ICP: conectando pessoas e iniciativas pelo desenvolvimento sustentável de Paraty

Nas salas de aula de Paraty, um grupo de jovens está sendo formado para olhar com mais cuidado para o lugar onde vive. Eles se tornaram Delegados Ambientais, líderes estudantis que atuam por escolas mais sustentáveis e comunidades mais conscientes. O projeto, criado Coletivo AMA – Ativistas pelo Meio Ambiente em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, é o primeiro a receber apoio institucional e financeiro do recém-criado Instituto Comunitário Paraty (ICP). Mais do que uma ação ambiental, este é um símbolo do que o ICP busca representar: a força de um território que se transforma a partir de dentro, pela união de quem o conhece e o quer mais justo e equilibrado.

 

O trabalho do ICP se baseia em três pilares: o primeiro, articulação territorial, conecta organizações, setor produtivo, poder público, universidades, doadores e comunidade para promover o desenvolvimento local; o segundo, desenvolvimento individual e comunitário, apoia iniciativas de fortalecimento humano, social, comunitário e ambiental conforme as demandas locais; e o terceiro, partilha de conhecimento, envolve a produção e disseminação de saberes sobre o território e suas comunidades, estimulando o aprendizado coletivo.

“O ICP nasce da união de lideranças comunitárias de Paraty com o desejo coletivo de fortalecer o ecossistema socioambiental local, transformar vulnerabilidades em potência e ampliar a qualidade de vida dos que vivem no município, do centro histórico às comunidades costeiras e rurais”, destaca Andreia Estrella, assistente social, especialista em desenvolvimento comunitário e territorial sustentável, e co-diretora executiva do ICP, ao lado do biólogo e gestor ambiental Ricardo Zuppi.

No projeto “Delegados Ambientais”, a convite do Coletivo AMA, o ICP também realizou oficinas formativas com temáticas sobre liderança ambientalista, elaboração de projetos e ecologia integral. Inicialmente, 36 alunos de quatro escolas públicas receberam a formação.

Projeto “Delegados Ambientais”: a convite do Coletivo AMA e Secretaria de Educação de Paraty, o ICP realizou oficinas formativas

Em outra linha atuação, o Instituto passou a apoiar a Associação de Moradores do Saco do Mamanguá, único fiorde tropical do Brasil, na identificação de suas demandas, desafios e oportunidades. O território é formado por oito comunidades com cerca de aproximadamente 150 famílias que vivem principalmente da pesca e do turismo, e têm acesso exclusivamente por barco ou longas trilhas.

Para compreender de forma mais profunda as questões locais no Mamanguá, o ICP apoiou, em outubro deste ano, a quarta edição do “Ajuntório de Saberes” — evento que celebra a cultura caiçara e que acontece anualmente no território. O Instituto realizou a atividade “Mural dos Sonhos”, criada para oferecer à população um espaço de escuta sobre suas riquezas, desafios e sonhos, valorizando os conhecimentos e perspectivas dos próprios moradores.

“Foi um momento importante, que permitiu uma escuta mais genuína e menos institucional dos anseios da comunidade. Esse material vai orientar os próximos passos das ações locais”, explica Zuppi.

Andreia complementa: “Nessas comunidades, o uso de fossas negras (buraco no solo usado para descartar esgoto sem tratamento) é comum. Estamos começando a planejar formas de enfrentar essas demandas de saneamento básico e gestão de resíduos, estudando parcerias com poder público e iniciativa privada”.

FUNdação orientada por diagnóstico

A governança do ICP conta com um Conselho Administrativo formado por sete lideranças locais representando instituições do território, além da Diretoria Executiva e dos Conselhos Comunitário e Fiscal ainda em formação. Essa representatividade é um dos pilares das Fundações e Institutos Comunitários, conforme destaca a Carta de Princípios para FICs do IDIS:

Representadas por membros da comunidade: possuem instâncias de governança formadas por agentes e cidadãos preocupados com as questões locais que, a partir da sensibilidade e profundo conhecimento do território, são responsáveis por manter a organização, identificar temas prioritários, orientar a alocação eficaz de recursos, bem como defender os interesses da comunidade.

