O Investimento Social Privado e Investimento estatal na promoção da equidade racial

26 de fevereiro de 2024

A busca por equidade racial no país e no ambiente profissional é objeto crescente de debate no Brasil e no mundo. Governos, empresas e organizações da sociedade civil têm se organizado para que a pauta esteja presente nas mais variadas esferas de participação popular, da constituição de partidos políticos e acesso às universidades públicas e colégios privados, até processos seletivos de empresas e nas representações artísticas – todas são esferas capazes de reconstruir o imaginário popular e com grande potencial de empoderamento de grupos subrepresentados.

Além do resgate da identidade negra e do estabelecimento de políticas afirmativas (em universidades, dentro de empresas e instâncias públicas), a baixa qualidade da educação pública é comumente apontada como responsável pela desproporcional representatividade de negros em universidades e cursos de prestígio, e em cargos de
liderança e governança de grandes empresas.

Nos Estados Unidos, em um estudo publicado na Economic Policy Institute, foi estimado um gap salarial médio de 22% para homens negros na comparação com homens brancos e de 11,7% para mulheres negras na comparação com mulheres brancas, mesmo controlando por fatores como educação, anos de experiência e região, indicando a existência de um racismo estrutural persistente no país ao longo do tempo.

No Brasil, a situação é ainda mais alarmante: a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE) apontou que em 2019 a diferença salarial entre brancos e negros foi de 45% em média. Estudo econométrico publicado pelo BID para o Brasil (Garcia, Ñopo e Salardi, 2009) aponta para um crônico descompasso salarial entre negros e não-negros, também controlando por fatores observáveis (gênero, idade, região e ocupação) e para todos os percentis salariais. Vale ressaltar que para os percentis salariais mais altos a diferença é maior. Os autores atribuem o resultado não só ao racismo estrutural, como também à qualidade da educação pública que cobre proporcionalmente mais negros do que não-negros no Brasil.

Cabe lembrar que a educação de qualidade é hoje considerada um direito humano e também um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 2030) elencados pela ONU, tendo por finalidade a formação de sujeitos cidadãos, com capacidade reflexiva e potencial produtivo para o mercado de trabalho, e colaborando para a diminuição das desigualdades sociais.

Além disso, a educação pública é comumente encarada como reflexo de um projeto de país e uma das principais trilhas para a inclusão social. Reforçando essa compreensão, historicamente no Brasil enraizou-se a percepção de que o acesso à escolarização de qualidade traz como consequência lógica a propensão à ocupação de cargos intelectuais e com maior estabilidade financeira, em oposição a trabalhos braçais e muitas vezes precários. Ainda que problemático, esse paradigma brasileiro só será revertido com a melhoria da educação pública,  a qual o setor privado também deve se envolver por meio do investimento social privado.

Durante a participação do IDIS na concepção do Pacto de Promoção da Equidade Racial, foi produzido um material que se aprofunda justamente nesse assunto, apresentando dados e referências para o fortalecimento da equidade racial, além de formas de mensura-la em empresas e organizações privadas.

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Conheça o Pacto de Promoção da Equidade Racial

O Pacto de Promoção da Equidade Racial é uma iniciativa que propõe implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais da sociedade civil para o tema.

Seu principal objetivo é propor e implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil e promover sua adoção por empresas e investidores institucionais, contemplando ações que estimulem uma maior equidade racial – muito centrada na adoção de ações afirmativas, na melhoria da qualidade da educação pública e na formação de profissionais negros.

O IDIS, ao lado de outras diversas organizações, é um dos membros fundadores da iniciativa