Filantropia, colaboração e estratégias de longo prazo: perspectivas para o investimento social no Brasil

por Paula Fabiani, CEO do IDIS e Gabriella Bighetti, Diretora Executiva na United Way

A filantropia tem amadurecido no Brasil nos últimos anos. Com um início profundamente assistencialista, hoje conseguimos ver seu poder transformador vivido pelas pessoas em gerações. Isso porque filantropos e doadores – sejam pessoas físicas ou organizações – perceberam que problemas complexos e sistêmicos, demandam soluções colaborativas, estratégicas e de longo prazo.

A pandemia foi um ponto de inflexão nesse caminho de aperfeiçoamento. As colaborações sempre aconteceram, mas, especialmente neste período de crise sanitária, elas ganharam luz e dimensão nunca antes vistas e o investimento social privado obteve um aporte recorde. De acordo com o Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que acompanhou o aumento das doações de março de 2020 até agosto de 2021, foram doados R$ 7.164.458.094 como resposta à COVID-19. Destes, 85% foram realizados por empresas.

Do ponto de vista da doação individual, também experimentamos mudanças. De acordo com o World Giving Index 2022, ou Ranking Global de Solidariedade, o Brasil passou da posição 54 para a posição 18, entre 119 nações. O levantamento feito pela organização britânica Charities Aid Foundation leva em consideração doações em dinheiro, trabalho voluntário e ajuda a desconhecidos.

Foi nesse momento que, felizmente, a filantropia intensificou a colaboração. Não por coincidência, as últimas edições dos principais eventos brasileiros sobre o tema abordam essa conexão. Foi o caso da 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, realizado em São Paulo no fim de setembro, e o Fórum Latino-Americano de Impacto Coletivo, da United Way Brasil (UWB) – organização filantrópica presente em mais de 40 Países -, realizado em outubro. Ambos trouxeram a mesma premissa: juntos vamos mais longe.

A tendência vai além da nossa região, ela é pauta em todo o mundo. Em novembro, o Global Philanthropy Forum 2022, que acontece desde 2013 nos Estados Unidos, trouxe também a colaboração como tema principal do seu encontro. “Shifting Power, Collective Action” ou, em tradução livre, “Mudando o poder, Ação Coletiva” foi a agenda da vez.

A partir da união entre filantropia e colaboração chegamos, enfim, ao que chamamos de filantropia transformadora – provando que uma doação pontual ou doações feitas ao longo de um ano, por exemplo, não promovem transformações consistentes. Não tem outra maneira de resolver problemas complexos como os do Brasil – desigualdade social, racismo estrutural e outras questões sistêmicas – sem uma forte atuação em rede e de forma perene. Por isso, a UWB acredita tanto na força do impacto coletivo e difunde a atuação a partir desta metodologia. Criada em Stanford pelos pesquisadores John Kania e Mark Kramer e divulgada em um artigo publicado em 2011 no Stanford Social Innovation Review, é uma abordagem em que um grupo de atores importantes, de diferentes setores, que têm compromissos de longo prazo com uma agenda comum, trabalha junto para resolver um problema social específico com escala.

A metodologia ainda é pouco conhecida na América Latina. Ela pressupõe também que é necessário ouvir e incluir os atores que figuram nas pontas dos processos. Afinal, eles detém o conhecimento das necessidades reais da comunidade, do território e têm uma capacidade ímpar de garantir a implementação de ações e projetos com agilidade. No Brasil, o GOYN SP (Global Opportunity Youth Network São Paulo) coloca em prática a metodologia, conectando jovens, empresas e outras organizações em prol da inclusão produtiva. Atuando na capital paulista, possui em sua rede 80 organizações como Itaú Educação e Trabalho, Instituto Coca-Cola Brasil, Fundação Tide Setubal, Fundação Arymax, Secretaria Municipal de Juventudes e PepsiCo e, só em 2022, impactou mais de 8 mil jovens das periferias.

