por Alexandra Kaory Higa Teles | Estagiária de Projetos IDIS
Defender uma causa exige coragem e ousadia. A mesa “Alianças Improváveis: a ousadia na defesa de causas e territórios” trouxe ao Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais organizações que ousam nessa temática ao desenvolver iniciativas socioambientais de impacto em uma distinta abordagem da filantropia. Entre as palestrantes, estavam Allyne Andrade (superintendente adjunta do Fundo Brasil de Direitos Humanos), Braulina Baniwa (diretora executiva da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas, Guerreiras da Ancestralidades – ANMIGA), Omar Rodrigues (gerente sênior de comunicação e relações institucionais da Fundação Grupo Boticário), e como moderadora, Diane Pereira, (presidenta do Instituto Baixada). O evento é uma realização do IDIS e Charities Aid Foundation em parceria com o Global Philanthropy Forum.
Ao longo da sessão, as pessoas palestrantes compartilharam experiências sobre como suas organizações inovaram a adotar diferentes formas de apoio e/ou soluções alternativas às mais convencionais da filantropia, colaborando de forma próxima com as comunidades para aprimorar o impacto socioambiental positivo nas regiões que atuam pelo Brasil.
O primeiro exemplo de ousadia na defesa de territórios de Braulina Baniwa. Ela relata que há dois anos, quando criou a organização na qual ocupa a diretoria, enfrentou resistência e poucas organizações e empresas estavam dispostas a apoiá-la por ser uma mulher indígena recém-chegada no setor social. Além disso, Braulina apresentou desafios que dificultaram a captação de recursos financeiros por meios de editais, entre elas a dificuldade com a língua, pelo fato de português não ter sido seu idioma materno, e questões de cunho burocrático.
Ainda sobre as necessidades exigidas muitas vezes em editais, Braulina contrapõe que:
“Os números têm sua importância, mas as
narrativas são essenciais para humanizar esse processo de credibilidade no setor social, para mediar nosso impacto.”
Para ela, a valorização das narrativas incentiva que os recursos cheguem às organizações que ainda não estão tão consolidadas e que são compostas por pessoas historicamente marginalizadas da sociedade.
Baniwa ressalta que somente com ousadia e coragem a ANMIGA conquistou ocupar espaços para defender território e causa, ao conquistar cada vez mais credibilidade e confiança do setor social, conseguindo construir uma rede de apoio, ter mais parceiros e criar alianças improváveis.
Já do ponto de vista de uma organização que financia iniciativas socioambientais, Allyne, superintendente adjunta do Fundo Brasil (que representou Ana Valéria Araujo devido a uma emergência pessoal) destacou a importância de organizações e fundos que lutem pela defesa dos direitos humanos, ambientais e sociais no Brasil, como a Rede Comuá.
Dentro os membros desta rede estão Fundo Brasil, Fundo Baobá e Fundo Elas, unidos por um objetivo comum de fortalecer a sociedade civil no Brasil. Esses fundos não operam em projetos diretamente, mas, em vez disso, financiam e apoiam iniciativas sociais diversas para fortalecer o terceiro setor no país, acreditando que isso contribui significativamente para o fortalecimento da democracia no país.
O Fundo Brasil tem apoiado e acreditado em projetos de defesa dos direitos humanos ao longo de 16 anos e isso por si só já é ousado. Entre os focos de atuação está o fornecimento de orientação e dados para políticas públicas, medindo o impacto social e ouvindo ativamente as organizações.
Já a Fundação Grupo Boticário, também financiadora de iniciativas socioambientais, contou sobre a ousadia da criação da organização e nas mudanças do apoio a projetos desde a criação. Omar Rodrigues, representante da Fundação Grupo Boticário, relatou a trajetória da Fundação e de como o fundador, Miguel Krigsner, despontou ao criar uma organização focada na preservação do meio ambiente, antes mesmo de se discutir extensamente o tema da sustentabilidade no Brasil, dois anos antes da Conferência RIO 92. Desde então, a fundação já apoiou mais de 1.600 iniciativas em todo o Brasil, incluindo a preservação de reservas naturais.
Ao longo das três décadas, Omar destaca como a Fundação alterou a forma de atuação.
“Até 2019, nosso processo era baseado em editais. A partir de 2020, adotamos um novo modelo chamado ‘Teias de Soluções’, no qual envolvemos uma gama mais ampla de atores, além de biólogos e outros movimentos sociais. Buscamos uma compreensão mais profunda da região, identificando os atores do setor social e compreendendo melhor o território para colaborar com o Grupo Boticário e especialistas na proposição de soluções.”
Explica destacando que esse modelo foi criado partir do pensamento de que fundamentalmente o terceiro setor se assenta na construção de alianças, cooperação e colaboração.
Para condensar as ideias do debate Diane Pereira, do Instituto Baixada, traz uma reflexão sobre como o trabalho de cada organização presente na mesa é importante para transformar os territórios que defendem:
“Como a Maya Angelou diz a coragem é a mais importante de todas as virtudes, porque sem ela nós não podemos praticar nenhuma outra virtude com consistência. Pois em algum momento chegaremos em um problema grande demais e não a enfrentaremos se não tivermos coragem. E para fim isso se refere muito ao setor social, pois o terceiro setor só faz o que faz, atua tão grandiosamente, porque tem coragem e ousadia.”