Relatório de atividades IDIS 2023: mais ousados do que nunca

A ousadia é inerente ao ser humano, mas deve ser desenvolvida, experimentada e aprimorada. Este foi o tema não apenas do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais 2023, mas também da jornada do IDIS ao longo do ano. Precisamos de coragem, criatividade, planejamento e persistência para enfrentar desafios e assumir riscos. Em 2023, o IDIS foi mais ousado que nunca!

Seja entre iniciativas internas ou em colaborações com outras organizações do setor, a ousadia deu propulsão à nossa atuação baseada no tripé de geração de conhecimentoconsultoria e projetos de impacto. Durante esse caminho, continuamos com nossa missão de inspirar, apoiar e ampliar o investimento social privado e seu impacto. As histórias foram reunidas em nosso Relatório de Atividades.

Acesse e baixe o Relatório de Atividades IDIS de 2023. 

Conheça os destaques!

NOSSOS NÚMEROS

Nossa equipe de consultoria conduziu 54 projetos, abrangendo áreas como planejamento estratégico, estruturação e gestão de fundos patrimoniais, gestão de doações e avaliação de impacto. Incluímos, também, oficialmente em nossa oferta, serviços relacionados à agenda ESG e a relação com o Investimento Social Privado.

Já na área de conhecimento, continuamos com nossa vocação de refletir sobre tendências, ler cenários e sistematizar conceitos e metodologias. Foram 50 novos produtos, incluindo publicações, artigos e notas técnicas lançadas e eventos. Lançamos a segunda edição do Perspectivas para a Filantropia no Brasil, realizamos mais uma edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, que mais uma vez aconteceu de forma híbrida, e realizamos a Pesquisa Doação Brasil 2022. Apoiamos o desenvolvimento, adaptação e tradução de estudos de organizações parceiras internacionais, como o Arquétipos da Filantropia, da Rockefeller Philanthropy Advisors, e o World Giving Index 2023, da CAF. Ao todo, recebemos 170 mil acessos aos nossos conteúdos.

Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais 2023

Os projetos de impacto que o IDIS implementa e lidera continuaram avançando. No âmbito do programa Transformando Territórios, em parceria com a Charles Mott Foundation, tivemos como um dos focos a ampliação da rede, trazendo novos líderes e organizações para atuarem neste modelo. A partir de uma chamada pública, encontros e pesquisa ativa, cinco novos grupos de iniciativa passaram a integrar o Programa, totalizando 17 organizações participantes. Em setembro, reunimos todos em São Paulo, para o 2° Seminário Transformando Territórios.

2° Seminário Transformando Territórios

Ao longo do ano, a Coalização pelo Fundos Filantrópicos, liderada pelo IDIS, continuou sua atuação. Uma das principais pautas de nosso advocacy neste ano dizia respeito à regulamentação para que recursos proveniente de incentivos fiscais possam também ser destinados a fundos patrimoniais. No início de abril, tivemos uma vitória. A Instrução Normativa 1/2023 do Ministério da Cultura regulamentou o uso de incentivos fiscais destinados à Lei Federal de Cultura, popularmente conhecida como ‘Lei Rouanet’, para fundos patrimoniais voltados à área da cultura. Em agosto, avançou também o Projeto de Lei 2440/2023, que busca utilizar os incentivos fiscais já existentes na legislação brasileira para estimular doações a fundos patrimoniais filantrópicos de todas as causas. Em dezembro, a deputada Luisa Canziani apresentou o PL 6.185/2023, referente à permissão da dedução de valores doados a fundos patrimoniais constituídos nos termos da Lei nº 13.800/19 do Imposto sobre a Renda apurado pelas pessoas físicas ou jurídicas. Ainda nesta temática, lançamos mais uma edição do Anuário de Desempenho de Fundos Patrimoniais 2022, e demos continuidade a atualização do Monitor de Fundos Patrimoniais, acompanhando a evolução do tema no Brasil.