Embora seja possível apontar os visíveis avanços e os olhares mais atentos à temática da filantropia, há ainda muitos desafios pela frente. É possível reconhecer que houve uma mudança na cultura das organizações, que estão se tornando mais criteriosas em relação à importância de avaliar o impacto de projetos, mas ainda enfrentam muitos desafios na hora de comprovar que os investimentos realizados estão gerando as transformações desejadas.

No IDIS, entre 2019 e 2020, foram realizadas sete consultorias dessa natureza. No biênio 2021-22, esse número saltou para 54, em sua maioria com a aplicação do protocolo SROI – ‘Social Return on Investment’, ou Retorno Social sobre Investimento. Esse processo gera uma agenda propositiva a investidores sociais e projetos, pois ao mesmo tempo em que identifica o sucesso das suas ações, aponta sugestões de melhoria, unindo investidores e beneficiários. Por tudo isso, a perspectiva de futuro para o investimento social privado no Brasil é otimista, mas só seguirá evoluindo de forma consistente se não esquecer a colaboração e as estratégias de longo prazo pelo caminho. Vamos desafiar o ditado e mostrar que juntos é possível ir longe e ainda mais rápido!

Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.

CEO e Diretor da CAF visitam o Brasil e fortalecem parceria com o IDIS

Durante o mês de setembro, Neil Heslop OBE, CEO da organização britânica Charities Aid Foundation, esteve no Brasil, acompanhado de Derek Ray-Hill, Diretor de Estratégias Internacionais e Serviços Corporativos da CAF.

Neil assumiu o cargo em 2020 e até hoje, em função da pandemia, ainda não tinha tido a oportunidade de vistiar o Brasil e o IDIS, representante da rede internacional na América Latina.

A realização do 11° Fórum Brasileiro para Filantropos e Investidores Sociais foi o motivo ideal. Neil particiou como palestrante da sessão “Sozinho se vai rápido. Juntos se vai longe e ainda mais rápido”, plenária de abertura do evento, debatendo a importância da colaboração para o fortalecimento da filantropia.

Ao longo de uma semana, aprofundaram o conhecimento sobre o ecossistema filantrópico brasileiro e sobre como podemos integrar metodologias e projetos. Em uma conversa especial com a equipe do IDIS, compartilharam os objetivos estratégicos da organização, sua visão para o futuro e prioridades para a atuação da rede global, que envolve o cross border giving, ou seja, o fluxo de doações entre países, e o avanço da integração das práticas de filantropia corporativa à agenda ESG. Também puderam conhecer atores locais, como o Instituto Avon e o Projeto Guri, em São Paulo.

Assista ao painel com a participação de Neil no Fórum IDIS 2022

O IDIS é o representante, no Brasil, da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica dedicada à filantropia e com mais de 90 anos de experiência. A CAF apoia doadores – indivíduos, grandes doadores e empresas – a obter o maior impacto possível a partir de sua doação.

A parceria foi estabelecida em 2005. A partir do nosso escritório em São Paulo, atendemos os clientes internacionais da CAF que atuam na região, oferecemos serviços globais aos investidores sociais privados brasileiros e contribuímos mutuamente para a geração de conhecimento.

A CAF International é hoje a maior estrutura de apoio ao investidor social privado no mundo. Além da sede no Reino Unido, integram a rede representações na África do Sul, Austrália (Good2Give), Brasil (IDIS), Bulgária (BCause), Canadá, Estados Unidos, Índia, Rússia e Turquia (Tusev).

Para saber mais: cafonline.org.

CAF America lança 8º relatório sobre impacto da COVID-19 nas organizações da sociedade civil

Para mapear o impacto da COVID-19 nas OSCs ao redor do mundo, a Charities Aid Foundation (CAF) America lança o 8º relatório da série que vem acompanhando esse tema. Ao total nesta última pesquisa, foram coletadas 436 respostas de cinco países, incluindo África do Sul, Argentina, Brasil, Rússia e índia .

