Pesquisa Doação Brasil e hábitos da Geração Z são destaques no Valor Econômico

A Geração Z revelou ser socialmente mais consciente e engajada com as causas socioambientais, de acordo com os resultados da Pesquisa Doação Brasil 2022. O comportamento do grupo em relação às doações foi destacado em uma reportagem do jornal Valor Econômico.

Neste ano, a pesquisa se aprofundou nas percepções e práticas dos jovens em relação às doações. A Geração Z demonstra possuir uma visão mais positiva das ONGs em comparação com a população em geral e também é mais influenciado pelas redes sociais a contribuir com ações sociais.

“Os jovens possuem uma visão mais positiva e são mais otimistas em relação ao trabalho das ONGs. Isso me faz ficar otimista quanto à formação de uma cultura de doação no país”, afirma Paula Fabiani, CEO do IDIS.

Confira a matéria na íntegra. 

 

O grande potencial da doação de centavos

Por Beatriz Bouskela, Diretora Executiva do Movimento Arredondar e Nina Valentini, Co-fundadora do Movimento Arredondar

Um dos dados que mais chama a atenção, entre os resultados da Pesquisa Doação Brasil, é a constatação de que 11% dos doadores para organizações e iniciativas socioambientais afirmaram ter feito doação por arredondamento.

Entretanto, para nós, que trabalhamos há anos para que o arredondamento seja uma alternativa de doação cada vez mais acessível para os brasileiros, a informação não é tão surpreendente.

Como uma entidade impulsionadora dessa modalidade de doação, nos últimos anos temos observado uma adesão crescente por parte de empresas, dos clientes e do engajamento dos colaboradores.  Internamente, temos conquistado um crescimento contínuo nos últimos anos com um crescimento de 21% em 2022, 40% em 2021, 3% em 2020 e 52% em 2019. E sabemos que esses números são ainda maiores se somarmos outros varejistas que têm aplicado essa modalidade. Vibramos com os resultados globais de todos que podem arredondar, sejam em parceria conosco, ou não – desde que feitos com seriedade, claro.

Nesse sentido, vemos os números da Pesquisa Doação Brasil 2022 com entusiasmo e com a confiança de que este formato de arrecadação tem se tornado cada vez mais relevante na vida dos brasileiros. Atingir o patamar de 11%, após duas edições anteriores da pesquisa que registraram uma adesão inferior a 1%, nos deixa entusiasmadas e certas de que este modelo tem uma potência no nosso contexto e espaço para crescer.

E as nossas expectativas não são alimentadas apenas pelo significativo crescimento apontado pela pesquisa ou pelo que temos conquistado na operação do Arredondar. Pesquisas internacionais, como America’s Charity Checkout Champions 2023, publicada pelo Engage for Good, mostram o arredondamento crescendo ano após ano no varejo dos Estados Unidos e se consolidando como potência de arrecadação. Só em 2022 a arrecadação através de pontos de venda do varejo atingiu o patamar de 759 milhões de dólares no ano, e a oferta de doação por arredondamento cresceu 43% (versus 2020) entre os varejistas listados pela pesquisa. Ainda não temos uma pesquisa que consolide especificamente o valor arrecadado através dos pontos de venda ou dos arredondamentos no Brasil, mas é certo que ainda temos um grande caminho a ser percorrido neste sentido.

Manifestada nos mais diversos formatos, a solidariedade permeia a nossa cultura e o tecido social que temos construído enquanto país.  Os dados da Pesquisa Doação Brasil 2022 indicam um crescimento no engajamento solidário, com 84% das pessoas entrevistadas realizando algum tipo de doação durante o ano de 2022, maior índice até então. Esse gesto assume variadas formas, abrangendo diferentes maneiras de contribuição e contando com uma diversidade de gêneros, classes sociais, faixas etárias e regiões geográficas.

À medida que as práticas de solidariedade ganham mais destaque, é fundamental ressaltar que há um espaço para desenvolvermos uma cultura de doação estruturalmente presente na vida dos brasileiros, como o arredondamento. Um aspecto particular a ser notado é a estagnação das doações institucionais,  que desempenham um papel crucial na viabilização de projetos e na manutenção das organizações sociais. Em 2022, apenas 36% dos entrevistados afirmaram ter atuado como doador institucional, índice que se manteve estável quando comparado a 2020 e que caiu 10 pontos percentuais em relação a 2015.

As análises da Pesquisa Doação Brasil nos anos de 2015, 2020 e 2022 trazem uma visão aprofundada desse desafio. Ao examinarmos as principais dificuldades relacionadas à doação institucional, identificamos que há fatores recorrentes nas três edições do estudo. Destacam-se os seguintes aspectos: a percepção de falta de recursos financeiros disponíveis para doação, fator citado em 1º lugar nos três anos de pesquisa; a ausência de pedidos de doações, demonstrando falta de convite para doar; e a falta de confiança nas organizações.

À medida que as doações institucionais continuam a se mostrar um desafio enraizado na cultura brasileira, torna-se importante reforçar que as organizações sociais dependem substancialmente dessas contribuições. Seja na luta contra as disparidades sociais, na expansão do acesso a direitos fundamentais ou na preservação do meio ambiente, as doações são parte da engrenagem que possibilita que essas atividades possam existir, resistir e avançar.

