude os seus parceiros de programa a construir a capacidade organizacional central e a responder ao que eles dizem que mais precisam.  As organizações sem fins lucrativos precisam construir um conjunto diversificado de capacidades, seja na sua organização ou através dos seus parceiros, para trazer força coletiva e sustentabilidade ao seu trabalho ao longo do tempo.  Os financiadores que impõem restrições aos custos gerais limitam a capacidade das organizações para alcançar um impacto social ótimo.

3 – Redes de Fundos: As redes são ferramentas nas nossas caixas de equipamentos de mudança social que apoiam as partes interessadas a tomar medidas de colaboração e a desenvolver iniciativas estratégicas que incluem múltiplos atores que fazem parte da solução.  As redes são também uma excelente fonte de capacitação para os participantes, incentivando a colaboração, experimentando novas abordagens, e permitindo que as correções de curso aconteçam de forma mais rápida e eficiente.  Investir em infraestrutura e capacidade de coordenação das organizações para colaborar, construir redes, e trabalhar em conjunto de forma mais eficiente e eficaz.

4 – Criar Relações Transformativas ao invés de Transacionais: Precisamos evoluir a partir das relações de poder corrosivo que têm caracterizado muitas interações entre financiadores e beneficiários até hoje. Para alcançar a mudança transformacional, precisamos praticar um modelo de parceria em que todos nós trazemos ativos e doações para a mudança em questão. O dinheiro é um desses ativos, tal como o conhecimento da comunidade, o poder das pessoas, as relações, os conhecimentos, o poder econômico e o poder político. O trabalho eficaz de mudança dos sistemas depende de todos estes trunfos.  Requer também sensibilidade partilhada para ouvir, aprender, humildade, e colaboração. Os financiadores podem abdicar de parte do seu poder para construir o nosso poder coletivo para o impacto.

5 – Construir e Partilhar Poder: Os líderes sem fins lucrativos e de movimento não têm estado tradicionalmente presentes em salas onde governos e empresas tomam grandes decisões estruturais. Isto é especialmente verdade para organizações lideradas por pessoas negras, indígenas e de outras etnias, bem como para as lideradas por mulheres, jovens e pessoas com deficiência.  Os financiadores podem ajudar a reequilibrar estas injustiças. Podem consegui-lo através da partilha do poder com e da construção de poder para o setor social, dando mais recursos diretamente a nível local à organizações com liderança local e propriedade local, e fazendo investimentos mais robustos em organizações conduzidas por líderes de cor próximos.  É necessário conceber estruturas e espaços mais inclusivos para a tomada de decisões. Estes espaços devem encorajar o apoio geral ao funcionamento e ao desenvolvimento de capacidades para ajudar os líderes a ganhar políticas e práticas que façam avançar os ODS na sua arena de influência.  É também importante que os financiadores estejam abertos ao financiamento de novos empresários sociais e jovens empresários em início de carreira.

6 – Sejam transparentes e reativos: Traga humildade à sua concessão e reconheça os desequilíbrios de poder nas suas relações com os parceiros do programa. Comunique a sua viagem de equidade com os seus beneficiários. Seja absolutamente claro quanto às suas prioridades e expectativas.  Seja rápido a dizer não, se não for um bom ajuste, e responda em tempo hábil. A urgência dos nossos desafios não exige menos de todos nós.

7 – Simplificar e agilizar a papelada: As organizações sem fins lucrativos passam muito tempo redigindo propostas de doações, relatórios para satisfazer os requisitos dos financiadores, ao mesmo tempo que realizam o difícil trabalho de alteração dos sistemas e cumprem as condições regulamentares. Os financiadores podem ajudar a devolver tempo, simplificando os processos de candidatura, coordenando com outros doadores a due diligence e relatórios, e alinhando os relatórios com uma mentalidade de mudança de sistemas.  A elaboração de relatórios sobre o trabalho de mudança de sistemas é muitas vezes mais complexa e matizada do que a listagem de resultados a curto prazo ligados a projetos individuais. Como métodos adicionais de avaliação do impacto, os financiadores podem estar mais abertos a histórias como exemplos de progresso. Podem perguntar aos beneficiários quais as mudanças no sistema veem ao longo do tempo, e podem falar com os beneficiários sobre o que está funcionando nos seus esforços e o que não está.