 

A área de abrangência dessa pesquisa levou em consideração os países atingidos pela pandemia e que constam com participação da CAF America na gestão da doação. Entre as 436 organizações respondentes, 162 são do Brasil.

FRAGILIDADE DAS PEQUENAS ORGANIZAÇÕES

Organizações de menor porte foram as que mais tiveram dificuldades desde o início da pandemia devido ao adoecimento de funcionários pela COVID-19 e ao distanciamento social, ocasionando a dificuldade de arrecadação de recursos.

MUDANÇA NA captação

A diminuição de doações de pessoas físicas e empresas foi observada por organizações de todos os tamanhos. Dessa forma, houve a necessidade de rápida adaptação à nova realidade da captação de recursos online por conta da impossibilidade de realização de eventos e pedidos presenciais.

Segundo a pesquisa, a maioria das organizações acredita que as prioridades do doador mudaram devido à pandemia, causando o redirecionamento de recursos de longo prazo para situações de emergência. Assim, organizações que não respondem diretamente a necessidades básicas nestes tipos de situação acabam tendo dificuldade em captar recursos em momentos de crise.

A SOCIEDADE CIVIL ESTÁ SE ADAPTANDO

Em todos os países foi destacada a necessidade de preparação para situações emergenciais, criação de planos de contingência em caso de interrupção de doações, além de organizar como continuar prestando serviços aos beneficiários quando uma crise surge.

Mais de 50% dos respondentes acreditam estar mais preparados agora para responder a crises ou desastres em comparação ao primeiro ano da pandemia (março de 2020 até março de 2021).

Baixe aqui o relatório completo em inglês.

Confira o lançamento, em inglês, deste material:

CAF promove evento global sobre desafios e tendências da filantropia

Simpósio Global de Filantropia | 9 de novembro

A filantropia é um tema global. Ao redor do mundo, a sociedade civil é peça-chave para a solução de desafios socioambientais e em cada país, há pessoas dedicadas a pensar e encontrar os melhores meios para potencializar o impacto dos investimentos. Ao promover o primeiro Simpósio Global de Filantropia, a Charities Aid Foudation (CAF) convida todos a aprendermos uns com os outros e encontrar inspirações em experiências globais.

Focado em doadores, o encontro abordará tendências internacionais e percepções locais, ao longo de 19 horas e com a participação de representantes de 10 países – África do Sul, Austrália, Brasil, Bulgária, Canadá, Estados Unidos, Índia, Inglaterra, Rússia e Turquia. Entre os temas, filantropia de impacto, empoderamento negro, confiança e mecanismos de doação internacional. O evento acontece no dia 9 de novembro. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui: bit.ly/simposiocaf

O IDIS, representante da CAF no Brasil, promoverá dois painéis virtuais.

9/nov – 14h às 15h

Empresas Grantmakers: impacto social por meio do apoio a OSCs

_Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon

_Paulo Eduardo Batista, diretor executivo do Instituto Mosaic

_moderação: Andrea Hanai, gerente de projetos do IDIS

 

 

 

SimposioGloalFilantropia

9/nov – 15h às 16h

Transformando Territórios: investimento para o desenvolvimento local

_Eliana Sousa, fundadora e diretora da Redes da Maré

_Erika Sanchez, diretora executiva do Instituto ACP

_moderação: Felipe Groba, gerente de projetos do IDIS

 

As sessões serão realizadas em português com opção de tradução simultânea para o inglês. Com isso, o evento reunirá uma audiência local e global. Todas serão gravadas e ficarão disponíveis aos participantes na plataforma do evento. Confira a agenda completa aqui:

 

Além das sessões em português, Raquel Altemani, gerente de projetos do IDIS, também participará da mesa Gestão de de dados de impacto para investidores sociais, no 9 de novembro às 7h. Esta mesa será em somente inglês.

A Charities Aid Foundation (CAF) é uma organização britânica dedicada à filantropia e com mais de 90 anos de experiência. A CAF apoia doadores – indivíduos, grandes doadores e empresas – a obter o maior impacto possível a partir de sua doação. Sua rede global consolidando-se como a maior estrutura de apoio ao investidor social privado, no mundo. Além da sede no Reino Unido, a CAF também atua na África do Sul, Austrália (Good2Give), Brasil (IDIS), Bulgária (BCause), Canadá, Estados Unidos, Índia, Rússia e Turquia (Tusev).

#FórumIDIS | Descolonizando a Filantropia: equilibrando forças e somando saberes

A filantropia olhada a partir da perspectiva global reflete a desigualdade econômica entre países. Quem tem mais, apoia quem tem menos, e por anos o apoio financeiro veio acompanhado de imposição técnica. O movimento #ShiftThePower é um, entre muitos, que destaca os saberes locais para alavancar mudanças locais. Neste painel, convidamos Francis Kiwanga, diretor executivo da Foundation for Civil Society (Tanzânia), Neil Heslop OBE, CEO da Charities Aid Foundation (Inglaterra) e Pablo Gabriel Obregón, Presidente da Fundação Mario Santo Domingo e presidente do Conselho da Latimpacto (Colômbia) para debater o tema a partir de diferentes lugares de fala e apresentarem novos modelos para colaboração. A moderação foi feita por Naila Farouky, CEO do Fórum Árabe de Fundações (Egito).

Confira a mesa na íntegra:

“Conhecimento local devem alavancar mudanças locais”, acredita Francis Kiwanga. Ele analisou o percurso dos recursos filantrópicos internacionais, destinados em sua maioria a ações para o desenvolvimento no continente africano. De acordo com ele, recursos internacionais são inicialmente destinados a multinacionais, que fazem a gestão do recurso. Uma parte é usado para a própria gestão, outra, para questões que envolvem o continente, depois vai para as regiões, e quando chega efetivamente aos beneficiários, já é uma parcela muito pequena. Destacou também que as exigências técnicas muitas vezes são tantas que dificultam o impacto e geram um paradoxo – ao tentar se alinhar às exigências dos financiadores, algumas organizações acabam perdendo sua identidade e, ao fazer isso, são excluídas das comunidades que tentam salvar. Para que haja maior equilíbrio, defende que as vozes locais sejam ouvidas e que o planejamento seja participativo, incluindo também os beneficiários.

Outro ponto de vista foi trazido por Pablo Obregón, que defendeu que antes de pensar em equilíbrio norte-sul, os países devem voltar-se para dentro e buscar recursos junto a empresários locais e governos. “Os tempos estão mudando e há interesse em investir no desenvolvimento das comunidades locais.”. Chamou atenção às possibilidades de colaboração entre a sociedade civil e poder público, e às políticas públicas implementadas a partir desta relação. Como presidente do conselho da rede Latimpacto, comentou sobre as motivações dos investidores, que sempre perseguem o maior retorno com o menor risco, e trouxe exemplos de mecanismos de diversificação para terem ganhos ao mesmo tempo que geram impacto social e ambiental positivos. É isso o que chama de investimento para impacto. Neste sentido, tem atuado para fortalecer o ecossistema e a integração Sul-Sul e chama atenção à necessidade de investimento em capital humano.

Neil Heslop OBE, representante da Charities Aid Foundation, organização britânica dedicada à filantropia, destacou o contexto macroeconômico no qual operamos. De acordo com ele, entre 2010 e 2030 presenciaremos a mudança de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado, alavancada por três grandes crises: a de crédito, a da Covid e a do clima. Ele coloca que valores humanos ressurgiram, iluminados pelas desigualdades fundamentais, e isso impacta empresas, comunidades e estados, que começam a reavaliar suas prioridades, alterando o fluxo do dinheiro. De acordo com Heslop, “esta é uma oportunidade para mudanças significativas em relação a um futuro justo e sustentável para todos, no mundo inteiro, com uma efetiva mudança de poder.” Também chamou atenção à importante agenda EDI – equidade, diversidade e inclusão, afirmando que as organizações filantrópicas no norte global têm o dever moral de fortalecer a representação em suas estruturas de tomada de decisão e tornar seus processos transparentes e claros o mais rápido possível. Explica que ao quebrar as estruturas de dentro para fora, aceleramos a mudança nos mecanismos de poder.

