Doações individuais para ONGs e projetos socioambientais em 2022 somam R$ 12,8 bilhões

Promovida pelo IDIS, a Pesquisa Doação Brasil é o mais amplo estudo sobre a prática da doação individual no País. Em sua 3° edição, traz um capítulo especial sobre a Geração Z

A prática da doação vem ganhando cada vez mais força no Brasil. Em 2022, 84% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento familiar superior a um salário mínimo fizeram ao menos um tipo de doação, seja de dinheiro, bens ou tempo, na forma de voluntariado. Dois anos antes, a média era de 66%. A doação diretamente para ONGs e projetos socioambientais foi praticada por 36% dos respondentes, mantendo-se estável. Estes achados integram a terceira edição da Pesquisa Doação Brasil, iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e realizada pela Ipsos.

 

 

O lançamento e divulgação dos dados da publicação aconteceu no dia 24 de agosto, em um evento online, transmitido via YouTube. O evento rendeu mais de 1.000 visualizações da transmissão ao vivo. Confira a gravação:

 

 

O levantamento explora também o volume de recursos destinado. A mediana das doações alcançou R$ 300. Em 2015 era de R$ 240 e em 2020, de R$ 200. O crescimento foi puxado por um maior percentual de doações mais altas durante o último ano. O cálculo permite estimar que R$ 12,8 bilhões foram destinados a ONGs e projetos socioambientais, o equivalente a 0,13% do PIB de 2022 (R$ 9,9 tri). Para efeito de comparação, em 2021, segundo o Benchmarking do Investimento Social Corporativo, o BISC, o valor destinado a organizações e causas de interesse público pelas 324 empresas e 17 institutos participantes foi de R$ 4,1 bilhões.

“O Brasil é um país com muitas desigualdades e a prática da doação é um aspecto fundamental da nossa sociedade. Na Pesquisa Doação Brasil, nos dedicamos a compreender quem são os doadores, quais suas motivações, qual a percepção que têm sobre as ONGs e quais são as barreiras apresentadas por não doadores. Neste ano, ainda nos debruçamos sobre a Geração Z, os doadores do futuro. São dados importantes, que contribuem para incidirmos no fortalecimento da cultura de doação”, comenta Paula Fabiani, CEO do IDIS.

Conheça outros destaques da Pesquisa Doação Brasil 2022:

  • Mais da metade da população com rendimento familiar acima de 6 salários mínimos fez ao menos uma doação institucional em 2022. As únicas faixas que registraram crescimento no percentual de doadores foram a população com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (de 25% para 29%), menor escolaridade – de 27% para 32% entre aqueles com até o Ensino Fundamental completo – e adultos acima de 60 anos (de 32% para 42%). Os homens estão doando mais. 37% dizem ter feito alguma doação para ONG ou projeto socioambiental em 2022 (um aumento de 5 pontos percentuais) e agora a participação se equiparou à das mulheres, que caiu nos últimos anos.
  • Cresce o número de doações para a causa da saúde e a pessoas em situação de rua. Crianças/causa infantil segue liderando o ranking.
  • ONGs não conseguiram manter percepção positiva gerada durante a pandemia, quando foram protagonistas de grandes ações. Apesar de piora da imagem junto aos brasileiros, nível ainda é superior àquele identificado em 2015.
  • O impacto da pandemia ainda perdura e 38% dos doadores dizem que a experiência os levou a doar mais para ONGs.
  • Instagram é a rede social que mais influencia na doação, mas não é a que capta os valores mais altos, posto ocupado pelo WhatsApp.
  • Os jovens da Geração Z estão doando mais do que no passado, têm uma percepção melhor das ONGs do que a população em geral, e admitem mais a influência das mídias sociais na hora de doar.
  • Perspectiva de aumento das doações é positiva e não doadores se mostram inclinados a repensarem suas atitudes: 93% deles afirmam que poderiam passar a doar (este número era 57% em 2020 e 40% em 2015).

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QUAL O DESTINO DAS DOAÇÕES EM DINHEIRO?

