Avaliação de impacto como estratégia para excelência em sustentabilidade

por Denise Carvalho, Gerente responsável pela área de Monitoramento e Avaliação no IDIS e Daniel Barretti, Gerente de projetos, especialista em Avaliação de Impacto

A integração da ideia de impacto às estratégias de ISP corporativas tem se tornado cada vez mais constantes. Empresas que adotam essa abordagem não apenas alinham suas iniciativas de ISP com objetivos de sustentabilidade mais amplos, mas também facilitam a interpretação e integração de dados e indicadores monitorados através de frameworks ESG. Essa prática permite uma visão panorâmica do impacto socioambiental, orientando decisões estratégicas.

Ou seja, a interseção entre o ISP e a sustentabilidade corporativa não só redefine o propósito empresarial, mas também demonstra um potencial significativo para impactar positivamente a sociedade e o meio ambiente. A avaliação de impacto, dentro deste contexto, serve como uma bússola, guiando as empresas em direção a práticas mais sustentáveis e responsáveis.

A estratégia de incorporar o ISP nas práticas de sustentabilidade de uma empresa não é apenas uma questão de responsabilidade social corporativa; é uma abordagem que pode gerar valor substancial. A teoria da Criação de Valor Compartilhado¹, proposta por Michael Porter e Mark Kramer, oferece uma sustentação teórica robusta para entender a interconexão entre o ISP e a performance em sustentabilidade. Segundo essa teoria, as empresas podem gerar valor econômico de uma maneira que também produza valor para a sociedade, enfrentando suas necessidades e desafios. Neste sentido, a avaliação de impacto permite que as empresas quantifiquem e comuniquem como suas iniciativas de ISP estão contribuindo tanto para seus objetivos de negócios quanto para objetivos sociais mais amplos.

O caráter de aprendizagem inerente ao processo de monitoramento e avaliação é outro aspecto relevante. Empresas que diligentemente monitoram e avaliam suas iniciativas de ISP demonstram uma curva de crescimento acentuada em sua performance de sustentabilidade. Esse crescimento é atribuído ao aprendizado contínuo e à capacidade de adaptação, evidenciando como a avaliação de impacto transcende a mera conformidade, tornando-se um vetor de inovação e melhoria contínua.

Além disso, o papel do monitoramento, em conjunto com a avaliação, é fundamental. Indicadores de processo e resultados, usuais nos frameworks ESG, promovem a uniformização e disseminação de boas práticas. Essa padronização não apenas assegura a robustez dos resultados de sustentabilidade, mas também facilita a comparação e a competição saudável entre empresas por melhorias sociais significativas.

Os resultados da análise feita neste estudo reforçam a importância dessas práticas. Empresas que avaliam o resultado de suas iniciativas de ISP não só apresentaram uma performance superior no ISE B3 como um todo, mas também registraram um aumento significativo em sua performance entre 2022 e 2024.

Em termos práticos, a coleta sistemática de indicadores de impacto permite que se olhe, de maneira reflexiva e estratégica, para a eficiência de determinada intervenção social e consequentemente permite a revisão e o aprimoramento periódicos com vistas à maximização dos benefícios sociais almejados e gerados. Não raro, projetos sociais acabam por gerar impactos positivos não intencionais e que passariam despercebidos caso não houvesse uma avaliação que levasse em conta, por exemplo, a percepção dos beneficiários quanto às mudanças geradas em suas vidas.

Em oposição, iniciativas que se atém apenas a indicadores de processo e de produto não conseguem refletir de maneira estratégica sobre suas ações e propósito, e também, invariavelmente, pecam na compreensão e consequente comunicação de seus resultados e impactos.

Considerando a importância de uma abordagem holística e integrada à avaliação de impacto, sugere-se que, para alcançar e manter uma performance de sustentabilidade de alto nível, as empresas devam adotar práticas de monitoramento e avaliação que sejam tanto rigorosas quanto adaptáveis à realidade de cada iniciativa. À medida que o cenário empresarial continua a evoluir, a capacidade de avaliar e responder efetivamente ao impacto socioambiental das iniciativas de ISP será cada vez mais vista como um componente essencial da liderança em sustentabilidade.

¹ PORTER, M. E.; KRAMER, M.R. Creating Shared Value: how to reinvent capitalism and unleash a wave of innovation and growth. Harvard Business Review, 2011.

Este artigo faz parte da publicação ‘Investimento Social Privado: estratégias que impulsionam a Agenda ESG’. Acesse a publicação para obter mais dados e análises completas sobre a relação entre ISP e a Agenda ESG.

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O ISP como forma de se relacionar mais e melhor com as comunidades

Por Felipe Groba, gerente de projetos do IDIS, e Whilla Castelhano

Já ficou para trás o tempo em que as doações das empresas para projetos socioambientais eram baseadas exclusivamente nos desejos dos altos executivos. Cada vez mais, é exigido das empresas um alinhamento com as expectativas e necessidades de quem recebe as doações, fortalecendo suas potencialidades e, principalmente, investimentos alinhados com os anseios locais. Progressivamente, vemos as empresas respondendo à altura, adaptando-se às novas demandas e compreendendo que não podem crescer e gerar lucros sem considerar a geração de impactos positivos para os públicos com os quais se relacionam e para a sociedade. Ora a passos rápidos, ora a passos muito lentos, avançamos para um entendimento de que é preciso trabalhar em conjunto e de forma estratégica para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do mundo onde vivemos.

Este estudo corrobora esses conhecimentos empíricos e experiências que compartilhamos no IDIS. Em 2024, 79% das empresas avaliadas no triênio afirmaram conduzir consultas com stakeholders relevantes e com a comunidade para estabelecer uma agenda conjunta. Esse é um processo de construção importante para o setor social e uma experiência que gerará estratégias inovadoras de investimento e resolução de problemas.

