Estratégias de Grantmaking: qual a mais adequada para minha organização?

Por Aline Herrera e Luiza Helena Cordeiro, ambas da área de Gestão da Doação do IDIS

O grantmaking é uma prática filantrópica que vem ganhando força entre os investidores sociais brasileiros. A alternativa garante uma maior descentralização de recursos, em termos sociais, geográficos e de causas, embora também permita o desenho de recortes específicos que respondam à estratégia e aos temas prioritários do investidor. As estratégias de grantmaking consistem em distribuir um montante de recursos (principalmente financeiros, mas também técnicos e políticos) entre uma ou mais organizações, em vez de utilizá-los para projetos próprios. A ideia é confiar na expertise e legitimidade da ponta, ou seja, das organizações destinatárias para alcançar o impacto desejado. 

O ponto de partida para essa modalidade é entender a causa e/ou o território a ser contemplado, a partir de uma análise estratégica que considere os interesses e as possibilidades do doador, bem como as demandas locais. Além disso, o grantmaking é um instrumento que estimula o fortalecimento da sociedade civil organizada e pode até mesmo ser uma ferramenta de aprimoramento para as organizações participantes.

Há diversos caminhos para o financiamento de iniciativas e organizações pela modalidade de grantmaking. Neste texto abordaremos três alternativas mais usuais e conhecidas pelos investidores sociais. 

Edital

O Edital é um instrumento de seleção de ampla concorrência, que estabelece publicamente um conjunto de regras, critérios e condições para as organizações proponentes. Essa modalidade possibilita ao investidor um processo seletivo mais aberto e com ampla participação, que geralmente está associado com um esforço de divulgação

A seleção dos projetos é regulamentada por um conjunto de documentos, incluindo o termo de doação, o formulário de inscrição, e outros instrumentos que possam ser requeridos pelo doador, como modelos de cronograma de projeto, orçamento e quadro estratégico, além do regulamento. O regulamento é o documento central, que contém seções relacionadas à informações gerais do processo de seleção, como público alvo, período de inscrições e de divulgação dos resultados do edital, verba destinada e número de contemplados, além de outras informações como detalhamento das etapas e regras de participação e avaliação. Isso amplia as possibilidades de inscrição de organizações.

É desejável que, de largada, um edital já conte com uma matriz de critérios bem delimitada, ou seja, que seja capaz de filtrar e avaliar os projetos de maneira objetiva possibilitando análises mais assertivas e alinhamento prático com os objetivos do edital. Uma boa matriz de critérios também é integrada com o formulário de inscrição, refletindo automaticamente os pontos estabelecidos.

A principal característica diferenciadora do Edital em relação a outras modalidades é o caráter mais isonômico e transparente do processo. Isso estimula um método de concorrência em que as proponentes se inscrevem e são avaliadas de maneira imparcial. No geral, essa modalidade é indicada para cenários em que a causa (ou as causas) apoiadas tenham um grande leque de organizações atuantes e aptas, seja pela atuação na temática ou pela capacidade institucional para executar o tipo de projeto desejado. Também é recomendada para situações em que os recursos provêm de fontes públicas, como governos ou crowdfunding (iniciativas de financiamento coletivo) – casos em que caráter democrático e a transparência devem ser ainda maiores. 

É importante em um edital que os critérios de seleção e de eliminação estejam claramente definidos no regulamento, garantindo a máxima lisura do processo e preservando a integridade do doador e da organização apoiada. Para proteger o doador e garantir a potencialização do recurso, as organizações inscritas também precisam passar por um processo de compliance, que consiste na verificação de regularidade documental, institucional e midiática para mitigar riscos da doação e garantir sua legitimidade perante o poder público e a sociedade civil. Outra prática recomendável é a realização de entrevistas com as organizações finalistas para esclarecimento de dúvidas e estreitamento das relações entre doador/organizador e as organizações beneficiadas, conferindo maior materialidade para os projetos a serem apoiados.

De todas as modalidades, o Edital é o que dá maior ênfase ao processo de seleção. Sua estrutura documental é orientada para essa fase, estabelecendo diretrizes e instrumentos de avaliação para escolha das organizações e iniciativas inscritas e garantindo que, ao final do processo, os resultados sejam públicos.

Alguns exemplos de editais bem sucedidos são o Edital Educação com Cidadania, que está em sua quarta edição, do Instituto Chamex; e o Edital da Água, do Instituto Mosaic, ambos realizados com o apoio técnico do IDIS. Apesar de terem diferentes escopos e objetivos, ambas seleções prezam pelas mesmas etapas acima descritas, garantindo um processo aberto e transparente.

