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Pesquisa Doação Brasil 2024 disponibiliza gráfico interativo para cruzamento de dados

O site da Pesquisa Doação Brasil 2024 ganhou novas funcionalidades. Agora, é possível cruzar informações sobre o comportamento do doador brasileiro com dados demográficos em uma plataforma interativa, além de realizar o download das bases de dados.

Os usuários podem selecionar variáveis de interesse e gerar gráficos personalizados com os resultados. Para acessar, basta entrar no site da pesquisa e clicar na seção ‘Gráficos Interativos’. Você também pode acessá-lo diretamente aqui.

Assista também ao lançamento da Pesquisa Doação Brasil 2024:

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SOBRE a PESQUISA DOAÇÃO BRASIL

Pesquisa Doação Brasil foi criada com o propósito de mapear, de forma aprofundada, as percepções, atitudes e práticas de doação entre os brasileiros, com foco especial nas contribuições monetárias. O estudo investiga os fatores que impulsionam ou dificultam o ato de doar, oferecendo uma leitura abrangente do comportamento do doador individual no país. Desde sua primeira edição, que refletiu o ano de 2015, a pesquisa se consolidou como a principal fonte de dados sobre a cultura de doação no Brasil, com novas edições sobre 2020, 2022 e 2024. Ao longo desse percurso, ela vem contribuindo para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de mobilização de recursos, oferecendo subsídios valiosos para políticas públicas, iniciativas do terceiro setor e ações institucionais que visam tornar a cultura de doação no Brasil mais sólida, consciente e sustentável.

Pesquisa Doação Brasil 2024 é destaque na mídia de todo o país

Fortemente influenciada pelo contexto socioeconômico e situações emergenciais, o cenário da doação no Brasil apresenta um novo padrão. A nova edição da Pesquisa Doação Brasil revela práticas de doação mais criteriosas, aumento nos valores doados e maior exigência quanto à transparência de instituições beneficiadas.

Evento de lançamento da Pesquisa Doação Brasil 2024. Foto: André Porto

Desde sua primeira edição, que refletiu o ano de 2015, a pesquisa se consolidou como a principal fonte de dados sobre a cultura de doação no Brasil, com novas edições sobre 2020, 2022 e 2024.

A nova edição foi destaque em diferentes veículos jornalísticos do país. Confira e acesse alguns:

TV Cultura

Jornal Hoje (Rede Globo)

Globonews

TV Aparecida

Veja

CBN

Diário do Noroeste

Observatório do Terceiro Setor

Rede Filantropia

Podcast Impacto na Encruzilhada

Monitor Mercantil:

Vídeo do evento de lançamento:

 

Transformando urgência em oportunidade: fortalecendo as doações emergenciais para um impacto de longo prazo

Por Patricia Mcllreavy, CEO do Center for Disaster Philanthropy (CDP)*
*Com sede nos Estados Unidos, mas com atuação internacional, o CDP tem apoiado os esforços de recuperação das enchentes no Rio Grande do Sul realizados pela Fundação Gerações, Retomada e AVSI Brasil

É crescente no Brasil a vulnerabilidade a desastres climáticos. Ocupando a 50ª posição entre 171 países no Índice Global de Risco Climático de 2025, a população brasileira tem enfrentado chuvas torrenciais seguidas de enchentes e deslizamentos de terra, ondas de calor severas, secas, além de incêndios florestais devastadores.

Felizmente, quando os desastres acontecem, os brasileiros respondem com generosidade, doando tempo, talentos e recursos. A Pesquisa Doação Brasil 2024 aponta que metade da população fez doações em resposta a emergências no ano passado, sendo que 60% dessas doações em dinheiro foram destinadas a locais fora do seu próprio estado. Isso demonstra não apenas solidariedade nacional, mas um instinto profundo de agir, mesmo quando a necessidade está distante de casa.

No entanto, diante dessa generosidade, surge uma pergunta: como podemos canalizar o poder das doações imediatas também para a prevenção e a recuperação de longo prazo?

No Center for Disaster Philanthropy, que lidero, reconhecemos que os três principais motivadores para doações em desastres — além da empatia — são a escala da crise, a cobertura da mídia e a proximidade. Também entendemos como os desastres e os riscos que os causam agravam vulnerabilidades pré-existentes e podem gerar maior destruição e uma recuperação mais prolongada.

As doações emergenciais imediatas, especialmente para desastres menores ou que recebem pouca atenção, muitas vezes refletem a carga emocional do momento. Essa generosidade instintiva é poderosa: as doações para alívio imediato são mobilizadas rapidamente, mas tendem a diminuir à medida que o foco da mídia muda ou os esforços de recuperação se prolongam.

No entanto, a recuperação não é uma linha do tempo nem uma fase — é uma abordagem. Ela exige mais do que reconstruir estruturas ou restaurar sistemas: requer o enfrentamento das causas profundas das vulnerabilidades, investimento em saúde mental e a capacitação das comunidades para liderarem suas próprias soluções. À medida que os desastres relacionados ao clima se tornam mais frequentes e intensos, a recuperação torna-se ainda mais complexa. O segredo para uma recuperação bem-sucedida está em uma preparação eficaz, financiamento flexível e contínuo, e um compromisso com a equidade que permita às comunidades não apenas retornar ao que eram, mas avançar rumo ao que podem ser.

Os dados da Pesquisa Doação Brasil iluminam perspectivas de avanço. Embora apenas 10% dos doadores emergenciais digam doar exclusivamente em contextos de desastre, 40% também doam em outros contextos. Isso representa uma oportunidade. Se mesmo uma parcela desses doadores, que já contribuem em momentos não emergenciais, for incentivada a investir na recuperação contínua e na preparação, o potencial de impacto sustentável é enorme.

A confiança, no entanto, é a barreira que precisamos enfrentar. Apenas 30% dos brasileiros acreditam que a maioria das ONGs é confiável, e quase metade parou de doar após se deparar com notícias negativas. Transparência, prestação de contas e narrativas envolventes são fundamentais, não apenas para captar recursos nas primeiras semanas, mas para conquistar a confiança do público nos meses e anos seguintes. Os doadores querem ajudar; mas também querem entender para onde vai seu dinheiro e qual diferença ele faz.

