Do planejamento ao monitoramento e avaliação: como instituições podem potencializar seu impacto?

Planejando um Investimento Social Privado estratégico

A partir da alocação voluntária e estratégica de recursos privados para o benefício público, empresas podem ir além do lucro financeiro e contribuir para o desenvolvimento socioambiental sustentável. A agenda ESG é uma poderosa aliada na formulação de práticas de filantropia estratégica, com ênfase na mensuração e mitigação de riscos não financeiros. Por exemplo, uma empresa que possui riscos não financeiros bem mapeados, pode utilizá-los para criar ou aprimorar sua estratégia de investimento social privado, não só mitigando impactos negativos da operação, como também gerando impactos positivos e ampliando o diálogo com públicos de interesse.

Em outras palavras, uma estratégia de investimento social privado alinhada à uma estratégia ESG ajuda a materializar o propósito da organização para seus mais variados stakeholders, gerando resultados tangíveis para a empresa e para a sociedade. Apesar de parecer lógico, esse alinhamento não é tarefa fácil. Em pesquisa realizada pela Amcham e Humanizadas, com 574 CEOS, vice-presidentes, gerentes e implementadores de estratégias ESG, 38% dos respondentes destacaram que o principal desafio na agenda ESG é a dificuldade em mensurar e monitorar indicadores ESG, e 32% indicaram ser a ausência de uma cultura forte de sustentabilidade.

Como uma estratégia de investimento social privado (ISP) pode ajudar a endereçar esses desafios? Em primeiro lugar, se há clareza quanto aos objetivos e visão de impacto, já existe uma base para práticas de monitoramento e avaliação. Além disso, a definição de causas prioritárias/focos de atuação ajuda a empresa e seus stakeholders (públicos interessados) a elencar prioridades e comunicarem melhor – tanto interna quanto externamente – as ações realizadas, facilitando o entendimento e engajamento de colaboradores e sociedade e contribuindo para ganhos reputacionais, atração e retenção de talentos, entre outros.

A metodologia do IDIS parte da compreensão de que é preciso conectar o conceito e as práticas de ISP ao propósito e valores institucionais, considerando o viés econômico que rege o negócio e a perspectiva dos principais stakeholders em relação ao valor socioambiental a ser criado pela empresa. Este olhar integrado ISP-ESG permite potencializar a capacidade da organização de gerar impacto positivo para a sociedade e valor real em curto, médio e longo prazo para o negócio e sua cadeia de stakeholders.

Aumentando o engajamento de stakeholders

“O propósito de uma empresa é engajar todas suas partes interessadas na criação de valor sustentável. Ao criar tal valor, a empresa não atende somente a acionistas, mas a todas suas partes interessadas – colaboradores(as), clientes, fornecedores(as), comunidades locais e sociedade em geral. A melhor maneira de compreender e equilibrar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é por meio de um comprometimento compartilhado com políticas e decisões que fortaleçam a prosperidade da empresa a longo prazo”. O trecho foi extraído do Manifesto de Davos 2020, proposto pelo Fórum Econômico Mundial e que exemplifica os novos paradigmas que regem as corporações na 4ª. Revolução Industrial. 

Novas maneiras de se relacionar com diversas partes interessadas já ocupam espaço central em estratégias eleitorais, de marketing e na criação de produtos. No entanto, observa-se que o investimento social privado nem sempre acompanha essa tendência. Investidores sociais, de maneira geral, ainda utilizam abordagens verticais e centralizadoras na hora de definir seus aportes e estabelecer vínculos com seus públicos.

Apesar de possuírem um escopo de atuação limitado, ao criarem suas estratégias ESG e de Investimento Social Privado, empresas precisam considerar o envolvimento de múltiplos stakeholders. Para cada perfil, para cada desafio, um arranjo diferente, ainda que colaboração e o trabalho em rede surjam como pontos comuns que devem ser considerados.

Ao adotar uma estratégia que envolve e aprofunda os laços com as partes interessadas, uma empresa passa a gerar maiores e melhores resultados para suas ações sociais. Além disso, ela pode se beneficiar de relacionamentos mais estratégicos e duradouros com as comunidades de seu entorno, poder público, tomadores de decisão e influenciadores.

Do ponto de vista das organizações da sociedade civil, é preciso se preparar para um envolvimento mais estratégico com seus parceiros do setor privado, contribuindo de forma programática para o enfrentamento de desafios socioambientais, para além do apoio a projetos pontuais. Embora essa colaboração demande mais esforço no curto prazo, pode levar a laços mais fortes e recursos mais estáveis para a organização.

 

Medindo e comunicando os resultados e impacto

Na hora de mensurar a contribuição e o impacto socioambiental das ações de uma empresa, é necessário estabelecer diretrizes de monitoramento e avaliação. Essas diretrizes não apenas auxiliam a definição e acompanhamento de tópicos materiais, avaliação e comunicação de resultados, como também contribuem para a construção de uma governança de sustentabilidade empresarial que traduza aprendizados em decisões estratégicas, referentes à cultura organizacional, riscos e oportunidades, performance socioambiental, entre outros aspectos.