Foi neste ano que teve início o grandioso Juntos pela Saúde, um projeto de impacto em parceria com o BNDES com o objetivo de destinar, até 2026, R$200 milhões para fortalecer o SUS nas regiões Norte e Nordeste do país. Em apenas um ano de atuação, conquistamos quatro importantes apoiadores e estão em ação três projetos que abrangem quase 300 municípios.

 

PRESENÇA GLOBAL E PARCERIAS

Acreditamos que a pluralidade de opiniões, origens, histórias de vida e de repertório enriquecem o nosso trabalho e aumentam o nosso potencial de impacto. Por isso, em 2023, continuamos a celebrar a diversidade e investir no poder das parcerias.

Também participamos de redes temáticas, refletindo, cocriando, referendando e implementando ações. Contribuímos para o avanço de pautas relevantes para o fortalecimento do ambiente democrático, do Investimento Social Privado e da Cultura de Doação no Brasil.

Conheça os nossos parceiros institucionais e as redes das quais participamos em 2023.

 

QUEM FAZ PARTE DESSA HISTÓRIA

Quem constrói nossa história diariamente é quem faz parte do IDIS. Desde 2020, temos crescido não só em números de projetos, indicadores de impacto, eventos e parceiros, mas também em pessoas (ou querIDIS). Entre agosto de 2022 e agosto de 2023, tivemos um aumento de 50% em nossa equipe, levando à criação de novos processos e políticas de pessoas.

Com modelo de trabalho híbrido, ao longo do ano, foram promovidas uma série de ações de integração, formação e troca de conhecimento. Parte dessas iniciativas foi conduzida pelo Comitê de Diversidade, composto por membros da equipe IDIS, que também coordenou a segunda edição do Censo IDIS.

Conheça todos os detalhes das atividades do IDIS ao longo de 2023 em nosso Relatório de Atividades.

Equipe IDIS reunida em reunião de planejamento estratégico

O QUE NOS AGUARDA EM 2024

Entramos em 2024 cheios de planos e determinação, prontos para continuar inspirando, apoiando e ampliando o impacto do investimento social privado.

Além disso, é neste ano que celebramos 25 de anos de existência. Será um momento de muitas celebrações!

Em parceria com o Grupo MOL, estamos estruturando o Compromisso 1%, um movimento que incentiva empresas a destinarem pelo menos 1% de seu lucro líquido para organizações sociais e causas de interesse público. Estamos em busca de mais apoiadores para essa iniciativa.

No escopo do Juntos pela Saúde está previsto o encerramento da captação de recursos, atingindo a marca de R$ 100 milhões doados por apoiadores que serão dobrados pelo matching do BNDES. Em 2024, iniciaremos a avaliação de impacto dos projetos em execução.

No âmbito dos projetos de conhecimento, além de realizar mais uma edição de nosso tradicional Fórum e do Anuário de Desempenho de Fundos Patrimoniais, destacamos a pretensão de iniciar um estudo com foco em filantropia familiar e captar recursos para a realização da Pesquisa Doação Brasil 2024, agora bienal.

Por fim, diante da crescente relevância da Agenda ESG, o IDIS investe no fortalecimento da equipe de consultoria com especialistas, desenvolvendo metodologias que apoiam investidores sociais em suas decisões, e na produção de conhecimento sobre o tema, com a publicação de um novo estudo a partir dos dados do ISE/B3.

O papel da filantropia familiar no enfrentamento de causas invisibilizadas

Por Isadora Pagy, analista de projetos do IDIS

Quando falamos de filantropia é comum pensarmos que se tratam de doações realizadas para causas como educação, saúde e combate à fome. A primeira imagem que nos vem à cabeça muitas vezes é a de crianças em situação de vulnerabilidade que precisam de ajuda. Não à toa que a causa infantil foi a que mais recebeu doações em 2022, representando 46% das doações realizadas no último ano, segundo a Pesquisa Doação Brasil 2022, coordenada pelo IDIS.

Apesar da grande importância e urgência de tais temas, outros acabam ganhando menos destaque, se tornando causas invisibilizadas, o que faz com que seja necessário termos ousadia para dar visibilidade e passar a priorizar esses temas, territórios e organizações. Ainda mais quando falamos de filantropia familiar, que tem se tornado cada vez mais estratégica, indo além de ações pontuais ou assistencialistas, tendo um grande potencial de transformação.