Um outro dado que respalda a importância do envolvimento da comunidade para um ISP estratégico é a empresa criar condições de autossuficiência financeira e organizacional para as organizações apoiadas. Para o desenvolvimento sustentável do setor social, execução de projetos melhores e com mais impacto, remuneração adequada, investimento e expansão das atividades, e até propor ações e soluções inovadoras, uma organização social demanda investimento e segurança financeira, assim como uma empresa. Em 2024, 50 empresas informaram atuarem desta forma junto às organizações e, com pontuações altas e similares entre si, mostram que este é um novo caminho que as empresas estão aderindo.

Podemos considerar que essas ações surgem como resultado também dessa relação com atores locais e canais de comunicação constantes para o processo de decisão? Acreditamos que sim! Afinal, envolver novos atores traz novos olhares e conhecimentos, mostra novas prioridades e fragilidades, que as empresas em conjunto com as organizações podem apoiar e inovar. Consequentemente, temos projetos e organizações sociais mais estruturadas, com mais impacto e atuando de forma mais estratégica para endereçar as demandas locais e reduzir as desigualdades no Brasil.

Diálogos locais, impacto social positivo coerente com a empresa, canais abertos e transparência do ISP movem o ponteiro de atuação e exigem das empresas novos olhares. É preciso, porém, que empresas avancem ainda mais nesta agenda, buscando maneiras de se envolverem com atores locais, atuando em parceria com o Terceiro Setor de maneira complementar. O ISP possui um importante papel: ao construir um relacionamento voltado para a comunidade e o entorno, junto às diretrizes e demandas internas da empresa, as estratégias de investimento socioambiental são mais assertivas, direcionadas e promovem melhorias em territórios. Um ISP construído em parceria, que considere as narrativas daqueles que já foram e estão sendo beneficiados por diferentes iniciativas, terá resultados mais longevos e de maior impacto e retorno para a empresa no longo prazo.

É uma relação de reciprocidade. As empresas, ao ouvirem e investirem de acordo com as demandas locais e ao estabelecerem processos de construções conjuntas, contribuem para o fortalecimento das organizações sociais, que ficam mais bem estruturadas, mais sólidas e robustas. Essas organizações ganham maior capacidade para gerar impactos positivos e resultados mais sustentáveis. Um ciclo virtuoso em que todos ganham, em especial, a sociedade.

Este artigo faz parte da publicação ‘Investimento Social Privado: estratégias que impulsionam a Agenda ESG’. Acesse a publicação para obter mais dados e análises completas sobre a relação entre ISP e a Agenda ESG.

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Quero promover impactos socioambientais positivos. Devo criar uma fundação?

Por Henrique Barreto e Andrea Hanai, ambos gerentes de projetos do IDIS

O aumento das demandas públicas e das pressões sociais por posturas proativas e compromissadas das empresas em sua atuação social resultou em um aumento significativo da criação de institutos e fundações empresariais durante meados dos anos 90. Podemos enxergar essa onda como um primeiro movimento marcante de resposta das organizações, que passaram a ser cada vez mais cobradas a reconhecer a importância de assumir responsabilidades para além do lucro.

As fundações e institutos criados, concentrariam, então, os esforços das empresa para promover um impacto social positivo, representando um compromisso perene e operando com autonomia e independência no enfrentamento de uma ou mais causas caras ao desenvolvimento socioambiental, de forma conectada, ou não, ao negócio de suas instituidoras. Estas estruturas passaram a concentrar especialistas, desenvolver metodologias, criar projetos proprietários ou apoiar projetos de terceiros (grantmaking), estabelecer pontos de contato com o setor público e a gerar impacto positivo, ajudando efetivamente a construir reputação e cidadania para suas marcas instituidoras. Ainda assim, no início, de forma geral, eram pequenas e médias células de impacto, com equipes formadas por especialistas, apartadas do negócio e mais resistentes a cortes e mudanças de direção.

A expectativa social de que as empresas devem atuar sobre outras dimensões que não apenas a econômica não parou de crescer desde então. A esse debate, somaram-se as discussões sobre propósito e gestão ESG, que equilibra a produção econômica com os impactos sociais e ambientais positivos, buscando aprofundar a responsabilidade social e o investimento social privado como partes de uma atuação integrada, que permeia todas as áreas do negócio. Nesse sentido, a existência de veículos filantrópicos empresariais configura-se como parte relevante dessa atuação responsável e sólida. Isso não quer dizer, entretanto, que possuir um instituto ou fundação empresarial seja suficiente, uma vez que o desempenho positivo socioambiental de uma empresa é fortalecido por um conjunto de fatores.

Anteriormente, os veículos filantrópicos operavam de forma mais independente, complementando as ações da empresa. Atualmente, a agenda ESG introduz novas complexidades e proporciona maior integração entre o investimento social e a estratégica corporativa. Por meio de parcerias com outras organizações e empresas, os projetos conduzidos por institutos e fundações podem promover uma cultura colaborativa e demonstrar um compromisso significativo com determinadas causas, utilizando não apenas recursos financeiros, mas também outras competências em prol do benefício público.

Essas observações apontam para uma mudança no paradigma dos projetos conduzidos por institutos e fundações empresariais, que parecem menos proprietários e mais altruístas, sendo capazes de atrair coalizões e parcerias. É o caso, por exemplo, do fundo de combate à violência contra meninas e mulheres, parceria do Instituto Avon com a Accor Hotels, e que também se mantém aberto para novos participantes e financiadores.

De fato, ao observar a pesquisa, nota-se que a performance no tópico de Investimento Social Privado é levemente melhor, tanto na média quanto na mediana, em empresas que atuam por meio de veículo filantrópico proprietário. Isso pode representar maior maturidade das empresas que possuem esse tipo de veículo, sugerindo que o compromisso de constituir um instituto ou fundação também carrega maior responsabilidade e desempenho mais elevados em relação ao Investimento Social Privado e a Cidadania Corporativa em geral. Também observamos menor variação no desempenho de empresas que possuem veículos próprios, como se sua constituição também representasse um patamar mínimo de sucesso nesse quesito. Por exemplo, em 2024, empresas com um veículo filantrópico não tiveram desempenho abaixo de 60%, e apresentaram uma menor distribuição das notas em relação às empresas que não possuem veículos filantrópicos.

Por outro lado, considerando as 85 empresas que responderam durante todo o triênio,
não há diferença estatisticamente significativa para a diferença em performance no ISE
B3 entre empresas que atuam via veículo filantrópico e aquelas que não. Isso sugere que, mesmo sem a criação de um instituto ou fundação empresarial, o que sugere um compromisso mais firme e duradouro, com mandato e agência próprios, e protegidos das flutuações empresariais, ainda é possível obter um bom desempenho no ISE B3. Nesse sentido, é possível imaginar empresas que incorporaram a responsabilidade social em várias áreas como parte de suas operações, atuando sob a coordenação e o engajamento de uma área de responsabilidade social corporativa integrada ao negócio.

Podemos estabelecer que é possível pontuar bem em sustentabilidade empresarial, mesmo na ausência de veículos filantrópicos específicos. No entanto, esses veículos permanecem como estruturas importantes (ao lado de fundos filantrópicos, outra modalidade capaz de fomentar o co-investimento), que demarcam compromissos empresariais firmes diante de inúmeros dilemas e questões sociais. Eles serão ainda mais efetivos caso consigam conectar seus focos de atuação ao negócio, constituindo-se como elementos importantes, inclusive, para impulsionar o crescimento de uma agenda ESG mais ampla e profunda, ligada ao propósito e que deve permear toda organização.

Este artigo faz parte da publicação ‘Investimento Social Privado: estratégias que impulsionam a Agenda ESG’. Acesse a publicação para obter mais dados e análises completas sobre a relação entre ISP e a Agenda ESG.

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A relevância do Investimento Social Privado na composição do ISE B3

Por Marcos Alexandre Manoel, diretor de projetos no IDIS

Desde que aspectos relacionados a impacto socioambiental e avaliação de riscos passaram a integrar a estratégia de negócios de um número cada vez maior de empresas, vimos o mercado virar do avesso e o assunto ganhar potência e escala. É evidente que a ideia de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa não é recente, mas a lógica do mercado certamente mudou desde que foi sugerido que os recursos alocados em projetos socioambientais de interesse público não fossem mais encarados como despesas, mas, sim, como investimentos que trazem retornos de curto, médio e longo prazos. Isso é o que chamamos de Investimento Social Privado (ISP) – ou filantropia estratégica, integrada a uma agenda ESG.

Dentro dessa agenda, que ganhou corpo na última década com o reporte ao mercado financeiro desses aspectos sociais, ambientais e de governança, o ISP é apenas uma dentre as tantas variáveis que impulsionam uma empresa em direção à sustentabilidade. Entendemos, porém, que as práticas de ISP possuem alta capilaridade e podem potencializar substancialmente as ações socioambientais de uma empresa. Ou seja, quando bem-feito, o investimento social pode ajudar a destravar diversos outros pontos de uma agenda de sustentabilidade empresarial. Empiricamente, o Terceiro Setor vem trabalhando há anos para demonstrar o impacto que o ISP pode causar nas métricas ESG de uma organização, especialmente no campo social.

Para comprovar essa hipótese, o IDIS se propôs a analisar a correlação entre o ISP e as notas do ISE B3, o maior índice de sustentabilidade do País. Foi muito gratificante identificar, por meio deste estudo, que o ISP se manteve, nos últimos três anos, entre os dez tópicos que possuem maior correlação com a nota do ISE B3. Ou seja, empresas que têm um bom desempenho em filantropia estratégica tendem a ter um bom desempenho em sustentabilidade empresarial como um todo. É interessante, inclusive, observar que as práticas de ISP figuram lado a lado com aspectos como ‘fundamentos de gestão da sustentabilidade empresarial’, ‘ética nos negócios’ e ‘tendências e propósito’. A aproximação com tópicos que naturalmente possuem uma maior transversalidade, indica o caráter tático do ISP na formulação e implementação de estratégias integradas de sustentabilidade empresarial.

Uma estratégia de ISP alinhada à estratégia ESG ajuda a materializar o propósito da organização para seus stakeholders, gerando resultados tangíveis para a empresa e para a sociedade. O investimento de uma empresa em projetos socioambientais pode ser uma boa maneira de engajar diferentes partes interessadas e iniciar agendas coletivas com o poder público e sociedade civil organizada, promovendo benefícios tanto para a sociedade quanto para as empresas. Além disso, contribuiu para que empresas demonstrassem seus compromissos socioambientais de forma clara e robusta, sinalizando para o mercado e consumidores um compromisso real com diferentes causas.

Apesar de parecer lógico, esse alinhamento não é tarefa fácil. Além de ser preciso conectar as ações com os desafios do negócio e o propósito das marcas, uma atuação estratégica deve considerar aspectos materiais do negócio e um bom mapeamento de partes interessadas e diferentes formas de engajá-las. Além disso, ações socioambientais devem ser complementares aos esforços empreendidos pelo Terceiro Setor, promovendo trocas que enriquecem a atuação de todos os atores. Os dados do estudo mostram que essa é uma tarefa relevante e que deve ser tratada com importância pelo setor privado, já que está altamente correlacionada a uma gestão abrangente da sustentabilidade empresarial.

Em resumo, empiricamente sabemos que, ao conectar o conceito e as práticas de ISP ao propósito e aos valores institucionais, considerando o viés econômico do negócio e a perspectiva dos principais stakeholders em relação ao valor socioambiental a ser criado pela empresa, é possível potencializar a capacidade da organização de gerar impacto positivo para a sociedade e valor real para o negócio. Essa relação está agora comprovada quantitativamente, considerando uma amostra extremamente relevante de empresas brasileiras.