Os próprios doadores estão nos apontando o caminho: investir em uma sociedade civil local forte. Apoio flexível (incluindo despesas operacionais gerais) ajuda as ONGs a desenvolverem sistemas financeiros, práticas de prestação de contas e capacidades de comunicação necessários para receber recursos e relatar impactos programáticos. As organizações mais próximas das comunidades afetadas são também as mais capacitadas para oferecer soluções, mas precisam de recursos antes, durante e depois dos desastres. Ao encarar a recuperação como algo que vai muito além da emergência imediata, conseguimos ver as oportunidades que temos para investir em uma recuperação equitativa e de longo prazo.

Não podemos impedir todos os desastres, mas podemos construir sistemas que tornem nossa resposta mais equitativa e eficaz. Isso começa com o reconhecimento de que emergências não são apenas momentos de perda; são momentos de escolha. Vamos doar apenas uma vez, ou vamos doar de forma a construir algo duradouro?

A mídia a serviço da cultura de doação

*Por Vinicius de Oliveira Barrozo, analista sênior de valor social na Globo

É inegável que, historicamente, a mídia exerce impacto na relação da sociedade com as causas sociais. Quando o assunto é cultura de doação, os meios de comunicação, principalmente a TV aberta com seu massivo alcance de público, são capazes de gerar grandes mobilizações através do estímulo à solidariedade e à empatia, sentimentos que despertam a conscientização sobre a necessidade do outro. E ainda, o trabalho da mídia pode ser um potente combustível para que o desenvolvimento dessa cultura seja acelerado.

A Pesquisa Doação Brasil mostrou que a procura por informações se tornou uma das peças-chave na trajetória da doação: 83% dos entrevistados afirmam que gostam de estar bem-informados sobre as organizações antes de doar. Nesse sentido, a mídia, em geral, tem potencial de ser uma forte aliada da cultura de doação, já que dentre as redes que mais impactaram a decisão de doar no ano passado, campanhas, anúncios, programas na TV, rádio, revistas etc., figuram em terceiro lugar, após as redes pessoais do doador, com um aumento expressivo em relação à edição de 2022.

Considerando o valor de uma boa comunicação a serviço de brasileiros que precisam de ajuda, é fundamental a atenção na construção de narrativas positivas que superem estigmas sobre a doação. Isso porque, por outro lado, a pesquisa destacou que quase metade dos doadores brasileiros (49%) afirma que já deixou de fazer alguma doação ao ver notícias negativas na mídia sobre o assunto. É fundamental o cuidado para que o caminho da mensagem, mesmo que negativa, ainda seja capaz de contribuir para que o doador se sinta informado em tom de alerta, sem que isso enfraqueça o estímulo a futuras doações, mas reforçando o olhar atento para a boa reputação de uma organização como um dos seus principais motivadores. Na pesquisa de 2024, a confiança na instituição apoiada aparece como importante fator para doar (81%), o que confirma a relevância da cautela no comportamento do doador.

Entretanto, para não-doadores, a desconfiança cresce. Com aumento de mais de 15 pontos percentuais na comparação com a pesquisa anterior, a falta de transparência é o segundo motivo para não doar, após as condições financeiras. Vale ressaltar que, aqui, também é essencial refletir sobre como as organizações podem expressar mais  clareza de seus processos e informações através de seus canais de comunicação disponíveis. Para a mídia, isso resultaria em mais insumos na construção de narrativas inspiradoras, que podem até mesmo atrair não-doadores e ajudar a reverter o quadro de desconfiança para esse perfil.

Mas, construir confiança e clareza para mobilizar é desafiador. Segundo a Pesquisa, apenas 30% dos entrevistados acreditam que a maioria das ONGs é confiável e somente 33% acham que elas deixam claro o que fazem com o dinheiro. Credibilidade é uma palavra que precisa caminhar permanentemente com os esforços de comunicação. Em 2020, durante a pandemia do coronavírus, a Globo criou a plataforma ParaQuemDoar para unir quem quer doar a quem precisa receber. Era uma maneira de dar visibilidade ao trabalho das principais organizações sociais frente ao cenário. O apoio da área de Compliance da Globo e da Benfeitoria, foi também a forma encontrada para dar confiança ao público de que o dinheiro iria diretamente para organizações de referência e com boa reputação.

De lá pra cá, a Globo vem ampliando seu engajamento e o ano de 2024 foi particularmente de grande aprendizado. Se na pesquisa, dentre as causas que mais receberam doações, as situações emergenciais ocupam o segundo lugar, num crescimento de 17 pontos percentuais em relação ao ano de 2022, isso tende a se conectar, por exemplo, com a contribuição da ParaQuemDoar que, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, convidou o brasileiro a doar através de uma plataforma segura e chancelada por uma marca de mídia já reconhecida como a Globo. Apenas em maio de 2024, 34 milhões de reais foram arrecadados para as vítimas no Sul.

É inquestionável que nas situações mais críticas o potencial do doador brasileiro se eleve. Mas, e quando a comoção nacional diminui e outros assuntos passam a ganhar visibilidade? De que a maneira também a confiança e clareza das informações pela mídia também pode contribuir para tornar a cultura de doação regular da mesma maneira quando exerce um forte impacto nas emergências? É hora de a mídia se perceber como aliada constante no desenvolvimento da cultura de doação, dando visibilidade ao trabalho de organizações sociais, gerando transformação e promovendo um país mais solidário.

Comunicação e confiança: os ativos invisíveis do engajamento

*Por Beatriz Waclawek, gerente de investimento social no Movimento Bem Maior

Apesar dos avanços do terceiro setor brasileiro, a cultura de doação ainda passa por instabilidades Em tempos de desinformação, sobrecarga de causas e alta rotatividade de apoio, a confiança passou a ser o eixo central da decisão de quem doa. O que determina essa confiança? E qual o papel da comunicação nesse processo?

Em 2024, no Movimento Bem Maior (MBM), observamos entregas estratégicas e robustas das organizações apoiadas pela nossa carteira. O Instituto Rodrigo Mendes, por exemplo, formou secretarias municipais de educação, contribuindo diretamente para a homologação de decretos e leis de inclusão de estudantes com deficiência. O Estímulo lançou o primeiro fundo de apoio a empreendedores afetados por desastres climáticos no Rio Grande do Sul, arrecadando cerca de R$722 milhões. A Ação da Cidadania sediou a reunião ministerial do G20, consolidando uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. O Todos Pela Educação reuniu os prefeitos eleitos das maiores cidades do país para pactuar compromissos com a educação pública.

Tais exemplos confirmam o que o campo social já sabe – e o que nem sempre é visível fora dele: as OSCs brasileiras vêm gerando resultados de grande valor. As entregas são técnicas, os métodos amadureceram, os resultados estão mais nítidos e a articulação política evoluiu. O desafio, hoje, está menos na capacidade de execução e mais em como essa entrega é percebida por quem doa.

A Pesquisa de Doação Brasil 2024 do IDIS evidencia esse ponto. O número de brasileiros que doam caiu de 84% para 78% entre 2022 e 2024. Os dados mostram que as doações estão mais seletivas, com uma baixa confiança estrutural nas organizações, no qual 83% buscam informações antes de doar, e 49% já deixaram de doar após notícias negativas. O novo perfil de doador é mais exigente e criterioso, concentrado nas classes médias e altas, e menos fiel na constância no apoio (49% dos doadores mantêm o apoio à mesma organização vs 69% em 2015). A pesquisa demonstra que confiança se tornou um critério central.

Por outro lado, a doação institucional, aquela que considera quem doou dinheiro para organizações sociais, campanhas e iniciativas aumentou de 36% para 43% e bateu recorde de volume: R$24,3 bilhões, o maior montante já estimado pela série histórica. O tíquete médio aumentou, especialmente entre pessoas com mais renda e escolaridade. Em meio a isso, observamos um Brasil marcado por desastres climáticos sem precedentes, envelhecimento populacional, instabilidade política e hiperconexão digital. Tais cenários afetam o imaginário coletivo e, por consequência, a cultura de doação. Em relação às pesquisas de 2020 e 2022, os dados de 2024 se aproximam de 2015, indicando certa retração, maior exigência de transparência e demanda por vínculos de confiança.

Diante das entregas de qualidade e de relevância do setor, exemplificadas no início pelas organizações da carteira do MBM, notamos um descompasso entre a percepção da sociedade sobre o campo social e o impacto positivo gerado no país. Se a entrega está acontecendo e o resultado é real, por que não reverbera na opinião pública?

Nesse quesito, a comunicação e transparência deixam de ser ferramentas satélites e passam a ser ativos centrais para a sustentabilidade do setor. Qual o caminho, então? Talvez seja começar pelo fortalecimento institucional, união de vozes e por uma comunicação mais estratégica.

Recentemente, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) publicou um artigo sobre o papel do jornalismo local na construção de uma sociedade bem-informada e democrática, garantindo acesso a informações confiáveis. Talvez estejamos diante de uma oportunidade de revisitar a estratégia coletiva de narrativas do terceiro setor para nos unirmos e refletirmos porque tais estratégias não refletem em comunicações assertivas para a sociedade. Como gerar mais reconhecimento social? Precisamos, quem sabe, de uma coalizão de comunicação que represente o setor?

Quem trabalha no campo sabe o valor que ele gera. Mas se a sociedade não reconhece esse valor, então temos uma lacuna, e uma oportunidade.

A cultura de doação é sensível ao contexto, mas moldada pela confiança. E confiança se constrói com presença e escuta ativa. Transparência não é planilha: é relação. Engajamento não é só recorrência financeira, é quando quem doa sente que faz parte de algo maior. Eis minha interrogação final: o que, unidos, podemos fazer de maior?

Dez anos da Pesquisa Doação Brasil e a descoberta da cultura de doação brasileira

*Por Andréa Wolffenbüttel, consultora técnica da Pesquisa Doação Brasil

Quando cheguei ao IDIS, há dez anos, recebi uma missão desafiadora: realizar uma pesquisa que revelasse quantos brasileiros doavam e quanto doavam. Dito assim, parece simples. Mas ninguém havia feito isso antes — e as dúvidas eram muitas.

Havia quem defendesse que o foco deveria estar em quem não doa, para entender como conquistar esse público. Outros achavam mais importante compreender o doador, para estabelecer um diálogo mais eficaz e fidelizar as doações. Além disso, havia questões conceituais importantes: deveríamos considerar apenas doações em dinheiro? Ou também incluir doações de bens e trabalho voluntário?

Essas eram apenas algumas das perguntas que nos rondavam em um cenário sobre o qual pouco se sabia. O que hoje parece evidente — que os brasileiros são solidários, que a maioria faz doações, que há certo desconforto em falar sobre o ato de doar e uma desconfiança presente na relação entre doadores e organizações —, na época era desconhecido. A impressão predominante era de que a cultura de doação no Brasil ainda era incipiente.

Quando recebemos os resultados da primeira edição da Pesquisa Doação Brasil, ficamos surpresos: 77% dos brasileiros haviam feito algum tipo de doação em 2015. Mais da metade (52%) havia doado dinheiro e 43% contribuído com organizações sociais, campanhas ou grupos organizados. A reação da equipe foi de incredulidade. Pedimos ao Instituto Gallup, responsável pela coleta e análise dos dados na época, que reprocessasse os resultados. Achávamos que havia algum erro. Mas não havia.

Temíamos que os dados fossem questionados — como, de fato, foram. Ainda assim, o tempo se encarregou de dar perspectiva. A segunda edição da pesquisa, que analisou o comportamento dos doadores em 2020, um dos anos mais dramáticos da nossa história recente, veio confirmar tendências. Depois, veio a terceira. E agora, dez anos depois, lançamos a quarta edição da Pesquisa Doação Brasil, com resultados muito próximos aos da primeira.

O que se confirma é que a Pesquisa Doação Brasil foi um verdadeiro divisor de águas. Não apenas revelou a cultura de doação no país, como também contribuiu para fortalecê-la, ao lançar luz sobre comportamentos, motivações e barreiras que antes viviam no escuro.

Cultura de doação, recorrência e confiança: o que revelam os dados da Pesquisa Doação Brasil 2024?

*Por Fernando Nogueira, Diretor Executivo da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), e Vivian Fasca, Membro do Comitê Coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação (MCD) e Diretora de Marketing e Fundraising da Plan International Brasil

É sempre momento de celebrar quando chega uma nova edição da Pesquisa Doação Brasil. Em especial, por vários motivos. Para começo de conversa, há muitas boas notícias, como o aumento do valor doado pelos brasileiros, a melhoria de vários indicadores, a expressão da solidariedade brasileira em tempos de emergências. Além disso, é fundamental termos cada vez mais dados de qualidade sobre o setor social. Finalmente, muitos vivas à pesquisa por sua regularidade e constância. Facilita análises de tendências de bases históricas, além de sinalizar um amadurecimento institucional do IDIS, dos investidores que acreditam nesta ideia e do ecossistema de filantropia brasileira.

