Publicado originalmente no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (www.gife.org.br), o texto de Rodrigo Zavala trata dos novos desafios enfrentados pelas fundações corporativas. O artigo faz referência a discussões levantadas pela CAF sobre a difícil relação entre os interesses das empresas e as necessidades das fundações que estas mantém.
As fundações corporativas começaram a enfrentar novos desafios nos últimos anos, principalmente no que se refere à inter-relação entre Investimento Social Privado (ISP) e Responsabilidade Social Empresarial (RSE). E o assunto está longe de sair da agenda em 2008.
Consideradas a “inteligência social das empresas”, as fundações passaram a incorporar novas responsabilidades trazidas por suas mantenedoras, que vêem nelas a possibilidade impulsionar uma gestão corporativa comprometida com a ética, tal como serem facilitadoras de diálogos entre o setor privado e a sociedade.
A última discussão sobre o assunto veio do Reino Unido, ainda no ano passado, quando a Charities Aid Foundation (CAF) lançou um estudo que explora a difícil relação entre os interesses empresariais e as necessidades das fundações que mantém. Com pouca repercussão no Brasil, as matérias sobre o levantamento pouco se diferiam quanto ao seu teor.
Com o nome de The changing nature of corporate responsibility – what role for corporate foundations? ( algo como, a natureza mutante da responsabilidade corporativa – qual a função das fundações coporativa), o estudo foi desenvolvido a partir de um estudo prévio, feito em 2006, o Revealing the Foundations (revelando as fundações), também realizado pela CAF.
No entanto, ele foi ampliado por meio da realização de entrevistas com empresas e suas fundações européias, especialistas em ISP e 20 ONGs beneficiadas pelas doações de empresas ou fundações.
Com a nova pesquisa, priorizaram-se fundações que não têm fundos patrimoniais, considerando-se que: como elas não tem recursos próprios, são mais dependentes do orçamento aprovado pelo corporate business. Isto é, com pouca autonomia para decidir suas estratégias de atuação.
As conclusões apontaram para um resultado diverso (três, especificamente) quanto ao impacto do diálogo entre RSP e ISP:
Para uma parcela das organizações argüidas, que chamaremos de Grupo A, suas funções em relação ao financiamento de projetos sociais estavam bem-definidas e que, portanto, a responsabilidade da empresa mantenedora tinha pouco impacto em suas atividade.
Já para o Grupo B, a razão original da criação da fundação não existe mais, e a responsabilidade corporativa foi para a empresa uma oportunidade para rever o papel da fundação, procurando integrá-la mais ao negócio.
Enfim, o Grupo C apontou que a responsabilidade corporativa representou uma oportunidade para criar uma fundação com o propósito específico de aproximar a empresa da responsabilidade social.
Com essas considerações de contexto, a pesquisa propõe um novo caminho para a fundação empresarial, que aponta de forma genérica algumas práticas positivas que as empresas e as consideradas “inteligência social das empresas”. No entanto, não se chega a reais propósitos sistematizados que podem direcionar novas posturas.
Esse mesmo problema foi detectado aqui no Brasil em um encontro promovido pela Aliança Capoava – organização composta pela Fundação Avina, Ashoka Empreendedores Sociais, Instituto Ethos e o GIFE. O Evento reuniu, em São Paulo, representantes dos principais institutos e fundações empresariais que atuam no país.
Os convidados foram estimulados a listar as demandas emergentes nos institutos e fundações que representam. Entre as principais conclusões foram apresentadas:
Ser consultor interno para as mais diversas áreas da empresa, promovendo uma coerência entre discurso e prática;
- facilitador de diálogos entre as empresas e a sociedade civil, conscientizando-a sobre temas como RES, ISP e sustentabilidade;
- mobilização de recursos, otimizando-os a partir de parcerias intersetoriais com foco no desenvolvimento local;
- estimular a definição de papéis do Estado, sociedade civil e setor privado;
- tornar-se indutor/tradutor/mediador das demandas sociais;
- e ser responsável pela melhoria no processo de gestão do investimento social.
Embora a lista concentre idéias genéricas, ela pode ser entendida por meio da relação histórica entre ISP e RSE no país. Segundo o secretário geral do GIFE, Fernando Rossetti, o boom do terceiro setor na década de 90 mobilizou empresas na criação de seus institutos e fundações no investimento maciço ao fomento de projetos comunitários.
No entanto, a hipercompetitividade global – que exige padrões de governança e sustentabilidade cada vez maiores dos negócios -, somada à profissionalização do terceiro setor, vem impondo novos desafios a essas instituições. “A busca por modelos de gestão coorporativas mais sustentáveis mostrou que responsabilidade social empresarial é muito maior do que um trabalho comunitário. Ao perceberem isso, as empresas acabaram pedindo ajuda às suas fundações e institutos, que antes respondiam apenas pelo investimento social”, explica o secretário.
O que mostra a pesquisa e o encontro é simples. Não apenas o Brasil, como todo o mundo está engatinhando na busca de soluções. Como não há bibliografia, pesquisas ou estudos consistentes para se apoiar, as respostas virão por meio de debates permanentes, que apontarão os rumos para consenso e entendimentos. Daí o tema ser pauta sine qua non na agenda de 2008.
Nesse contexto, o GIFE irá preparar uma mesa especial de debates sobre o tema durante o 5º Congresso GIFE sobre Investimento Social Privado, a ser realizado de 02 a 04 de abril de 2008, em Salvador.