Este artigo faz parte da publicação ‘Investimento Social Privado: estratégias que impulsionam a Agenda ESG’. Acesse a publicação para obter mais dados e análises completas sobre a relação entre ISP e a Agenda ESG.

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O que é ESG e como ele se relaciona com o Investimento Social Privado?

Em 2005, durante a conferência Who care wins’ promovida pelo International Finance Corporation (IFC) em conjunto com a ONU, líderes mundiais examinaram o papel de valores ambientais, sociais e de governança para a gestão de ativos e pesquisa financeira. Na ocasião, houve um consenso que esses três fatores desempenham um papel bastante importante no contexto de investimentos de longo prazo.

Assim, ficou oficializado a criação da agenda ESG (em tradução, ambiental, social e governança) e, com ela, a expectativa de que as empresas relatassem suas ações de forma consistente e ativa. A agenda aproximou, por fim, o mercado financeiro ao debate sobre sustentabilidade. Ao mesmo tempo, passou a considerar em suas decisões os riscos que estas pautas podem representar ao valor e à perenidade das organizações privadas.

Nesse artigo, você entende um pouco mais sobre o que é ESG e como ele influencia – e é influenciado – por outras pautas como o Investimento Social Privado (ISP).

 

O que significa ESG?

Apesar de já existir há quase vinte anos, foi em 2020, durante o cenário pandêmico, que a agenda se popularizou, ganhando força especialmente a partir do posicionamento de grandes atores do setor econômico em favor da sustentabilidade corporativa.

Antes de mais nada, é importante esclarecer que quando o assunto é ESG, falamos principalmente das relações entre iniciativa privada e o mercado financeiro. Ou seja, ao considerar investir em uma empresa, investidores passam a incorporar em seu processo de decisão, questões ambientais, sociais e de governança. Os elementos são considerados critérios importantes para avaliar a qualidade do investimento e os riscos não financeiros.

Compreende-se que, dessa forma, empresas passam a dar consideração mais séria à forma como mitigam ou endereçam de maneira mais propositiva os aspectos que afetam todas as partes envolvidas e interessadas em sua atuação; desde colaboradores, a fornecedores e sociedade ao redor. Isso é incorporar a agenda ESG na empresa para que, assim, seja possível alcançar um mundo e sociedade mais sustentáveis.

“Não se trata apenas de identificação, mensuração e gestão de riscos sob perspectiva ampla, mas também de busca ativa pela geração de resultados positivos em todos os âmbitos que circundam a atividade empresarial.”
Guia Prático ESG para Investidores, escritório de advocacia Mattos Filho

Agenda ambiental

O ‘E’ (environmental, em inglês, geralmente traduzido para ambiental ou meio ambiente), foca em ações que visam reduzir e mitigar o impacto ambiental causado pelas empresas, como a gestão eficiente de recursos naturais, mitigação das mudanças climáticas, redução da emissão de carbono, gestão de resíduos, adoção de práticas de produção mais sustentáveis e assim por diante.

Agenda social

Já o ‘S’ da agenda ESG aborda questões relacionadas ao bem-estar das pessoas tanto internamente (colaboradores) quanto nas comunidades em que a empresa opera. Essa letra do tripé busca olhar com cuidado desde questões de saúde e segurança do trabalho, políticas de diversidade e inclusão, relacionamento com a comunidade, até programas de responsabilidade social corporativa, voluntariado e investimento social privado, entre outros temas.

Agenda de governança

Por fim, mas não menos importante, o ‘G’ trata das práticas de governança corporativa. Os princípios de governança corporativa mapeiam práticas relacionadas à integridade, equidade, transparência, accountability (responsabilização) e sustentabilidade das estruturas e práticas de governança de uma empresa. Passando pelos conselhos e comitês de uma organização, até suas políticas de remuneração e prestação de contas.

Como o Investimento Social Privado se aproxima da agenda ESG?

Entende-se por Investimento Social Privado (ISP) ou Filantropia Estratégica, a alocação voluntária e estratégica de recursos privados, sejam eles financeiros, em espécie, humanos, técnicos ou gerenciais para o benefício público. Para promover a transformação social, essa doação precisa ser feita com planejamento estratégico ancorado em dados, com indicadores pré-definidos, execução cuidadosa, monitoramento dos resultados e avaliação do seu impacto.

Nesse sentido, quando uma organização define o foco e estratégia de suas doações, compreende-se que essas práticas necessariamente estarão alinhadas ao propósito e valores da instituição, além de conversar com todos os atores que são impactados ou impactam a atuação da empresa. Esses atores, chamamos de stakeholders (ou partes interessadas).

Mas e o ESG, onde entra nisso tudo? Bom, através da filantropia estratégica, as empresas podem direcionar recursos para projetos, organizações da sociedade civil (OSCs) e iniciativas que contribuam para o desenvolvimento socioambiental da comunidade. Como entendemos que o ISP estratégico atua alinhado ao negócio, a agenda ESG atua como uma aliada na formulação dessas práticas, mensurando e mitigando riscos não financeiros.

É uma via de mão dupla. Ao passo que a agenda ESG contribui para decisões mais estratégicas em relação ao ISP; o ISP atua como ponto essencial para atingimento de metas e compromissos ESG.

 

Atuação do IDIS na Agenda ESG

Com o crescimento da importância da Agenda ESG, o IDIS tem investido no fortalecimento da equipe com especialistas e na produção de conhecimento sobre o tema, incluindo o desenvolvimento de metodologias que apoiam investidores sociais em tomadas de decisões.

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Em 2023, foi oficializada a criação de uma célula ESG no time de consultoria, oferecendo apoio técnico a empresas e organizações sociais que desejam aprimorar suas estratégias ESG e conectá-las a suas práticas de investimento social. Entre os serviços oferecidos, estão estratégia ESG conectada ao Investimento Social Privado; mapa de riscos e oportunidades; (re)estruturação de projetos socioambientais; estabelecimento de Comitês Temáticos; e alinhamento de indicadores e métricas para um reporte consistente.

Do planejamento ao monitoramento e avaliação: como instituições podem potencializar seu impacto?

Planejando um Investimento Social Privado estratégico

A partir da alocação voluntária e estratégica de recursos privados para o benefício público, empresas podem ir além do lucro financeiro e contribuir para o desenvolvimento socioambiental sustentável. A agenda ESG é uma poderosa aliada na formulação de práticas de filantropia estratégica, com ênfase na mensuração e mitigação de riscos não financeiros. Por exemplo, uma empresa que possui riscos não financeiros bem mapeados, pode utilizá-los para criar ou aprimorar sua estratégia de investimento social privado, não só mitigando impactos negativos da operação, como também gerando impactos positivos e ampliando o diálogo com públicos de interesse.

Em outras palavras, uma estratégia de investimento social privado alinhada à uma estratégia ESG ajuda a materializar o propósito da organização para seus mais variados stakeholders, gerando resultados tangíveis para a empresa e para a sociedade. Apesar de parecer lógico, esse alinhamento não é tarefa fácil. Em pesquisa realizada pela Amcham e Humanizadas, com 574 CEOS, vice-presidentes, gerentes e implementadores de estratégias ESG, 38% dos respondentes destacaram que o principal desafio na agenda ESG é a dificuldade em mensurar e monitorar indicadores ESG, e 32% indicaram ser a ausência de uma cultura forte de sustentabilidade.

Como uma estratégia de investimento social privado (ISP) pode ajudar a endereçar esses desafios? Em primeiro lugar, se há clareza quanto aos objetivos e visão de impacto, já existe uma base para práticas de monitoramento e avaliação. Além disso, a definição de causas prioritárias/focos de atuação ajuda a empresa e seus stakeholders (públicos interessados) a elencar prioridades e comunicarem melhor – tanto interna quanto externamente – as ações realizadas, facilitando o entendimento e engajamento de colaboradores e sociedade e contribuindo para ganhos reputacionais, atração e retenção de talentos, entre outros.

A metodologia do IDIS parte da compreensão de que é preciso conectar o conceito e as práticas de ISP ao propósito e valores institucionais, considerando o viés econômico que rege o negócio e a perspectiva dos principais stakeholders em relação ao valor socioambiental a ser criado pela empresa. Este olhar integrado ISP-ESG permite potencializar a capacidade da organização de gerar impacto positivo para a sociedade e valor real em curto, médio e longo prazo para o negócio e sua cadeia de stakeholders.

Aumentando o engajamento de stakeholders

“O propósito de uma empresa é engajar todas suas partes interessadas na criação de valor sustentável. Ao criar tal valor, a empresa não atende somente a acionistas, mas a todas suas partes interessadas – colaboradores(as), clientes, fornecedores(as), comunidades locais e sociedade em geral. A melhor maneira de compreender e equilibrar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é por meio de um comprometimento compartilhado com políticas e decisões que fortaleçam a prosperidade da empresa a longo prazo”. O trecho foi extraído do Manifesto de Davos 2020, proposto pelo Fórum Econômico Mundial e que exemplifica os novos paradigmas que regem as corporações na 4ª. Revolução Industrial. 

Novas maneiras de se relacionar com diversas partes interessadas já ocupam espaço central em estratégias eleitorais, de marketing e na criação de produtos. No entanto, observa-se que o investimento social privado nem sempre acompanha essa tendência. Investidores sociais, de maneira geral, ainda utilizam abordagens verticais e centralizadoras na hora de definir seus aportes e estabelecer vínculos com seus públicos.

Apesar de possuírem um escopo de atuação limitado, ao criarem suas estratégias ESG e de Investimento Social Privado, empresas precisam considerar o envolvimento de múltiplos stakeholders. Para cada perfil, para cada desafio, um arranjo diferente, ainda que colaboração e o trabalho em rede surjam como pontos comuns que devem ser considerados.

Ao adotar uma estratégia que envolve e aprofunda os laços com as partes interessadas, uma empresa passa a gerar maiores e melhores resultados para suas ações sociais. Além disso, ela pode se beneficiar de relacionamentos mais estratégicos e duradouros com as comunidades de seu entorno, poder público, tomadores de decisão e influenciadores.

Do ponto de vista das organizações da sociedade civil, é preciso se preparar para um envolvimento mais estratégico com seus parceiros do setor privado, contribuindo de forma programática para o enfrentamento de desafios socioambientais, para além do apoio a projetos pontuais. Embora essa colaboração demande mais esforço no curto prazo, pode levar a laços mais fortes e recursos mais estáveis para a organização.

 

Medindo e comunicando os resultados e impacto

Na hora de mensurar a contribuição e o impacto socioambiental das ações de uma empresa, é necessário estabelecer diretrizes de monitoramento e avaliação. Essas diretrizes não apenas auxiliam a definição e acompanhamento de tópicos materiais, avaliação e comunicação de resultados, como também contribuem para a construção de uma governança de sustentabilidade empresarial que traduza aprendizados em decisões estratégicas, referentes à cultura organizacional, riscos e oportunidades, performance socioambiental, entre outros aspectos.

As práticas de monitoramento e avaliação do investimento social privado podem ajudar empresas a avançarem na maneira como medem o sucesso de suas iniciativas e de suas contribuições para o desenvolvimento sustentável e redução de riscos não financeiros, hoje ainda muito pautadas por frameworks insuficientes, que avaliam somente processo e nível de compliance.

Do ponto de vista das organizações da sociedade civil, o desafio é outro: traduzir a importância do trabalho realizado e seus resultados em uma linguagem que agregue valor para o relatório de sustentabilidade das empresas. A capacidade de comunicar de forma clara esses resultados pode ser o diferencial para aumentar a qualidade e a profundidade do relacionamento com as partes interessadas.

