Filantropia científica: o que tem sido feito e o futuro da prática

“Não é possível pensar em desenvolvimento sustentável sem considerar o desenvolvimento científico”. Essa foi uma das declarações do Dr. Marcos Kisil, médico e fundado do IDIS, durante o I Seminário Internacional ‘Ciência encontra Filantropia’. Durante um dia inteiro na Universidade de São Paulo (USP), líderes de diversas áreas discutiram o cenário, exemplos, estratégias e futuro da relação entre o desenvolvimento da ciência e filantropia, tanto no Brasil quanto no cenário internacional.

O evento foi organizado pelo Gema Filantropia (Grupo de Estudos de Modelos de Apoio à Ciência) – iniciativa do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da USP) -, e pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal, com apoio do IDIS. O objetivo é estimular a colaboração entre as comunidades científicas e filantrópicas do Brasil. Líderes de universidades, institutos de pesquisa, entidades filantrópicas, agências de financiamento e autoridades governamentais de Ciência e Tecnologia e pesquisadores engajados na causa se reuniram no encontro.

Durante todo o dia, foi destacada a atual homogeneidade dos financiamentos na área da ciência, que provem principalmente setor governamental. Foi destacada a oportunidade para o setor filantrópico de colaborar nesses investimentos, dada sua independência e capacidade de experimentação e aceitação de riscos, características importantes e benéficas para o campo científico. A filantropia tem desempenhado um papel cada vez maior no apoio à ciência e à tecnologia, algo que ainda é incipiente no Brasil, mas já bem estabelecido em países como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e na Comunidade Europeia. O termo science philanthropy ou ‘filantropia científica’ foi criado para descrever essa tendência.

Durante a mesa ‘Discussão sobre as necessidades e propostas para um ambiente legal favorável à filantropia na ciência’, ao lado de Laís de Figueiredo Lopes, sócia da SBSA Advogados, Paula Fabiani, CEO do IDIS, enfatizou os fundos patrimoniais filantrópicos como uma alternativa estratégica de sustentabilidade financeira para o financiamento da ciência. Esses fundos, criados para receber doações destinadas a causas ou organizações específicas, permitem que os recursos recebidos permaneçam aplicados, e apenas os rendimentos sejam usados para custear a causa. Ela também apresentou um panorama da pauta dos fundos patrimoniais no legislativo, que atualmente conta com dois Projetos de Lei que propõem incentivos às doações aos fundos.

“A ciência tem um tempo próprio de maturação, exige experimentação e demanda investimento de longo prazo. Os fundos patrimoniais possibilitam que a causa possua recursos longevos, levando o tempo que for necessário”, comenta Paula.

O mecanismo dos fundos patrimoniais já é utilizado por diversas organizações científicas ao redor do mundo, como NIH Common Fund, Harvard University, The Endowment for Basic Science, e no Brasil, o próprio Fundo Patrimonial da USP, o Fundo Medicina Endowment FMUSP, entre outros.

Hélio Nogueira Cruz, membro da Faculdade de Economia e Administração da USP e ex-conselheiro do IDIS, indicou na mesa ‘Contribuições e projetos da Universidade de São Paulo no campo da filantropia científica’ que, apesar dos ganhos com o mecanismo, ainda há muito para ser feito. “A experiência dos fundos patrimoniais é recente e há um enorme espaço para sua evolução”, disse.

Reforçando a colaboração internacional e buscando inspiração em outras partes do globo, o evento também contou com a presença remota de Joseph R. Betancourt, presidente do Commonwealth Fund. A organização americana direciona os recursos de seu fundo ao apoio de pesquisas independentes de questões relacionadas à saúde, buscando promover um maior acesso e qualidade dos atendimentos, especialmente para pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.

O Dr. Marcos Kisil participou da mesa ‘Estratégias e ações futuras para fortalecer a filantropia científica no Brasil’, destacando a importância da filantropia como apoio direto ao desenvolvimento científico. “Acho que as questões científicas começam a ter um realce maior para a sociedade no momento que você divulga que o desenvolvimento não pode acontecer por processos cíclicos, mas deve ser por um processo permanente e sustentável ao longo da história, no que a filantropia científica pode apoiar diretamente”, comenta.