Este artigo é fruto de uma leitura dos dados da pesquisa pela lente da Cultura de Doação. Se queremos um Brasil cada vez mais doador, é fundamental termos iniciativas como esta que tragam dados e nos ajudem a ver tendências, avanços e desafios.

A partir do olhar da cultura de doação, escolhemos focar em dois aspectos: a recorrência das doações e a questão da confiança. Sabemos que são fatores fundamentais para um Brasil mais doador. Se a doação for vista, cada vez mais, como prática cotidiana, será natural que a frequência das doações aumente. E confiança é um consenso na literatura acadêmica: é fator decisivo na motivação das doações. Os dados revelados pela pesquisa mostram razões para otimismo, mas também alertas que precisam de atenção para quem trabalha no setor social.

 

Doações recorrentes: de novo esse assunto?

Doações recorrentes de indivíduos, especialmente com frequência mensal, são essenciais para que o volume de recursos financeiros arrecadados seja suficiente para contribuir para a sustentabilidade financeira de organizações da sociedade civil. Por outro lado, um volume maior de brasileiras e brasileiros doando todos os meses dinheiro para causas socioambientais, demonstra que a cultura de doação está mais madura e permeia hábitos e valores das pessoas.

Portanto, o achado da Pesquisa Doação Brasil 2024 sobre a redução do volume de pessoas dispostas a doar mensalmente para a mesma organização, caindo de 44% em 2022 para 39% em 2024, é motivo de reflexão. Essa queda vem acompanhada de outro dado importante: a prática de doar para as mesmas organizações, ano após ano, está em declínio, com apenas 49% afirmando manter esse padrão, contra 55% em 2020 e 69% em 2015.

Entre os fatores para explicar a queda na fidelização às instituições, a Pesquisa identificou que os doadores brasileiros estão mais cautelosos e criteriosos, buscando decisões mais embasadas para escolher as organizações que merecem receber suas doações, muitas vezes cancelando suas doações por falta de confiança, transparência ou clareza por parte dessas mesmas instituições. Se por um lado, isso pode ser compreendido como maior maturidade do doador institucional brasileiro, aquele que doa dinheiro, também revela o quanto o distanciamento e desconhecimento em relação, especialmente às organizações da sociedade civil, desperta um grau alto de desconfiança.

Isso é um indicador de quanto ainda é preciso avançar na promoção da cultura de doação, fortalecendo e aproximando as organizações da sociedade civil que atuam no país da população brasileira em geral, reforçando o ato de doar como parte do exercício de cidadania, ao mesmo tempo em que as próprias organizações precisam reforçar, em seus canais de comunicação, informações claras e transparentes sobre sua atuação e impacto, e sobre como utilizam os recursos financeiros que recebem. Apesar da queda das doações institucionais mensais, observou-se na Pesquisa que doações feitas com intervalos maiores, por exemplo, de 6 em 6 meses aumentaram. Este dado somado ao crescimento das doações emergenciais, que representaram 74% das motivações para doar em 2024, num ano recheado de emergências, como a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, indica que pode estar havendo competição na carteira dos doadores brasileiros entre o comprometimento contínuo com uma causa/uma organização e as várias emergências que acontecem ao longo do ano. Como estamos em tempos de intensificação da crise climática, que provavelmente tornará as emergências do clima mais frequentes, este pode não ser um dado pontual de 2024.

Será necessário acompanhar este comportamento nos próximos anos, para compreender as preferências dos doadores institucionais brasileiros em relação às doações recorrentes de dinheiro. Em alguns países, os doadores institucionais dão preferência a doações pontuais repetidas vezes ao longo do ano, o que podemos chamar de doações ocasionais, mas evitam se comprometer com a doação todos os meses. E em alguns casos, o valor doado anualmente atinge valores altos, mesmo sem a frequência mensal. Isso exige também uma abordagem diferente por parte das organizações, realizando campanhas contínuas com o pedido de doação.

 

Confiança: desconfiamos que isso é importante…

Apesar da maioria dos brasileiros reconhecer a importância das ONGs e sentir-se bem ao doar, ainda há muito espaço para aumento na cultura e na prática da doação. Esta nova edição da Pesquisa Doação Brasil reforça o quanto a confiança é um dos fatores-chave na consolidação desta cultura. Quem confia mais, tem mais tendência a doar. Mas o outro lado também é verdadeiro: quem confia menos, doa menos.

A confiança como motivadora da doação aparece de muitas formas. Pode se revelar nos critérios e cuidados para fazer a doação: as razões mais citadas para fazer uma doação se relacionam a conhecer bem a causa e a organização beneficiada.

Pode aparecer também como os motivos que mais influenciaram em uma decisão de doação. Não surpreende que igrejas, grupos comunitários, família, amigos ou vizinhos sejam citados como os grupos de maior influência. Não por acaso, são os grupos nos quais tendemos a depositar nossa maior confiança.

 

A desconfiança como razão para não doar também tem muitas facetas

Só 30% acreditam que a maior parte das ONGs é confiável. Similar à edição anterior, mas muito abaixo dos 41% da edição de 2020 – e também muito abaixo do que gostaríamos. Quanto maior a renda do potencial doador, maior a desconfiança em relação às ONGs e ao uso dos recursos.

33% afirmam que as ONGs deixam claro o que fazem com os recursos que recebem. Quando perguntado de forma mais específica, se o respondente confiaria no uso do seu dinheiro doado, a desconfiança aumenta mais ainda, pulando para 46%. Esse número vem subindo de forma lenta e consistente desde a primeira edição.

A Pesquisa também destaca um subgrupo: homens adultos (entre 30 e 50 anos) são os que mais desconfiam das ONGs, enquanto mulheres, jovens e idosos tendem a ter uma visão mais favorável. Esse dado parece estar alinhado ao de outras pesquisas feitas no Brasil e no mundo sobre a polarização política e a descrença na sociedade civil entre pessoas com esse perfil, e merece atenção especial em futuros estudos.

