O World Giving Index (WGI), pesquisa anual sobe a solidariedade no mundo, trouxe uma pequena boa notícia para o Brasil: depois de quatro anos seguidos de queda, o país subiu uma posição no ranking, chegando a 90º entre 135 nações. Ainda assim, perdeu 36 lugares desde 2009, quando o estudo começou a ser feito. A lista é liderada por Estados Unidos e Mianmar.
O indicador faz parte de uma pesquisa global encomendada ao Instituto Gallup pela Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica que trabalha pelo fortalecimento do ambiente para o investimento social privado. O índice baseia-se em três perguntas sobre o comportamento dos entrevistados no mês anterior à sondagem: se doou dinheiro, se ajudou um estranho e se fez voluntariado.
O Brasil só avançou no terceiro quesito: cresceu de 13% para 16% a proporção de entrevistados que disseram ter se engajado em atividades voluntárias. Já a porcentagem dos que responderam ter ajudado alguém que não conheciam recuou de 42% para 40%, e a dos que fizeram doação em dinheiro, de 23% para 22%.
Quando se extrapolam as porcentagens para números absolutos, o país é o 9º em doação de dinheiro, o 8º em voluntariado e o 6º em ajuda a um estranho. “Em números absolutos o Brasil aparece nos três índices entre os dez primeiros colocados por ser um país populoso, mas em termos de percentual da população ainda estamos mais próximos do fim da lista e temos enorme potencial para evoluir”, comentou Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, que representa a CAF no Brasil.
Economia e cultura
A liderança do ranking, dividida entre Estados Unidos e Mianmar, mostra que a cultura importa mais que o tamanho da economia quando se trata de solidariedade. O pobre país asiático está na ponta impulsionado principalmente pelo elevadíssimo índice de doações financeiras (91%).
“Isso é reflexo da forte comunidade budista Theravada, com cerca de 500 mil monges (a maior proporção de monges em relação à população em qualquer país budista) recebendo apoio financeiro de devotos simples. A posição de Mianmar nos lembra quão importante é a cultura de cada país na predisposição de seu povo pela solidariedade”, diz o relatório.
Por outro lado, os norte-americanos não estão acompanhados de outras grandes economias nas primeiras posições do ranking. Apenas cinco países mais bem colocados no WGI faz parte do G20. Como observa o texto do documento, 11 participantes do G20 estão fora do TOP 50 e três, fora do TOP 100.
Mais ainda, a pesquisa mostra que, “dos 15 países que demonstraram maior aumento entre sua pontuação de 2013 e a de cinco anos, somente um é classificado como país de alta renda pelo Banco Mundial, demonstrando com clareza o maior potencial de crescimento nos mercados nascentes”.
Além disso, esporadicamente tragédias naturais desencadeiam uma onda de solidariedade, como mostra o desempenho da Malásia. Em 2013, o país estava em 71º no ranking; em 2014, saltou para o 7º lugar. “A Malásia experimentou um incremento significativo em todas as três formas de doação. Essa mudança de comportamento provavelmente reflete os esforços humanitários após o tufão Hayan no arquipélago vizinho das Filipinas, e está de acordo com os aumentos de doações registrados após outros desastres naturais na China e no Japão”, comenta o relatório.
Mulheres e jovens
Outra tendência apontada depois de cinco anos de pesquisas é que as mulheres são mais inclinadas a doarem dinheiro nos países mais ricos, onde as disparidades de renda entre os gêneros são menores. Já nas nações de renda média ou baixa, os homens a lideram nesse quesito.
No entanto, enquanto a ajuda a estranhos e o voluntariado têm sistematicamente crescido nos últimos cinco anos, a doação apresentou queda substancial na pesquisa mais recente. Isso pode ser explicado, segundo o relatório, pelo alto desemprego entre os jovens.
“A queda geral na doação de dinheiro reflete uma queda na proporção de jovens que disseram sim a este item da pesquisa, particularmente aqueles com idades entre 15 e 29 anos. Nos últimos anos, o desemprego juvenil tem se mantido alto e continua a crescer. Essa tendência, aliada a uma consequente redução na renda disponível, pode ter contribuído para uma participação reduzida na doação de dinheiro entre os jovens”, afirma o texto.