Investimento Social é Assunto de Família

30 de abril de 2008

Diretora de Empresas e Famílias do IDIS, Juliana Gazzotti Schneider discute o engajamento social de indivíduos de alto poder aquisitivo. Segundo ela, o planejamento estratégico da filantropia familiar garante resultados positivos e fortalece os valores dos membros da família.

“Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
e quer construir um país”
Burguesia, de Cazuza

Quando Cazuza lançou, em 1989, uma de suas canções de protesto mais conhecidas e polêmicas – Burguesia – quis ressaltar, em curtos versos, que não se pode generalizar as críticas. Quase vinte anos depois, a crescente disposição por parte das famílias ricas em colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável mostra que aquele cuidado do compositor não foi em vão.

Esse comportamento vem sendo observado desde 1999 no cotidiano de trabalho do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que presta apoio técnico a famílias, empresas e indivíduos que desejam realizar seu investimento social forma estratégica e assertiva.

O 11º relatório Riqueza Mundial produzido pelas empresas Merrill Lynch e Capgemini e publicado em junho de 2007 apontou que, no Brasil, em 2006, havia 120 mil pessoas com patrimônio acima de um milhão de dólares investido em ativos. Um crescimento de 10,1% em relação a 2005, acima da média mundial (8,3%). Esses números evidenciam o crescimento da riqueza acumulada no País e a intensificação da desigualdade social.

Cientes de seu papel como cidadãos, as famílias de alto poder aquisitivo vêm engajando-se em questões sociais. Mas como nem sempre sabem aplicar seus recursos de maneira estratégica nessa área, contentam-se com a realização de ações de forma aleatória, pontual e assistencialista, como a doação de bens para creches, asilos, escolas etc.

Embora essa preocupação com a redistribuição de recursos seja louvável, é imprescindível que as famílias passem a se debruçar na destinação inteligente de seus recursos, como a que ocorre no caso de ações de investimento social bem-feitas. Esse processo é importante porque é capaz de ampliar os impactos positivos da doação e contribuir para uma efetiva transformação social.

Quando o investimento social da família é pensado de forma eficiente e eficaz, garante-se que o dinheiro investido seja empregado corretamente, beneficiando o público-alvo. Possibilita-se também que a família controle e monitore os resultados do investimento, como faz com suas aplicações financeiras. E criam-se condições para dar continuidade ao desejo da família de doar, pois, nesse processo de estruturação do investimento, ela tem a oportunidade de estreitar as relações entre seus membros, fortalecer e preservar seus valores, além de desenvolver e deixar um legado familiar de responsabilidade social.

Por ser um trabalho complexo, que parte de princípios como definição de um foco de atuação com a qual seus membros da família se identificam, avaliação conjunta do valor do patrimônio a ser revertido, e estabelecimento da maneira de empregar o recurso, a iniciativa pode ser árdua e exigir da família um apoio profissional.

Num tempo em que a área social está amplamente em evidência, surgem cada vez mais estratégias para eliminar as desigualdades do país. Nesse sentido, é necessário reconhecer o papel da família brasileira e apoiá-la para que ela possa contribuir de maneira eficiente a mudar esse quadro.

 

Juliana Gazzotti Schneider é Diretora de Empresas e Famílias do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.