por Olívia Guaranha e Isadora Pagy
O SROI – Social Return on Investment – é um protocolo de avaliação que tem chamado cada vez mais a atenção de investidores sociais e organizações do terceiro setor por aplicar métodos qualitativos e quantitativos de pesquisa a fim de identificar, qualificar e monetizar o impacto social.
O processo avaliativo é uma oportunidade para que investidores e organizações entendam melhor os impactos sociais positivos – e eventualmente negativos – que têm gerado nas comunidades em que atuam, a partir da percepção de seus beneficiários.
Os achados são ricos e indicam caminhos para o aprimoramento da ação. Destaca-se, ainda, que ao final do processo, um dos resultados obtidos é um valor que traduz em termos financeiros o impacto gerado: o índice SROI indica quantos reais são gerados para a sociedade em benefícios a cada 1 real investido no projeto.
De onde vem o Protocolo SROI?
O Protocolo SROI foi estabelecido pela organização britânica Social Value International (SVI), que há 15 anos certifica profissionais em todo o mundo para sua aplicação. Paula Fabiani, CEO do IDIS, é a única brasileira com certificação pela organização e o IDIS é hoje referência na aplicação do protocolo no Brasil, com trabalhos realizados para organizações como Amigos do Bem, Fundação Sicredi, Gerando Falcões, Parceiros da Educação, Petrobras e Vale.
De acordo com a rede “valor social significa compreender a importância que as pessoas atribuem às mudanças em seu bem-estar e o uso dos insights que obtemos dessa compreensão para tomar melhores decisões”. Ou seja, a avaliação visa informar um processo de tomada de decisões baseadas em evidências em organizações sociais.
Considerando, assim, os desafios de mensurar impacto, a SVI estabelece um protocolo para o cálculo do índice SROI que engloba diferentes metodologias de pesquisa participativa: a realização de entrevistas em profundidade, grupos focais com beneficiários, questionários e análise de dados secundários.
Percebe-se, então, que o SROI não é apenas um índice numérico, mas, sobretudo, o processo e resultados de uma atividade intensa de pesquisa e consulta a beneficiários de programas sociais.
Quando utilizar o Protocolo SROI?
A aplicação do protocolo SROI em projetos com grande quantidade de beneficiários: para que o processo seja verdadeiramente participativo e para que o protocolo seja aplicado em sua integridade, é importante que o projeto tenha um número significativo de beneficiários. Não existe um número ideal, mas se o número de beneficiários for muito baixo, não é possível obter estatísticas relevantes na etapa de consulta via questionário bem como o alto investimento no processo de escuta e consulta junto aos participantes da ação perde o sentido.
Ainda, é importante que a organização tenha em mente que precisará apoiar os avaliadores a todo o momento, fornecendo dados do projeto e acesso aos beneficiários. Por isso, uma avaliação SROI demanda maior disponibilidade de tempo das organizações sociais e um maior acompanhamento dos beneficiários: caso não seja possível acessá-los, não será possível coletar dados sobre suas percepções e experiências junto ao projeto.
No mesmo sentido, quando um projeto possui descontinuidade em suas atividades também pode haver dificuldades de acessar beneficiários e aferir impactos gerados. Imagine, por exemplo, que um beneficiário tenha participado de um ciclo de atividades durante um ano e depois essas atividades foram suspensas durante dois anos e, enfim, retomadas. Esse período de suspensão das atividades gera consequências que podem afetar a percepção do beneficiário e a mensuração do impacto real do projeto.
O processo avaliativo é longo – estima-se que uma avaliação SROI dure cerca de 8 meses. De modo que, esse tipo de avaliação não é recomendada para casos em que há pressa por resultados.
E por ter uma longa duração e demandar etapas qualitativas e quantitativas, também é importante que as organizações considerem o custo da avaliação: recomenda-se que o valor da avaliação não represente mais do que 10% do valor investido no projeto. Por isso, o SROI é recomendado para projetos de maior porte.
Feitas estas considerações, as organizações conseguem decidir de forma mais estratégica quando é um bom momento para conduzir uma avaliação de impacto SROI. Tomada essa decisão e realizada a avaliação, também é importante ter alguns pontos em mente no momento de interpretar os resultados obtidos.
Como Interpretar os resultados do SROI?
Inicialmente, importa dizer que, para além do índice, a avaliação produz outros produtos interessantes para as organizações sociais: uma Teoria da Mudança do projeto, com o mapeamento de stakeholders e impactos que cada atividade visa gerar; a realização de grupos focais com beneficiários, espaço em que eles podem debater sobre as atividades e gerar insights sobre o que funcionou e o que poderia melhorar; as respostas de questionário, que visam medir quais impactos tiveram maior intensidade; e, por fim, o índice SROI e um relatório avaliativo final.
O primeiro cuidado a ser tomado é que não se deve comparar índices SROI obtidos para projetos distintos. Cada projeto tem suas particularidades e objetivos e, por isso, não são comparáveis. Pense, por exemplo, em um projeto que oferece atividades culturais para crianças em uma comunidade periférica e em um projeto que oferece capacitações e educação ambiental para pescadores em um pequeno município da costa brasileira. Os públicos, os lugares e as atividades são radicalmente diferentes, de modo que não podemos dizer que um projeto é melhor que o outro simplesmente com base no índice numérico.
O índice deve ser interpretado considerando as características de cada projeto e os objetivos estratégicos do investidor. Projetos com apenas um ciclo de atividades completo podem não ter um alto índice de retorno, por exemplo.
Da mesma forma, um índice de retorno monetário é apenas um dos indicadores a serem analisados quando avaliamos os benefícios gerados por um projeto social. Considere, por exemplo, um investidor social que deseja promover o esporte entre os jovens de uma comunidade com alta vulnerabilidade social. O índice não mede o valor intrínseco daquelas intervenções, mas serve como um guia para aprimorá-las e atingir o objetivo final do investidor, que é a promoção do esporte. Nesse sentido, um índice menor que 1 – ou seja, que o retorno social é menor do que o investimento – pode servir como ponto de partida para aprimorar o projeto e gerar mais impacto em um próximo ciclo de atividades.
É a partir da etapa qualitativa que o investidor consegue entender quais impactos estão sendo gerados pela intervenção, por exemplo. No caso do projeto que visa a promoção do esporte pode ser que, inicialmente, o investidor acreditava que promover o esporte geraria uma maior empregabilidade entre os jovens. A partir da pesquisa, pode-se descobrir que, na realidade, a promoção do esporte favoreceu o desenvolvimento cognitivo e a sociabilidade destes jovens, não a empregabilidade. Tais impactos não foram previstos inicialmente e agora podem ser monitorados pelo projeto.
A partir destas reflexões, vemos que as avaliações de impacto podem ser ferramentas poderosas para a gestão de projetos sociais, mas que é necessário um processo reflexivo prévio para entender se uma avaliação de impacto SROI é a mais adequada para aquele projeto, em determinado momento, fazendo-se algumas perguntas simples como, por exemplo: o que eu quero medir? Com qual objetivo? De quais recursos vou precisar e de quais eu disponho?
Para organizações que estão começando ou que desejam fazer uma avaliação de impacto no futuro, o IDIS recomenda realizar um Plano de Monitoramento e Avaliação; para aquelas que desejam apenas mais conhecimento sobre a intervenção sem a necessidade de um índice monetário, o IDIS realiza uma avaliação de impacto combinando metodologias qualitativas e quantitativas.
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