A elaboração de projetos já foi muito discutida no terceiro setor. No entanto, ainda é uma ferramenta pouco utilizada pela maioria das organizações da sociedade civil. Saiba por que esse instrumento ainda é atual e deve ser realizado de forma coletiva.
“Projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades interrelacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados”.
(APREMAVI, 1999 apud ONU, 1984)
Um projeto é uma ação organizada. É o resultado obtido ao se “projetar” no papel tudo o que é necessário para o desenvolvimento de um conjunto de atividades: quais são os objetivos, quais os meios para atingi-los, quais os recursos necessários, onde serão obtidos e como serão avaliados os resultados. O projeto social deve responder, de forma positiva, a uma ou mais necessidades implícitas na causa social sobre a qual a organização atua.
A elaboração de um documento do projeto ajuda a sistematizar esse trabalho em etapas a serem cumpridas, a compartilhar a imagem do que se quer alcançar, a identificar as principais deficiências, e a superar e a apontar possíveis falhas durante a execução das atividades previstas.
Quando um projeto é elaborado em grupo, o resultado é mais amplo e profundo do que se alguém o tivesse feito sozinho, pois a troca de ideias no processo gera outras propostas; há aprendizados e uma nova solução pode aparecer. Além disso, nos projetos elaborados de forma participativa, todas as ideias têm permissão para aparecer e são discutidas até se chegar a um consenso. Deste modo, cada participante se apropria do resultado final e tem clareza do que acontecerá, de que maneira e por que será feito da forma previamente discutida. A construção coletiva de um projeto promove o compromisso de todos os participantes, pois se eles ajudaram a idealizá-lo, são também corresponsáveis pelas ideias acordadas.
Por que falar em elaboração de projetos?
O tema da elaboração de projetos se disseminou no terceiro setor nos anos 90. Nessa época, as organizações da sociedade civil (OSCs) passaram a criar formas de sobrevivência em um contexto de concorrência por recursos e no qual a profissionalização e as mudanças sociais relevantes são exigidas pelos financiadores. Capacitações e cursos voltados ao planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos foram criados por consultorias e pelos próprios financiadores. Assim, ferramentas tradicionalmente usadas pelo setor privado passaram a ser adaptadas à realidade das OSCs.
No entanto, o que se percebe atualmente é que uma “elite” de organizações conquistou a profissionalização. Poucas instituições expandiram sua rede de relações com órgãos governamentais e instituições privadas e conquistaram facilidades para acessar recursos. A maioria se manteve distante desse processo, sendo mantidas por meio de formas tradicionais de captação de recursos, como o apoio da comunidade local, realização de bazares, bingos, jantares e festas, além de doações de pessoas físicas.
Esse afastamento da profissionalização não seria ruim não fossem duas questões. Em primeiro lugar, as maneiras tradicionais de captação já não funcionam com tanta eficácia. As comunidades estão menos coesas e os doadores estão mais exigentes. Em uma recente conversa para a prospecção de parceiros para o programa social de um cliente do IDIS, a liderança de uma organização afirmou que a cada ano diminui o número de doadores e que as pessoas não doam mais como antigamente. A organização tem dificuldade de captar novos doadores – o que denota a mudança no perfil dessas pessoas e a forma como eles desejam atuar socialmente.
A captação, portanto, precisa mudar. Suas ferramentas devem ganhar novas roupagens. As organizações, por exemplo, devem comunicar seus resultados com mais freqüência e por meio de recursos mais modernos. Devem utilizar novos canais de comunicação para mais do que pedir recursos, mobilizar e envolver os doadores de formas inovadoras. Os bazares, por sua vez, podem ser modernizados por meio da produção e venda de peças com design contemporâneo, e do engajamento de parceiros como lojas e restaurantes que produzam eventos mais interessantes. Bons projetos também devem ser desenhados e apresentados para serem financiados pelo setor privado ou público.
Em segundo lugar, a aplicação de ferramentas como planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos contribui para que as OSCs revejam sua forma de atuação, passando do assistencialismo a uma ação mais transformadora e impactante diante das questões sociais. Esses processos geram reflexões sobre o contexto em que a organização atua e sobre o seu papel diante dele, além de fomentar o aparecimento de soluções mais efetivas, que se transformam em escopo do projeto a ser elaborado.
Por isso, ainda que o tema da elaboração de projetos tenha sido exaustivamente trabalhado na área social, é preciso retomá-lo. Diversas organizações, principalmente as de base comunitária, ainda não se beneficiaram dessa ferramenta. Elas tendem a ganhar com essa discussão sobre sua forma de atuar e sobre como conquistar sua sustentabilidade financeira.
CASES DE SUCESSO
O IDIS apoiou o planejamento estratégico do Instituto Avon, Fundação André e Lúcia Maggi – FALM e do Pacto de Promoção da Equidade Racial:
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