Descolonizando a Filantropia

O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, realizado pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, oferece um espaço exclusivo para a comunidade filantrópica se reunir, trocar experiências e aprender com seus pares, fortalecendo a filantropia estratégica para a promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira. O evento já reuniu mais de 1.500 participantes, entre filantropos, líderes e especialistas nacionais e internacionais. Em 2021, teve como tema ‘O Capital e a Humanidade’ e foi realizado em 22 e 23 de junho com o apoio prata da Fundação José Luiz Egydio Setúbal e apoio bronze de BNP Paribas Asset Management Brasil, Bradesco Private Bank, BTG Pactual, Mattos Filho, Movimento Bem Maior, Santander e Vale.

Forum IDIS Apoio

IDIS recebe diretor internacional da CAF

 

Responsável por fortalecer e catalisar a filantropia e o engajamento cívico nos países que integram a rede Global Alliance – além do Brasil, Austrália, Bulgária, Canadá, Índia, Estados Unidos, Rússia, África do Sul e Inglaterra, sede da organização -, Mapstone se reuniu com a equipe do IDIS, com parceiros, representantes do governo, empresas e sociedade civil.

“Foi uma semana intensa. Aprendi muito com as experiências do IDIS no Brasil e conheci mais profundamente o trabalho que conseguiu a regulamentação dos Fundos Patrimoniais no país. Para a CAF, esse progresso torna o ambiente propício para uma filantropia mais eficaz e estamos ansiosos para apoiar ainda mais” comentou Mapstone.

Com visão abrangente, oportunidades de parcerias e colaboração dentro da rede da CAF e com outras organizações locais e globais foram identificadas, em um movimento para ampliar o impacto das ações do IDIS. O fortalecimento da cultura de doação, tema prioritário para a CAF, também foi abordado. No IDIS, a maior ação neste sentido, é a campanha Descubra Sua Causa. O teste, que estimula as pessoas a refletirem sobre causas e as conecta a organizações sociais para as quais podem fazer doações, foi tema de mais de uma reunião e poderá ser exportado a outros países da rede.

Durante sua visita, Mapstone participou também de uma reunião especial do Conselho Deliberativo do IDIS, na qual assumiu a presidência Luiz Sorge (CEO do BNP Paribas Asset Management Brasil), foram integrados dois novos conselheiros , Alex Pinheiro (Diretor e Sócio da Somos Educação) e Luciana Tornovsky (Sócia do Demarest Advogados) substituindo duas conselheiras históricas do IDIS, a ex-presidente Maria Lúcia de Almeida Prado e Silva (Sócia do Demarest) e Zilda Knoploch (Fundadora e Diretora da Enfoque).

A Global Alliance é uma rede dinâmica e bastante ativa. Além de visitas como essas, há encontros semestrais entre os CEOs dos nove escritórios da rede e uma série de atividades online. “Ficamos sempre entusiasmados ao final dessas visitas. A Global Alliance está realmente comprometida em aumentar e qualificar as doações no mundo e a colaboração e a troca de conhecimentos são potencializadas nestes momentos”, expressa Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.

CAF Aposta em Estratégia Global

O gerente de Projetos do IDIS Osmar Araújo esteve em treinamento na Charities Aid Foundation (CAF) em Londres e conta, em artigo, a importância de escutar cada vez mais (e melhor) as necessidades dos investidores sociais.

