Um grande encontro para grandes questões

28 de abril de 2015

Por Paula Fabiani, presidente do IDIS

Levamos ao Global Philanthropy Forum uma delegação de doze brasileiros, a maior presente, e trouxemos os principais desafios e tendências do maior encontro mundial de filantropia.

Delegação Brasileira no GPF15

Delegação brasileira no GPF15

A delegação organizada pelo IDIS em parceria com o GIFE levou um importante grupo de brasileiros envolvidos com o investimento social no País para ouvir e compartilhar nossas experiências com filantropos do mundo todo.

“Quando um mundo sem pobreza vai deixar de ser um sonho para começar a ser um projeto?”. Com esta pergunta, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, abriu a 13ª edição do Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em Washington, EUA, entre os dias 22 e 24 de abril. A questão colocada pelo médico e antropologista sul-coreano, que está ao comando do Banco desde 2012, transmite a inquietação daqueles que buscam a solução para os grandes problemas sociais e veem seus esforços se diluírem em uma realidade persistentemente desigual.

Os que participaram do GPF – entre eles, três representantes do IDIS – tiveram a oportunidade de assistir a muitas palestras, depoimentos e debates ricos em conteúdo e questionamentos. Registro aqui algumas das mensagens mais significativas do evento, que representam tendências e desafios da filantropia global.

 

Desafio: Precisamos aprender a usar o imenso potencial transformador da internet.

Tendência: “A mudança geracional é grande e só quem entende das novas gerações é a nova geração” – Hadeel Ibrahim, diretora executiva da Mo Ibrahim Foundation.

Alerta: “O alto retorno no capital versus o baixo retorno do trabalho está intensificando a desigualdade social”  Sean Cleary, chairman de Conceitos Estratégicos da Future World Foundation.

Desafio: “Sustentabilidade não é uma maneira de mitigar riscos mas de aumentar os negócios, se colocada como central na condução das atividades da empresa” – Alessandro Carlucci, ex-CEO da Natura.

Alerta: “Onde você tiver pobres marginalizados, pessoas marginalizadas, você terá uma oportunidade para a escravidão”  Stella Dawson, responsável pela área de Governança e Anticorrupção da Thomson Reuters Foundation.

Desafio: As cadeias terceirizadas de produção tornam difícil chegar até quem está na ponta final. O trabalho infantil ainda atinge mais de 2 milhões de crianças no mundo todo e as empresas precisam se comprometer com esse controle.

Tendência: “Que tal lançar um selo ‘produto livre de conflito’?” – Justin Dillon, CEO da Made in a Free World.

Tendência: “Somos pobres pela forma como conduzimos nosso país e administramos nossos recursos… Como mudar isso? Melhorando o governo!” – Mo Ibrahim, fundador e CEO da Mo Ibrahim Foundation, filantropo e empresário que abandonou seu país natal, o Sudão, para progredir nos negócios. Criou um índice para avaliar a qualidade dos governos africanos.

Tendência: “A filantropia tem de parar de evitar o governo. Em vez disso, precisa colaborar com ele para aumentar a capacidade dele de solução dos problemas” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

Desafio: “Precisamos fazer da democracia mais do que apenas eleições. Precisamos conseguir monitorar e avaliar os eleitos” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

 

Vale mencionar a última sessão do evento com Peggy Dulany, filha do filantropo David Rockefeller, que morou e fez vários projetos no Brasil. Peggy reforça a importância de consultar os beneficiários, de buscar a solução dos problemas de forma coletiva. E também a atuação de Jane Wales, a incrível condutora deste evento, que consegue juntar nomes tão importante como Jim Yong Kim, do Banco Mundial, e Tony Blair, ex-primeiro ministro da Inglaterra, e que inicia e finaliza o fórum ressaltando que precisamos de todos para realizar a transformação social que buscamos (“it takes us all”): o setor sem fins lucrativos, o governo e o setor privado. O Brasil já possui modelos interessantes de parceria entre os setores, mas como levar à escala estas soluções ainda é uma questão que partilhamos com outros ao redor do mundo.

O GPF inspirou e trouxe conexões com investidores sociais de todo o mundo, com muitas oportunidades de interação e networking, como o “Speed Networking”, uma sessão na qual a cada 6 minutos conversamos com um participante diferente. As experiências musicais ao longo do evento também nos trouxeram mais sensibilidade para conectar com os outros e com os problemas de outras realidades.

As palestras e as histórias nos fizeram pensar como conduzimos nossas ações no Brasil. Além disso, reforçou a importância de refletir sobre qual nosso papel na filantropia global. O País possui um grande potencial de se tornar um celeiro de inovação social, pois possui problemas socioambientais de grande envergadura e a infraestrutura filantrópica para buscar soluções a estes problemas. Construir as parcerias necessárias é o ponto de partida para colocar o Brasil na liderança da filantropia dos países emergentes.

Quem quiser saber mais pode assistir aos vídeos em http://philanthropyforum.org/talks.

 

Membros da delegação brasileira no Global Philanthropy Forum 2015

  1. Adriana Norte – Instituto Estre
  2. Ana Carolina Velasco – GIFE
  3. Antônio Florence – Florence & Advogados
  4. Helena Monteiro – WINGS
  5. Izabel Toro – Editora FTD
  6. Juliana Ramalho – Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados
  7. Marcos Kisil – IDIS
  8. Paula Fabiani – IDIS
  9. Rafael Gioielli – Instituto Votorantim
  10. Raquel Coimbra – IDIS
  11. Vinícios M. Malfatti – Instituto Lojas Renner
  12. Virgílio Vianna – Fundação Amazonas Sustentável