Presidente do IDIS é palestrante no International Grantmaking Symposium, em Washington

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Paula Fabiani, presidente do IDIS, está entre os palestrantes do International Grantmaking Symposium, realizado entre os dias 30 de abril e 1º de maio em Washington. O evento vai reunir especialistas globais em filantropia para dividir experiências sobre como maximizar o impacto das estratégias de doação.

Paula participará do simpósio com o tema “International Grantmaking Best Practices. Overcoming Challenges and Seizing Opportunities” (“Melhores Práticas de Doação Internacional. Superando desafios e aproveitando oportunidades”, em tradução livre). Ela vai falar sobre o papel da doação na construção da sociedade civil, no aumento da transparência e na criação de oportunidades para investimentos estrangeiros. Outro tópico explorado será a importância da medição de impacto dos projetos sociais.

O evento é organizado pela CAF (Charities Aid Foundation of America) em conjunto com a SAIS (The Johns Hopkins University’s Paul H. Nitze School of Advanced International Studies). Entre os principais assuntos tratados, estão: melhores práticas internacionais de doação, desenvolvimento e doação sustentáveis, regulamentação e medição de impacto. O simpósio pretende discutir e esclarecer os mecanismos de doações internacionais, bem como colaborar para a superação dos desafios da filantropia internacional.

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Dia Mundial da Justiça Social: Rádio ONU convida o Idis para falar sobre o papel do Investimento Social Privado

As Nações Unidas celebraram o Dia Mundial para Justiça Social neste 20 de fevereiro, com o secretário-geral Ban Ki-moon destacando que todos merecem uma vida digna, com respeito aos direitos humanos.

Mas o que é exatamente justiça social? A Rádio ONU ouviu a diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social: “Envolve pessoas em situação de vulnerabilidade, como a pobreza e até mesmo a falta de saneamento, falta de acesso aos serviços básicos.”
Paula Fabiani foi entrevistada por Leda Letra. A especialista explica ainda a responsabilidade das empresas e do cidadão comum para a justiça social e avalia que o Brasil tem muito espaço para melhorar no setor de investimentos sociais. Ouça a entrevista concedida por Paula Fabiani.

Quem doa dinheiro é mais feliz, aponta pesquisa norte-americana

Quer se sentir feliz? Pois doe dinheiro! Um artigo publicado na revista Current Directions in Psychological Science aponta que os benefícios de ajudar outras pessoas “são evidentes em doadores idosos ou jovens em países ao redor do mundo, e se reflete não só no bem-estar subjetivo, mas também na saúde objetiva”.

texto – assinado pelas psicólogas Elizabeth Dunn e Lara Aknin e pelo professor da Harvard Business School Michael Norton – analisa diversos estudos, alguns conduzidos pelos próprios autores.

Eles começam resumindo uma pesquisa de 2008 que deu U$ 5 ou U$ 10 aos participantes. Alguns foram instruídos a comprar algo para si; outros, a doarem a quantia para alguém. “Naquela tarde, as pessoas que tiveram de gastar seu dinheiro com outra pessoa relataram humores mais alegres no decorrer do dia do que aquelas que tiveram de gastar com elas mesmas”, escreveram os autores.

Outro estudo, de 2012, mostrou que a sensação de felicidade é sentida até por crianças bem pequenas. Na pesquisa, bebês de até dois anos demonstraram mais alegria quando davam um biscoito para um boneco do que quando eles mesmos recebiam a comida.

Uma boa notícia é que alguns dados apontam que a relação entre felicidade e doação não se restringe aos Estados Unidos ou a países ricos. Um estudo da Harvard Business School verificou informações sobre 136 países e constatou “uma relação significativa entre doações e felicidade” em 120 deles, tanto ricos quanto pobres.

Os autores do artigo ressaltam, no entanto, que a ligação entre doar e sentir-se feliz não é automática. Depende de três fatores: relacionamento, competência e autonomia. Em relação ao primeiro, escrevem os autores, “descobrimos que os indivíduos ficam mais felizes com gastos sociais quando a doação dá a oportunidade para que eles se relacionem com outras pessoas”.

O segundo fator significa que as pessoas têm necessidade de mostrar competência, o que ocorre se “conseguem ver como suas ações generosas fizeram diferença”. Já a “necessidade de autonomia é satisfeita quando as pessoas sentem que suas ações são livremente escolhidas”.