 

Carta Convite

Outra prática utilizada para o financiamento por grantmaking é a carta convite. Esta ferramenta é indicada principalmente em situações em que há uma demanda por projetos com alta especificidade, quando o doador já possui um conhecimento prévio das organizações e iniciativas que se enquadram na temática desejada, ou quando há um número reduzido de organizações aptas a atingir os objetivos do doador. Quando o doador já tem um rol de organizações em mente, mas possui recursos limitados e dúvidas sobre qual apoiar, a carta convite também pode servir como uma ferramenta de concorrência para auxiliar na decisão

Na carta convite, o doador assume uma postura ativa no mapeamento de organizações. Assim como no Edital, os proponentes passam por um processo de compliance prévio, garantindo que todas as organizações previamente mapeadas estejam aptas para o aporte.

Uma vez convidada, a organização deve submeter um projeto que atenda os moldes, condições e objetivos estabelecidos na Carta Convite, que atua de forma correspondente a um regulamento. A principal diferença dessa modalidade em relação ao edital é o caráter prospectivo do doador, que seleciona um número limitado de projetos ou iniciativas para escolha. Não à toa, essa prática também é comum para grandes grantmakers que são recorrentemente acionados com propostas em um volume maior do que conseguem processar, optando por prospectar ativamente organizações que se destacam.

 

Seleção Direta

A terceira ferramenta é a modalidade de seleção direta. Diferentemente das anteriores, esta contém uma escolha de financiamento mais simplificada, como já indica o próprio nome. Aqui, o processo de seleção é completamente internalizado. O doador realiza um mapeamento prévio de organizações e iniciativas que, após a aprovação das mesmas no processo de compliance, recebem o aporte por repasse direto – se assim desejar..

Essa forma de repasse, além de ser mais ágil, também cria um processo mais particularizado para o doador. Ela pode servir como um meio para a co-construção de um projeto customizado para os interesses do doador e da organização apoiada. Nesta modalidade, o grantmaker pode associar mais livremente o aporte a possíveis encargos, ou seja, estabelecer condições e contrapartidas, ou optar por não fazê-lo. 

Da mesma forma, sendo o grantmaking uma via de mão dupla, as organizações convocadas podem negociar os termos de apoio recebido, ou, em última instância, rejeitar a proposta, considerando seus próprios valores e necessidades.

 

Além do financeiro: como o grantmaking pode apoiar o trabalho das organizações?

Neste ponto, está claro que um dos grandes diferenciais do grantmaking é justamente a sua capacidade de abrangência para além das estratégias de repasse, possibilitando um investimento social privado que mobilize e transforme o desenvolvimento do campo. 

É importante frisar que o repasse de recursos não se limita a recursos financeiros, uma vez que há possibilidade de utilizar-se de instrumentos de capacitação e apoio técnico durante a vigência do aporte, a fim de assegurar mudanças e fortalecer as bases institucionais das organizações beneficiárias. O apoio técnico proporcionado pelo investidor confere um caráter diferenciado em financiamento, tornando o investimento social mais robusto e sofisticado.

Uma prática consolidada no uso de instrumentos técnicos para a estruturação de bases institucionais e a atuação de projeto é a capacitação para construção de uma Teoria da Mudança (TdM). A Teoria da Mudança é uma ferramenta de planejamento utilizado que visa definir o impacto desejado, estabelecendo o ‘como’ e o ‘porquê’ por meio de tópicos estruturais como objetivos e impactos a longo prazo. Além disso, a TdM delineia espaços de atuação, estabelecendo eixos que fornecem insumos para traçar os resultados desejados e, por consequência, as atividades que deverão ser realizadas para alcançá-los.

Essa estrutura, muito utilizada, capacita com clareza o direcionamento de um projeto, norteando ações a curto, médio e longo prazo. Ela define indicadores mensuráveis de acompanhamento para cada eixo ou resultados esperados, possibilitando um monitoramento próximo do progresso e fornecendo apoio constante para as organizações, caso necessário, para potencializar ações ou recalcular a rota. Esta qualidade modifica a visão do investimento social e consegue aproximar tanto o olhar do investidor quanto da organização à mudança de realidade que está sendo gerada na sociedade.

Ainda no âmbito de monitoramento, outra prática a ser estimulada por meio do grantmaking é a filantropia por confiança (Trusted Based Philanthropy). Esse modelo, que vem crescendo globalmente, enfatiza o investimento com maior flexibilidade e confiança no trabalho das organizações de ponta. O Trusted Based Philanthropy possibilita uma aproximação maior entre doador e organização beneficiária, promovendo uma relação aberta para feedbacks, trocas e ajustes nas ações do projeto. 

Dessa maneira, o monitoramento se torna um ponto de apoio entre o beneficiário e o investidor, fortalecendo a relação por meio de práticas como a prestação de contas e realização de relatórios, bases para a garantia da confiança e transparência. A prestação de contas para além de uma boa prática de confiança, também é um mecanismo facilitador de governança, aprimorando o relacionamento entre implementadores e financiadores.