Entre os respondentes, 48% disseram que fizeram algum tipo de doação em dinheiro em 2022. O valor é 7 pontos maior que aquele encontrado em 2020 e equivalente ao patamar de 2015 (52%). Parte desses recursos foi destinado a ONGs, projetos socioambientais ou campanhas de cunho social, sendo o percentual da população que faz doação institucionais é de 36%. Chama atenção, entretanto, o aumento significativo do percentual de pessoas que declararam doar esmolas, subindo de 6% em 2020 para 16% em 2022. Esse crescimento está alinhado com o aumento (de 1% em 2020, para 10%) das doações institucionais para organizações e projetos que atendem pessoas em situação de rua, mostrando a sensibilidade aguçada para a causa.

 

MEIOS DE PAGAMENTO

Para fazer as doações institucionais, o PIX foi canal favorito. O instrumento de pagamento surgido em 2020 já conquistou a preferência de 39% dos doadores, enquanto a doação em dinheiro vivo vem sendo cada vez menos adotada. Também chama a atenção o aumento no percentual dos que declararam ter feito doação na forma de arredondamento, isto é, abrindo mão do troco de centavos para que o estabelecimento comercial encaminhe o valor para alguma organização socioambiental. A escolha, que era feita por menos de 1% dos doadores institucionais em 2020, passou a ser feita por 11%.

“Um fator essencial para alavancar as doações são as tecnologias de doação. Esse avanço teve efeito na facilidade operacional de doar, com ferramentas como botões no e-commerce, redes sociais e o pix”, explica Renata Burroul, consultora técnica das três edições da Pesquisa Doação Brasil.

 

PERCEPÇÃO SOBRE AS ONGS

Em 2020, com o protagonismo das ONGs durante a pandemia, houve, entre a população, uma melhora significativa da opinião pública sobre as organizações da sociedade civil. Dois anos depois, os dados mostram uma retração considerável, mas ainda mais positiva que a imagem em 2015.

Os maiores recuos surgem nas questões relativas à confiança nas organizações do terceiro setor. Na afirmação “As ONGs deixam claro o que fazem com os recursos que aplicam”, houve uma queda de 14 pontos percentuais na concordância (de 45% para 31%); e para “A maior parte das ONGs é confiável”, o registro foi de 10 pontos percentuais a menos (de 41% para 31%).

“A Pesquisa começa a deixar mais claro quais os efeitos efêmeros da pandemia e quais aqueles que vieram para ficar. A imagem sobre o trabalho realizado pelo Terceiro Setor é ainda bastante volátil e propensa a acompanhar o contexto social. É importante que o setor colabore entre si para fortalecer a percepção e o engajamento da sociedade em geral”, comenta Luisa Lima, gerente de Comunicação e Conhecimento no IDIS.

Os jovens da Geração Z, pelo contrário, se mostram muito mais otimistas e positivos em relação às ONGs em todos os quesitos. A diferença em relação à população em geral é especialmente maior na afirmação de que as “ONGs levam benefícios a quem realmente precisa” (74% entre a Geração Z contra 58% da população geral). Em afirmações como “As ONGs deixam claro o que fazem com os recursos” e “A maioria das ONGs são confiáveis” a concordância da Geração Z está na casa dos 39%, o que mesmo sendo maior que na população em geral, ainda é ponto de atenção.

 

CÍRCULO SOCIAL OU MÍDIAS DIGITAIS: QUAL INFLUENCIA MAIS A DOAÇÃO?

Foi incluída nesta edição uma pergunta relacionada aos atores que mais estimulam a doação. Pedimos que os doadores institucionais escolhessem, dentre uma lista de possibilidades, os três mais importantes para eles. As respostas mostraram que o convívio social nos locais religiosos e nas comunidades têm maior poder de influenciar o doador, seguido da a família, vizinhos e amigos. Já as mídias sociais e influencers digitais aparecem na quarta posição, com 17%. Entre a Geração Z, o valor de alcance das mídias e influencers digitais cresce para 25% dos doadores.

Quando perguntados sobre quais mídias sociais os influenciam a doar, as mais citadas, tanto entre os doadores institucionais da população geral quanto no recorte de Geração Z é o Instagram (85% e 89% respectivamente); seguida pelo Facebook (33% e 37%, respectivamente). Após as duas primeiras colocadas, temos as mudanças mais significativas: enquanto a população geral considera YouTube e WhatsApp (ambas com 13%) entre suas outras maiores influências, na Geração Z, a terceira e quarta colocação ficam com TikTok e YouTube. Nesse recorte, o WhatsApp aparece com apenas 4% de respostas, atrás também do Twitter. Em ambos os casos, o LinkedIn foi a rede menos citada.