Uma maneira de aproximar essas duas pontas, no contexto das empresas, é por meio de uma teoria de mudança que estabeleça de forma clara a conexão entre o impacto esperado e as ações realizadas, assim como critérios de seleção de projetos e elementos que contribuam para a comunicação dos compromissos públicos e resultados obtidos.

 

A série ‘O investimento social privado e a agenda ESG: sinergias e aprendizados’ é uma iniciativa de Marcelo Modesto, gerente de projetos e líder do núcleo ESG do IDIS, e Gabriel Bianco, coordenador de projetos do IDIS. Em três artigos, abordam metodologias e práticas do investimento social privado que podem ajudar empresas e organizações a melhor navegarem no universo do capitalismo de stakeholders. Exemplos práticos de investidores sociais e organizações que estão inovando na busca por uma melhor gestão da sustentabilidade e seu impacto socioambiental positivo ilustram o conteúdo. 

 

Acesse também os outros artigos da série:

 

Com o crescimento da importância da Agenda ESG, o IDIS tem investido no fortalecimento da equipe com especialistas e na produção de conhecimento sobre o tema, incluindo o desenvolvimento de metodologias que apoiam investidores sociais em tomadas de decisões.

Em 2023, foi oficializada a criação de uma unidade ESG no time de consultoria, oferecendo apoio técnico a empresas e organizações sociais que desejam aprimorar suas estratégias ESG e conectá-las a suas práticas de investimento social. Entre os serviços oferecidos, estão estratégia ESG conectada ao Investimento Social Privado; mapa de riscos e oportunidades; (re)estruturação de projetos socioambientais; estabelecimento de Comitês Temáticos; e alinhamento de indicadores e métricas para um reporte consistente.

Entre em contato conosco para contar sua história ou dar os próximos passos de sua organização nesta jornada através do e-mail comunicacao@idis.org.br

Como construir parcerias mais estratégicas e inclusivas entre organizações sociais e empresas?

O potencial de parcerias entre organizações da sociedade civil e empresas é enorme. O olhar para a sustentabilidade empresarial, em todas as suas dimensões, pode ajudar empresas a buscarem uma relação mais transparente e efetiva com a sociedade civil organizada, além de contribuírem entre si por meio do desenvolvimento de ferramentas de gestão e estratégias. Atentas a este movimento, as organizações da sociedade civil aprimoraram sua capacidade de articulação em rede, assim como a apresentação clara do impacto de suas ações.

Nesse terceiro artigo da série ‘O investimento social privado e a agenda ESG: sinergias e aprendizados’, conheça iniciativas bem-sucedidas na construção de parcerias estratégicas e inclusivas entre organizações sociais e empresa

 

Parceiros da Educação: movimentos em prol da construção coletiva

Com 19 anos de atividade, a Parceiros da Educação possui números expressivos em sua atuação em prol da educação, tendo impactado mais de 700 escolas públicas, 900 mil estudantes e 75 mil professores. A organização atua por meio de quatro pilares prioritários: pedagógico, com vista à evolução da qualidade da educação; gestão, direcionado às equipes gestoras nas escolas; comunitário, com ênfase na corresponsabilidade das famílias em relação à educação; e infraestrutura, por meio de investimentos diretos nos espaços pedagógicos.

Mesmo com essa atuação já estabelecida, a organização continua buscando maneiras de potencializar seu impacto. Segundo o diretor geral Rafael Machiaverni, “nos últimos anos, nosso orçamento praticamente triplicou devido ao envolvimento e apoio de empresas em nossos projetos e na causa”. Ele destaca alguns fatores-chave para esse crescimento: em primeiro lugar, a capacidade de demonstrar resultados claros e objetivos do investimento social realizado pela empresa e a diferença que o trabalho promove na sociedade.

Em segundo lugar, destaca-se o envolvimento do parceiro na ação como parte presente e não apenas como investidor de recursos, vivenciando os projetos e entrando em contato com beneficiados. “Percebe-se o amadurecimento das empresas com relação ao investimento social de médio e longo prazo e planos estratégicos, alinhados às suas estratégias ESG”, destaca também Rafael.

O crescimento do investimento social privado em educação é uma tendência que pode ser observada na pesquisa BISC – Benchmarking do Investimento Social Corporativo. Em 2021, entre as empresas que compõe a Rede BISC, o investimento em educação ocupou a segunda posição, ficando atrás apenas de patrocínios de eventos culturais, recuperando o espaço de destaque que ocupava antes da pandemia e que durante o período mais agudo da crise foi temporariamente ocupado por investimentos em saúde.

Algumas das lições da Parceiros da Educação podem ser valiosas, inclusive, para organizações que atuam com diferentes causas e focos.

“Nos últimos anos, temos percebido que as empresas têm se organizado com relação às áreas de atuação de seu investimento social, com um aumento no foco específico. Além disso, nota-se uma maior atenção e acompanhamento dos resultados de projetos apoiados. Por outro lado, há uma iniciativa de proporcionar momentos de formação em gestão para as organizações apoiadas como forma de melhoria da qualidade dos serviços, além de aumento do prazo de parceira com os projetos sociais, visando impacto social estrutural e não somente ações pontuais”, afirma Rafael.

Com o apoio mais estratégico do setor privado e o aumento da capacidade de execução do terceiro setor, é possível pensar em soluções cada vez mais coletivas para desafios comuns. A sociedade civil organizada possui como uma de suas maiores potencialidades a propensão à atuação em rede ressaltado também pelo Parceiros da Educação com a ‘Frente pela Educação Paulista’. Essa iniciativa foi articulada com a participação de mais de 30 organizações, colaborando na construção de um documento que norteia a implantação de ações que fortalecerão políticas públicas da educação, visando resultados efetivos de melhora da qualidade do ensino público.

