O voluntariado é inerente ao desejo humano de ajudar os outros sem benefícios pessoais

2001: o Ano Internacional do Voluntário

Por Heloisa Coelho, foi fundadora e diretora do Rio Voluntário, central de voluntários do Rio de Janeiro e coordenadora do Ano Internacional do Voluntário.

¨Houve um incêndio na floresta e, enquanto os bichos corriam apavorados, um beija-flor ia do rio para o incêndio levando uma gotinha de água no bico. O leão perguntou: ¨Ô beija flor, você acha que vai conseguir apagar o incêndio sozinho? E o beija – flor respondeu:¨Não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte¨.

Essa fábula contada pelo sociólogo Herbert de Souza, o inesquecível Betinho, como metáfora da solidariedade é muito inspiradora e nos mostra que em momentos de crise humanitária as pessoas percebem a importância de contribuir e o Voluntariado ganha mais força, valor e visibilidade. Ao sair de sua zona de conforto e lidar com pessoas que têm problemas distintos dos seus, quebram-se paradigmas e preconceitos, a sociedade se oxigena e tem início o verdadeiro jogo do ganha-ganha social. 

O exercício do voluntariado é inerente ao desejo humano de ajudar outras pessoas sem exigência de benefícios pessoais. 

As Igrejas, de modo geral, foram fundamentais nesse processo de fomento à generosidade e à solidariedade, ao criarem instituições filantrópicas, que durante séculos lideraram ações voluntárias em prol dos mais necessitados. No Brasil damos como marco inicial do Voluntariado a fundação da primeira Santa Casa da Misericórdia, no ano de 1543, na Capitania de São Vicente, em São Paulo.

Em meados dos anos 80, um novo Voluntariado originário dos movimentos sociais e Organizações Não Governamentais (ONGs) surge no cenário nacional, culminando com o Programa de Voluntariado liderado pela Comunidade Solidária, organização do terceiro setor,  presidida pela Dra. Ruth Cardoso, que possibilitou a criação de Centros de Voluntariado (Centro de Voluntariado de São Paulo, Parceiros Voluntários, RIOVOLUNTÁRIO, dentre outros) em busca da melhoria da qualidade dos processos de gestão e promoção do voluntariado. Em 1998, é promulgada a Lei do Serviço Voluntário, Lei 9.608, garantindo a não vinculação empregatícia dos voluntários com as instituições sociais onde prestavam serviço. 

Em Resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), assinada por 126 Estados-Membros, 2001 foi declarado Ano Internacional do Voluntário, dando o impulso definitivo para que o Voluntariado emergisse forte e organizado em todo o mundo.  O voluntariado é e sempre será unanimidade em tempos de polarização.

Com o surgimento de novas tecnologias e da internet, novas formas de participação cidadã foram oferecidas à população, ocasionando um aumento considerável do público masculino em ações voluntárias, que nos séculos anteriores haviam sido desempenhadas majoritariamente por mulheres. 

Temos testemunhado também o empenho de Empresas em enfrentar o desafio que os novos conceitos de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) lhes impõem e demandam. O Voluntariado Empresarial nasce nesse ambiente comprometido com o diagnóstico e soluções para os graves problemas sociais brasileiros.

Regimes democráticos têm como premissa fortalecer a sociedade civil e motivá-la a participar das micro e macro decisões a serem tomadas no país. A igualdade de gênero, etnia, ao lado do respeito à liberdade de expressão, a opção sexual, política, entre outras, só prosperam por meio de uma participação ativa dos cidadãos, baseada na tolerância e na reciprocidade. 

O momento presente, pós-pandemia da covid-19, vem sendo considerado como favorável à retomada de um voluntariado comprometido e consciente, baseado nas iniciativas de sucesso das últimas décadas, que certamente permitirão à população brasileira colaborar mais efetivamente, por meio de ações voluntárias,  para a superação da pobreza e das desigualdades, crescentes, no Brasil, potencializando e integrando essa gigantesca força voluntária, num projeto de construção de uma nação mais justa e igualitária.

A Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em sua terceira edição, legitima o trabalho de milhares de voluntários na construção de um Brasil melhor, tanto no presente, quanto para as gerações futuras.

Este artigo integra uma série de conteúdos escritos à convite dos realizadores da Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, com intuito de analisar e enriquecer os achados do estudo. Não nos responsabilizamos pelas opiniões e conclusões aqui expressadas.

Acesse o site da Pesquisa Voluntariado no Brasil

Santa Casa de Santos e o Voluntariado brasileiro celebram 480 anos

Por Nanci Fernandes Loureiro, Presidente da Associação dos Voluntários Santa Casa de Santos (AVOSC) e Eliana Lopes Feliciano diretora de humanização Santa Casa de Santos.

Braz Cubas, fidalgo português e líder do povoado do porto de São Vicente, posteriormente vila de Santos, auxiliado por outros moradores, iniciou em 1542 a construção da Santa Casa da Misericórdia de Santos, o mais antigo hospital brasileiro, inaugurando-o em novembro de 1543. Braz Cubas chegou com Martim Afonso de Souza nessa missão colonizadora de nosso país; era neto de Nuno Rodrigues, fundador e mantenedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, daí seu empenho na construção do hospital no povoado. 

Tendo prestado quase cinco séculos de assistência, a Santa Casa da Misericórdia de Santos participou de todos os ciclos da história de nossa pátria. Cuidou dos fundadores desta Nação – os navegantes lusos, colonos, nativos e escravos. Atendeu aos bravos bandeirantes e aos pobres condenados. Tratou igualmente de nobres e de vassalos do Império Português e do Brasil Imperial. Serviu ao encontro de heróis da Independência e da Abolição da Escravatura, de tradicionais monarquistas e de inflamados republicanos. Cuida de patrões e de operários, de empregados e de desempregados. Ponto de união entre todos os segmentos da sociedade, é local de encontro de seus membros quando tomados pela dor e pela doença.

A Santa Casa da Misericórdia de Santos serviu para a prática e o ensino da Medicina quase três séculos antes da fundação da primeira Faculdade de Medicina no país. Ciência e muito humanitarismo se praticou em suas enfermarias.

E tem em sua história o marco zero do voluntariado no Brasil: o berço dos primeiros grupos de voluntários, atuantes até hoje, se formalizou com a fundação da AVOSC – Associação de Voluntários da Santa Casa de Santos. Ela foi criada em meio à epidemia de gripe asiática, em 1957, quando a instituição precisou recrutar pessoas para auxiliar nas tarefas que não precisavam de formação profissional devido ao grande número de funcionários afastados, acometidos pela doença. Muitas pessoas de boa vontade atenderam ao apelo.  Assim, teve início a história da AVOSC, cujos voluntários são conhecidos como “amarelinhos”, devido à cor de seus uniformes. Atualmente, o grupo é formado por 92 voluntários, que acolhem os pacientes, suprindo suas carências com o fornecimento de enxovais, materiais de higiene, empréstimos de bengalas, muletas, entre outras necessidades. A AVOSC é a grande parceira nos projetos de humanização hospitalar da Santa Casa de Santos eesde 2002, o voluntariado e a Comissão de Controle de Qualidade do hospital atuam de forma integrada com o objetivo de assegurar índices satisfatórios na prestação dos serviços hospitalares.

Além do apoio nas doações de recursos materiais, os voluntários da AVOSC levam solidariedade e humanismo nas visitas realizadas nas unidades de internação e a meta é proporcionar as condições para o bem-estar do paciente no hospital, pois em muitas circunstâncias apenas uma palavra amiga e o calor humano são o que mais importam.

Neste ano de 2022, o Brasil comemora os seus 200 anos de independência e a Santa Casa de Santos e o Voluntariado brasileiro celebram 480 anos.

A Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em sua terceira edição, legitima o trabalho de milhares de voluntários na construção de um Brasil melhor, tanto no presente, quanto para as gerações futuras.

Este artigo integra uma série de conteúdos escritos à convite dos realizadores da Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, com intuito de analisar e enriquecer os achados do estudo. Não nos responsabilizamos pelas opiniões e conclusões aqui expressadas.

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