Finalmente, a pesquisa aprofunda o olhar para não-doadores. Em 2024, a falta de confiança e transparência chegou à liderança para este grupo, como razão para não doar (citada por 38% dos respondentes), praticamente empatada com a falta de condições financeiras (37%). A tendência é preocupante: a desconfiança como motivo de não doação passou de 12% das citações em 2020 para os atuais 38%!

Mas nem tudo parece perdido. Perguntados se algo os faria voltar a doar, 69% se mostraram dispostos, o maior número nas últimas três edições. Entre as principais condições para voltar a ser doador, 3 das 4 respostas mais citadas envolve algum aspecto ligado à confiança (saber como o dinheiro será usado, conhecer uma organização em que confie, transparência / prestação de contas).

 

Reflexões finais

Os resultados da Pesquisa Doação 2024 chegam num contexto desafiador para a promoção da cultura de doação no País e para o aperfeiçoamento das práticas de captação de recursos pelas organizações da sociedade civil.

Estamos diante de um cenário com mudanças significativas na filantropia internacional com redução de recursos e maior competição junto aos financiadores institucionais, ainda sem observar crescimento significativo do investimento social privado brasileiro e de doações corporativas, para além do aporte em projetos incentivados, que recebem recursos via leis de incentivo fiscal.

Nesse contexto, o copo parece meio vazio com o dado geral da Pesquisa Doação de 2024, indicando queda na proporção de brasileiros que doaram em 2024: 78%, ante 84% em 2022, patamar similar ao de 2015.

Por outro lado, para compensar este contexto desafiador, a Pesquisa Doação 2024 apresenta o copo meio cheio com dados animadores, como o crescimento do percentual de doadores institucionais brasileiros, os que doam dinheiro para causas. 43% da população brasileira manifestou ter doado dinheiro em 2024, o maior percentual registrado desde 2015.

O crescimento também do valor médio doado para R$ 1.180, ante R$ 833 em 2022 é também boa notícia, registrando uma mediana de R$ 480 por doador, em 2024, ante R$ 300 em 2022. Esses dados nos mostram que, apesar de termos uma estrada pela frente para tornar a doação entre brasileiras e brasileiros parte fundamental da nossa cultura, estamos evoluindo e temos um potencial imenso a ser explorado em várias dimensões nos próximos anos.

Juntos pelo Rio Grande do Sul: a força da solidariedade em situações emergenciais

*Por Murilo Nogueira, diretor administrativo & financeiro da Fundação Bradesco

A solidariedade continua sendo um valor profundamente enraizado na sociedade brasileira. Segundo a Pesquisa Doação Brasil, desenvolvida pelo IDIS, 82% da população acredita que situações emergenciais justificam a doação de recursos, e 50% dos brasileiros afirmam ter doado com esse objetivo em 2024. O ano foi marcado por dez eventos climáticos extremos, sendo três considerados sem precedentes, como as chuvas no Rio Grande do Sul, a maior tragédia climática da história do país, e as severas secas na Amazônia e no Pantanal.

Com mais de 68 anos de atuação, a Fundação Bradesco é o maior projeto de investimento social privado do Brasil, promovendo educação gratuita e de qualidade para quem mais precisa. Mantém uma rede de 40 escolas próprias, presentes em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, atendendo a mais de 42 mil alunos, por ano, na Educação Básica regular. Histórias reais e milhares de vidas impactadas: é assim que a Fundação reafirma, todos os dias, sua convicção de que só a educação transforma.

Com base nesse compromisso institucional, a Fundação Bradesco estruturou sua atuação emergencial no Rio Grande do Sul, a partir de três pilares: articulação, escuta e cuidado. Presente no estado com três unidades escolares em Bagé, Gravataí e Rosário do Sul, a Fundação mobilizou seus públicos de influência para atuar com
rapidez e efetividade.

A campanha “Juntos pelo Rio Grande do Sul” mobilizou colaboradores da sede da Fundação, das escolas Osasco I e II e da Organização Bradesco em uma ampla rede solidária. Como resultado, foram arrecadadas cinco toneladas de donativos, entre roupas, produtos de higiene e mantimentos, enviados diretamente às regiões atingidas. A Escola Fundação Bradesco de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, assumiu papel central na operação, tornando-se o ponto de recebimento e distribuição das doações provenientes de diversas localidades do País, inclusive por meio de aviões particulares.

A estrutura da unidade foi adaptada para armazenar e organizar os donativos, garantindo agilidade na entrega às comunidades mais afetadas. Esse movimento foi viabilizado pelo engajamento dos colaboradores locais e pela atuação coordenada de toda a rede. A resposta incluiu ainda um aporte financeiro de R$ 1 milhão ao governo gaúcho, contribuindo para as ações emergenciais no território. Internamente, os colaboradores das unidades locais receberam medidas de apoio, como antecipação do 13º salário, suporte psicológico e acompanhamento social, ações que garantiram acolhimento em um momento de extrema vulnerabilidade.

Nas salas de aula, a empatia também esteve presente. Mais de 1.500 cartas escritas por estudantes de todo o Brasil foram enviadas às famílias afetadas, levando palavras de conforto e esperança — um gesto simbólico que reforça o papel educativo da solidariedade.

A cultura de doação no Brasil é cíclica e tende a reagir às crises: caiu durante a pandemia, retomou em 2022 e voltou-se fortemente às emergências climáticas em 2024. A Pesquisa Doação Brasil também aponta que o atual cenário de baixa confiança e incerteza econômica tem levado a população a adotar posturas mais críticas e seletivas em relação às doações. Em contraste, a Fundação Bradesco mantém, há mais de sete décadas, um legado de compromisso contínuo com a transformação social, sustentado por uma gestão responsável e pela solidez de um modelo institucional que alia visão de longo prazo, sustentabilidade financeira e impacto real. Com investimentos anuais na ordem de R$ 1,5 bilhão e mais de R$ 10 bilhões aplicados na última década, a Fundação reafirma que a confiança se constrói com consistência, transparência e entrega real de valor à sociedade.

Diante desse cenário, a atuação coordenada, transparente e sensível da Fundação Bradesco reafirma a importância da integridade institucional e da confiança como base para mobilizações efetivas. A experiência no Rio Grande do Sul trouxe aprendizados valiosos — da logística solidária à escuta ativa — e reforçou o papel estratégico das instituições educacionais em tempos de crise.