 

História do Movimento Arredondar

Em resposta aos desafios relacionados à cultura de doação, o Movimento Arredondar foi fundado em 2011. A nossa missão tem como norte criar oportunidades para que todos os dias milhares de pessoas sejam convidadas a doar e fortalecer a sustentabilidade de organizações sociais.

Primeiramente, partimos da premissa que para criar um novo hábito na vida das pessoas, é estratégico estarmos presentes em alguma atividade já habitual para o indivíduo. Charles Duhigg reforça esta teoria no livro “O poder do hábito”, amplamente difundido. Nesse sentido, entendemos o varejo como o parceiro ideal para estar conosco nesta operação, uma vez que ir à farmácia, ao supermercado e/ou a um estabelecimento comercial faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros, em diferentes regiões do Brasil.

Adicionalmente, buscamos desenvolver uma solução que fosse acessível e democrática, que ajudasse a quebrar a percepção de que é necessário ter muito dinheiro para doar. Acreditamos que doar centavos seja o suficiente para que um ato solidário possa começar, e  se concretizar. Dessa forma, trazemos a opção de doações que vão de R$ 0,01 até R$ 1,00. Ou seja, uma compra de R$ 18,70 pode se transformar em uma transação de R$ 19,00, de forma que R$ 0,30 sejam doados.

Foi importante também entender que o convite para a doação ajuda as pessoas a se lembrarem que elas podem fazer parte da diferença. Por isso, realizamos treinamentos recorrentes com os colaboradores do varejo e apoiamos a construção de materiais de loja. Quando o cliente diz “sim” para arredondar o valor da compra, este ato é o suficiente para conectar colaboradores, clientes e organizações em um único propósito.

Por fim, e igualmente importante, entendemos que é fundamental fortalecermos a visibilidade do trabalho das ONGs, e consequentemente aumentarmos a confiança dos clientes em relação ao uso dessas doações. Nesse sentido, nos responsabilizamos pela certificação das ONGs apoiadas, pelo repasse de recursos livres (não carimbados) e pela transparência do uso dessas doações.

Buscando soluções para diferentes barreiras, construímos um caminho com o objetivo de criar uma solução simples, rápida, acessível e fácil para o consumidor e para as empresas.

 

Os desafios do arredondamento

Apesar do empenho para trazer uma oportunidade de doação que faça parte do dia-a-dia dos brasileiros, a jornada de concepção do Arredondar não foi especialmente simples.

Uma das barreiras foi a própria legislação tributária. As regras sobre isenção e imunidade são diversas, complexas e um tanto burocráticas. No Brasil, até hoje tivemos um desincentivo estrutural para a cultura de doação de recursos, que é o próprio ITCMD, imposto sobre transmissão causas mortis e doações. Enquanto o governo deveria estimular esses atos de doação, e consequentemente o engajamento para o benefício comum, até agora vem tributando e dificultando a participação daqueles que querem contribuir. Uma pesquisa da FGV, em 2019, indicou que, de 74 países, o Brasil é um dos únicos três que não estabelece um tratamento diferenciado de alíquota para doações a OSCs, ao lado apenas da Coreia do Sul e Croácia.

Na nossa operação, essa realidade fica ainda mais evidente. Como recebemos recursos em várias localidades do Brasil, tivemos que entender, estado a estado, a peculiaridade da legislação. Isso porque em muitos deles, até mesmo as doações de centavos são tributadas, o que torna a nossa operação inviável nessas localidades. Nesse sentido, o advocacy entra como estratégia de ampliação da nossa atuação, o que tem apresentado resultados positivos, como por exemplo a alteração da legislação do Ceará, que em 2021 passou a permitir a isenção de impostos para doações de até R$ 50.

Um outro desafio que faz parte da nossa jornada é a priorização das empresas, assim como a percepção de seu papel em relação às demandas socioambientais. Se hoje a sigla ESG (ou ASG) tem se mostrado cada vez mais popular, ainda há um grande espaço para a ampliação de seus compromissos.

É possível ainda mencionar as recessões econômicas, inflação, pandemia e crises ambientais, que têm aprofundado as disparidades no país nas últimas décadas. Essa realidade adiciona ainda mais demandas sobre as organizações sociais, ao mesmo tempo que agrava dificuldades financeiras para muitos brasileiros.

 

Crescimento e oportunidades futuras

Apesar das dificuldades, acreditamos que esses desafios externos reforçam a prática das doações através de arredondamento como uma importante alternativa.

Algumas evidências do Brasil reforçam essa perspectiva. Estamos em meio à uma reforma tributária que considera eliminar a cobrança de ITCMD para organizações sociais, o que seria um ganho significativo para o arredondamento, e para a cultura de doação como um todo.

Adicionalmente, vemos com ótimas perspectivas a digitalização e inovação tecnológica que acompanha a vida das pessoas e das empresas, e que pode trazer de forma ainda mais facilmente o convite a doar. Estamos trabalhando para que o arredondamento acompanhe e se beneficie dessas tendências.

Por fim, destacamos com otimismo a crescente percepção do papel das empresas para os compromissos sociais e ambientais, apoiada também pela cobrança dos consumidores. É certo que quanto mais varejistas se engajarem, maior será a capilaridade, montante de recursos captados e pessoas mobilizadas através desse tipo de engajamento.

E é nisso que acreditamos: a construção de um país mais solidário passa pela mobilização, bastante articulada, de todos os setores da economia. O desafio está em encontrar e construir modelos que são capazes de conectar a cultura de doação à cada um deles.

Os resultados da Pesquisa Doação Brasil 2022 sob a ótica da cultura de doação

 

Por Pamela Ribeiro, coordenadora de Programas do Gife, e Fernando Nogueira, diretor executivo da ABCR (Assoc. Bras. de Captadores de Recursos)

 

Doar é o ato de transferir um bem, recurso ou patrimônio a outra pessoa ou organização. Cada vez mais, um conjunto de pessoas e organizações procura entender e promover esse ato não de forma isolada, mas de forma ampla e constante. É quando passamos a falar de uma Cultura de Doação: como tornar o ato de doar algo que faz parte constante e consciente do dia a dia das pessoas?

A Pesquisa Doação Brasil, em sua terceira edição, traz muitos dados relevantes sobre o quanto essa Cultura se desenvolveu no Brasil, e o quanto ainda falta a percorrer. O estudo tem uma prioridade, é claro: o hábito da doação a organizações da sociedade civil, também chamada de doação institucional. Isso não quer dizer que outros hábitos e formas de doação não são expressões relevantes da solidariedade do povo brasileiro, mas que a doação de dinheiro a entidades sociais é parte fundamental de uma sociedade civil forte, efetiva e sustentável.

O objetivo deste texto é refletir sobre o que os resultados da pesquisa trazem para o debate da Cultura de Doação. Em particular, queremos trazer potenciais desdobramentos para dois públicos: investidores sociais e organizações da sociedade civil.

Os investidores sociais são o conjunto de fundações, institutos, empresas e filantropos que se propõem a executar e financiar iniciativas sociais de forma estruturada, planejada e monitorada. Têm um papel importante na valorização e na promoção de uma Cultura de Doação, por meio de suas práticas e exemplos. É importante que incorporem a Pesquisa Doação Brasil em seu planejamento e sua prática.

As organizações da sociedade civil são o conjunto de entidades que compõem o setor social no Brasil. Possuem uma grande diversidade de causas e formas de atuação, mas em sua maioria ainda têm uma estrutura frágil, com poucos recursos, equipes principalmente voluntárias e de dedicação parcial. A Pesquisa traz dados importantes para a revisão de seus processos de mobilização de recursos e sustentabilidade. Toda organização do terceiro setor tem o desafio de ampliar a quantidade de apoiadores, parceiros, voluntários e doadores para si e para sua causa. Aqui temos vários indícios de caminhos a percorrer e armadilhas que devem ser evitadas.

O artigo começa com uma breve apresentação do que entendemos por Cultura de Doação. Em seguida, destacamos os principais perfis de doadores que são retratados na Pesquisa. Feitas essas contextualizações, refletimos sobre as implicações do atual estado da doação no Brasil para Investidores Sociais e para Organizações da Sociedade Civil.

 

CULTURA DE DOAÇÃO

No Brasil, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer! É o que diz  2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil da Rede PENSSAN. Em 2021, a pobreza teve aumento recorde, atingindo 62,5 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, a proporção de pretos e pardos abaixo da linha de pobreza (37,7%) é praticamente o dobro da proporção de brancos (18,6%). Situações de racismo, inclusive, já foram presenciadas por metade da população brasileira, segundo pesquisa do Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto Seta. Ocupamos a 5ª posição mundial em casos de feminicídio, de acordo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Tudo isso em um país que derrubou 10.781 km² de floresta em um período de um ano, o que equivale a sete vezes a cidade de São Paulo, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Motivos para doar não faltam, então por que não temos uma Cultura de Doação mais fortalecida no Brasil?

A Pesquisa Doação Brasil 2022 reforça uma tendência das edições anteriores: a falta de dinheiro é o principal motivo para as pessoas não doarem. Outros dados da pesquisa corroboram com este resultado, como o fato da prática da doação estar mais presente entre pessoas com renda e escolaridade mais elevada e também em faixas etárias mais avançadas. A pesquisa aponta, porém, para outros fatores, que ainda que com menor relevância, também influenciam na decisão de doar, como conhecer a utilização que será feita do dinheiro e conhecer uma organização confiável para tal. Portanto, são diversos fatores que influenciam e ajudam a construir uma Cultura de Doação.

“Cultura de Doação é um conjunto de comportamentos, símbolos e valores que se expressam no compartilhamento habitual e voluntário de recursos privados em busca de uma sociedade justa, equitativa e sustentável.” Essa é a definição usada pelo Movimento por Uma Cultura de Doação (MCD), uma iniciativa formada por pessoas físicas e jurídicas que surgiu em 2013, com o objetivo de inspirar e mobilizar pessoas e organizações no propósito de enraizar a doação como parte de nossa cultura.

Essa definição contém alguns marcadores importantes que indicam como a Cultura de Doação é entendida pelo MCD. O primeiro é o uso da palavra “voluntário” indicando que o doar é uma escolha. Ainda que existam incentivos ou barreiras à doação, ela é uma opção feita pelo doador e nunca uma obrigação. O segundo marcador, é a palavra “habitual”, indicando que, em uma Cultura Doadora, doar é algo recorrente, um hábito que se cria e é incorporado no dia-a-dia de pessoas e organizações. Por fim, a definição é explícita em relação ao objetivo da doação, que busca contribuir para uma sociedade justa, equitativa e sustentável. Isso significa que o ato de doar não é apenas uma ação de caridade. Ele carrega consigo uma intenção de transformação e o entendimento de que doar é um ato político e uma forma de exercer cidadania. Essa é a Cultura de Doação que se busca construir no Brasil.

A maior parte dos brasileiros diz ter feito uma doação em 2022, segundo a Pesquisa Doação Brasil. Mais do que isso, o percentual de pessoas que fizeram uma doação cresceu de 66% para 84% entre 2020 e 2022, indicando que o brasileiro está se tornando mais solidário. Destes, 75% doaram itens e bens materiais e apenas 48% doaram dinheiro. Quando olhamos para a doação de dinheiro feita para organizações, chamada na Pesquisa de doações institucionais, esse número é ainda menor (36%) e é aí que está o principal desafio quando falamos de fortalecer uma Cultura de Doação no Brasil.

Todo e qualquer tipo de doação é legítima e bem-vinda. Porém, as doações institucionais são essenciais para o fortalecimento das organizações da sociedade civil (OSCs), coletivos, movimentos e outras iniciativas lideradas pela sociedade civil. Financiar a atuação e o fortalecimento destas organizações e iniciativas é o que vai garantir a transformação socioambiental no médio e longo prazo. Por isso, a importância de se promover uma Cultura de Doação (como a definida pelo MCD) no Brasil e de se ter a produção constante de dados, como estes da Pesquisa Doação Brasil, para monitoramento dos avanços conquistados neste campo.

Com objetivo de orientar uma ação mais articulada e efetiva na direção de promover a Cultura de Doação no Brasil, o MCD elaborou de forma colaborativa cinco diretrizes estratégicas para impulsionar o campo: (1) Educar para a cultura de doação, (2) Promover narrativas engajadoras, (3) Criar um ambiente favorável à doação, (4) Fortalecer as organizações da sociedade civil, (5) Fortalecer o ecossistema promotor da cultura de doação.

 

PERFIL DOS DOADORES: UM RETRATO MAIS ATUAL E MENOS NÍTIDO

Em suas edições anteriores, a Pesquisa Doação Brasil trazia um perfil mais definido de doadores brasileiros, apontando traços que se destacavam. Em 2020, por exemplo, a doação era um hábito principalmente de mulheres, com idade entre 30 e 49 anos, com instrução superior, das regiões Nordeste ou Sudeste, com renda familiar superior a 4 salários mínimos e com alguma religião.

Em 2022, esse quadro fica menos nítido. O percentual de doadores institucionais se aproxima entre homens e mulheres. Entre as regiões, além de Nordeste e Sudeste, também o Sul passa a se destacar. Declarar ter uma religião não é mais um marcador tão relevante. Alguns dos critérios diferenciadores anteriores continuam com algum peso, mas com novas nuances. Há ainda maior propensão a doar entre as pessoas de maior escolaridade, mas há um aumento significativo entre aqueles que possuem ensino fundamental. A mesma tendência se dá na renda: maior penetração em rendas familiares mais altas, mas aumento em rendas baixas. Finalmente, continua havendo relação entre idade e doação: quanto maior a idade, maior a chance de doar. Mas o retrato atual mostra uma variância menor: todas as faixas estão mais próximas à média.

Podemos enxergar essas mudanças de duas formas. No enfoque dos desafios, as mudanças geralmente resultam da diminuição dos estratos que antes se destacavam, e não pelo aumento dos outros. Para ficar claro: em 2015, 49% das mulheres doavam, ante 42% dos homens. Em 2022, os números caíram para 36% (mulheres) e 37% (homens).

Na visão de oportunidades, a atual pesquisa reforça a crença de que qualquer pessoa tem a capacidade de doar. Os perfis anteriores podem levar a um efeito indesejado, o de se concentrar nas “personas” ditas como mais propensas a doar e esquecer largos segmentos da população. O desafio que fica, para quem quer ampliar a Cultura da Doação, é se debruçar sobre diferentes abordagens que, em conjunto, podem funcionar com os mais variados grupos.

Finalmente, precisamos lembrar que a pesquisa revela, acima de tudo, que a população brasileira tem aumentado seus comportamentos solidários. 84% dos respondentes declarou ter feito uma doação em 2022, um percentual recorde quando comparado às outras edições. O que diminuiu, porém, foi a proporção de doadores institucionais. Há pistas que permitem levantar algumas hipóteses da razão dessa mudança de comportamento solidário: crise econômica e social, efeitos da pandemia, maior desconfiança nas OSCs, polarização crescente… Para realmente afirmar qual hipótese explicaria melhor isso, serão necessários novos estudos com foco específico nesse dilema.

 

IMPLICAÇÕES PARA INVESTIDORES SOCIAIS PRIVADOS (ISP)

Uma Cultura de Doação é formada por um coletivo de pessoas físicas e jurídicas, que idealmente atuam de forma conjunta e complementar para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável. Assim como a Pesquisa Doação Brasil, pesquisas como o Censo GIFE, realizado pelo GIFE, e o BISC, realizado pela Comunitas, apontam para uma Cultura de Doação ainda bastante frágil. O Censo GIFE 2020, por exemplo, mostra que a Cultura de Doação está pouco presente entre investidores sociais privados. Entre os institutos, as fundações e as empresas respondentes da pesquisa, 50% declararam ter a execução de projetos próprios como sua principal estratégia de doação, enquanto apenas 27% são mais financiadores de projetos e iniciativas de terceiros.

Ambas as pesquisas também mostram que a confiança é um importante fator de estímulo à doação. Para os respondentes do Censo GIFE 2020, a confiabilidade e transparência das OSC ou de seus líderes é o principal critério de seleção de uma organização. Já para os respondentes da Pesquisa Doação Brasil 2022, saber como o dinheiro está sendo usado, conhecer uma organização em que confie e a entidade ser transparente/ prestar contas /mostrar aplicação de recursos estão entre as condições para um não doador se tornar doador, atrás apenas de ter dinheiro.

Há uma expectativa por parte dos indivíduos de que as empresas contribuam para solucionar os problemas socioambientais no Brasil. Como mostra a Pesquisa Doação Brasil 2022, 92% dos respondentes têm essa expectativa em relação às empresas, com um crescimento de 10 pontos percentuais em relação a 2020 (82%). A edição de 2023 do Trust Barometer da Edelman corrobora esse resultado quando aponta as empresas e as ONGs como as instituições mais confiáveis num contexto de medo.

Além de doar de forma estruturada, o investimento social privado (ISP), em especial o empresarial, tem um importante papel de contribuir para a promoção da Cultura de Doação por meio do engajamento de consumidores, funcionários, acionistas, fornecedores e outras partes interessadas. Ainda que as principais influências para doar, de acordo com a Pesquisa Doação Brasil 2022, sejam a igreja/ culto religioso/ grupo comunitário que frequenta (33%), as abordagens diretas na rua, por e-mail ou por telefone (31%) e a família, amigos ou vizinhos (31%), as campanhas no trabalho, na escola ou na faculdade e as campanhas promovidas por empresas que destinam parte dos lucros para doação são apontadas como uma influência por 14% e 10% dos respondentes, respectivamente.

Os dados mostram ainda que a rejeição a marcas com práticas inadequadas é mais relevante na influência ao consumidor que o engajamento socioambiental positivo da marca. Para adquirir um produto ou contratar um serviço, 44% dos respondentes levam em consideração se a empresa atua a favor de alguma causa social ou destina parte de seus lucros para doação, enquanto 56% não consideram. Já o percentual de respondentes que rejeitam marcas/ produtos envolvidos em práticas inadequadas chega a 77%, enquanto 23% não consideram isso na sua decisão de compra. Em especial entre a geração Z, a rejeição a marcas com práticas ruins está mais presente.

Outro apontamento relevante da pesquisa é que doadores institucionais são mais influenciados pelas práticas de uma marca que a população geral. Os dados mostram que 49% dos doadores institucionais consideram se a empresa atua a favor de alguma causa social ou destina parte de seus lucros para doação na sua decisão de compra e 85% rejeitam marcas com práticas inadequadas. Portanto, pessoas mais engajadas com doação tendem a priorizar marcas com atitudes semelhantes.

Por fim, é interessante notar que as causas preferenciais de doadores pessoas físicas e jurídicas não são as mesmas. Enquanto o ISP atua majoritariamente com educação, segundo o Censo GIFE 2020, pessoas físicas preferem doar para as causas da criança/ infantil (46%), saúde (31%) e combate à fome (29%). Educação é a causa escolhida por apenas 5% dos doadores pessoa física. Esse resultado acende um alerta para empresas e atores da filantropia que buscam engajar suas partes interessadas, indicando que nem sempre o que é prioridade para a organização é também prioridade para a sociedade em geral. Por outro lado, essa complementaridade entre doações de pessoas físicas e jurídicas pode ser uma boa estratégia para avançarmos na construção de uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável. Nesse sentido, é importante que investidores sociais privados se atentem para pautas descobertas pelos dois perfis de doadores, como as causas vinculadas à defesa de direitos e promoção da justiça socioambiental.

 

IMPLICAÇÕES PARA ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSCs)

Os resultados desta pesquisa trazem muitas implicações para a gestão das organizações da sociedade civil brasileiras, especialmente quanto a seus esforços de captação de recursos. Sabemos que a sustentabilidade institucional é um grande desafio para a maioria das centenas de milhares de OSCs brasileiras, que buscam recursos com diferentes fontes – pessoas, empresas, fundações, governo, comunidade, ajuda internacional – por meio de diferentes estratégias e técnicas. Quando comparamos esse cenário com outros países, a doação individual ainda tem muito a crescer no Brasil, mas já é a fonte mais mobilizada pelo conjunto das organizações (NIC.BR, 2023).

Destacamos a seguir duas das implicações que mais chamam atenção.

As doações e o pix

Começamos destacando uma mudança significativa na forma de pagamento das doações: o pix. Não existia em 2015, na primeira edição; já estreava timidamente em 2020, com 8%. Agora, pula diretamente para o meio mais usado para doar, com 39% das menções, à frente de métodos mais tradicionais como dinheiro, débito e boleto.

A primeira implicação é óbvia: toda organização que quer facilitar o recebimento de doações deve ter uma chave pix, idealmente ligada à conta bancária da organização. Se parece algo óbvio, não necessariamente é uma tarefa tão fácil de ser cumprida. O setor sofre dificuldades na relação com bancos. Estudo recente da ABCR – Associação Brasileira de Captadores de Recursos – mostra que muitas organizações têm dificuldade de abrir contas bancárias (⅓ já teve abertura de conta negada). A maioria dos respondentes relata a dificuldade de ter acesso a serviços básicos como cartões de débito, crédito ou linhas de empréstimo. Quase 20% afirmaram já ter tido sua conta bloqueada. Em função de todas as dificuldades, não é de se surpreender que 1 em cada 4 organizações (26%) já precisou movimentar recursos por meio de contas pessoais de seus dirigentes (ABCR, 2023). Dessa forma, ter chave pix em nome da organização já representa uma conquista para muitas das OSCs brasileiras.

A segunda implicação do crescimento do uso do pix é o desafio da recorrência das doações. O aumento do pix veio acompanhado, na Pesquisa de 2022, da diminuição na regularidade das doações às OSCs. Se em 2015 64% dos respondentes faziam doações ao menos uma vez por mês, essa taxa caiu consideravelmente agora, passando a 44%. Já a proporção dos que doam 4 vezes ao ano quadruplicou, passando de 5% para 21%. Não podemos afirmar que a preferência pelo pix causou a diminuição na frequência, mas é preciso lembrar que este modelode transferência ainda não encontra meios fáceis para sua recorrência. Captadores e prestadores de serviço neste campo – como as plataformas de doação e empresas de tecnologia – precisarão usar de sua criatividade para enfrentar esse desafio.

A (des)confiança nas OSCs

Há consenso na literatura acadêmica de que confiança é um indicador importante para a chance de sucesso de um pedido de doação (Abdal et al, 2019). Quanto maior a confiança, maior a probabilidade de doação; quanto menor a confiança, mais difícil a doação. Diante desse quadro, é preocupante notar que a Pesquisa Doação Brasil 2022 traz o aumento da desconfiança dos respondentes perante as organizações sociais que atuam no país.

Duas perguntas relativas à confiança tiveram piora em seu índice. Ainda que com valores maiores do que 2015, a melhoria vista durante a pandemia caiu significativamente. Apenas 31% concorda que as “ONGs deixam claro o que fazem com os recursos que aplicam”, ante 45% em 2020. A mesma proporção (31%) acha que a “maior parte das ONGs é confiável” (41%, na pesquisa anterior). Outras questões que medem dimensões relacionadas – como competência, efetividade e clareza na comunicação – também tiveram piora nos resultados.

Novamente, não temos dados suficientes para explicar a queda na confiança. Esse retrato é semelhante ao de outras pesquisas, que mostram uma piora na imagem geral das organizações e do setor. O desafio concreto, para cada organização, é buscar cada vez mais transparência e proximidade ao público (conforme Abdal et al, 2019). Transparência tende a ser algo mais impessoal e acontece por meio de boas práticas de prestação de contas, auditoria e demonstração de resultados. Já a proximidade aos doadores e potenciais doadores vem da indicação de amigos, familiares, colegas e influencers, bem como um conhecimento maior da organização (em visitas, por exemplo).

Mas há ainda uma dimensão coletiva da confiança, que depende do esforço de cada profissional e voluntário e de cada organização. Depende também da boa relação com imprensa, influenciadores e formadores de opinião. Idem quanto à relação com governo, seja nas parcerias em políticas públicas, seja no diálogo constante e aberto com seus órgãos de controle. Vale destacar, ainda, iniciativas lideradas por organizações de infraestrutura do campo social que se mobilizam para divulgar e valorizar o papel das organizações sociais no Brasil, como a Sociedade Viva (https://sociedadeviva.org.br/).

Espera-se que o conjunto de esforços citados acima contribua para aumentar a confiança nas ONGs. E, por consequência, ajudar no crescimento dos doadores institucionais no país. Que o Brasil seja cada vez mais conhecido por sua forte Cultura de Doação.

 

Referências

  • ABCR – Associação Brasileira de Captadores de Recursos. AS ONGS E OS BANCOS: Uma pesquisa exploratória sobre as barreiras que as organizações da sociedade civil enfrentam no sistema financeiro. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/13tQDpnRRqkngOrjuDl8DEASQNQKuVKEV/view . Acesso em 16 de agosto de 2023.
  • Alexandre Abdal ; ALVES, M. A. ; Nogueira, F. A. ; Andrea Pineda ; Campos, P. H. ; CALIXTO, G. ; CAMPOS, G. . Pesquisa Comportamental Sobre Doadores de Alta Renda. 2019. (Relatório de pesquisa).
  • NIC.BR – Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (editor). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas organizações sem fins lucrativos brasileiras : TIC Organizações Sem Fins Lucrativos 2022 [livro eletrônico]. — 1. ed. — São Paulo : Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2023

 

 

Analisando a Geração Z | Pesquisa Doação Brasil 2022

Por Maurício de Almeida Prado, Diretor Executivo da Plano CDE

“Falhamos em deixar um Brasil melhor para nossos filhos, mas conseguimos deixar filhos melhores para o Brasil”. Com essas palavras o executivo Fábio Barbosa definia, em uma entrevista para a revista Carta Capital, suas expectativas com uma geração que seria supostamente mais consciente de seu papel frente a questões sociais e ambientais do que a dele.

Mas será que as novas gerações têm mesmo uma postura diferente? Uma das formas de entender essas diferenças é olhando para uma questão muito importante em sociedades de todo mundo: a disposição para fazer doações e o envolvimento com a filantropia. Para isso, nada melhor do que analisarmos os dados e evidências levantados pela recém-lançada pesquisa Doação Brasil, coordenada pelo IDIS e realizada pela Ipsos Brasil.

No estudo, que ouviu mais de 1.500 pessoas em todo o País, podemos comparar as respostas do público da faixa etária de 18 a 27 anos – que costuma ser classificado como Geração Z – com o restante da população.

 

A Geração Z e as doações

Geração Z é nome dado ao grupo de pessoas nascidas entre os anos de 1995 e 2010. Como a pesquisa “Doação Brasil” foi realizada apenas com maiores de 18 anos, usaremos o recorte de 18 a 27 anos para esta análise.

O primeiro achado deste estudo é que os jovens da Geração Z estão doando mais do que há dois anos.  Na pesquisa recém-lançada, coletada em 2022, 84% dos jovens da Geração Z disseram ter feito alguma doação no último ano, frente a 63% na pesquisa de 2020. Isso demonstra um crescimento expressivo da prática de doação por esta faixa da população.

As doações mais realizadas foram de bens materiais (76%), seguidas por dinheiro (43%) e doação de tempo/trabalho voluntário (30%). Interessante notar que a Geração Z doa proporcionalmente mais em forma de trabalho voluntário do que o restante da população (30% contra 26%) e faz menos doações em dinheiro (43% contra 49%) do que a população em geral). Essa diferença pode ser explicada pela menor renda média deste público frente as gerações mais velhas, sendo que a maior doação de tempo pode indicar uma oportunidade para as organizações filantrópicas.

 

Jovens acreditam mais na sociedade civil e confiam mais na ONGs

Quando perguntados sobre quem deveria ser responsável pelas soluções dos problemas sociais e ambientais no Brasil, os jovens da Geração Z conferem maior responsabilidade às ONGs e empresas do que à população em geral, que atribui um peso maior ao governo para resolver essas questões (indicam as ONGs 91% contra 84% da população/indicam as empresas 96% contra 92% da população).

É no entendimento do papel das ONGs na sociedade e na confiança em sua atuação que a Geração Z apresenta as maiores diferenças em relação ao restante da população. Elas concordam mais que as ONGs são necessárias para ajudar no combate aos problemas sociais e ambientais (74% contra 67%), entendem melhor que a ação das ONGs leva benefícios a quem realmente precisa (74% contra 58%) e compreendem melhor o papel das ONGs na sociedade (73% contra 65%).

Também demonstram claramente uma maior confiança nessas organizações, uma vez que concordam mais com a afirmação “A maior parte das ONGs é confiável” (39% contra 31%), com que “ONGs dependem da colaboração de pessoas e empresas para obter recursos e funcionar” (83% contra 75%) e confiam mais na transparência da atuação das ONGs (39% contra 31%).

No estudo “Conservadorismo e questões sociais”, realizado pela Plano CDE para a Fundação Tide Setubal, foram levantadas algumas hipóteses que explicariam a desconfiança de parte do público conservador mais idoso em relação às ONGs. Os entrevistados relataram em pesquisas qualitativas uma dificuldade de confiar em ONGs que não conheciam direito, com certa generalização de uma imagem negativa dessas organizações. Porém, quando mencionadas ONGs que eram próximas fisicamente e conhecidas dos entrevistados, como as da igreja do bairro, estas eram apontadas como merecedoras de confiança por esse público. Havia certa dicotomia entre a imagem da ONG distante e intangível e a imagem da ONG local, próxima, tangível e confiável.

Mais do que dar transparência ao trabalho das ONGs através de relatórios, parece haver a necessidade de uma aproximação com esses públicos, que já consolidaram uma imagem de desconfiança de algo que, muitas vezes, aparece como distante e incerto. Trazer esse público para perto, com envolvimento direto nos projetos, poderia ser uma forma de aproximação para diminuir essa desconfiança e aumentar as doações.

Por outro lado, a maior confiança em ONGs por parte da Geração Z traz uma enorme oportunidade para o campo da filantropia amplificar sua participação na sociedade civil, não apenas com a captação de recursos, mas também com o envolvimento direto dessa parcela da sociedade em seus projetos.

 

Uma geração que doa com menos desconfiança

Quando olhamos as visões da Geração Z sobre a doação em geral, percebemos também uma relação de menor desconfiança do que no restante da população. Eles concordam menos com as frases “Não tenho confiança no que vão fazer com meu dinheiro, se doar” (37% contra 45%) e “Algumas doações beneficiam pessoas que não merecem esta ajuda” (43% contra 53%).

Outros aspectos que demonstram maior confiança nas doações por esse perfil mais jovem é que eles concordam menos com as frases “Eu acredito que é melhor dar dinheiro diretamente a quem precisa sem intermediários” (36% contra 46%) e “Eu penso que não devemos dar dinheiro, mas alimentos e bens” (45% contra 53%). Há claramente maior confiança em intermediários (que podem ser entendidas principalmente como as ONGs) e mesmo na real necessidade do beneficiário — quando veem menos problema em dar dinheiro do que as outras gerações, que, proporcionalmente, preferem doar alimentos e bens, com certa desconfiança de seus usos quando da doação realizada em dinheiro.

Fica aqui o desafio de aproveitar a oportunidade criada pela maior confiança em doações e nas próprias ONGs dessa parcela da sociedade para se criar uma cultura de doação focada nesse público.

 

Por que os jovens doam e quem os influencia?

As principais motivações dos jovens nas doações estão ligadas a três fatores: os objetivos/temáticas das causas, participação cidadã e a aspectos pessoais/emocionais. Logo, vemos como principais respostas: acredito nessa causa que ajudo (94%), seguida pelo sentimento de fazer a diferença (89%) e do entendimento de que todos devem participar da solução dos problemas sociais (88%). Na sequência, temos “Porque me faz bem”, com 88% das respostas, e “Porque me ajuda no meu desenvolvimento como pessoa”, com 76%. O que mais diferencia a Geração Z é que, para esse grupo, as doações são menos motivadas por motivos religiosos (44% contra 55% da população em geral).

As principais influências dessa geração na hora de doar são: familiares e amigos, grupos religiosos e abordagens na rua – o que é similar à população em geral. Porém, para a Geração Z há uma importância maior de influenciadores/redes sociais do que para a população em geral (25% contra 17%). A rede social que mais influencia esse grupo a doar é o Instagram (89%), seguido pelo Facebook (37%) e TikTok (13%).

As causas que mais receberam doações dessa geração foram: crianças (38%), seguidas por combate à fome (26%), população de rua (20%) e situações emergenciais (19%). As causas/públicos que mais diferenciam essa geração em relação ao restante da população são: população de rua (20% contra 15%) e causa animal (9% contra 5%).  Quando perguntados sobre seu envolvimento além das doações, 62% dos jovens dessa geração já se envolveram em outras ações sociais, para além das doações realizadas.

A maior importância das redes sociais para o engajamento desse público deve subsidiar as estratégias das ONGs em sua comunicação.

Por outro lado, quando vemos que quase dois terços dos jovens (62%) já se envolveram com a filantropia para além das doações, reforçamos a ideia de uma geração com maior potencial de participação no campo.

 

O papel socioambiental das empresas importa muito para essa geração

Quando olhamos para as percepções dessa geração em relação ao consumo e às práticas das empresas, notamos que esse perfil declara rejeitar mais a compra de produtos de empresas envolvidas com práticas inadequadas do que a população geral (83% de rejeição contra 77%).

Já um estudo sobre a Geração Z realizado pela consultoria Deloitte em 2023 aponta que os jovens dessa geração consideram que suas empresas estão evoluindo em questões de diversidade e impacto socioambiental. Porém, a maioria ainda percebe que suas empresas não estão fazendo o bastante nessas frentes.

Seja como consumidores ou colaboradores, os jovens da Geração Z demonstram estar atentos à atuação das empresas, impondo um desafio para que as organizações acelerarem suas atuações em ASG (ambiental, social e governança).

 

Conclusões

A análise dos dados da pesquisa “Doação Brasil”, no recorte dos jovens da Geração Z, demonstra maior entendimento do papel da sociedade civil por esse público, com empresas e ONGs tendo uma importância similar a governos na solução dos problemas socioambientais. Mais do que isso, vemos uma relação de maior confiança no trabalho das ONGs e destinação de suas doações e um interesse no envolvimento direto com seus projetos. A comunicação com essa geração deve considerar a importância das redes sociais para esse público nas estratégias de engajamento e captação. Por fim, temos essa parcela da população com um olhar mais crítico frente a atuação das empresas – o que deve ser um ponto de atenção às estratégias ASG dessas organizações.

Os achados deste estudo apontam para caminhos interessantes de planos de ação focalizados no público jovem que apresenta uma pré-disposição maior em participar de filantropia – uma grande oportunidade de alavancarmos a cultura de doação em nosso país.

IDIS lança Pesquisa Doação Brasil 2022 em agosto

Em sua terceira edição, a Pesquisa Doação Brasil  apresenta dados e análises atualizadas sobre a prática de doação dos brasileiros e, neste ano, conta com um capítulo inédito dedicado às práticas de doação da Geração Z

Qual é o perfil do doador brasileiro? Quais as motivações e causas preferidas? Qual é a percepção em relação às ONGs? Para atualizar as respostas para essas e outras questões que contribuem para a compreensão do cenário da cultura de doação no Brasil, o IDIS apresenta a Pesquisa Doação Brasil 2022.

O lançamento acontecerá no dia 24 de agosto, das 9h às 11h, em uma transmissão online gratuita. O evento contará com a presença de especialistas que analisarão os dados. Essa iniciativa é a principal fonte sobre esse tema no país e chega agora à sua terceira edição.

Além da tradicional apresentação dos dados gerais da população brasileira, a Pesquisa Doação Brasil 2022 também inclui um capítulo temático inédito dedicado à análise das práticas dos jovens. Ele explora os hábitos de doação da Geração Z em termos individuais e suas diferenças em relação à população geral.

O estudo também oferece uma leitura dos dados a partir do contexto sociopolítico brasileiro atual. O objetivo é mapear os hábitos de doação dos brasileiros, caracterizando e permitindo o acompanhamento dos fatores que contribuem para o fortalecimento da cultura de doação no Brasil ao longo dos anos. Isso contribuiu para a formação de ideias de ações específicas para mudanças de atitude.

A Pesquisa Doação Brasil 2022 é uma iniciativa do IDIS e da CAF – Charities Aid Foundation. A realização é da Ipsos e conta com o apoio do Instituto Beja, Movimento Bem Maior, Raízen, Instituto ACP, Instituto Galo da Manhã, Instituto MOL, Doare e Instituto Phi. Deixamos também agradecimentos especiais a Luis Stuhlberger e Teresa Bracher.