Ao fim, os autores concluem que as organizações da sociedade civil que buscam doações podem se beneficiar dos resultados da pesquisa, pois, “quanto mais conseguirem maximizar os benefícios emocionais da doação”, maior a possibilidade de conseguirem recursos.

 

 

Crescimento Econômico Pode Impulsar Doações no Brasil, Avalia Gerente da CAF

O primeiro módulo brasileiro do Foundation School 2014, realizado pelo IDIS em São Paulo, discutiu as oportunidades de crescimento de doações decorrentes da ampliação da classe média e da classe alta no Brasil e no mundo. O encontro, em 27 de maio, incluiu uma apresentação sobre o tema feita pelo gerente de política internacional da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), Adam Pickering.

Ele apresentou dados sobre o crescimento dos dois grupos. Segundo o estudo The Wealth Report, por exemplo, o número de pessoas com mais de US$ 100 milhões vai aumentar em todas as regiões do mundo entre 2011 e 2016, com incrementos expressivos principalmente na Ásia, na América do Norte e na América Latina. O Brasil, segundo o Crédit Suisse, tinha, em 2013, cerca de 220 mil milionários. Em 2018, devem ser 407 mil (um salto de 84%).

Já um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê que, entre 2009 e 2030, haverá um crescimento da classe média de 165%, com destaque, principalmente, para Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

A classe média brasileira, segundo as estimativas apresentadas por Pickering, terá gastos de cerca de US$ 1,2 trilhão em 2030. Se os brasileiros se comportarem como os britânicos, que doam 0,4% de sua renda, isso representará U$ 4,9 bilhões direcionados ao investimento social privado apenas por indivíduos. Ou seja, o potencial de fortalecimento do setor social privado brasileiro, para Pickering, é enorme.

Apesar das promessas de um futuro brilhante para as doações individuais brasileiras, existem, segundo Pickering, algumas barreiras muito sérias a serem enfrentadas. Por exemplo, o Brasil tem caído no ranking do World Giving Index (WGI), estudo anual da CAF que avalia a solidariedade social com base em três comportamentos: doar, ajudar um estranho, fazer trabalho voluntário. Em 2009, o Brasil estava na 59ª posição; em 2012, caiu para a 91ª.

Além disso, o Brasil sofre com uma desconfiança da sociedade em relação às organizações não governamentais. A pesquisa Trust Barometer, aplicada em vários países, mostra que as ONGs estão sempre no topo da confiança, seguidas pelas empresas, a mídia e o governo. No Brasil, no entanto, as organizações estão em terceiro lugar, à frente apenas do governo.

Uma das propostas apresentadas por Pickering para mudar essa situação e liberar o potencial donativo no país são os incentivos fiscais à doação. Dividindo as nações em quatro faixas de renda (baixa, baixa e média, alta e média, alta), o palestrante mostrou que em todas elas a doação de dinheiro é maior onde há alguma forma de incentivo.

As discussões propostas nos módulos nacionais do Foundation School este ano estão atreladas à iniciativa Future World Giving, da CAF, organização britânica com a qual o IDIS faz parte de uma aliança global para apoiar a filantropia no mundo.

O objetivo da iniciativa Future World Giving é disseminar a mensagem de que se os governos agirem agora o futuro da filantropia pode ser iluminado, com pessoas no mundo todo se engajando no apoio a uma sociedade civil vibrante e que atendam às necessidades sociais.

Este ano serão publicados três relatórios da iniciativa, e o IDIS traduzirá os três para o português.

 

 

Estudos Tentam Desvendar Estímulos Cerebrais Ligados à Doação

A oxitocina é um hormônio considerado fundamental para a criação de laços familiares, como as relações maternais e maritais. Mas também está por trás de atos de doação, a ponto de se poder dizer que doar é como participar de uma “família sintética”.

É isso que mostra o professor de finanças da Texas Tech University, Russell James 3º, no texto “Brain studies and donor decision making: what do we know”, publicado na edição de inverno do periódico Advancing Philantropy, da Association of Fundraising Professionais (a associação norte-americana, canadense e mexicana de captadores de recursos, semelhante à tupiniquim ABCR).

O autor faz, no texto, um apanhado de várias pesquisas neurológicas que tentam explicar atos de caridade. Cita um estudo que usou injeções de oxitocina para mostrar que os mecanismos cerebrais por trás das conexões familiares são os mesmos ligados a atos de doação.

James 3º também menciona pesquisas segundo as quais o toque humano, seguido de um presente, aumenta a presença do oxitocina, também levando a uma maior propensão à doação. Não por acaso, apertos de mão, abraços e prêmios para doadores são técnicas muito usadas em eventos de arrecadação, sugere o texto.

“De uma perspectiva neural”, compara James 3º, “a doação é menos parecida com uma transação comercial e mais semelhante a compartilhar um jantar em família”. Ele ainda sugere: “O entendimento das relações entre um doador e uma organização como uma ‘família sintética’ pode indicar estratégias de captação”.

Nas doações via legado, ou seja, deixadas em testamento, imagens do cérebro feitas por ressonância magnética funcional indicam que o critério de escolha da organização beneficiada não costuma ser a eficiência, mas sim o quanto ela está relacionada com a história de vida do doador. Segundo o professor, esse tipo de ato é “como escrever o capítulo final de sua biografia”.

Outros estudos com imagens cerebrais apontam, no entanto, que deixar os recursos para amigos e familiares ativa mais fortemente áreas do cérebro relacionadas a memórias e emoções do que doar em testamento para organizações. Consequentemente, este último tipo é mais raro. James 3º vê nisso outra oportunidade de captação de recursos.

“Quando uma entidade consegue ligar sua causa a algum amigo ou familiar do doador, há um aumento substancial na possibilidade de receber uma doação via legado”, escreve. Pessoas com casos de câncer na família, por exemplo, seriam mais suscetíveis a deixar recursos para organizações que lidem com esse tema.

Outras descobertas

A primeira pesquisa a usar técnicas de análise cerebral para explicar comportamentos donativos foi publicada no Brasil em 2006, segundo James 3º, e mostrou que a decisão de doar ativava áreas de “recompensa” do cérebro. Mais ainda, indicou similaridades neurológicas entre os atos de dar e de receber dinheiro. “Da perspectiva da felicidade neural instantânea, doar pode ser na verdade uma grande aquisição para o doador”, afirma James, referindo-se ao prazer gerado pelo ato.

Um trabalho do Instituto de Tecnologia da Califórnia sugeriu que, embora o sentimento de realização seja o mesmo, tal sensação tem origens diferentes em cada caso. A doação ativa duas partes do cérebro: uma usada quando se toma a perspectiva de um terceiro pessoa, e a outra relacionada à capacidade de empatia. De certa forma, isso explicaria, segundo o autor, um efeito chamado de “vítima identificável”. “As pessoas tendem consistentemente a doar para beneficiar uma só e identificável vítima do que para milhares de pessoas.”

Há indícios, ainda, de que a doação mobiliza partes do cérebro relacionadas a ligações e reconhecimentos sociais. Até por isso, cientistas japoneses mostraram que os indivíduos sentem-se mais recompensados quando doam publicamente. “A caridade pode ser recompensadora, mas é mais ainda quando outras pessoas percebem o que você está fazendo”, resume James 3º.

Por fim, o professor afirma, após sintetizar uma série de pesquisas, que as novas técnicas de análises cerebrais podem ajudar arrecadadores de recursos. “Em vez de remover a ‘arte’ da captação de recursos, os achados científicos parecem reforçar a importância do lado mais humano das nossas interações”, diz James 3º, que conclui: “No fim, a ciência cerebral parece nos mostrar que a arrecadação é, acima de tudo, uma questão do coração”.

 

 

Falta de Cultura de Doação e de Estrutura Dificulta Investimento Social de Micro e Pequenas Empresas

A cada 100 empresas brasileiras, 99 são micro ou pequenas (MPEs) – ou seja, faturam até R$ 3,6 milhões ao ano, segundo dados do Sebrae. A participação desse grupo no investimento social, porém, é quase nula. Isso ocorre em razão tanto da falta de cultura de doação quanto da ausência de uma estrutura para esse tipo de prática, avalia o professor Marcelo Aidar, coordenador-adjunto do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).

“Essas empresas mal dão conta de atender a seus requisitos sociais, como estar de acordo com a legislação ambiental e trabalhista, quanto mais tratar de questões que extrapolam a própria missão delas”, constata. Além disso, “elas não enxergam oportunidades de utilizar o apoio a causas sociais como meio de alavancar seus negócios”.

A visão do professor da FGV é compartilhada pelo secretário-geral do Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (Gife), André Degenszajn. “As micro e pequenas empresas não têm um investimento tal que justifique a criação de um corpo profissional para isso”. Para Degenszajn, há, também, no Brasil, a “ideia cultural de que o Estado precisa assumir as funções sociais, de que isso é responsabilidade dele”.