O embrião do ICP foi o Diagnóstico Socioeducacional de Paraty, encomendado em 2021 pela Taiama Foundation para a Tekoa Consultoria, da qual Andreia e Ricardo fazem parte, para compreender o ecossistema socioeducacional de Paraty e construir uma Teoria de Mudança voltada ao desenvolvimento sustentável e inclusivo.

O estudo apontou que Paraty possui um dos ecossistemas socioeducacionais mais ricos do estado, com cerca de 1.200 crianças e adolescentes em programas de contraturno e forte presença de coletivos culturais e ambientais. Contudo, os projetos operavam com pouca sinergia e na dependência de financiamentos pontuais. Assim, o diagnóstico defendeu a institucionalização de uma estrutura comunitária permanente, responsável por articular o território, captar recursos e garantir sustentabilidade — missão que o ICP assumiria posteriormente.

“Os desafios enfrentados pelo Instituto são proporcionais à complexidade e à riqueza do território. Um dos principais é lidar com as especificidades culturais, ambientais e sociais de Paraty, um território de meio ambiente preservado, forte vocação turística e comunidades tradicionais, assegurando que todas as ações respeitem essas singularidades e contribuam para potencializar seus modos de vida”, destaca Zuppi.

Lideranças do ICP: Andréia do Almo (membro do Conselho Administrativo), Andreia Estrella (codiretora) e Ricardo Zuppi (codiretor)

 

Em outra frente, com o objetivo de promover a profissionalização de organizações da sociedade civil de Paraty, o ICP promoveu uma oficina sobre gestão e contabilidade financeira para 15 OSCs locais. A formação gratuita, realizada em setembro deste ano em parceria com a Vargas Consultoria, abordou temas como controle financeiro, regularização fiscal e captação de recursos, fortalecendo a transparência e a eficiência das instituições.

Apesar dos desafios, as perspectivas são promissoras. A consolidação do ICP – que foi fundado oficialmente em 2024, integrando o programa Transformando Territórios, do IDIS – representa um marco para o município, que passa a contar com uma organização de base local capaz de articular atores diversos, construir redes colaborativas, promover diagnósticos e canalizar investimentos sociais alinhados às reais demandas da população.

“O programa Transformando Territórios tem nos auxiliado a articular redes de troca e ação para fortalecer o território. O ICP já nasceu, com o apoio do IDIS, como uma FIC. Não se transformou em uma, mas foi criado com essa identidade desde o início. E nossa atuação já é ampla e intensa, o que evidencia o quanto os territórios precisam dessa figura de articulação que as FICs representam”, reforça Andreia.

Paula Fabiani, CEO do IDIS, em visita ao ICP

 


Informações do Território 

  • Território de atuação: Município de Paraty/RJ
  • Nome da fundação ou instituto comunitário: Instituto Comunitário Paraty (ICP)
  • Liderança: os diretores-executivos Andreia Estrella e Ricardo Zuppi
  • População: Cerca de 45 mil habitantes, segundo o IBGE.
  • Causas prioritárias mapeadas pela FIC: Educação e juventude; meio ambiente e sustentabilidade; turismo sustentável; saneamento e saúde básica; fortalecimento e participação social; geração de emprego e renda com inclusão produtiva de impacto socioambiental.
  • Desafios regionais: Pressão imobiliária, sobrepesca, impactos das mudanças climáticas, saneamento básico, e o turismo desordenado, que afetam tanto o meio ambiente quanto a estrutura social local. Há ainda alta evasão escolar entre jovens, impulsionada por subempregos no turismo, além da falta de universidades e da dificuldade de acesso à educação superior.

 

O Instituto Comunitário Paraty integra o programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social em parceria com a Mott Foundation e apoio do Movimento Bem Maior, para fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil.

 

Quer saber mais sobre o ICP? Acesse o site.

Para conhecer mais sobre os Princípios e características das Fundações e Institutos Comunitários, acesse a Carta de Princípios através deste link.

Saiba mais sobre o programa Transformando Territórios e como apoiá-lo.