A Charities Aid Foundation (CAF) estabeleceu metas ousadas para os próximos anos. Sem fins lucrativos e com sede em Londres, a organização pretende fortalecer sua rede mundial até 2011 para atender a crescente demanda por serviços que gerem soluções globais na atuação dos investidores socioambientais.

O plano é composto por duas linhas básicas. A primeira disponibilizará um sistema de informação e de transferência de recursos online para todos os 8 escritórios e representantes da Rede CAF. A intenção é proporcionar uma ferramenta ágil e confiável aos clientes que desejem investir em outros países, especialmente aqueles que operam a partir de estratégias globais.

A segunda prevê mais integração entre os escritórios por meio do aperfeiçoamento da metodologia de trabalho, da troca sistemática de experiência e do desenvolvimento do relacionamento com clientes de forma integrada. Com isto, será possível entender melhor as necessidades dos investidores e criar soluções dentro da estratégia global de investimento socioambiental, só que refinadas às realidades específicas dos diferentes países.

Stock.xchng: Representação de rede de pessoasIsso é parte do que pude observar durante o primeiro treinamento internacional para equipes gerenciais, realizado pela CAF em novembro de 2009. O pano de fundo do encontro na capital inglesa foi formado por três questões: o fortalecimento da rede internacional, o estímulo à troca de experiências entre os representantes locais e o estabelecimento de processos formais de colaboração entre as unidades. Durante cinco dias, aconteceram workshops para o aprimoramento das consultorias, visitas a clientes e apresentação de casos.

Cada escritório da Rede CAF enviou de um a dois representantes, apenas a unidade da Bulgária não compareceu por incompatibilidade de agenda. Estiveram presentes integrantes do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que atua no Brasil e na América Latina, o The Centre for Asian Philanthropy, que atua em Cingapura e região, e os escritórios da CAF nos Estados Unidos, na Índia, na Austrália, na África do Sul e na Rússia.

O workshop teve a função de desconstruir as lógicas prontas de muitos consultores. Durante o debate sobre mobilização e desenvolvimento dos clientes, a conversa veio corroborar o que o IDIS já faz no Brasil e que será replicado em outros países: desenvolver soluções mais customizadas na área de investimento socioambiental.

A meta é elaborar propostas que atendam ao universo daquele investidor, sem oferecer modelos padronizados, como caixinhas prontas. O IDIS há anos atua dessa forma, num relacionamento próximo ao cliente, escutando suas necessidades e oferecendo um repertório de serviços, competências e rede de contatos para proporcionar soluções sinérgicas para os investidores socioambientais.

Ao ser espalhada por toda a rede, essa prática vai auxiliar no atendimento mais “artesanal” do cliente no alcance mundial do investimento social. Como? Junto a um sistema de informação integrado, com intercâmbios entre as unidades, será possível disseminar as expertises e até facilitar o fluxo das doações.

Não são raros, por exemplo, casos de investidores norte-americanos que aplicam em causas de países da América Latina ou da África. Com os escritórios da CAF integrados na estratégia internacional de consolidação da rede, o fluxo será agilizado.

Captação

O intercâmbio também serviu para conhecermos mais de perto outras práticas. Uma das mais interessantes é adotada pela CAF Austrália. Os australianos possuem vários modelos para realização de doação online, inclusive um que utiliza cartão de crédito.

Esse tipo de ferramenta não é uma novidade no Brasil, mas ainda é pouco utilizado pelos doadores brasileiros. Além de ser uma maneira fácil para o investidor efetivar suas doações, organizações como a CAF funcionam como um avalista das causas e organizações que receberão os recursos.

Para se ter uma ideia do alcance que pode ter no país, basta observar os dados do comércio eletrônico. Mesmo sob os efeitos da crise econômica, cresceu 27% no primeiro semestre de 2009 se comparado ao mesmo período de 2008, segundo dados da e-bit, empresa especializada no setor. O faturamento foi de R$ 4,8 bilhões. Os números indicam o imenso potencial de utilização de ferramentas online no Brasil.