“Avaliamos essa construção coletiva como muito positiva. Saberes diversos, cada qual com sua especialidade, contribuindo para a construção de um plano de ação e investimento de médio e longo prazo com foco na causa, com tempo de investimento que seja suficiente para alcançar resultados de impacto, e não apenas ações pulverizadas e pontuais”, conclui Rafael Machiaverni.

Práticas de monitoramento e avaliação possuirão cada vez mais um papel fundamental no relacionamento entre OSCs e seus parceiros. Essa relação também pode ser fortalecida com um maior envolvimento das empresas na implementação e planejamento das atividades. Por fim, as parcerias caminham para uma visão de longo prazo e numa atuação em rede, com mais contribuições e visões sendo construídas em conjunto por atores especializados.

 

Suzano: relacionamento estratégico com os territórios

Com o propósito de contribuir para impulsionar o desenvolvimento social das áreas vizinhas às suas operações, a Suzano, em parceria com outros atores, prioriza o fortalecimento das relações com as comunidades e do investimento em educação, oportunidades de trabalho e geração de renda. Em 2022, a atuação social da empresa atingiu mais de 47 mil pessoas, envolvendo seis frentes adaptadas às características regionais: extrativismo sustentável, reciclagem inclusiva, empreendedorismo, redes de abastecimento, acesso a emprego e cadeia de valor Suzano.

“A estratégia de ‘territórios resilientes’ une a necessidade de aprimorar o relacionamento com as comunidades do entorno das nossas operações com a possibilidade de contribuir para que as famílias deixem a condição de pobreza monetária, a partir de projetos de geração de renda. A seleção de projetos e identificação de organizações sociais parceiras se dá pelo processo de editais abertos, mapeamento de oportunidades no território e parcerias com instituições alinhadas à mesma agenda social”, explica Giordano.

As diretrizes para essa atuação foram consolidadas em uma Teoria de Mudança (TdM), formulada em 2022, que definiu um compromisso de retirada de 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030. O método torna visível o caminho necessário para se alcançar uma transformação social real a curto prazo (1-2 anos), médio prazo (5 anos) e longo prazo (10 anos). O primeiro passo na aplicação da TdM é admitir a existência de um problema social. Em seguida, são estabelecidos um propósito e uma visão de impacto. O investimento social da empresa, então, foi direcionado para atingir esse público em situação de vulnerabilidade socioeconômica, e a iniciativa possui um papel relevante na estratégia de sustentabilidade da empresa como um todo.

“Entre os oito temas materiais da Suzano, temos o Desenvolvimento Territorial, onde conflitos com comunidades, incluindo populações indígenas e tradicionais, podem afetar a capacidade de uma empresa de operar em algumas regiões, resultar em ações regulatórias e pode causar impactos de marca. Por outro lado, as empresas podem proporcionar benefícios às partes interessadas da comunidade por meio de oportunidades de emprego, compartilhamento de receita e aumento do comércio. As organizações podem adotar várias estratégias de engajamento comunitário para gerenciar os riscos e oportunidades associadas aos direitos da comunidade e seus interesses, tais como manter relações positivas com as partes interessadas locais e acomodar as necessidades das comunidades”, afirma Giordano. “Esse tema material é o plano de fundo para nossa estratégia social que tem como pilares o relacionamento com as comunidades e os compromissos de contribuir para reduzir a pobreza e melhorar a educação nos territórios de atuação da companhia”, conclui.

O relacionamento com organizações da sociedade civil, dentro desta lógica, passa a ser ainda mais estratégico. A partir de um Manual Corporativo de Gestão do Relacionamento com Comunidades, que orienta toda a companhia quanto às diretrizes para assegurar a legitimidade social do negócio, por meio da interação com as comunidades vizinhas, a empresa estabelece algumas ferramentas e fluxos específicos, como:

1. Rotina e instrumentos de identificação e caracterização das comunidades;

2.Mecanismos para incorporação das informações e demandas oriundas da comunidade no processo decisório das operações da empresa (por exemplo, Diálogo Operacional – DO, que são encontros agendados com as comunidades antes das operações da Suzano, visando antecipar informações sobre as operações, receber sugestões e orientações, identificar possíveis impactos e, consequentemente definir ações mitigatórias; e Matrizes de Aspectos e Impactos Sociais das operações da Suzano, que incluem possíveis impactos negativos das operações, assim como todas as ações preventivas e mitigatórias relacionadas a eles) e;

3.Consulta e Engajamento Comunitário, focada no desenvolvimento de estratégias de fortalecimento das instituições sociais locais, contribuindo diretamente com o desenvolvimento territorial.

“Nas comunidades que são caracterizadas como de alta prioridade, considerando critérios de vulnerabilidade socioeconômica, impacto gerado pelas atividades da empresa e importância da localidade para o negócio, são estruturadas iniciativas customizadas. A definição da iniciativa mais indicada para cada comunidade é feita de maneira conjunta com os moradores e/ou associações locais. Importante destacar que, além do processo de implantação de iniciativas, podemos também fortalecer iniciativas já existentes nas localidades”, explica Giordano.

O perfil das organizações apoiadas nesse cenário também passa por mudanças. “Ao mesmo tempo em que o volume de repasse de recursos foi ampliado, o foco passa a ser mais direcionado a organizações que trabalham especificamente com projetos de geração de renda, visando o alcance dos compromissos sociais de longo prazo estabelecidos pela empresa. Além disso, o perfil das organizações que recebem esses recursos também está mudando, diminuindo a concentração de recursos em organizações rurais e de base comunitária, para um equilíbrio do investimento entre essas organizações de base, e em organizações mais maduras, que inclusive apoiam diretamente no fortalecimento institucional das demais”, finaliza Giordano.

A inclusão do investimento social de uma empresa tanto na formulação, quanto como resposta aos temas considerados estratégicos pode produzir insights valiosos para a gestão da sustentabilidade empresarial. Quando essa resposta estratégica se desdobra em metas públicas, que, por sua vez, se desdobram em uma estratégia de implementação que considera o contexto local e o envolvimento de atores relevantes nos territórios, o investimento social privado não só se torna mais estratégico, como passa a gerar ainda mais valor socioambiental para diversos stakeholders.