 

Qual modalidade escolher?

Não há uma ‘receita de bolo’ para determinar qual estratégia de aporte é mais adequada; essa decisão depende intrinsecamente da disposição, recursos e objetivos do doador.

Como mencionado, os editais são a modalidade mais comum e abrangem um público mais amplo. No entanto, essa prática pode ser excessivamente objetiva, o que tende a reproduzir vieses (conscientes e inconscientes) e impossibilita o doador olhar para particularidades que possam envolver determinados grupos de organizações proponentes.

Por outro lado, as estratégias de seleção direta e carta convite podem se limitar a círculos já conhecidos e não serem efetivas em promover uma descentralização de recursos. O Guia das periferias para doadores, publicação do Instituto PIPA, aborda como públicos como as periferias podem ter dificuldades de acesso aos recursos de grantmaking por meio dessas modalidades:

“Sabemos que os editais não são a única forma de ‘chegar ao dinheiro’, mas essa forma permanece sendo a mais próxima da realidade das periferias. Tendo em vista que, ainda, estamos falando de um cenário com grande centralização de recursos, que acabam circulando entre as mesmas organizações e não chegam à ponta. Mesmo assim, as periferias ainda são as principais responsáveis por assegurar a própria existência. A quem deve servir os recursos senão aqueles que fazem a realidade acontecer? Quem está olhando para isso quando o problema transborda? 

Reforçamos que, mesmo não sendo o cenário ideal, a forma mais habitual dessas organizações acessarem os financiamentos para além dos recursos próprios, são os editais. Do mapeamento apenas 18% continham editais como forma de investimento para a execução de projetos, destes, 10% contemplam as organizações periféricas, contra 8% que não incluem a periferia como parte do seu público-alvo. Ainda assim, cabe destacar que a periferia é apenas um, dentre outros públicos, que são contemplados pelo recurso dos editais. Se os editais são fontes de recurso tão necessárias para as periferias porque há tão poucas organizações adotando este método de financiamento?”

O processo de grantmaking é multifacetado e interdisciplinar, além de precisar estar alinhado com seu contexto a nível interno (necessidades do doador) e externo (necessidades do campo). 

O IDIS conta com um time de consultores especialistas em formas de grantmaking para apoiá-lo nessa decisão. Confira nossos cases e entre em contato em comunicacao@idis.org.br

O que falta para o brasileiro enxergar a doação para além de uma resposta a crises?

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 04/09/2024

Por Paula Fabiani, CEO do IDIS, e Luisa Lima, gerente de comunicação e conhecimento do IDIS

Altruísmo significa amor espontâneo pelo próximo. Em termos mais amplos, refere-se à capacidade de se dedicar a algo ou alguém sem esperar nada em troca, movido pela compaixão por uma causa ou situação. No fundo, quando falamos de altruísmo, estamos falando também de doação.

No Brasil, o ato de doar é difundido e socialmente reconhecido, especialmente em momentos de emergência, como vimos recentemente nas enchentes no Rio Grande do Sul. No entanto, ainda enfrentamos barreiras, como a desconfiança do doador em relação ao destino da doação e até mesmo a falta de identificação com certas causas e tipos de organizações.

O que falta para que o brasileiro comece a enxergar a doação não apenas como uma resposta a crises, mas como um caminho para uma sociedade mais justa, equânime e altruísta?

O recém-lançado World Giving Index 2024, uma das maiores pesquisas sobre doação já produzidas, com milhões de pessoas entrevistadas em todo o mundo desde 2009, revela um cenário que, a princípio, pode parecer animador, mas mostra que ainda temos uma longa estrada a percorrer no que diz respeito à generosidade.

Nesta edição, WGI incluiu dados de 142 países. Participantes da pesquisa foram questionados se realizaram, no último mês, três tipos de ações: ajuda a um desconhecido, doação em dinheiro a uma organização social ou prática de voluntariado.

O Brasil subiu três posições em relação ao ano anterior e agora ocupa o 86º lugar no ranking. O relatório aponta uma leve melhora de 3 pontos percentuais no dinheiro doado a ONGs. Ajudar pessoas desconhecidas continua sendo o comportamento predominante, praticado por 65% dos entrevistados.

O levantamento, realizado entre setembro e novembro de 2023, não contabiliza doações realizadas em decorrência da tragédia climática no Rio Grande do Sul.

No ano de 2022, em um país ainda comovido pela pandemia de Covid-19, ficamos entre os 20 países mais solidários do mundo. À época, o estudo destacou que 3 em cada 4 brasileiros ajudaram um estranho.

Contudo, de lá para cá, caímos mais de 60 posições no ranking. Olhando dessa forma, parece um resultado desalentador. Mas, em termos de pontuação, foi o segundo melhor resultado absoluto que atingimos desde 2009.

