ONU ressalta importância do ISP para metas de desenvolvimento

8 de janeiro de 2015

O prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) está acabando! Os ODM são uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Dois mil e quinze era o prazo limite e, ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo Philantropy as an emerging contributor to development cooperation, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

O próprio investidor se beneficia da cooperação. “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de U$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a Aids, malaria e outras doenças, que recebeu em torno de U$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é sobre como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo, e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de ISP brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

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Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil