Sociedade à mesa: é hora de decisões compartilhadas na filantropia corporativa

Por Paula Fabiani, CEO do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Roberta Faria, Cofundadora e Co-CEO da Editora MOL e Presidente do Instituto MOL

Já faz algum tempo que as reuniões decisórias das empresas passaram a ser frequentadas por um público diferente dos habituais executivos. Cada vez mais, outros stakeholders (partes interessadas) são convidados a opinar sobre produtos, operações e até mesmo estratégias e posicionamentos. Mas há uma área que permanece bastante fechada e é, justamente, aquela relacionada ao investimento socioambiental corporativo.

Talvez por ser uma área relativamente nova, que começou a se popularizar nas últimas
décadas do século XX sob nomes como ‘responsabilidade social corporativa’, ‘filantropia corporativa’ e ‘investimento socioambiental privado’, ela continue definindo suas estratégias dentro de um círculo fechado, no qual poucos atores externos têm voz, quando muito, uma consultoria especializada.

Soa estranho porque o investimento socioambiental é especificamente o braço de
relacionamento da empresa com a sociedade, para além do âmbito comercial. Portanto, onde diferentes representantes da sociedade deveriam ter maior potencial de contribuição.

Uma pesquisa recentemente lançada nos Estados Unidos mostra que empregados e consumidores têm a expectativa de contribuir nas decisões de investimento socioambiental corporativo. Oitenta por cento dos colaboradores entrevistados afirmaram que gostariam de opinar, se fossem convidados. E 78% dos consumidores deram a mesma resposta. Setenta e oito por centos dos colaboradores disseram que preferem trabalhar em uma empresa que seja transparente em relação a seus critérios de decisão sobre a filantropia corporativa, e 73% dos consumidores se declararam mais dispostos a comprar de empresas que peçam sua opinião sobre as práticas de doação corporativa.

Ao serem mais transparentes a respeito de suas estratégias de investimento socioambiental e ao consultar seus stakeholders sobre as decisões a serem tomadas nesse campo, as empresas se mostrariam mais abertas a atender às necessidades da sociedade acima do interesse comercial próprio.

Transparência é também uma demanda crescente de investidores, hoje cada vez mais atentos à Agenda ESG (do inglês, Ambiental, Social e Governança). Empresas devem ser claras em relação ao que fazem, ter indicadores e seguir protocolos que permitam uma leitura objetiva por seus públicos. Invariavelmente, a política de investimento socioambiental corporativo é um dos pilares da agenda social.

A pandemia nos mostrou claramente o quão relevantes foram as doações realizadas por empresas naquele momento. E se quisermos superar as dificuldades sociais, ambientais e econômicas enfrentadas pelo Brasil atualmente, as companhias terão de continuar a contribuir da mesma maneira, isto é, visando ao bem público de uma forma direta, clara e confiando na capacidade das organizações da sociedade civil de realizarem seu trabalho.

Por sua vez, essas organizações conseguirão focar muito mais em suas atividades, atuando de forma eficiente e aumentando o impacto positivo de seus projetos, contando com o apoio recorrente de seus financiadores. Por isso, a relevância da transparência das empresas em relação a suas práticas de investimento socioambiental e de seu compromisso com a regularidade e com os valores transferidos.

Analisando os dados apresentados pela pesquisa BISC (Benchmark do Investimento Social Corporativo) nos últimos dez anos, percebemos que o volume total aplicado por empresas em suas ações sociais e ambientais oscila muito, sendo que seu pico, antes da pandemia, havia sido em 2012. De lá, até a chegada da Covid-19, organizações sociais sofreram com sucessivos cortes no investimento social corporativo.

Em 2020, houve um salto nas doações realizadas por empresas, que saíram de R$2,3 bilhões, em 2019, para R$ 5 bilhões no ano seguinte. O que aconteceu em 2021, ainda não sabemos, mas depoimentos das organizações da sociedade civil confirmam uma queda acentuada nos valores.

Para criarmos uma sociedade civil forte e atuante, que contribua para a solução dos
problemas socioambientais e garanta um ambiente democrático para todos, inclusive para a iniciativa privada, todos devem assumir sua responsabilidade no apoio às organizações do Terceiro Setor, com contribuições transparentes e frequentes. Elas serão parceiras e protagonistas na definição de estratégias de investimento, contribuindo para ações cada vez mais ágeis e efetivas.

Artigo publicado na Folha de São Paulo no dia 13 de julho

Relatório observa uma queda nas doações de grandes fundações dos EUA a partir de 2020

A Candid e o Center for Disaster Philanthropy (CDP) divulgaram um novo relatório, Philanthropy and COVID-19: Examining two years of giving , que detalha a filantropia relacionada à covid-19 em 2021.

A terceira avaliação da Candid e do CDP dos dados filantrópicos relacionados à Covid-19 observam um declínio preocupante nas doações de grandes fundações dos Estados Unidos, mesmo enquanto comunidades enfrentam dificuldades para se recuperar dos efeitos da pandemia. O novo relatório destaca a necessidade de maior apoio filantrópico para recuperação a longo prazo, e o CDP fornece medidas ​​que os financiadores podem adotar pensando em revigorar suas estratégias para a recuperação dos danos causados pela pandemia:

  • Aumentar o apoio às comunidades mais vulneráveis;
  • Fornecer financiamento flexível;
  • Implementar filantropia baseada em confiança;
  • Financiar o mais local e de base possível;
  • Comprometer-se com a transparência compartilhando dados.

Alguns dados interessantes do estudo apontam que 18% do financiamento à Covid-19 foi explicitamente designado como financiamento flexível ou apoio geral. Além disso:

  • As organizações de saúde, serviços humanos e educação receberam as maiores parcelas de financiamento.
  • Para financiamento doméstico com foco nos EUA, 27% da dinheiro doado foi designado para identidades raciais e étnicas. Destes, 71% não indicaram uma identidade específica, mas, em vez disso, foram amplamente designados para “equidade racial” ou “comunidades de cor”.
  • 22% dos doadores norte americanos alocaram suas doações financeiras para organizações de fora dos Estados Unidos.

Outro capítulo do relatório se dedica a apontar como a pandemia impactou a filantropia em outros países, um deles o Brasil. O IDIS, foi uma das fontes escolhidas como estudo de caso para a publicação que cita, também, o Fundo Emergencial para a Saúde – Coronavírus Brasil criado pelo IDIS, BSocial e Movimento Bem Maior ainda em 2020 e que captou R$ 40,4 milhões para ajudar hospitais em 25 estados brasileiros contra a Covid.

O relatório destaca também a publicação “Perspectivas da Filantropia no Brasil em 2022”, mostrando algumas das tendências mapeadas.

Acesse o estudo completo clicando aqui 

Movimento global “Healing Trees” promove plantio de árvores em homenagem às vítimas da Covid-19

No último sábado (12/03), houve o lançamento do movimento Healing Trees, no Brasil, grupos de voluntários fizeram plantio de árvores em São Paulo e no Rio de Janeiro.  Cem mudas de árvores nativas da Mata Atlântica passaram a integrar um memorial verde em homenagem às vítimas da Covid-19 no Brasil e no mundo.

Desde o início da pandemia em 2020, muitas pessoas perderam entes queridos e o mundo se viu em uma situação nunca antes esperada. O Brasil sozinho passou a representar 10% de todas as mortes pela doença no mundo.

A ideia da iniciativa do Healing Trees é ser um símbolo de esperança e vida para o mundo daqui em diante, uma forma também de respeitar e vivenciar o luto de tantas pessoas que foram perdidas. Até o momento, o movimento registra 487 mil árvores plantadas em todo o mundo.

No Brasil, a ação foi puxada pelo Catalyst 2030 Brasil e o Catalyst 2030, movimento também global para aceleração dos ODSs, atualmente liderado no país por Paula Fabiani, CEO do IDIS.