A pesquisa nos apresenta também parâmetros mundiais inspiradores para o Brasil. Nos últimos dois anos, muitos países registraram crescimentos significativos em seus níveis de generosidade. A Indonésia, pelo sétimo ano consecutivo, é o país mais generoso do mundo, com 90% da população doando dinheiro para ONGs e 65% destinando seu tempo a ações de voluntariado.

Curiosamente, entre os dez países que lideram o ranking de generosidade, apenas duas estão entre as maiores economias do mundo (Indonésia e Estados Unidos), enquanto a Gâmbia, um dos países mais pobres do mundo, ocupa o quarto lugar.

Políticas públicas voltadas ao incentivo à filantropia, como incentivos fiscais, matching de doações individuais e benefícios para a prática de voluntariado corporativo, têm mostrado resultados positivos em Singapura e podem servir de exemplo para o Brasil.

O potencial do doador do brasileiro em situações críticas e emergenciais é inquestionável. No entanto, para fortalecer a generosidade e a cultura de doação no país, é essencial que a prática de doação se torne regular.

É preciso transformar o ato de doar em uma expressão contínua de cidadania e compromisso, capaz de gerar impactos socioambientais positivos e duradouros em nossa sociedade. O verdadeiro altruísmo se manifesta quando a doação transcende o imediato e se torna parte do cotidiano.

IDIS e Fundação FEAC realizam Feira de Governança em Campinas

Em agosto, a equipe do IDIS realizou em Campinas uma Feira de Governança, como parte da consultoria desenvolvida para a Fundação FEAC. O objetivo do projeto é formar conselheiros e dirigentes voluntários para atuar nas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) da região.

A primeira etapa envolveu a realização de capacitações sobre o universo da governança para pessoas interessadas. Em seguida, aconteceu a fase de matching, na qual cada interessado foi designado para as organizações com as quais tinha maior sintonia, com base em uma metodologia desenvolvida pela nossa equipe.

A Feira de Governança foi o momento em que esses potenciais voluntários e representantes das OSCs se encontraram pela primeira vez para discutir futuras parcerias. Foram cerca de 90 pessoas presentes e 17 OSCs recrutando voluntários para compor suas governanças.

“Mais do que as 8 horas de capacitações oferecidas, a construção do algoritmo de matching e a organização do espaço, o que verdadeiramente faz a diferença nesses momentos é o contato humano, a troca de experiências e o compartilhamento de propósitos”, comenta Felipe Groba, gerente de projetos do IDIS e líder da consultoria realizada.

“[Esse projeto] foi um jeito de potencializar e mostrar para a gente o quanto que o terceiro setor é ativo na cidade e o quanto Campinas tem potencial de gerar ainda mais impacto”, diz participante do projeto que estava presente na Feira de Governança.

Conheça mais sobre os serviços do IDIS.

Fundos filantrópicos: o que são, tipos e como diferenciá-los

Por Letícia dos Santos, analista de projetos no IDIS

O esforço por um ambiente cultural, social e institucionalmente mais propício e fértil à filantropia passa pela criação de estruturas e mecanismos que deem vazão ao capital filantrópico, respondendo às motivações e objetivos do investidor social, enquanto fortalecem causas e organizações de interesse público.

Esse é o caso dos fundos filantrópicos, instrumentos de captação e distribuição de recursos que têm se tornado cada vez mais uma alternativa para empresas, sociedade civil e instituições públicas que procuram atuar de forma rápida e robusta para minimizar danos em emergências, unir esforços e visibilizar pautas sociais, ou garantir sustentabilidade de instituições e causas de forma perene.

Os fundos filantrópicos são criados para receber doações, que podem vir de diferentes fontes, destinadas a sustentar causas ou organizações específicas. O princípio básico dos fundos filantrópicos é garantir, por um lado, confiança no processo de gestão e alocação dos recursos e, por outro, criar, fortalecer ou diversificar fontes de recursos para fins socioambientais. Apesar dessa premissa geral, eles podem assumir distintos formatos e funcionamentos, dependendo dos seus objetivos, o que pode dificultar o entendimento do que, afinal, seria um fundo filantrópico e seus diferentes tipos.

Neste artigo propomos a classificação dos fundos filantrópicos com base em sua temporalidade, dividindo-os em três tipos: fundos temporários, fundos permanentes ou contínuos e fundos patrimoniais ou perenes. 

Fundos temporários

 

Os fundos temporários, em geral, surgem para responder a questões socioambientais urgentes. Planejados para atuar por um prazo determinado, esses fundos visam atender a demandas emergenciais e costumam operar como instrumentos para captação ampla de recursos, a fim de prover uma resposta imediata e volumosa. Os instituidores deste tipo de fundo nem sempre têm ligação direta com a causa a instituição apoiada, mas possuem força de liderança e grande capacidade de mobilização.

