A ONG Brasil firmou-se, em sua quinta edição, como o maior evento sobre responsabilidade social da América Latina. Cerca de 500 expositores e 15 mil visitantes foram ao Expo Center Norte, em São Paulo, entre 28 e 30 de novembro. A exposição contou com mais de 100 palestras e participação intensa do governo federal, representado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, que ocupou um dos maiores estandes e promoveu debates diariamente.
“Este é o segundo ano em que o governo federal participa do evento, e é a Secretaria-Geral quem apoia a presidenta no relacionamento com entidades da sociedade civil”, afirmou a assessora especial da Pasta, Lais de Figueiredo Lopes, no primeiro dia do evento, durante a palestra “As parcerias entre o Estado e organizações da sociedade civil e o marco regulatório”. O debate tratou da norma que está sendo elaborada para regulamentar as relações entre entes estatais e entidades sociais. “A sociedade civil propôs o diálogo em 2010, a presidenta Dilma Roussef se comprometeu e o ministro-chefe, Gilberto Carvalho, desenvolveu uma agenda”, contou Lais.
Entre os exemplos de diálogo do governo federal com a sociedade civil, a assessora especial chegou a citar a iniciativa do IDIS, que está desenvolvendo uma proposta de regulamentação específica para fundos patrimoniais no Brasil, com o objetivo de aprimorar a sustentabilidade do setor.
A diversidade dos debatedores nos seminários organizados pela Secretaria-Geral reforça o objetivo de dialogar com diversos setores: participaram representantes de ministérios, do terceiro setor (como Vera Masagão, diretora da Abong) e da área acadêmica (como o pesquisador Félix Lopes, do Ipea). Em seu estande, o órgão estatal também promoveu conversas sobre temas de interesse da área.
Primeira palestra
A primeira atividade da feira, no entanto, não contou com a presença do governo federal. O foco da palestra “Happy returns: Por que boas causas são bons negócios”, organizada pela Humanitare Foundation, foi justamente iniciativas sociais que passam por soluções de mercado. A fala de Joris Van Wijk, diretor da UBM Brasil – organizadora do evento, subsidiária de umas das maiores multinacionais de mídia de negócios –, resumiu bem o tom do resto do debate: “Boas causas são bons negócios, e juntos podemos mais”.
Na mesma linha, a jornalista Patrícia Trudes, coordenadora-executiva do Prêmio Folha Empreendedor Social, queixou-se da visão de que filantropos têm de ser pessoas “abnegadas”. “No Brasil, ainda se separa fazer o bem de fazer dinheiro, persiste a ideia de que filantropia não pode gerar lucros.”
Sheila Pimentel, da Humanitare Foundation – entidade que promove as ações da ONU com a sociedade civil –, também ressaltou a importância de mudar a mentalidade do setor social privado em relação ao lucro: “Antes, o terceiro setor tinha vergonha de falar em dinheiro, e o que a Humanitare quer é ajudar projetos a se bancarem empresarialmente”.
Soluções sociais que passam pelo mercado estão sendo discutidas até no Fórum de Davos, tradicionalmente associado apenas a discussões econômicas. O diretor global de cidadania corporativa da consultoria KPMG, Michael Hastings, citou inclusive um documento produzido no último encontro na cidade suíça. “Nas Metas do Milênio, da ONU, não havia empresas, mas agora elas são centrais para a discussão de desenvolvimento econômico, social e ambiental”, declarou Hastings.
Não poderiam faltar na mesa, portanto, exemplos de projetos sociais lucrativos. O cônsul honorário do Brasil na Áustria, Lothar Wolff, citou o caso de uma empresa austríaca que produz biogás com lixo orgânico e que está fazendo um projeto-piloto em dez churrascarias de Curitiba. O projeto tem não só apelo ambiental como impacto na alimentação, pois, como explicou Wolff, o “biogás costuma ser produzido com plantações que tomam áreas de cultura de alimentos”.
Outro exemplo foi o marketing relacionado à causa. A presidente do Banco de Alimentos, Luciana Quintão, falou do projeto de sua organização com a Tramontina – parte do dinheiro obtido com a venda de produtos exclusivos é destinada à entidade social. “É uma cultura nova no Brasil. É preciso procurar empresas, convencer de que é bom, quebrar uma série de barreiras”, defendeu.