A série ‘O investimento social privado e a agenda ESG: sinergias e aprendizados’ é uma iniciativa de Marcelo Modesto, gerente de projetos e líder do núcleo ESG do IDIS, e Gabriel Bianco, coordenador de projetos do IDIS. Em três artigos, abordam metodologias e práticas do investimento social privado que podem ajudar empresas e organizações a melhor navegarem no universo do capitalismo de stakeholders. Exemplos práticos de investidores sociais e organizações que estão inovando na busca por uma melhor gestão da sustentabilidade e seu impacto socioambiental positivo ilustram o conteúdo. 

 

Acesse também os outros artigos da série:

 

Com o crescimento da importância da Agenda ESG, o IDIS tem investido no fortalecimento da equipe com especialistas e na produção de conhecimento sobre o tema, incluindo o desenvolvimento de metodologias que apoiam investidores sociais em tomadas de decisões.

Em 2023, foi oficializada a criação de uma unidade ESG no time de consultoria, oferecendo apoio técnico a empresas e organizações sociais que desejam aprimorar suas estratégias ESG e conectá-las a suas práticas de investimento social. Entre os serviços oferecidos, estão estratégia ESG conectada ao Investimento Social Privado; mapa de riscos e oportunidades; (re)estruturação de projetos socioambientais; estabelecimento de Comitês Temáticos; e alinhamento de indicadores e métricas para um reporte consistente.

Entre em contato conosco para contar sua história ou dar os próximos passos de sua organização nesta jornada através do e-mail comunicacao@idis.org.br

Colaboração e materialidade: fatores-chave para empresas concretizarem ações sociais da pauta ESG

Por Marcos Alexandre Manoel, Diretor de Projetos do IDIS

Empresas têm o desafio de transformar metas em ações materiais, especialmente quando falamos do ‘S’. Aquelas que o fizerem, sairão na frente

Cada vez mais, empresas são cobradas por sua responsabilidade perante a sociedade, indicando a inevitabilidade de pensar além do lucro. A lógica das avaliações de risco e retorno de aplicações passaram a ter uma nova e importante variável: o impacto em temas de interesse público. Isso se reflete no aumento exponencial de investimentos, que têm buscado componentes de impacto socioambiental em suas práticas.

Nesse movimento é que a pauta ESG vem cada vez mais se fortalecendo e, com ela, novos desafios para as empresas se (re)posicionarem no mercado. Não apenas focando em mitigação de riscos e problemas de curto prazo, mas com uma visão de longo prazo que se torne parte, efetivamente, da cultura e da estratégia de negócio da empresa. E aquelas que fizerem este movimento antes das outras, serão as que definirão a “régua” do mercado.

Segundo a sexta edição da Pesquisa Global com Investidores Institucionais da EY (antiga Ernst & Young), 90% dos grandes gestores respondem que diretrizes ESG devem ser levadas em conta na tomada de decisão sobre os portfólios. Por outro lado, a mesma pesquisa demonstra que 50% dos investidores pesquisados disseram estar preocupados com a falta de foco em questões materiais por parte da atuação ESG das empresas – um aumento de 37% em relação a 2020.

Por definição, materialidade é a “característica do que é material, substancial”, ou seja, não basta as empresas no Brasil estarem atentas ao ESG, é importante encontrar, dentro disso, o que necessita de atenção pensando em modelo de negócio e local de atuação.  Quando falamos de parâmetros ESG, a grande maioria das métricas foram pensadas e feitas em países desenvolvidos. Então, geralmente elas trazem questões “E” (ambientais) mais fortes, e as “S” (sociais), por sua vez, vêm enfraquecidas, uma vez que o bem-estar social nesses locais acompanha o desenvolvimento econômico desses países.

No caso do Brasil, se seguirmos a mesma lógica da Europa ou dos Estados Unidos, o nosso problema com o “S” será maior, tendo em vista os números de desigualdade socioeconômica que atingem a população brasileira. Prova disso, são os dados recentes revelados por um estudo do Banco Mundial. Ao analisar perdas de habilidades do nascimento até os 18 anos, a pesquisa demonstra que as atuais condições de educação e saúde brasileiras só vão permitir o desenvolvimento de 50% do potencial de quem nasceu no ano de 2021. A pesquisa demonstra, ainda, que é como se estivéssemos 60 anos atrás no desenvolvimento social em comparação a países desenvolvidos.

Nesse sentido, se inicialmente cito que não há mais espaço para não pensar além do lucro, no caso brasileiro, urge a necessidade de o investimento privado colocar uma lupa no campo social. O ponto de partida é compreender e mapear riscos e externalidades sociais do setor de atuação. Provavelmente, muitas das questões sociais que precisam de atenção do negócio estarão “do lado de fora” da própria empresa: na cadeia de suprimentos, territórios de atuação e ciclo de vida do produto, por exemplo. Será preciso compreender e aprimorar a materialidade e indicadores dos fatores sociais de cada negócio.

Compreender, entretanto, o que é material para o negócio é um desafio e este não pode ser resolvido sem a colaboração entre setores. As empresas terão que agir de maneira proativa e colaborativa, demostrando para a sociedade e investidores seu comprometimento com transparência e materialidade de suas ações, principalmente as sociais. Nesta trajetória, devem envolver as organizações da sociedade civil (OSCs) e, mais do que isso, aprender com elas.

As empresas que forem capazes de, ao mesmo tempo, compreender a materialidade de seu próprio setor e formar alianças colaborativas, tendem a se diferenciar, se tornar mais competitivas no médio e longo prazo e principalmente transformar metas e intenções em resultados reais, perenes e diretamente conectados aos diferentes interesses de sua cadeia de stakeholders.

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