2020 é definitivamente um marco na história. A pandemia causou graves impactos na saúde das pessoas e também na economia, e evidenciou a desigualdade social em todo o mundo.
De acordo com levantamento publicado pela Universidade Johns Hopkins, um ano depois de reportados os primeiros casos, havia mais de 85 milhões de pessoas infectadas e quase dois milhões de mortes causadas pelo vírus em 190 países.
Em março, já temos registradas 2,7 milhões de mortes. O Banco Mundial estima que a pandemia da Covid-19 levará 49 milhões de pessoas à pobreza.
Ainda que o inimigo seja comum em todas as partes, cada país foi impactado de forma única. Houve aqueles onde o sistema de saúde entrou em colapso; em outros, trabalhadores tiveram suas rendas reduzidas ou eliminadas e precisaram de apoio para necessidades básicas.
A precariedade do saneamento foi uma barreira para medidas de prevenção. De uma hora para outra, a demanda por equipamentos de proteção individual explodiu e muitas pessoas precisaram de apoio para manter a saúde mental.
Durante este período inédito, o papel e o valor da sociedade civil se tornaram evidentes, preenchendo lacunas críticas não atendidas pelos estados e provando ser um bote salva-vidas e a garantia de qualidade de vida para milhões de pessoas.
Em levantamento realizado pela Charities Aid Foundation, organização inglesa que lidera uma aliança global, foi evidenciada a diversidade de respostas produzidas a partir das particularidades dos cenários locais, muitas vezes com agilidade superior ao de estados.
As ações da rede de promoção de filantropia estratégica contemplaram a criação de fundos emergenciais com diferentes propósitos, como fortalecimento da saúde e de organizações sociais, apoio direto a comunidades vulneráveis, facilitação de transações internacionais, além da geração de conhecimento.
O exemplo brasileiro, registrado em relatório recentemente publicado, foi o Fundo Emergencial para a Saúde, capitaneado pelo representante da rede no país, o Idis – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, ao lado dos parceiros Movimento Bem Maior e a plataforma BSocial.
Essas e tantas outras ações promovidas por organizações da sociedade civil se mostram mais sintonizadas com as necessidades das comunidades vulneráveis que qualquer outro setor.
Mas elas têm ficado em segundo plano na agenda de autoridades mundiais, não sendo reconhecidas como potenciais parceiras estratégicas, e enfrentam necessidades básicas de sobrevivência. Sua sustentabilidade, no longo prazo, pode estar comprometida.
Se a Covid-19 criou “um antes e um depois” no mundo, algo sem precedentes em nossa época, devemos usar este momento para tirar aprendizados e impulsionar a ação.
De acordo com o relatório da Charities Aid Foundation, em primeiro lugar devemos passar a pensar soluções emergenciais em escala global, considerando matizes locais, regionais e nacionais, para alavancar as organizações da sociedade civil, ao invés de marginalizá-las.
A colaboração se tornou ainda mais necessária neste cenário. A defesa coletiva da sociedade civil e o papel inestimável que esta desempenha no fortalecimento da sociedade são fatores que demandam atenção. Devemos seguir lutando por mecanismos que facilitem doações que irão apoiar a sociedade civil.
O Movimento por uma Cultura de Doação, inciativa brasileira para promover a doação no país, levanta esta bandeira, que deve ser uma bandeira de cada um de nós. Juntos, podemos mudar a vida de muitos no país e em todo o mundo.
Confira aqui a publicação que compila as ações das organizações representantes da Charities Aid Foundation ao redor do mundo.
Leia o artigo publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo.
Por Paula Fabiani, Diretora-presidente do IDIS- Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e destaque no Prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19 e Luisa Gerbase de Lima Gerente de Comunicação do IDIS.
Veja também: Como criar um Fundo Emergencial – a experiência e os resultados do Fundo Emergencial para a Saúde