Em outro momento, indicou como a filantropia é de fato uma ferramenta e plataforma poderosa, mas que pode também ser utilizada de forma equivocada por seus detentores. “Você tem filantropos que negam a ciência de tal forma, que hoje são financiadores do movimento antivacina nos Estados Unidos. Mostrando que esse poder, essa influência, essas redes de comunicação, podem ser contrárias a ciência”, diz.

Ao final do evento, houve o lançamento de seu novo livro ‘Filantropia de Risco: do desenvolvimento científico ao desenvolvimento sustentável’, que explora a necessidade do aprofundamento da relação entre filantropia e ciência no Brasil, com exemplos práticos do que já está sendo feito, e aprofundando as discussões levantadas ao longo do evento.

 

Confira a gravação completa do evento:

“Embora seja impossível prever exatamente o que vamos encontrar com uma nova ferramenta científica, devemos lembrar que a ciência não se limita aos resultados esperados: todo o processo gera conhecimentos, descobertas e aprendizados aos pesquisadores. Não se perde recurso apoiando a ciência”

(MYHRVOLD, 2000)

Glossário de Investimento Social Privado: conheça alguns conceitos que fazem parte deste universo

O investimento social privado (ISP) tem se tornado uma prática cada vez mais relevante no cenário empresarial contemporâneo. Empresas e organizações têm reconhecido a importância de ir além do lucro financeiro e buscar formas de contribuir para o desenvolvimento social e sustentável da sociedade em que estão inseridas.

Ainda assim, muitos termos e conceitos do investimento social privado podem ser complexos e confusos para aqueles que estão explorando esse campo pela primeira vez. Ao entender esses fundamentos, você poderá se sentir mais confiante e capacitado para iniciar ou aprimorar suas iniciativas de investimento social privado.

Conheça os serviços prestados pelo IDIS visando aprimorar o ISP no país 

Filantropia estratégica

É a alocação voluntária e estratégica de recursos privados, sejam eles financeiros, em espécie, humanos, técnicos ou gerenciais, para o benefício público. Para promover a transformação social sistêmica e de longo prazo, esse investimento é feito com planejamento estratégico ancorado em dados, com indicadores pré-definidos, execução cuidadosa, monitoramento dos resultados e avaliação do seu impacto.
Fonte: IDIS

 

Filantropia de risco

A filantropia de risco, também chamada ‘venture philanthropy’, tem como objetivo apoiar e catalisar soluções inovadoras para problemas socioambientais, propostas por negócios de impacto em estágio inicial ou organizações da sociedade civil. Neste modelo, o investidor assume riscos ao apostar em potenciais de mudanças sistêmicas e prioriza o impacto positivo ao retorno financeiro, com financiamento personalizado, complementado com apoio estratégico, monitoramento e avaliação do impacto.
Fonte: Investimento Social e Impacto no Brasil – Latimpacto

 

Blended finance

Blended Finance, ou finanças híbridas, são estruturas que combinam capital filantrópico e o capital financeiro para realização de iniciativas com impacto socioambiental. Elas podem combinar instrumentos diversos para apoio aos projetos, como por exemplo dívida, equity, garantias, seguros, programas ou fundos garantidores, grants, pagamento por resultados e assistência técnica.
Fonte: World Economic Forum e BNDES

 


Negócio de impacto

Negócios de impacto são empreendimentos que oferecem, por meio de seus produtos e serviços, soluções para desafios socioambientais e geram mudanças positivas ao mesmo tempo em que geram resultados financeiros positivos de forma sustentável.
Fonte: Artemisia e Anprotec/ICE

 


Inclusão produtiva

Inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social no mundo do trabalho, em áreas rurais ou urbanas, por meio do empreendedorismo ou da empregabilidade formal, de modo que sejam capazes de gerar sua própria renda de maneira digna e estável, e assim superar processos crônicos de exclusão social.Fonte: IDIS e Sebrae

 


Empreendedorismo social

Empreendedorismo social é o conceito por trás da construção de negócios de impacto. Ou seja, o ato de empreender para promover soluções sistêmicas que responder a desafios sociais e ambientais.
Fonte: Fundação Schwab

 


Economia regenerativa

A economia regenerativa propõe o reconhecimento – de maneira calculada – do valor econômico do meio-ambiente, das pessoas e das relações entre estes elementos, para os sistemas produtivos. Com isso, é possível prever usos mais adequados, privilegiando a regeneração e evitando o consumo até a escassez.
Fontes: NetZero