São exemplos de fundos temporários aqueles criados durante o período de pandemia de Covid-19, como o Fundo Emergencial para a Saúde. Esta iniciativa do IDIS, BSocial e Movimento Bem Maior, instituída em 2020, visava fortalecer o sistema público de saúde no combate ao coronavírus. Em sete meses, o fundo arrecadou R$ 40,4 milhões, destinados à compra de equipamentos hospitalares, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para profissionais da saúde, medicamentos e testes para diagnóstico da Covid-19. (Para saber mais: Como Criar um Fundo Emergencial: A Experiência e os Resultados do Fundo Emergencial para a Saúde na Pandemia de Covid-19 no Brasil).

Os fundos temporários também têm sido utilizados para minimizar impactos negativos causados por emergências climáticas. Exemplos incluem fundos criados para apoiar comunidades do Rio Grande do Sul atingidas pelas fortes chuvas em maio de 2024, ou para apoiar a reestruturação dessas comunidades, como o fundo RegeneraRS, idealizado pelo Instituto Helda Gerdau, em parceria com a Din4mo Lab. Apesar de seu caráter temporário, o RegeneraRS visa apoiar o desenvolvimento de soluções de longo prazo para o fortalecimento local.

Outro exemplo é o Juntos Pela Saúde, uma iniciativa do BNDES gerida pelo IDIS, com perspectiva de arrecadação e distribuição de R$ 200 milhões até 2026. O fundo atua para ampliar o acesso à saúde em regiões do norte e nordeste do país por meio de editais e fomentos estruturados. Para tanto, opera no sistema de matchfunding, em que a cada real aportado por uma instituição apoiadora, o BNDES contribui com outro real destinado ao fundo.

 

Fundos permanentes ou contínuos

 

O segundo grupo de fundos são os permanentes, que buscam visibilizar e fortalecer uma causa ou uma instituição de forma contínua. Instituidores deste tipo de fundo tendem a ser mais próximos ou alinhados à causa de atuação. Embora essas causas possam ser tão complexas quanto aquelas que motivam os fundos temporários, elas são vistas como menos emergenciais. Exemplos incluem pautas equitativas ou igualitárias, democráticas e de preservação ambiental.

Os fundos permanentes ou contínuos são instrumentos aliados na mobilização de um grande número de financiadores e de organizações (juridicamente formalizadas ou não, como, por exemplo, movimentos sociais e coletivos) em torno da promoção de causas. O Elas+ Doar para Transformar, o Fundo Agbara e o Pacto pela Democracia são exemplos de fundos de iniciativa da sociedade civil voltados para justiça social que atuam neste modelo.

Já no âmbito da iniciativa de investimento social empresarial, o Fundo de Investimento Social Privado pelo Fim das Violências Contra Mulheres e Meninas, do Instituto Avon, em colaboração com a Accor, representa a transição de um fundo que foi concebido inicialmente como temporário durante a pandemia de Covid-19 – quando a violência doméstica contra meninas e mulheres aumentou – e tornou-se permanente. O fundo se tornou um instrumento estratégico do Instituto devido ao seu alinhamento com a causa da defesa de direitos fundamentais das mulheres. (Veja mais em: Cases IDIS – Instituto Avon)

Tanto nos fundos temporários, quanto nos fundos permanentes, os recursos que os compõem são totalmente distribuídos para as suas finalidades filantrópicas, por meio de um fluxo constante de gestão financeira e programática, com o objetivo de garantir a destinação total dos recursos captados.

 

Fundos patrimoniais filantrópicos

 

Por sua vez, os fundos patrimoniais filantrópicos são instrumentos voltados à promoção de sustentabilidade de longo prazo para causas ou instituições apoiadas. Diferentemente dos fundos temporários e permanentes, o seu funcionamento não é amparado na utilização dos recursos captados, mas na gestão desses recursos para a geração de rendimentos – esses sim destinados à atuação filantrópica do fundo. O objetivo é garantir a preservação do patrimônio acumulado e permitir resgates periódicos para o apoio de causas ou instituições de interesse público.

No Brasil, esse mecanismo ganhou força sobretudo a partir de 2019, com a promulgação da Lei dos Fundos Patrimoniais (Lei nº 13.800/2019) que, além de criar um ambiente institucional e seguro para sua operação, trouxe visibilidade para temática e sua importância. Além disso, regulou a parceria entre organizações gestoras de fundos patrimoniais (OGFPs) e instituições apoiadas, que podem ser públicas ou privadas.

Grandes fundos patrimoniais brasileiros antecedem a criação da lei, como os fundos da Fundação Bradesco e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Esses fundos, criados com o objetivo de constituir o legado de investidores sociais privados, possuem mais de 50 anos de história.