O resultado é que o investimento em causas sociais por micro e pequenos empresários, quando existe, é quase sempre irrelevante. “Fica tudo com cara de doação, mais assistencialista. Não tem uma coisa maior, mais estruturada, mais permanente, como uma prática de gestão”, constata Aidar. “A tendência são atividades mais pontuais. Valores menores levam a menor continuidade de ações e maior dificuldade de construir investimento social mais estratégico”, complementa Degenszajn.

A união faz a força
“Eu, particularmente, não acredito que é necessário ser grande ou ter muito dinheiro para fazer isso”, afirma Aidar. A questão, portanto, é como potencializar os recursos que as micro e pequenas empresas talvez tenham para investir socialmente. A resposta pode estar na união de forças. “As fundações comunitárias são criadas para desenvolver determinada região e têm apoio principalmente de organizações locais, de micro e pequenas empresas, de indivíduos e até do poder público local” explica Degenszajn.

Trata-se, portanto, de uma estratégia que busca unir as poucas forças de diversos atores. As fundações comunitárias “recebem aporte de diversas fontes, conseguem desenvolver prioridades, estratégias de ação e são um tipo de investimento que faz sentido como canal e estratégia para micro e pequenas empresas”, afirma o secretário-geral do Gife.

O impacto desse tipo de ação, segundo Degenszajn, é maior do que pegar todos estes recursos e dispersá-los de forma não estratégica. “É um caminho interessante para pensar investimentos de micro e pequenas empresas, para tentar lidar com os desafios da regularidade, de algo não tão pontual, que é uma das principais dificuldades quando investidores privados decidem atuar na área social.”

Esse é, contudo, um tipo de organização ainda muito pouco estruturada no Brasil, embora bastante comum na Europa e nos Estados Unidos. Um dos poucos exemplos é o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom), que mobiliza investidores sociais da região.

Incentivar a cultura
Para Aidar, o desenvolvimento do investimento social das micro e pequenas empresas passa pela educação dos empresários. “Precisa haver uma capacitação para que entendam que investir em causas sociais significa também cuidar da marca, cria valor para seu produto”, diz o professor da FGV. Ele percebe, por exemplo, uma nova mentalidade naqueles que se dedicam a criar os chamados negócios sociais, que buscam suprir algum tipo de demanda social ao mesmo tempo em que geram lucros.

Para Degenszajn, “começa a se consolidar a máxima da Rio 92 de que não existe empresa bem-sucedida em sociedade falida”, o que leva a uma demanda por mais ações sociais por parte dos empresários. O secretário-geral do Gife admite que a tendência é mais forte entre as grandes empresas, mas lembra que as micro e pequenas também têm de cuidar dos impactos negativos que geram.

Até por isso, Aidar afirma que “o negócio não pode mais ser visto de maneira isolada, pois vai ser mais bem-sucedido se pensar em seu entorno”.

 

 

2002: Relatório Sobre Doação e Voluntariado no Vale do Silício

Pesquisa da Community Foundation Silicon Valley mostra como a implantação de empresas de alta tecnologia transformou uma região tradicionalmente agrícola dos EUA (Califórnia), gerando aumento da população jovem e da riqueza local, e como essa riqueza passou a ser investida socialmente na própria região, em outras áreas dos EUA, e em outros países, pois muitos dos trabalhadores preferiam doar para suas comunidades natais.

Entre os dados interessantes da pesquisa, destaca-se o fato de que o vale do silício está se tornando uma comunidade que abraça a filantropia. 96% dos residentes dizem se engajar em alguma forma de doação e 81% afirmam participar de atividades voluntárias. 87% dos doadores locais doam para duas ou mais causas ou organizações sem fins lucrativos.

Ao contrário do estereótipo difundido de que trabalhadores da área da alta tecnologia não doam – ao menos no Vale do Silício -, eles doam mais do que os que não trabalham nesse setor (84% versus 78%). Também costumam usar mais a internet para conhecer um grupo ou organização não governamental (39% versus 26%), para fazer doações a uma organização sem fins lucrativos (25% versus 12%) e para saber sobre oportunidades de voluntariado (26% versus 19%). Mais da metade dos moradores da região doa dinheiro para ajudar as vítimas de ataques terroristas.

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