Agora e no futuro, a Fundação continuará atuando com propósito em causas sociais estruturantes e em situações emergenciais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, resiliente e empática.

Cooperar é somar: Quando a solidariedade vira estratégia de transformação

*Por Romeo Balzan, superintendente de cooperativismo na Fundação Sicredi

Em 2024, o Brasil foi sacudido por uma sucessão de desastres climáticos que deixaram cicatrizes profundas no território e no coração do País. As enchentes no Rio Grande do Sul não foram apenas uma tragédia — foram um grito de alerta. Um chamado urgente para entrarmos em ação. E foi exatamente isso que o Sicredi fez. No epicentro da maior crise climática da história gaúcha, escolhemos estar onde sempre estivemos: ao lado das pessoas. Transformamos presença em ação, e ação em esperança. Mostramos que cooperar não é apenas um valor — é uma estratégia de transformação. Em um país onde metade da população respondeu com doações em 2024, e onde cresce a expectativa de que empresas sejam parte da solução, o Sicredi escolheu liderar pelo exemplo. Escolheu agir. Escolheu cooperar.

 

Solidariedade que se organiza, cooperação que se multiplica

A campanha “1 + 1: Cooperar é somar” foi mais do que uma iniciativa de arrecadação. Foi um convite à empatia ativa e à ação coletiva. Cada real doado por associados, colaboradores e comunidade foi dobrado, gerando um efeito multiplicador de solidariedade. O resultado foi uma mobilização histórica que movimentou R$ 25,4 milhões em doações, com contribuições da comunidade, da Fundação Sicredi e das cooperativas.

Mas a cooperação não parou por aí. Outro R$ 1,3 milhão foi doado por parceiros nacionais e internacionais, um valor também intermediado pela Fundação Sicredi, ampliando o alcance das ações emergenciais.

E, em uma terceira frente de apoio, as Centrais e Cooperativas do Sicredi destinaram mais de R$ 17,1 milhões diretamente às comunidades, com foco especial em  colaboradores e escolas participantes dos programas de educação. Além disso, por meio dos Fundos Institucionais do Sicredi, foram direcionados mais de R$ 48,7
milhões ao apoio das regiões atingidas.

No total, os esforços do Sicredi somaram mais de R$ 92 milhões em apoio direto às comunidades e cooperativas afetadas. Cada centavo, um gesto de cuidado. Cada entrega, uma ponte entre o trauma e a reconstrução. É a cooperação fazendo a diferença real na vida das pessoas.

 

Quando a reputação se constrói com ação

A Pesquisa Doação Brasil 2024 revelou um dado poderoso: 70% dos doadores emergenciais valorizam e se lembram das empresas que doaram. E mais: 48% acreditam que é responsabilidade das empresas agir em emergências, enquanto 46% acham que elas ainda fazem pouco.

O Sicredi escolheu fazer mais. Mobilizou sua rede, seus fundos, seus parceiros e sua comunidade. Transformou capilaridade em logística humanitária. E, acima de tudo, mostrou que reputação não se constrói com marketing — se constrói com coerência.

 

Confiança se conquista com presença

Em um país onde apenas 31% da população confia que as ONGs deixam claro o que fazem com os recursos, a transparência virou um ativo estratégico. A Fundação Sicredi assumiu a gestão dos recursos com rigor, rastreabilidade e foco nas reais necessidades locais. Cada ação foi pensada para gerar impacto com responsabilidade. Cada entrega, uma reafirmação de confiança.

 

O cooperativismo como infraestrutura social de confiança

A crise de 2024 não apenas testou estruturas — ela revelou vocações. A do Sicredi sempre foi clara: ser um agente de transformação social. A experiência reforçou a importância de protocolos de resposta, mas também de algo mais profundo: uma cultura de solidariedade institucionalizada.

A solidariedade é um valor do cooperativismo, fazendo parte do DNA das cooperativas, sendo ela um ingrediente essencial da atuação local do Sicredi.

A Pesquisa Doação Brasil também mostrou que 45% dos brasileiros atribuem grande responsabilidade às empresas na solução de problemas sociais e ambientais — número que cresce entre os mais escolarizados e com maior renda. Isso nos desafia a ir além da filantropia pontual. A construir estratégias de impacto social com visão de longo prazo.

 

E o futuro? Ele começa agora.

O futuro que queremos não se constrói apenas com planos — ele começa com escolhas. E diante das enchentes no Rio Grande do Sul, o Sicredi em nível nacional se uniu em apoio aos associados e comunidades atingidas. Mais do que uma resposta emergencial, foi reafirmar um posicionamento claro sobre o tipo de sociedade que queremos construir. Uma sociedade próspera, onde a cooperação seja o instrumento de conexão entre pessoas, empresas, poder público e demais entes sociais presentes nas localidades.

Em meio ao caos, fomos ao encontro de quem precisava. Agimos com empatia, estratégia e coragem. Cada gesto e recurso mobilizado, foi uma afirmação de que é possível fazer diferente. Reafirmamos, com ações concretas, nosso compromisso com um Brasil mais justo, resiliente e sustentável — onde empresas não apenas doam, mas se envolvem, se responsabilizam e se transformam junto com as comunidades. Porque aqui no Sicredi não é só dinheiro, é ter com quem contar.

Pesquisa Doação Brasil: volume de doações individuais no brasil chega a R$24,3 bilhões em 2024

O levantamento aponta um doador mais exigente e traz um capítulo especial sobre doações para situações emergenciais 

Fortemente influenciada pelo contexto socioeconômico e situações emergenciais, o cenário da doação no Brasil apresenta um novo padrão. A nova edição da Pesquisa Doação Brasil revela práticas de doação mais criteriosas, aumento nos valores doados e maior exigência quanto à transparência de instituições beneficiadas. Em 2024, 78% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento familiar superior a um salário mínimo fizeram ao menos um tipo de doação, seja de dinheiro, bens ou tempo, na forma de voluntariado.

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LANÇAMENTO

O lançamento e a divulgação dos dados da publicação aconteceram no dia 6 de agosto, em um evento híbrido: presencial em São Paulo e transmitido pelo YouTube. O encontro reuniu 53 pessoas presencialmente e já soma mais de 600 visualizações da transmissão ao vivo.