Tal ousadia foi o tema transversal do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais 2023, que aconteceu no dia 14 de setembro. Nele, foi realizada uma sessão para falar justamente sobre Filantropia familiar e o enfrentamento de causas invisibilizadas¸ contando com a presença de Ilana Minev, presidente do Conselho de Administração da Bemol, Luciana Temer, Diretora Presidente do Instituto Liberta e conselheira do Movimento Bem Maior, Philippine Vernes, Gerente Sênior de Parcerias Internacionais na CAF e, como moderador, Luciano Cerqueira, Coordenador de Projetos da Samambaia Filantropias.

Durante a conversa, Luciana Temer, que trabalha para dar visibilidade ao combate da violência sexual infantil como diretora no Instituto Liberta, comenta como muitos investidores e empresas não têm interesse em investir nesta causa por considerarem “um tema feio”, ou seja, não querem associar sua marca com a causa. Levantando também uma discussão sobre social washing e a realização de investimentos apenas em assuntos que estão “na moda”, visando a valorização da marca aos olhos do consumidor e de potenciais investidores.

Temer compara o tema com o combate à violência contra a mulher, que também não era falado, porque era considerado um assunto que deveria ser tratado dentro de casa, como o ditado que diz “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Ela ressalta que esse pensamento deve ser combatido, e que a violência sexual infantil, assim como a violência contra a mulher, “é intrafamiliar, é silenciada, está em todas as classes sociais”.

Apesar da importância, as causas invisibilizadas são consideradas residuais e não estruturantes. Justificativa utilizada mais uma vez para não olhar com seriedade e estratégia para tais temas. O que cria um grau de dificuldade maior de engajar parceiros, sendo necessária ousadia para endereçar tais questões socioambientais.

Além da causa de Luciana Temer, ainda há outras tão invisibilizadas quanto. Ilana Minev atua com a causa socioambiental na região da Amazônia e conta sobre as adversidades e peculiaridades de se trabalhar nesta região. Ela comenta que “quando você faz sozinho, você tem uma limitação de recurso, de tempo e de engajamento”, reforçando a importância de se trabalhar de forma colaborativa, um dos pilares para sua atuação, cooperando com outras organizações que também atuam na região.

Minev ressalta outra característica específica do território, de que “a maioria das pessoas têm um olhar de helicóptero [para a Amazônia]. Olha pela copa da árvore e vê tudo verde e vê rios. Mas é necessário descer e abaixar nas raízes e olhar essas 25 milhões de pessoas que moram e que buscam prosperidade”. Falando da potência que a região traz e da importância de se trabalhar de forma aprofundada, combatendo de novo o social washing.

Quando falamos de território, Luciano Cerqueira ressalta outro obstáculo que enfrentamos no passado, que foi da visão dos financiadores e organizações internacionais para com o Brasil como um todo, não apenas em relação à Amazônia. Ele comenta como o Brasil era visto como um país rico e desigual, que possuía riqueza para financiar causas sociais, o que causou a saída de grandes financiadores internacionais, em 2004. Luciano fala como esse movimento mudou e como as organizações internacionais passaram a enxergar novas possibilidades de parceria com o Brasil, trazendo uma boa perspectiva para organizações brasileiras.

Apesar das dificuldades levantadas, existem oportunidades para a filantropia familiar se tornar cada vez mais estratégica. Philippine Vernes, representante da CAF, organização britânica centenária de filantropia, comenta sobre a questão intergeracional, a transferência de riqueza para as próximas gerações, que abre portas para novas temáticas, formas de doar e de fortalecer o terceiro setor.

Assim, é preciso focar em um fortalecimento institucional das organizações, olhando para a governança, mobilização de recursos. De forma que o investimento social privado seja potente, duradouro, colaborativo e que contribua para as diversas causas sociais e territórios do país, trazendo visibilidade para todas e todos.

Confira a sessão completa: