por Letícia Santos e Paloma Pitre, ambas analistas de projetos no IDIS
O investimento de empresas em projetos socioambientais tem aumentado, refletindo uma tendência crescente de adoção de práticas sustentáveis. Algumas empresas optam até mesmo por desenvolver programas de impacto próprios, demonstrando um comprometimento ainda mais direto com práticas de responsabilidade socioambiental. De acordo com dados do Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) da Comunitas, em 2022, 40% das empresas acompanhadas pela pesquisa registraram um aumento em seus investimentos sociais. Destaca-se, especialmente, o crescimento dos aportes financeiros das empresas em iniciativas socioambientais, em relação ao seu lucro bruto. No período em questão, foram destinados R$ 4 bilhões voluntários para projetos sociais.
Esse fenômeno pode ser atribuído, entre outros fatores, à crescente pressão por parte de consumidores e investidores, que estão cada vez mais exigentes em relação às práticas socioambientais das empresas. Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2022, 44% da população leva em consideração se as marcas e empresas fazem investimento social e/ou apoiam causas, ao decidir comprar um produto ou contratar um serviço.
No entanto, as razões não se limitam apenas a esse aspecto. Ocorre, igualmente, o fenômeno da conscientização por parte das próprias empresas sobre a necessidade de contribuírem positivamente para as comunidades em que estão inseridas.
Diante desse cenário, é importante compreender as diversas maneiras pelas quais as empresas interagem com o campo socioambiental. Neste artigo, discorremos sobre a responsabilidade das empresas na gestão de seus impactos e as oportunidades para ampliar os valores proporcionados à sociedade.
As diferentes formas de empresas contribuírem com o campo socioambiental
Os esforços em prol do desenvolvimento ou financiamento de iniciativas socioambientais podem ser justificados tanto pela responsabilidade da empresa em mitigar danos ou impactos negativo, comportamento que representa a forma mais fundamental de envolvimento esperada, quanto por investimentos voluntários alinhados com o propósito da empresa.
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é caracterizada pelo comprometimento das empresas em reduzir riscos e danos potenciais decorrentes do desempenho de suas atividades em determinados territórios ou ecossistemas. Assim, a responsabilidade social emerge como um elemento básico que se espera de empresas que buscam condutas corporativas adequadas.
Uma prática amplamente adotada no campo da responsabilidade social corporativa é a realização do chamado due diligence (devida diligência, em tradução livre). A due diligence, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), abrange esforços para identificar quais são os possíveis impactos negativos relacionados à atividade empresarial em áreas como direitos trabalhistas, direitos humanos, meio ambiente, transparência, entre outras. O objetivo é desenvolver estratégias de prevenção, mitigação e remediação de danos.
Já o Investimento Social Privado (ISP) representa esforços voluntários das empresas em alocar recursos para contribuir positivamente para o impacto socioambiental. São muitas as formas de realizar esse tipo de investimento, seja por meio do desenvolvimento de iniciativas próprias ou pelo repasse de recursos para ações e projetos desenvolvidos por terceiros.
Idealmente, o ISP busca a geração de maior impacto nas áreas de sustentabilidade em que a empresa possui maior potencial de contribuição. Para identificar pontos de sinergia entre o negócio e as oportunidades de investimento social, é importante conhecer os principais indicadores sociais e ambientais dos locais em que a empresa atua, os elementos chave de sua cadeia de produção, o perfil do beneficiário do programa, entre outros aspectos relevantes.
Uma das possibilidades para se buscar maior integração entre o social e o propósito corporativo é a adoção do modelo de Empresas B ou Benefit Corporations. O Movimento B tem reunido diversas empresas em um novo paradigma corporativo, cujo foco está na promoção de impactos socioambientais positivos. Alinhado aos mesmos princípios da responsabilidade social, esse movimento introduz um novo modelo econômico, no qual as empresas certificadas com o Selo B se comprometem a impulsionar melhorias contínuas em suas práticas, tendo a governança e a sustentabilidade socioambiental como parte integrante do propósito do negócio. Atualmente, há 286 Empresas B registradas no Brasil.
Nota-se, portanto, a existência de um espectro amplo no campo de ações socioambientais corporativas, que vai desde a realização das ações mínimas esperadas (responsabilidades), passa pelos investimentos voluntários e avança até a geração intencional de impacto socioambiental positivo, pensados como um dos pilares estratégicos e gerenciais da empresa.
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Integrações e aproximações entre Responsabilidade Social Corporativa e Investimento Social Privado
Em meio aos diversos graus de maturidade e envolvimento com as causas sociais e ambientais, nota-se que as empresas podem se encontrar alinhadas a diferentes espectros do impacto social e ambiental. De qualquer forma, a presença e a preocupação das empresas não apenas com o impacto que geram, mas também com a sociedade em que operam, e de que maneira podem contribuir para promover melhorias nessa sociedade, são tendências em ascensão.
Assim, as iniciativas de ISP e de RSC não devem ser compreendidas como excludentes entre si. Pelo contrário, é esperado e recomendado que elas se complementem. Nesse sentido, por exemplo, um processo de due diligence pode ser utilizado não somente para antever riscos do negócio, mas também para identificar áreas de investimento por meio do ISP.
A coerência nesse alinhamento é importante, uma vez que o conhecimento da empresa sobre o campo temático no qual está investindo pode tornar a alocação mais eficaz, além de se integrar ao planejamento estratégico e, consequentemente, facilitar a captação de recursos para projetos futuros. A tendência é que as práticas de ISP e RSC, embora conceitualmente distintas, se aproximem cada vez mais, convergindo para os objetivos intrínsecos das empresas.