Por Aline Herrera, analista de projetos do IDIS
Tem um lugar para todos na mesa para promover a mudança social. Foi assim que Julia Brindisi, chefe de Investimentos Filantrópicos para a América do Tony Blair Institute for Global Change (TBI), deu o tom para mesa de encerramento do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais de 2024.
Dando o arremate final nos nós que uniram o evento, o painel final discutiu a colaboração entre diferentes atores e diferentes perspectivas para promover um futuro mais justo e próspero. As convidadas, Grace Maingi, Diretora Executiva da Kenya Community Development Foudation (KCDF); Cláudia Soares Baré, Diretora Executiva do Fundo Podaáli; e a já citada Julia Brindisi, apresentaram diferentes perspectivas e ferramentas que, amarradas, são capazes de potencializar umas as outras.
Veja a sessão completa em:
Governos, comunidades, indivíduos, organizações filantrópicas e populações originárias podem (e devem!) trabalhar juntos para tecer um futuro melhor. A articulação intersetorial foi destacada como elemento chave para a redução das desigualdades e a promoção da justiça social. Para Claudia Baré, a responsabilidade de um desenvolvimento do bem viver é uma responsabilidade de todos nós:
“Nós não estamos tendo o nosso bem viver. E o bem viver não é viver bem somente, o bem viver é fazer com que todos nós, independente de ser povos indígenas, extrativistas, quilombolas ou não indígenas, que todos nós possamos ter uma qualidade de vida para que a gente possa fazer com que todos tenhamos um ar que possamos respirar com qualidade. Mas todas essas responsabilidades são colocadas, são depositadas nos povos indígenas, aos povos indígenas, por conta das florestas, por conta da própria Amazônia, onde nós estamos inseridos. E eu gostaria muito de colocar para vocês que não é uma responsabilidade somente dos povos indígenas, é responsabilidade de todos nós: povos indígenas, os próprios representantes das empresas, das organizações que estão aqui, de todos os cidadãos e principalmente do governo, porque nosso governo brasileiro ele tem sim o dever de garantir nossos direitos que estão ali”, disse Claudia.
Com a filantropia, não é diferente: o espírito de comunidade nos impulsiona a fortalecer juntos um ecossistema que cuida uns dos outros. Grace Maingi afirmou durante a sessão que “a verdadeira filantropia é aquela capaz de promover mudança sistêmica”. Para ela, a filantropia precisa falar a língua das comunidades e se integrar confortavelmente na realidade local, servindo como instrumento de mobilização. Assim, o investimento social pode apoiar pessoas e comunidades para que sejam protagonistas de seus próprios futuros.
Para além de conhecer o trabalho das três organizações presentes, o público do painel de encerramento pôde perceber como o entrelace para uma construção de um futuro melhor passa não só pela colaboração entre diferentes grupos, mas também pela combinação de diferentes ferramentas. Se por um lado o TBI investe em tecnologias avançadas e inteligência artificial para alcançar a equidade, o Fundo Podaáli valoriza os saberes dos povos originários, e a KCDF foca nas comunidades com o mesmo objetivo. Ainda que pareçam abordagens completamente difusas, reuni-las permite aliar inovação e sabedoria ancestral, criando novas perspectivas de desenvolvimento capazes de reinventar relações.
“Em termos do futuro da filantropia, eu acho que é importante nós reconhecermos que a tecnologia vai ser central à inovação. Então, pessoas jovens, o jeito que nós definimos a filantropia tem que fazer sentido para as pessoas que estão trabalhando e vivendo com comunidades, isso não pode ser definido a partir de uma lente de fora, isso precisa ser realmente entendido. Eu acredito muito que somos todos filantropos, de uma forma ou de outra, nós não precisamos ter grandes somas de dinheiro para ser filantropos, tem a ver com dar esperança.
A generosidade não é igual a riqueza que nós temos nos nossos bolsos, mas sim com a riqueza do seu coração, então se você for generoso da sua alma, pode compartilhar. O futuro da filantropia realmente precisa ver uma mudança no sistema. Precisamos ver essas barreiras sistêmicas, senão, vamos continuar naquela ‘roda do hamster’. Se nós não endereçarmos a desigualdade dentro da filantropia estamos simplesmente permitindo que um sistema que não está vendo os desafios do mundo continue, comenta Grace Maingi.
Seja estimulando governos, comunidades ou povos originários, a filantropia mostra seu potencial como ferramenta capaz de gerar transformações sistêmicas. É construindo um modelo de filantropia inclusiva, colaborativa e sensível às realidades locais – temas centrais do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais 2024 – que, juntos, transformamos realidades e desatamos os nós de desigualdade do mundo.
Fotos: André Porto e Caio Graça/IDIS.