A promoção de maior independência e estabilidade operacional das organizações no longo prazo também estão dentre os motivos que levam à constituição de fundos patrimoniais, como o caso do Fundo de Fomento à Filantropia, criado pelo IDIS para ampliar o impacto da filantropia estratégica e, assim, promover mais transformações sociais positivas.

No caso de instituições públicas, muitas das maiores universidades estaduais e federais brasileiras têm constituído seus fundos patrimoniais com o objetivo de promover maior excelência no ensino, por meio da realização de projetos de extensão universitária, apoio à permanência estudantil e outras iniciativas, como é o caso do Fundo Patrimonial da USP.

Conheça mais sobre fundos patrimoniais filantrópicos.

Embora os fundos filantrópicos possam ser divididos em grupos, na prática, muitas organizações utilizam uma combinação de fundos permanentes e perenes para seus projetos e finalidades operacionais, enquanto fundos temporários podem, eventualmente, se transformar em permanentes ou perenes.

Assim, o primeiro ponto a ser definido na estruturação de um fundo é o seu propósito: o que se pretende alcançar com os recursos mobilizados? A partir dessa definição, é possível traçar as possibilidades de gestão e destinação desses recursos para atingir a finalidade filantrópica desejada, compreendendo as origens dos recursos e os stakeholders envolvidos nesse arranjo.

 

Níveis recordes de generosidade global: Brasil ocupa a 86ª posição, com Indonésia liderando o ranking

Em todo o mundo, um recorde de 4,3 bilhões de pessoas ajudaram alguém que não conheciam, ofereceram tempo ou doaram dinheiro para uma ONG no mês anterior, de acordo com o World Giving Index 2024. Indonésia, Quênia e Singapura lideram o ranking.

O país mais generoso do mundo é a Indonésia pelo sétimo ano consecutivo, onde 90% da população doou dinheiro para uma ONG e 65% doaram seu tempo. O Quênia é o segundo país mais generoso, subindo do terceiro lugar no ano passado. Cingapura subiu 19 posições para o terceiro lugar, aumentando sua pontuação geral no índice de 49% para 61%. Os resultados positivos para Singapura resultam das recentes iniciativas do governo para reforçar a filantropia e o voluntariado.

Para Neil Heslop OBE, diretor executivo da Charities Aid Foundation, “A generosidade das pessoas em todo o mundo ficou evidente nesta edição do World Giving Index, com a pontuação do índice global em seu nível mais alto, igualado apenas anteriormente durante a pandemia. A pesquisa demonstra como pessoas de todos os continentes e culturas permanecem prontas para ajudar os necessitados, durante um ano de desafios econômicos e humanitários contínuos.”

O Brasil subiu três posições em relação ao ano anterior, e agora ocupa o 86º lugar no ranking. Os três indicadores mantiveram-se estáveis, com uma leve melhoria de 3 pontos percentuais no dinheiro doado a organizações da sociedade civil. A ajuda a um estranho ainda é o comportamento predominante, praticado por 65% dos entrevistados. O levantamento, realizado entre setembro e novembro de 2023, não captura as doações realizadas em decorrência da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Apesar do Brasil ter ocupado posições melhores no ranking em anos anteriores, esta foi a segunda melhor pontuação conquistada – 38%. O pico aconteceu em 2021, ainda sob os efeitos da pandemia, quando a generosidade estava em alta e, as formas de participação, seja por meio de doações ou voluntariado, estavam mais evidentes.

De acordo com Paula Fabiani, CEO do IDIS, “Não foi surpreendente a estabilidade da cultura de doação no Brasil, mas foi muito interessante ver como políticas públicas voltadas ao incentivo à filantropia, como incentivos fiscais, matching de doações individuais, e benefícios para a prática de voluntariado corporativo, surtiram efeitos positivos em Singapura e podem ser exemplares para nós.”

WGI 2024: Brasil

World Giving Index é uma das maiores pesquisas sobre doação já produzidas, com milhões de pessoas entrevistadas em todo o mundo desde 2009. Nesta edição, inclui dados de 142 países, onde as pessoas foram questionadas se realizaram, no último mês, três tipos de ações: ajuda a um desconhecido, doação em dinheiro a uma organização social ou voluntariado. Trata-se de uma iniciativa da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

O CAF World Giving Index 2024 também revela:

  • Os 10 principais países incluem apenas duas das maiores economias do mundo (Indonésia e Estados Unidos), enquanto um dos países mais pobres do mundo – a Gâmbia – está classificado em quarto lugar.
  • O Marrocos viu o maior aumento anual do mundo em doações de dinheiro, com entrevistas ocorrendo após os terremotos devastadores que atingiram o centro do país em setembro de 2023. Apenas dois por cento das pessoas doaram dinheiro para instituições de caridade em 2022, mas isso subiu para 18% no ano passado, e as taxas de voluntariado dobraram de 8% para 16%.
  • A Grécia é o país que mais cresceu este ano, tendo aumentado consistentemente sua classificação desde 2013. Tem uma pontuação particularmente alta no quesito ajuda a um estranho – significativamente acima da média europeia e particularmente alta entre os jovens.
  • Na última década, Ucrânia, Indonésia, Chade, Rússia e China são os que mais melhoraram, cada um registrando um aumento de 25 pontos ou mais.

