Emergência e Resiliência: filantropia fortalecendo comunidades

20 de setembro de 2024

Por Beatriz Barros, estagiária de projetos do IDIS

Investimento social é coisa de gente. Prevenção e cuidado também são coisas de gente. O 13º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, com o tema ‘Filantropia Entre Nós’, abordou na mesa ‘Emergência e Resiliência: filantropia fortalecendo comunidades’ a iminente crise climática e sanitária, discutindo como os fundos de emergência e as doações podem amenizar e antever possíveis desastres. A sessão contou com a presença de Giuliana Ortega (diretora de sustentabilidade da RaiaDrograsil), Karine Ruy (coordenadora geral da Fundação Gerações), Marijana Sevic (chefe de parcerias estratégicas internacionais da Charities Aid Foundation) e foi moderada por Vinicius Barrozo (analista de valor social na Globo e responsável pela plataforma de doações Para Quem Doar). 

Veja a sessão completa em:

 

A discussão sobre as recentes ações climáticas e sanitárias, além do crescimento de conflitos armados, evidenciam a urgência da criação de planos, estratégias e investimentos que sirvam para a prevenção de possíveis crises. Karine Ruy exemplificou a atuação da Fundação Gerações, organização participante do Programa Transformando Territórios, nas enchentes do Rio Grande do Sul, com a criação da linha emergencial do Fundo Comunitário Porto de Todos. Ela enfatizou a importância de ouvir as demandas da comunidade para a reconstrução e mitigação de riscos, como diz em sua fala: 

“Nós entendemos que o nosso papel, naquele momento, era de uma organização articuladora, fazendo pontes entre os atores do ecossistema que tinham essa capacidade operacional, mas, principalmente, identificando – a partir de uma escuta muito cuidadosa – quais eram as demandas das comunidades e territórios”, disse. 

Outro ponto relevante foi a atuação da Charities Aid Foundation (CAF) em países como Ucrânia e Marrocos, que enfrentaram emergências distintas: um conflito armado e outro por terremoto. Marijana Sevic comentou sobre a exigência das doações, nesses casos, serem rápidas e atingirem as demandas de forma eficaz e segura, atividade que a CAF tem expertise, atuando em mais de 170 países. 

A pandemia de COVID-19 também foi um dos destaques. Giuliana Ortega compartilhou as ações da RaiaDrogasil, que criou um fundo de investimento em parceria com o IDIS para oferecer infraestrutura a hospitais de pequeno e médio porte durante a pandemia, garantindo que essas estruturas se mantivessem após o fim da crise. A empresa também apoiou a vacinação em massa em municípios por meio do Unidos pela Vacina. Essas ações levaram a RaiaDrogasil a refletir sobre a doação de recursos próprios e a elaborar sua Teoria de Mudança, como destacou Giuliana: 

“A partir de 2021, por política, a gente passa a investir 1% do nosso lucro líquido em ações para a saúde, nas comunidades e na sociedade. […] Então, a gente ganhou esse recurso adicional para pensar e a gente resolveu fazer a nossa Teoria de Mudança porque o recurso estava aumentando. A gente ia canalizar esse esforço e o nosso objetivo principal era a promoção da saúde”.

 

Ainda nessa pauta, Vinicius Barrozo apresentou a plataforma Para Quem Doar, que teve uma relevante função na centralização e direcionamento de doações no período de pandemia e nas enchentes do Rio Grande do Sul. O aplicativo conecta doadores e organizações de forma simples e segura. Para incentivar a cultura da doação, foi anunciada a parceria entre Globo, IDIS e Instituto MOL na campanha do ‘Descubra sua Causa’, um teste inserido na plataforma Para Quem Doar que ajuda o doador a identificar áreas alinhadas com seus valores e convicções.  

No entanto, ainda existem reflexões que permanecem com ‘pontas soltas’ entre alguns nós, como a falta de engajamento em doações e o adiamento do planejamento e criação de linhas emergenciais para crises climáticas e sanitárias. É fundamental incentivar uma cultura de doação que vá além dos desastres; ter uma visão estratégica para o período de reconstrução a médio e longo prazo, quando a comoção inicial diminui e, consequentemente, o investimento; promover a diversificação de investimentos; e destacar o papel crucial da comunicação em emergências, anunciando de forma clara e cativante o propósito da doação. Esses caminhos podem ajudar a desatar algumas resistências e fortalecer propósitos e estratégias.

 

Fotos: André Porto e Caio Graça/IDIS.