Evento de lançamento da Pesquisa Doação Brasil 2024

A programação teve início com uma contextualização do cenário brasileiro diante da temática da confiança, elemento central da pesquisa, realizada por Marcos Calliari, CEO da Ipsos. Em seguida, Rafael Pisetta, gerente de pesquisa da Ipsos responsável pela elaboração do estudo, apresentou detalhadamente os principais resultados.

Na sequência, o debate contou com a participação de Fernando Nogueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR); Vinicius Barrozo, analista sênior de Marca e Valor Social da Globo; e Vivian Fasca, integrante do Comitê Coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação (MCD) e diretora de Marketing e Fundraising da Plan International Brasil. A conversa foi mediada por Andréa Wolffenbüttel, consultora e coidealizadora da Pesquisa Doação Brasil, e percorreu diversos aspectos: da análise geral sobre confiança às implicações dos dados na captação de recursos e no papel de influência da mídia.

Confira a gravação do lançamento:

 

PESQUISA DOAÇÃO BRASIL 2024

O levantamento bianual é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e traz um retrato detalhado sobre a percepção e as práticas de doação dos brasileiros. A pesquisa tem como uma das principais frentes de análise o conceito da doação institucional de dinheiro, feita para ONGs, campanhas e/ou projetos socioambientais, e não considera doações de esmola, dízimo ou dinheiro para conhecidos.

“A Pesquisa Doação Brasil traz dados fundamentais para compreendermos os avanços e os desafios em relação a essa prática, e reforçam a importância de promovermos confiança nas ONGs, além de seguirmos fomentando a cultura de doação no Brasil”, comenta Paula Fabiani, CEO do IDIS.

 

A pesquisa, realizada pela Ipsos a pedido do IDIS, tem abrangência nacional, com representatividade em todas as regiões do país, e foi realizada a partir da coleta online de 1.500 entrevistas. A margem de erro do estudo é de 2,5 p.p.

O valor estimado do volume de doações, em 2024, foi de R$24,3 bilhões, superior aos R$14,8 bilhões registrados em 2022 e corrigidos aos valores atuais. A mediana das doações individuais anuais passou de R$ 300 para R$ 480.

 

A prática se mostra mais espaçada, acontecendo menos vezes ao ano, porém mais estratégica: a maioria dos doadores afirma escolher com cuidado as causas (86%) e buscar informações antes de doar (83%). Por outro lado, 49% já deixaram de doar após notícias negativas sobre organizações, o que evidencia a importância da confiança como um ativo essencial para o setor. A fidelização também apresentou queda: apenas 49% mantêm o hábito de doar para as mesmas instituições todos os anos – em 2015, eram 69%.

O perfil do doador em 2024 revela um cenário mais equilibrado e qualificado. Homens e mulheres apresentam taxas de doação semelhantes, marcando uma nova equiparação entre os gêneros. A maior incidência está entre adultos de 30 a 49 anos — faixa etária economicamente ativa e estável — e entre pessoas com ensino superior, das quais mais da metade realiza doações (57%). A prática também está mais presente entre indivíduos com renda familiar mais elevada, com destaque para os crescimentos nas faixas entre 4 e 6 salários mínimos e acima de 8 salários mínimos.

Geograficamente, as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul registraram maiores índices, influenciadas pela ocorrência de situações emergenciais em 2024. O estudo revela também uma mudança no ecossistema de influência: redes comunitárias e religiosas ganham mais espaço, enquanto abordagens tradicionais como ligações ou e-mails perdem efetividade.

 

CAPÍTULO ESPECIAL: DOAÇÕES EM SITUAÇÕES EMERGENCIAIS

Com eventos climáticos extremos de grande magnitude acontecidos no Brasil em 2024, como as enchentes no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e incêndios no Pantanal, a Pesquisa Doação Brasil traz ainda um capítulo especial sobre doações feitas para situações emergenciais. Entre os destaques, está o fato de que metade da população brasileira doou para uma emergência em 2024, com doações mais expressivas do que observado durante a pandemia, o que sugere uma maior disposição para doar em momentos de crise. Foi revelador também o fato de que 60% das doações em dinheiro para estes fins foram destinadas a locais fora do seu próprio estado, demonstrando não apenas solidariedade nacional, mas um instinto profundo de agir, mesmo quando a necessidade está distante de casa.

De acordo com Patricia McIlreavy, CEO do Center for Disaster Philanthropy (CDP), que contribuiu com a pesquisa, “As organizações mais próximas das comunidades afetadas são também as mais capacitadas a oferecer soluções, mas precisam de recursos antes, durante e depois dos desastres.” Como doadores emergenciais tendem também a doar em outras situações, McIlreavy destaca como no Brasil há um grande potencial de engajar o doador emergencial em ações mais estruturantes, que envolvem o enfrentamento às causas das vulnerabilidades e a recuperação de longo prazo.

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Outros números da pesquisa

  • Entre os comportamentos abordados pela Pesquisa – doação de dinheiro, tempo e bens, apenas o último apresentou retração. A prática foi realizada por 75% dos respondentes em 2022 e caiu para 67% em 2024, influenciando a queda da doação em geral, de 84% para 78%;
  • Penetração de doadores institucionais por faixa de renda: 54% entre 4 e 6 salários mínimos (+14 p.p. em relação a 2022), 60% entre 6 e 8 salários mínimos (+6 p.p.) e 63% acima de 8 salários mínimos (+10 p.p.);
  • Mesmo entre os brasileiros com renda de até 2 salários-mínimos, observa-se uma leve qualificação no comportamento de doação: caiu a proporção dos que doam anualmente até R$ 150 (46% para 32%) e aumentou a dos que doam entre R$ 151 e R$ 500 (37% para 46%);
  • Foi identificada uma queda de doações mensais (de 44% em 2022 para 39% em 2024) e crescimento das doações a cada 6 meses (de 9 pontos percentuais em 2022 para 12 em 2024);
  • Transição digital e logístico-financeira: com o avanço de formas práticas como PIX, adotada por 66% dos doadores institucionais, doar dinheiro se torna mais simples e direto, em detrimento das doações de bens, que exigem deslocamento, armazenamento e mediação;
  • Em 2024, a confiança na instituição aparece como motivador extremamente relevante para doar (81%). Por outro lado, a desconfiança persiste como barreira estrutural: apenas 30% acreditam que a maioria das ONGs é confiável;
  • Sobre doações emergenciais, cerca de ¼ dos Doadores Emergenciais afirmaram que deixaram de fazer outros tipos de doações para doar para emergências; somente 10% do total de respondentes da amostra doou exclusivamente para emergências em 2024;
  • 66% dos doadores que contribuíram com dinheiro para situações emergenciais em 2024 pretendem continuar doando para as ONGs, indicando um potencial de conversão de doadores emergenciais em doadores regulares;