Os 10 principais países mais doadores do CAF World Giving Index 2024:

1. Indonésia
2. Quênia
3. Singapura
4. Gâmbia
5. Nigéria
6. Estados Unidos
7. Ucrânia
8. Austrália
9. Emirados Árabes
10. Malta

Baixe a publicação completa (disponível apenas em inglês):

Captcha obrigatório

O CAF World Giving Index é baseado em dados da World View World Poll da Gallup, que é um projeto de pesquisa em andamento realizado em mais de 100 países.

Por dentro dos impactos da reforma tributária no terceiro setor

No final de 2023, foi promulgada a Emenda Constitucional que estruturou a Reforma Tributária. As novas regras do sistema tributário afetam não apenas as operações das empresas, mas também têm um impacto significativo nas organizações da sociedade civil e na prática da filantropia no país. A reforma tributária traz uma série de alterações que devem aumentar a arrecadação do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD).

Mas o que isso significa para o futuro do terceiro setor? Quais são, efetivamente, as mudanças? A ‘Aliança pelo fortalecimento da Sociedade Civil’, iniciativa liderada pelo Instituto Beja e que tem a participação do IDIS, tem tem atuado para incidir sobre o assunto, promovendo um ambiente regulatório mais favorável às doações no Brasil..

Fique por dentro do assunto acompanhando nossa curadoria de conteúdo e notícias, com atualizações a cada novo passo.

IDIS 25 anos: Investimento Social é coisa de gente

Sejamos honestos, 25 anos não se faz todo dia. Em setembro alcançaremos essa marca e, claro, não podíamos deixar de celebrar. Não somente os anos de história, mas principalmente todas as pessoas que a construíram e constroem ela conosco.

Nesta jornada, acompanhamos de perto a evolução do Investimento Social Privado no Brasil – seus movimentos, avanços, desafios. E tudo o que avançamos só foi possível devido ao comprometimento, colaboração e trabalho coletivo de diferentes pessoas com um objetivo comum: construir um mundo melhor e com mais equidade. Nesta celebração, sabíamos quem deveria ser o centro da história: todas as pessoas que pensam, realizam e fazem o investimento social no Brasil evoluir e acontecer. São eles, ou melhor – nós – os protagonistas.

Há quem nos reconheça como uma instituição geradora de conhecimento. Outros, como uma consultoria. Há aqueles que nos conhecem pelos projetos que executamos, e não sabem nada sobre o resto. E há ainda quem nos define como uma organização intermediária. Somos tudo isso, mas, principalmente, somos pessoas que fazem tudo isso acontecer.

Ao celebrarmos os 25 anos do IDIS, celebramos também o poder da comunidade, a força da colaboração e o potencial ilimitado da sociedade civil organizada. O investimento social é muito mais do que apenas uma estratégia; mas uma expressão de nossa humanidade compartilhada.

Por isso, lançamos hoje a campanha Investimento Social é coisa de gente e você é nosso convidado especial nesta celebração.

Acompanhe e participe. Afinal, tudo isso tem sido construído por nós e por vocês, coletivamente.

Com carinho,

Equipe IDIS

O que é ESG e como ele se relaciona com o Investimento Social Privado?

Em 2005, durante a conferência Who care wins’ promovida pelo International Finance Corporation (IFC) em conjunto com a ONU, líderes mundiais examinaram o papel de valores ambientais, sociais e de governança para a gestão de ativos e pesquisa financeira. Na ocasião, houve um consenso que esses três fatores desempenham um papel bastante importante no contexto de investimentos de longo prazo.

Assim, ficou oficializado a criação da agenda ESG (em tradução, ambiental, social e governança) e, com ela, a expectativa de que as empresas relatassem suas ações de forma consistente e ativa. A agenda aproximou, por fim, o mercado financeiro ao debate sobre sustentabilidade. Ao mesmo tempo, passou a considerar em suas decisões os riscos que estas pautas podem representar ao valor e à perenidade das organizações privadas.

Nesse artigo, você entende um pouco mais sobre o que é ESG e como ele influencia – e é influenciado – por outras pautas como o Investimento Social Privado (ISP).

 

O que significa ESG?

