A relevância do Investimento Social Privado na composição do ISE B3

Por Marcos Alexandre Manoel, diretor de projetos no IDIS

Desde que aspectos relacionados a impacto socioambiental e avaliação de riscos passaram a integrar a estratégia de negócios de um número cada vez maior de empresas, vimos o mercado virar do avesso e o assunto ganhar potência e escala. É evidente que a ideia de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa não é recente, mas a lógica do mercado certamente mudou desde que foi sugerido que os recursos alocados em projetos socioambientais de interesse público não fossem mais encarados como despesas, mas, sim, como investimentos que trazem retornos de curto, médio e longo prazos. Isso é o que chamamos de Investimento Social Privado (ISP) – ou filantropia estratégica, integrada a uma agenda ESG.

Dentro dessa agenda, que ganhou corpo na última década com o reporte ao mercado financeiro desses aspectos sociais, ambientais e de governança, o ISP é apenas uma dentre as tantas variáveis que impulsionam uma empresa em direção à sustentabilidade. Entendemos, porém, que as práticas de ISP possuem alta capilaridade e podem potencializar substancialmente as ações socioambientais de uma empresa. Ou seja, quando bem-feito, o investimento social pode ajudar a destravar diversos outros pontos de uma agenda de sustentabilidade empresarial. Empiricamente, o Terceiro Setor vem trabalhando há anos para demonstrar o impacto que o ISP pode causar nas métricas ESG de uma organização, especialmente no campo social.

Para comprovar essa hipótese, o IDIS se propôs a analisar a correlação entre o ISP e as notas do ISE B3, o maior índice de sustentabilidade do País. Foi muito gratificante identificar, por meio deste estudo, que o ISP se manteve, nos últimos três anos, entre os dez tópicos que possuem maior correlação com a nota do ISE B3. Ou seja, empresas que têm um bom desempenho em filantropia estratégica tendem a ter um bom desempenho em sustentabilidade empresarial como um todo. É interessante, inclusive, observar que as práticas de ISP figuram lado a lado com aspectos como ‘fundamentos de gestão da sustentabilidade empresarial’, ‘ética nos negócios’ e ‘tendências e propósito’. A aproximação com tópicos que naturalmente possuem uma maior transversalidade, indica o caráter tático do ISP na formulação e implementação de estratégias integradas de sustentabilidade empresarial.

Uma estratégia de ISP alinhada à estratégia ESG ajuda a materializar o propósito da organização para seus stakeholders, gerando resultados tangíveis para a empresa e para a sociedade. O investimento de uma empresa em projetos socioambientais pode ser uma boa maneira de engajar diferentes partes interessadas e iniciar agendas coletivas com o poder público e sociedade civil organizada, promovendo benefícios tanto para a sociedade quanto para as empresas. Além disso, contribuiu para que empresas demonstrassem seus compromissos socioambientais de forma clara e robusta, sinalizando para o mercado e consumidores um compromisso real com diferentes causas.

Apesar de parecer lógico, esse alinhamento não é tarefa fácil. Além de ser preciso conectar as ações com os desafios do negócio e o propósito das marcas, uma atuação estratégica deve considerar aspectos materiais do negócio e um bom mapeamento de partes interessadas e diferentes formas de engajá-las. Além disso, ações socioambientais devem ser complementares aos esforços empreendidos pelo Terceiro Setor, promovendo trocas que enriquecem a atuação de todos os atores. Os dados do estudo mostram que essa é uma tarefa relevante e que deve ser tratada com importância pelo setor privado, já que está altamente correlacionada a uma gestão abrangente da sustentabilidade empresarial.

Em resumo, empiricamente sabemos que, ao conectar o conceito e as práticas de ISP ao propósito e aos valores institucionais, considerando o viés econômico do negócio e a perspectiva dos principais stakeholders em relação ao valor socioambiental a ser criado pela empresa, é possível potencializar a capacidade da organização de gerar impacto positivo para a sociedade e valor real para o negócio. Essa relação está agora comprovada quantitativamente, considerando uma amostra extremamente relevante de empresas brasileiras.

Este artigo faz parte da publicação ‘Investimento Social Privado: estratégias que impulsionam a Agenda ESG’. Acesse a publicação para obter mais dados e análises completas sobre a relação entre ISP e a Agenda ESG.

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Estudo aponta correlação entre boas práticas de Investimento Social Privado e Agenda ESG

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS lança o estudo ‘Investimento Social Privado: estratégias que alavancam a agenda ESG’, que aponta a correlação existente entre boas práticas de ISP e a Agenda ESG, a partir da análise das notas do Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE B3, o maior índice de sustentabilidade do país. O levantamento analisou o triênio 2022-2024 das empresas que fazem parte do indicador e, durante o período avaliado, a prática de Investimento Social Privado manteve-se sempre entre os dez tópicos que possuem maior correlação com a nota do ISE B3, o que demonstra que empresas que têm um bom desempenho em ISP tendem a ter bons resultados em sustentabilidade empresarial como um todo.

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A análise dos dados reforça a tese de que é preciso conectar as ações de ISP das empresas com desafios e o propósito das marcas, buscando uma atuação estratégica que considere aspectos materiais do negócio e um bom mapeamento de partes interessadas e diferentes formas de engajá-las.

“Dedicamos esforços para que o estudo também funcionasse como um guia orientador para as empresas avaliarem suas práticas e prioridades de investimento social privado, engajamento de stakeholders e relacionamento com comunidades relacionadas à Agenda ESG. O resultado são dados e informações fundamentais para estimular mudanças que beneficiem não apenas as próprias empresas, mas também os parceiros e as comunidades envolvidas”, explicou Marcelo Modesto, gerente de projetos e líder do núcleo ESG do IDIS.

A performance em ISP e Cidadania Corporativa das empresas respondentes do ISE B3 ocupou a segunda maior correlação em 2022. Em 2023, o ISP apareceu no quinto lugar; e em sexto lugar, em 2024, mantendo-se no topo do ranking. Além disso, as empresas que afirmaram dar importância ao protagonismo de atores locais da sociedade civil em suas ações de ISP demonstraram uma performance consideravelmente superior em comparação com aquelas que não consideram esse aspecto.

Entre as ações de ISP adotadas por empresas, a prática de avaliação de projetos apoiados foi a que apresentou o maior crescimento no triênio, evidenciando sua valorização. Já a garantia de autossuficiência para organizações e auditoria para projetos apoiados são as práticas menos adotadas. O estudo mostra, aliás, que empresas que avaliam o resultado de suas iniciativas de ISP também apresentaram uma performance superior no índice como um todo: Entre 2022 e 2024 houve um aumento significativo nas notas das empresas que dizem avaliar o resultado de iniciativas apoiadas por meio do Investimento Social Privado. A diferença da nota mediana daquelas que não adotam essa prática chega a 20 pontos para mais, entre as organizações que possuem políticas de avaliação.