Você encontra uma matéria detalhada da ação na Folha de São Paulo clicando aqui.

Iniciativas globais no combate à pandemia

A comunidade do Global Philanthropy, da qual o IDIS faz parte, está causando impacto!

Neste artigo, conheça iniciativas da rede GPF ao redor do mundo. De fundos emergenciais à ações de base, compartilhamos alguns exemplos dos trabalhos que têm sido realizados para mitigar a crise causada pela pandemia do coronavírus: 

 

Proteção a Comunidades em Vulnerabilidade

A CARE está respondendo globalmente ao COVID-19, nas comunidades onde atua. Está instalando estações de lavagem de mãos, mobilizando voluntários da comunidade para educar a população em suas casas, e fornecendo suprimentos essenciais como EPIs, desinfetante e kits de saúde. Leia mais sobre os esforços da CARE aqui.

 

 

A SOS Aldeias Infantis ampliou a oferta de apoio psicológico para crianças na Itália. Na Palestina, as casas das famílias SOS foram equipadas com novos computadores para garantir que os alunos possam continuar a frequentar as aulas, virtualmente.

 

 

 

A Dalberg está trabalhando em parceria com a Fundação Jack Ma e o Ministério da Saúde da Etiópia para determinar a melhor maneira de distribuir equipamentos médicos na África. Com diversos parceiros, também lançou o “Safe Hands Kenya”, uma iniciativa para promover e possibilitar melhores condições de higiene para combater a disseminação do coronavírus. Leia mais sobre as iniciativas da Dalberg em resposta ao COVID-19 aqui.

 

Fundos Emergenciais

O IDIS liderou o desenvolvimento de um Fundo Emergencial para fortalecer o Sistema de Saúde Pública do Brasil. Uma forma rápida, confiável e transparente para empresas, filantropos e a sociedade civil se engajarem na luta do Brasil contra a pandemia de coronavírus.

 

 

 

A Fundação King Baudouin, nos Estados Unidos, está lançando Fundos Emergenciais para países africanos perigosamente afetados pelo COVID-19. Cada Fundo irá reunir as contribuições de doadores para distribuí-las para organizações sem fins lucrativos locais e organizações comunitárias que atuam nas linhas de frente.

 

A Tides lançou o Fundo Stronger Together em apoio aos empreendimentos sociais que atendem as comunidades de risco mais impactadas pelo COVID-19. A Tides também iniciou um Serviço de Doação de Resposta Rápida aos seus parceiros para ofertar, de maneira ágil, fundos para organizações impactadas pelo COVID-19. Leia mais sobre as respostas da Tides ao COVID-19 aqui.

 

 

Leornardo Di Caprio, Emerson Colective, Apple e Ford Foundation lançaram, juntos, o America´s Food Fund como o objetivo de garantir que todas as pessoas tenham acesso garantido a alimentos. O Fundo irá ofertar apoio financeiro para a World Central Kitchen e a Feeding America para promover o trabalho dessas organizações.

 

 

Compartilhamento de Conhecimento

 

Kristin M. Lord, presidente e CEO da IREX, é coautora deste artigo sobre como combater a “infodemia” do coronavírus, e a batalha maior contra informações falsas e enganosas compartilhadas nas mídias sociais.

 

 

Pesquisadores do Pacific Institute publicaram um artigo intitulado “Lavar as mãos é fundamental na luta contra o coronavírus, mas e se você não tiver água potável?”. Leia o artigo aqui.

 

 

O Skoll World Forum foi adaptado e partes da agenda foi disponibilizada online, diante da pandemia do COVID-19. A programação foi aberta ao público e ajustada para incluir ideias de todo o mundo sobre a crise da saúde pública. Você pode encontrar sessões gravadas aqui.

 

Conteúdo adaptado de newsletter divulgada pelo GPF em 14 de abril de 2020