REALIZAÇÃO E APOIO

 

SOBRE a PESQUISA DOAÇÃO BRASIL

A Pesquisa Doação Brasil foi criada com o propósito de mapear, de forma aprofundada, as percepções, atitudes e práticas de doação entre os brasileiros, com foco especial nas contribuições monetárias. O estudo investiga os fatores que impulsionam ou dificultam o ato de doar, oferecendo uma leitura abrangente do comportamento do doador individual no país. Desde sua primeira edição, que refletiu o ano de 2015, a pesquisa se consolidou como a principal fonte de dados sobre a cultura de doação no Brasil, com novas edições sobre 2020, 2022 e 2024. Ao longo desse percurso, ela vem contribuindo para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de mobilização de recursos, oferecendo subsídios valiosos para políticas públicas, iniciativas do terceiro setor e ações institucionais que visam tornar a cultura de doação no Brasil mais sólida, consciente e sustentável.

IDIS lança Pesquisa Doação Brasil 2024 em agosto

Na quarta edição, a Pesquisa Doação Brasil traz dados e análises atualizadas sobre a prática de doação dos brasileiros e conta com um capítulo dedicado as práticas de doações em situações emergenciais

Qual o perfil do doador brasileiro? O que o motiva a doar? Quais causas prioriza? Como percebe o trabalho das ONGs? Para responder a essas e outras perguntas que contribuem para a compreensão do cenário da cultura de doação no Brasil, o IDIS apresenta a Pesquisa Doação Brasil 2024 – nova edição da principal referência sobre o comportamento do doador individual no país.

O lançamento acontecerá no dia 6 de agosto, das 9h30 às 11h30, em uma transmissão online gratuita. O evento contará com a presença de especialistas que analisarão os dados.

INSCREVA-SE

O estudo avalia a percepção e a prática de doações dos brasileiros, com pensam os não doadores e, neste ano, conta com um capítulo temático especial dedicado às práticas de doações em situações emergenciais e sua influência na cultura de doação.

Além da apresentação dos dados quantitativos, a pesquisa busca contribuir para o planejamento de iniciativas para o engajamento da sociedade e a promoção da solidariedade, base para campanhas de captação de recursos para o terceiro setor, ações de advocacy, contribuição à pesquisa acadêmica, entre outros. Se você faz parte de um dos grupos que se encaixam nessa perspectiva, participe conosco!

A Pesquisa Doação Brasil 2024 é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento para o Investimento Social. A realização é da Ipsos e conta com o apoio da Fundação Bradesco, Fundação Itaú, Fundação Sicredi, Movimento Bem Maior, Instituto Galo da Manhã, Instituto ACP e Instituto MOL. Deixamos também agradecimentos especiais à Sra. Teresa Bracher.

Nova edição da Pesquisa Doação Brasil contará com capítulo especial sobre a prática de doações em situações de emergência

A Pesquisa Doação Brasil tem como objetivo avaliar a percepção e a prática de doação dos brasileiros.

A próxima e quarta edição será lançada no ano que vem e refletirá o ano de 2024. Esta edição contará com um capítulo especial sobre a influência das doações emergenciais na cultura de doação.

Segundo o Panorama dos Desastres no Brasil, da Confederação Nacional de Municípios (CNM), entre 2013 e 2023, os desastres naturais causaram 2.667 mortes e afetaram milhões de pessoas em todo o país, resultando em prejuízos que chegam a R$ 639,4 bilhões. Com a crescente frequência de eventos climáticos extremos, como doa o brasileiro? E, passada a emergência, essas doações se tornam recorrentes? Essas são algumas das perguntas que buscamos responder.

 

Evolução do tema

A primeira edição da Pesquisa foi realizada em 2015, quando não havia qualquer dado sobre o comportamento do doador individual. A pesquisa nos permitiu identificar que 46% da população brasileira, naquele ano, havia feito alguma doação em dinheiro para organizações sociais, e a projeção do volume total doado por pessoas físicas foi de R$ 13,7 bilhões.

Desde então, consolidou-se como a principal fonte sobre este tema no país, permitindo identificar o perfil do doador, motivações, a causas preferidas, a percepção sobre as doações, as barreiras para a doação, entre outros aspectos que contribuem para compreendermos este cenário.

Lançamento do primeira edição da Pesquisa Doação Brasil, em 2015

Inicialmente prevista para ser realizada a cada cinco anos, a segunda edição aconteceu em 2020, coincidindo com o início da pandemia de Covid-19 e com o agravamento da crise socioeconômica, que já vinha afetando o país. Naquele ano, o volume total de doações caiu para R$ 10,3 bilhões e a participação da população também foi reduzida, posto que pessoas que antes doavam, passaram à categoria de beneficiários. Por outro lado, a percepção sobre a doação e o papel transformador das organizações sociais cresceu, apontando para o fortalecimento da cultura de doação.

Essas transformações levaram a um debate sobre a periodicidade da pesquisa. Os dados são fonte para a incidência do campo, para o debate sobre políticas públicas, para planejamentos de captação de recursos por organizações. A prática mostrou a importância de acompanharmos mais de perto a evolução, e trazer insights que contribuam para a tomada de decisão. Por isso, a partir da terceira edição, a Pesquisa Doação Brasil passou a ser bienal.

Em 2022, na terceira edição, 84% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento familiar superior a um salário mínimo fizeram ao menos um tipo de doação, seja de dinheiro, bens ou tempo, na forma de voluntariado. A doação diretamente para ONGs e projetos socioambientais foi praticada por 36% dos respondentes, mantendo-se estável. A edição também trouxe um capítulo especial sobre a Geração Z.

A Pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa do IDIS e da CAF – Charities Aid Foundation.

Deseja apoiar a realização deste estudo e contribuir para a Cultura de Doação no Brasil? Entre em contato via comunicacao@idis.org.br e saiba mais informações.