ATUAÇÃO CIDADÃ DE MARCAS E EMPRESAS

Nesta edição, procuramos compreender como a percepção sobre a reputação de marcas e empresas influencia as decisões de consumo. O resultado mostra que as pessoas punem muito mais as empresas e marcas que possuem condutas inadequadas (77%) do que premiam as que adotam boas práticas investimento social (44%). Entre os doadores institucionais, esse impacto é ainda maior – 85% e 49%, respectivamente.

 

GERAÇÃO Z: COMO DOA O JOVEM ENTRE 18 E 27 ANOS?

Assim como na população em geral, os dados sobre Geração Z demonstram que eles também estão doando mais. Enquanto, em 2020, 63% deles diziam ter realizado algum tipo de doação, em 2022 o número chega a 84%, igualando-se à média nacional. Os destaques de doação nesse recorte estão principalmente para doadores de bens (76%) e trabalho voluntário (30%). Já quanto à doação de dinheiro para ONGs e projetos socioambientais, os jovens ficam 9 pontos abaixo da média geral, 27% contra 36% – fenômeno natural, uma vez que a disponibilidade de dinheiro nessas idades, por vezes, é menor do que quando comparada a pessoas mais velhas. Por outro lado, eles tendem também a ter uma visão mais positiva sobre a doação e sobre as ONGs.

A Pesquisa mostra também que jovens que doam tem a tendência de também promover, ou contribuir de alguma forma em campanhas de arrecadação ou mobilização para ajudar outras pessoas. Isso foi confirmado por 7 em cada 10 jovens doadores em 2022 e, 20% deles dizem terem feito isso mais de uma vez.

Quando falamos em causas, ações ligadas à infância e ao combate à fome são as duas primeiras colocadas na preferência dos brasileiros, e isso se confirma também entre os jovens. Porém, o ranking segue com diferença entre os doadores da Geração Z e da população geral. Os jovens se sensibilizam mais com pessoas em situação de rua e situações emergenciais, mostrando disposição à questões mais visíveis e com impactos mais imediatos. A causa animal também conta com mais simpatizantes entre a Geração Z do que na população como um todo.

PERSPECTIVAS 2023

De modo geral, há um clima de otimismo em relação ao crescimento da prática da doação. Entre os doadores institucionais, 45% afirmam que doará mais no ano seguinte. Na edição anterior, este percentual foi de 36%. O mesmo movimento aparece entre os doadores da Geração Z: 52% se dizem disposto a doar mais. Positivo também que 93% dos não doadores disse que poderia passar a doar, uma grande variação em relação a 2020, quando apenas 57% estavam dispostos a isso. O gatilho para a mudança de atitude, entretanto, dividiu opiniões. 28% disseram que passaria a doar se tivesse mais dinheiro, 13% indicaram que gostaria de saber como o dinheiro está sendo usado e, 12%, que deseja conhecer uma ONG em que confie.

“Um dado que me chamou muita atenção, e que me deu muita alegria, é o fato de que 93% dos não doadores podem mudar de lado (…) Esse número é fruto do trabalho de muitas organizações trabalhando para que isso acontecesse”, comenta Paula Fabiani, CEO do IDIS, durante evento de lançamento da Pesquisa.

METODOLOGIA

A Pesquisa Doação Brasil 2022 foi realizada entre 03 de maio a 13 de junho de 2023 a partir de uma abordagem quantitativa, com a realização de 1.508 entrevistas telefônicas. A amostra é representativa do cenário nacional e a margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Perfil dos participantes

  • Homens e mulheres
  • Classe: ABC
  • Idade: maiores de 18 anos
  • Renda familiar superior a 1 salário mínimo

 

REALIZAÇÃO E APOIADORES

A Pesquisa Doação Brasil 2022 é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e da CAF – Charities Aid Foundation. A realização é da Ipsos e conta com o apoio do Instituto Beja, Movimento Bem Maior, Raízen, Instituto ACP, Instituto Galo da Manhã, Instituto MOL, Doare e Instituto Phi. Contribuíram também os filantropos Luis Stuhlberger e Teresa Bracher.