As práticas de monitoramento e avaliação do investimento social privado podem ajudar empresas a avançarem na maneira como medem o sucesso de suas iniciativas e de suas contribuições para o desenvolvimento sustentável e redução de riscos não financeiros, hoje ainda muito pautadas por frameworks insuficientes, que avaliam somente processo e nível de compliance.

Do ponto de vista das organizações da sociedade civil, o desafio é outro: traduzir a importância do trabalho realizado e seus resultados em uma linguagem que agregue valor para o relatório de sustentabilidade das empresas. A capacidade de comunicar de forma clara esses resultados pode ser o diferencial para aumentar a qualidade e a profundidade do relacionamento com as partes interessadas.

Uma maneira de aproximar essas duas pontas, no contexto das empresas, é por meio de uma teoria de mudança que estabeleça de forma clara a conexão entre o impacto esperado e as ações realizadas, assim como critérios de seleção de projetos e elementos que contribuam para a comunicação dos compromissos públicos e resultados obtidos.

 

A série ‘O investimento social privado e a agenda ESG: sinergias e aprendizados’ é uma iniciativa de Marcelo Modesto, gerente de projetos e líder do núcleo ESG do IDIS, e Gabriel Bianco, coordenador de projetos do IDIS. Em três artigos, abordam metodologias e práticas do investimento social privado que podem ajudar empresas e organizações a melhor navegarem no universo do capitalismo de stakeholders. Exemplos práticos de investidores sociais e organizações que estão inovando na busca por uma melhor gestão da sustentabilidade e seu impacto socioambiental positivo ilustram o conteúdo. 

 

Acesse também os outros artigos da série:

 

Com o crescimento da importância da Agenda ESG, o IDIS tem investido no fortalecimento da equipe com especialistas e na produção de conhecimento sobre o tema, incluindo o desenvolvimento de metodologias que apoiam investidores sociais em tomadas de decisões.

Em 2023, foi oficializada a criação de uma unidade ESG no time de consultoria, oferecendo apoio técnico a empresas e organizações sociais que desejam aprimorar suas estratégias ESG e conectá-las a suas práticas de investimento social. Entre os serviços oferecidos, estão estratégia ESG conectada ao Investimento Social Privado; mapa de riscos e oportunidades; (re)estruturação de projetos socioambientais; estabelecimento de Comitês Temáticos; e alinhamento de indicadores e métricas para um reporte consistente.

Entre em contato conosco para contar sua história ou dar os próximos passos de sua organização nesta jornada através do e-mail comunicacao@idis.org.br

Dez Dicas da Charities Aid Foundation para que o Investimento Social Corporativo se Perpetue

11/8/2009 – Na atual conjuntura econômica, com demissões acontecendo em todo o Reino Unido e ao redor do mundo, seria ingênuo simplesmente dizer aos investidores sociais “doe mais”. O relatório Helping Companies Helping Charities, publicado pela CAF em julho, destacou a necessidade de as instituições praticarem o investimento social sem restrições.

Reprodução: Logomarca da Charities Aid Foundation Doar eficazmente está relacionado a investir bem e, não necessariamente, mais. Existem maneiras simples que as empresas podem fazer para que o orçamento destinado para a comunidade alcance melhores resultados. Neste artigo, a CAF aponta dez dicas principais para isso ser alcançado:

 

1. Garanta que o foco do investimento social faça sentido para o negócio
Alinhar o programa comunitário com o negócio da empresa irá ajudar a garantir a promoção do impacto positivo na comunidade e também beneficiar a companhia.

2. Engaje os colaboradores por meio do programa de doação
O investimento social da empresa pode ser significativamente alavancado se for estimulada a cultura de doação dentro da corporação, ou seja, incentivar os colaboradores a se comprometerem pessoalmente com a causa por meio do voluntariado ou mesmo doações via folha de pagamento. Um exemplo de baixo custo de incentivo é fazer com que os funcionários se envolvam na escolha das organizações sociais parceiras. Isso pode ser uma iniciativa para que eles participem do programa comunitário da empresa e ajudem-na a contribuir mais para o mundo.

Veja como a Friends Provident, empresa de produtos financeiros e serviços, e a Guardian Media Group, companhia do setor da mídia, engajaram seus colaboradores no Give As You Earn, programa de doação dos funcionários que desconta o valor diretamente na folha de pagamento. Os textos estão em inglês.

3. Divulgue as organizações sociais para a cadeia de fornecedores e stakeholders
Ao compartilhar com os principais stakeholders (cadeia de abastecimento e sua rede de contato) a iniciativa de apoio da empresa, o impacto será maior e a promoção da filantropia poderá angariar o apoio de novas empresas doadoras.