8 – Oferecer apoio para além do cheque: Os financiadores têm mais para oferecer do que apenas dinheiro. Seja um conector.  Faça ligações úteis para os parceiros beneficiários a outros possíveis financiadores e organizações de pares, seja curioso e atento às suas necessidades, e crie oportunidades para os mostra-los e mostrar seu trabalho em canais a que tenha acesso.  Apoie redes que construam ligações fortes e forneçam plataformas de colaboração em vez de competição.

9 – Colaborar com outros financiadores: Tal como as organizações sem fins lucrativos precisam tecer redes para alcançar escala, os financiadores precisam construir ecossistemas de investidores no trabalho de mudança de sistemas. Partilhar conhecimentos, conexões e expertise com outros doadores; aumentar a eficiência através de ações coordenadas; abrir portas para os seus beneficiários e caminhar juntos como parceiros.  Ligue-se aos financiadores que estão investindo em áreas semelhantes e responsabilizem-se uns aos outros por pensarem amplamente sobre o seu ecossistema de financiamento e por terem a intenção de incluir líderes e organizações que, histórica e sistemicamente, têm tido dificuldades em acessar os fundos dos doadores.

10 – Adote uma Mentalidade Sistêmica em suas Doações: Os financiadores devem abraçar uma mudança de mentalidade dos sistemas com os seus beneficiários para abordar o(s) problema(s) prioritário(s) escolhido(s).  O objetivo geral é mudar significativamente as condições que mantêm o problema no lugar.  Isto implica identificar, compreender, e abordar as causas profundas do(s) problema(s) que está(ão) a abordando.  Esta mentalidade estende-se também a pensar de forma diferente sobre a avaliação e compreensão do impacto num horizonte a mais longo prazo.  Muitos financiadores podem apontar para alguns destes princípios onde estão liderando ou fazendo progressos.  No entanto, um progresso parcial, embora valha a pena, não será suficiente se quisermos responder à urgência das complexas necessidades às quais nos deparamos.  Apelamos aos líderes do setor filantrópico e aos diferentes tipos de financiadores para que se comprometam a adotar todos estes princípios de forma significativa dentro das suas organizações, de modo que o nosso compromisso partilhado e a nossa capacidade de alcançar uma mudança social duradoura seja acelerada.Especificamente, pedimos aos financiadores que se comprometam com os seguintes passos concretos e práticos para mostrar o seu apoio a estes princípios:

1 – Tomemos o Diagnóstico do Financiador/Doador sobre a mudança dos sistemas de financiamento, encontrado aqui https://bit.ly/3qLJTt1. Esta é uma ferramenta abrangente concebida para apoiar e informar a trajetória de mudança para mais filantropia baseada em mudanças de sistemas.  Desenvolva ações concretas que tomarão como base as recomendações da ferramenta, trabalhe para melhorar a sua pontuação durante o próximo ano ou dois, e comprometa-se a retomar o Diagnóstico de Financiador/Doador para avaliar o seu progresso.

2. Faça mudanças para os elementos-chave da mudança dos sistemas de financiamento, tais como o aumento do financiamento concedido a grupos que utilizam abordagens de mudança de sistemas, o aumento do percentual das suas doações que fornecem apoio central sem restrições, e o aumento do percentual das suas doações que são compromissos de financiamento plurianuais.

3. Revisite e racionalize os seus processos de concessão de doações.  Identifique pelo menos uma forma de incorporar mais perspectivas ou informações de líderes próximos para ajudar a moldar as suas decisões de doações.

4. Responsabilize-se por estes princípios, convidando regularmente os seus beneficiários a darem o seu feedback, quer seja através de uma pesquisa anônima aos beneficiários que desenvolve, um Relatório de Percepção do Beneficiário, uma pesquisa aos funcionários, ou outros mecanismos de feedback que crie para convidar a participação.   *Muitos dos princípios desta carta são derivados de três fontes: Embracing Complexity, um relatório colaborativo da Catalyst 2030, Ashoka e McKinsey & Company que refletiu as perspectivas de muitos empresários sociais em todo o mundo; The Trust Based Philanthropy Project; e os princípios da Filantropia Baseada na Equidade Racial.Estamos ansiosos para trabalhar com você em nossa jornada compartilhada para criar soluções duradouras para muitos dos maiores problemas que as pessoas e o planeta enfrentam hoje.

 

Você concorda com esses princípios? Assine já. 

 

O IDIS é membro fundador do Catalyst 2030 Brasil.