Apesar de já existir há quase vinte anos, foi em 2020, durante o cenário pandêmico, que a agenda se popularizou, ganhando força especialmente a partir do posicionamento de grandes atores do setor econômico em favor da sustentabilidade corporativa.

Antes de mais nada, é importante esclarecer que quando o assunto é ESG, falamos principalmente das relações entre iniciativa privada e o mercado financeiro. Ou seja, ao considerar investir em uma empresa, investidores passam a incorporar em seu processo de decisão, questões ambientais, sociais e de governança. Os elementos são considerados critérios importantes para avaliar a qualidade do investimento e os riscos não financeiros.

Compreende-se que, dessa forma, empresas passam a dar consideração mais séria à forma como mitigam ou endereçam de maneira mais propositiva os aspectos que afetam todas as partes envolvidas e interessadas em sua atuação; desde colaboradores, a fornecedores e sociedade ao redor. Isso é incorporar a agenda ESG na empresa para que, assim, seja possível alcançar um mundo e sociedade mais sustentáveis.

“Não se trata apenas de identificação, mensuração e gestão de riscos sob perspectiva ampla, mas também de busca ativa pela geração de resultados positivos em todos os âmbitos que circundam a atividade empresarial.”
Guia Prático ESG para Investidores, escritório de advocacia Mattos Filho

Agenda ambiental

O ‘E’ (environmental, em inglês, geralmente traduzido para ambiental ou meio ambiente), foca em ações que visam reduzir e mitigar o impacto ambiental causado pelas empresas, como a gestão eficiente de recursos naturais, mitigação das mudanças climáticas, redução da emissão de carbono, gestão de resíduos, adoção de práticas de produção mais sustentáveis e assim por diante.

Agenda social

Já o ‘S’ da agenda ESG aborda questões relacionadas ao bem-estar das pessoas tanto internamente (colaboradores) quanto nas comunidades em que a empresa opera. Essa letra do tripé busca olhar com cuidado desde questões de saúde e segurança do trabalho, políticas de diversidade e inclusão, relacionamento com a comunidade, até programas de responsabilidade social corporativa, voluntariado e investimento social privado, entre outros temas.

Agenda de governança

Por fim, mas não menos importante, o ‘G’ trata das práticas de governança corporativa. Os princípios de governança corporativa mapeiam práticas relacionadas à integridade, equidade, transparência, accountability (responsabilização) e sustentabilidade das estruturas e práticas de governança de uma empresa. Passando pelos conselhos e comitês de uma organização, até suas políticas de remuneração e prestação de contas.

Como o Investimento Social Privado se aproxima da agenda ESG?

Entende-se por Investimento Social Privado (ISP) ou Filantropia Estratégica, a alocação voluntária e estratégica de recursos privados, sejam eles financeiros, em espécie, humanos, técnicos ou gerenciais para o benefício público. Para promover a transformação social, essa doação precisa ser feita com planejamento estratégico ancorado em dados, com indicadores pré-definidos, execução cuidadosa, monitoramento dos resultados e avaliação do seu impacto.

Nesse sentido, quando uma organização define o foco e estratégia de suas doações, compreende-se que essas práticas necessariamente estarão alinhadas ao propósito e valores da instituição, além de conversar com todos os atores que são impactados ou impactam a atuação da empresa. Esses atores, chamamos de stakeholders (ou partes interessadas).

Mas e o ESG, onde entra nisso tudo? Bom, através da filantropia estratégica, as empresas podem direcionar recursos para projetos, organizações da sociedade civil (OSCs) e iniciativas que contribuam para o desenvolvimento socioambiental da comunidade. Como entendemos que o ISP estratégico atua alinhado ao negócio, a agenda ESG atua como uma aliada na formulação dessas práticas, mensurando e mitigando riscos não financeiros.

É uma via de mão dupla. Ao passo que a agenda ESG contribui para decisões mais estratégicas em relação ao ISP; o ISP atua como ponto essencial para atingimento de metas e compromissos ESG.

 

Atuação do IDIS na Agenda ESG

Com o crescimento da importância da Agenda ESG, o IDIS tem investido no fortalecimento da equipe com especialistas e na produção de conhecimento sobre o tema, incluindo o desenvolvimento de metodologias que apoiam investidores sociais em tomadas de decisões.

Acesse mais conteúdos sobre o assunto clicando aqui

Em 2023, foi oficializada a criação de uma célula ESG no time de consultoria, oferecendo apoio técnico a empresas e organizações sociais que desejam aprimorar suas estratégias ESG e conectá-las a suas práticas de investimento social. Entre os serviços oferecidos, estão estratégia ESG conectada ao Investimento Social Privado; mapa de riscos e oportunidades; (re)estruturação de projetos socioambientais; estabelecimento de Comitês Temáticos; e alinhamento de indicadores e métricas para um reporte consistente.