“A British Telecom está empenhada em compartilhar as melhores práticas bem como trabalhar com os seus stakeholders. Realizamos eventos corporativos para ChildLine com o objetivo de compartilhar aprendizados, incluindo os benefícios para a empresa de se trabalhar com organizações sociais. Embora reconheçamos que a ChildLine é a melhor opção para falar sobre o seu serviço, quem melhor para falar com as empresas sobre as vantagens empresariais do que um parceiro de negócios? Temos apresentado a ChildLine aos novos adeptos e trabalhado de maneira participativa com os fornecedores e clientes para apoiar a ChildLine. Vemos isto como vencer, vencer, vencer, beneficiando a ChildLine, outras organizações e BT.”
Beth Courtier, presidente do Programa de Filantropia da empresa de telecomunicações do Reino Unido Bristish Telecom (BT)

4. Garanta os benefícios fiscais
Tanto nas doações corporativas (no Reino Unido ou internacionais), como na captação de recursos dos colaboradores via empresa, a empresa pode utilizar-se de leis de incentivo fiscal para criar um programa social ou destinar os valores. Isso representará mais recursos disponíveis para as organizações sociais que precisam do seu apoio e, consequentemente, mais benefícios fiscais para o doador. Veja como a empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) utiliza os benefícios fiscais em suas doações internacionais. O texto está em inglês.

5. Reduza as restrições que envolvem o dinheiro doado para as organizações sociais
Investimento social sem restrições é raro e precioso. Experimente e estabeleça acordos com as organizações sociais sobre os resultados a serem alcançados, sem restringir o uso da doação. Ou, ainda, certifique-se de que o investimento social está de acordo com o verdadeiro custo do projeto, incluindo um limite para as despesas de gestão do projeto que será apoiado, como custos operacionais e salários. Isso irá demonstrar que, trabalhando com a organização parceira, a empresa poderá ajudá-los a produzir de maneira eficaz a sua missão, utilizando os recursos de forma mais flexível, mesmo em momentos de recessão. Tudo contribuirá para aumentar o impacto global do investimento.

6. Reconheça as competências dos colaboradores de sua organização

“Nós vemos que as nossas melhores parcerias são aquelas realizadas com organizações sociais sólidas e estáveis. Naturalmente, a nossa prioridade é sobre a realização dos resultados acordados, mas nós respeitamos as habilidades de nossos parceiros para gerir essa responsabilidade como entenderem. Então nós incentivamos àqueles que apoiamos a utilizar os nossos recursos da maneira mais eficaz que eles puderem, tanto para a entrega dos resultados, quanto para manutenção e crescimento das próprias organizações.”
Matthew Sparkes, gerente de Investimento Global, Linklaters, escritório internacional de advocacia

A pesquisa da CAF mostra que as organizações sociais percebem os setores industriais de forma diferenciada em relação àquilo que têm a oferecer. Sua percepção é construída com base nos pontos fortes e eventuais correções sobre possíveis preconceitos existentes. Ao alavancar os recursos da empresa, a organização social se beneficiará da combinação de competências da companhia que vai além da contribuição em dinheiro. Alguns exemplos: experiência e know-how dos colaboradores, equipamentos de escritório, instalações para reuniões e disponibilidade das empresas para colocarem caixas de coleta de doações.

Um forte programa integrado a objetivos claros significará benefícios para o negócio e para a comunidade, tornando o impacto global do investimento significativamente maior. Veja como os colaboradores da consultoria de finanças UBS ajudaram líderes de ONGs na Índia. O texto está em inglês.

7. Considere a colaboração de outros parceiros
Contribua com instituições que possuem objetivos comunitários similares que ao da empresa – outras companhias, organizações sociais ou grupos comunitários. O esforço conjunto pode promover um impacto social ainda maior e desenvolver competências sem comprometer o resultado. A parceria entre o Banco Macquarie e a Fundação Cripplegate é um excelente exemplo de colaboração de sucesso. O texto está em inglês.

8. Invista tempo em acordos com as organizações sociais
Elaborar acordos que estabelecem a forma como o relacionamento irá funcionar. Incluir as contribuições da sua empresa, de seus colaboradores bem como da organização social. Tudo isso irá permitir que a empresa estabeleça compromissos (fixos e flexíveis) com a organização social, ajudando a administrar as expectativas de todos. O acordo ajudará a direcionar os envolvidos para objetivos comuns e garantir que os recursos da sua empresa estão sendo utilizados da melhor maneira.

9. Meça o impacto da sua doação, em seguida, reveja e ajuste o que for necessário
Medir o que foi alcançado e o que isso significa para a comunidade, para as organizações que trabalham com a companhia e para o próprio negócio é a chave para o sucesso do programa. Utilize essa informação para rever a atividade, comunicar valores, aprender com a experiência e reforçar o foco do investimento social. Veja como a empresa de tecnologia de materiais Johnson Matthey aumentou o impacto de seus programas de doação. O texto está em inglês.

10. Comunique os seus aprendizados e desafios
Incentive outras empresas a aprender com os sucessos e os desafios experimentados pela sua companhia, utilizando uma comunicação pelo site e por meio de eventos.

A CAF tem uma equipe dedicada a ajudar a empresa a tirar o máximo proveito dos seus recursos disponíveis. Podemos ajudá-lo a avaliar sua atividade atual e obter melhores resultados, permitindo-lhe desenhar e executar o programa comunitário com facilidade.
Fonte: Site da CAF

Tradução: IDIS