 

Da base para o topo: como a Nossa Cidade fortalece comunidades em Brumadinho e na Grande BH

Às margens do Rio Paraopeba, em Brumadinho (MG), a artesã Maria dos Anjos viu sua comunidade ser devastada pelo rompimento em 2019. Pouco depois, a pandemia agravou ainda mais o cenário. Foi nesse contexto que Maria percebeu o aumento dos casos de depressão, especialmente entre as pessoas com deficiência da região – e decidiu agir. Criou, então, um projeto baseado na técnica ancestral do fuxico, uma técnica de costura para reaproveitando de tecidos, transformando colchas de retalhos em instrumentos de acolhimento, cuidado e cura.

Para dar o pontapé inicial e comprar o material necessário – mesmo que de baixo custo –, ela precisou de apoio. Os recursos vieram do Fundo Regenerativo de Brumadinho, gerido pela Associação Nossa Cidade (ANC), Fundação Comunitária Territorial composta por voluntários, com atuação em 34 municípios da Grande Belo Horizonte, incluindo Brumadinho. Hoje, o projeto de fuxico é autossustentável, e Maria dos Anjos tornou-se uma das principais lideranças da ANC. O trabalho dela simboliza a força de uma comunidade que se recusa a esquecer e que escolheu florescer.

O diretor voluntário Renato Orozco e Maria dos Anjos, liderança de projeto apoiado em Brumadinho

Essa é apenas uma das quase 100 iniciativas já apoiadas pela ANC com microgrants –pequenos financiamentos que geram grandes transformações. Fundada em 2014, a ANC implementa fundos regenerativos, uma tecnologia social que permite a criação de fundos comunitários com governança participativa. Esses fundos são geridos pelas e para as comunidades, que escolhem quais de seus projetos devem ser financiados.

Nossos fundos locais são um catalisador para iniciativas que, muitas vezes, não conseguiriam acessar editais tradicionais. Ainda há muita gente sem letramento digital. Por isso, os curadores e suas equipes atuam diretamente nas comunidades, onde conhecem as dores e os potenciais locais. Sempre há um processo claro de acompanhamento para garantir que os recursos estão sendo bem aplicados”, explica Renato Orozco, que fundou a ANC durante um MBA em Impacto Social em Boston e hoje atua como um dos diretores voluntários ao lado da líder comunitária Marlúcia Baesse (a Tia Lu) e do executivo de ESG e filantropo Eduardo Cetlin.

 

Os diretores voluntários Eduardo Cetlin e Marlúcia Baesse (a Tia Lu)

A organização atua majoritariamente como grantmaker, financiando iniciativas comunitárias em vez de executá-las diretamente. Esse modelo promove uma filantropia descentralizada, que valoriza o protagonismo local. Além da destinação de recursos de fundos locais, a ANC também oferece capacitação, apoio técnico e contribui para o fortalecimento institucional de organizações, coletivos e lideranças comunitárias.

“Depois de mais de uma década de aprendizado, está claro: as soluções já existem nos próprios territórios. Nosso papel é simples, é financiar, apoiar e celebrar essas iniciativas para que floresçam cada vez mais. Por isso, nossa governança é totalmente horizontal e participativa: um comitê curador, formado por membros voluntários da própria comunidade, avalia as propostas com base em critérios como impacto social, participação local e relevância ambiental, priorizando grupos historicamente marginalizados”, explica Orozco.

Projeto Favela em Ação, apoiado pela ANC

Ser majoritariamente grantmaker é, portanto, uma das características mais marcantes da Associação Nossa Cidade como uma Fundação ou Instituto Comunitário (FIC) e um dos 9 princípios que guiam o papel e a operação deste modelo de organizações. Na Carta de Princípios para FICs do IDIS, a diretriz é:

Grantmakers: captam, gerenciam e realizam doações de recursos financeiros para organizações sem fins lucrativos e iniciativas sociais do território, que atuam na linha de frente do atendimento às demandas comunitárias, de modo a assegurar a vitalidade do setor social local.

 

FUNDO REGENERATIVO DE BRUMADINHO 

A criação do Fundo Regenerativo de Brumadinho, em 2019, nasceu como uma resposta ao rompimento da barragem no Córrego do Feijão, que levou 272 pessoas à morte. Nas primeiras semanas após o desastre, a ANC arrecadou R$ 150 mil por meio de campanhas de financiamento coletivo e assumiu a gestão do fundo – cuidando da governança, da tesouraria e da conformidade.

Diferente de um fundo emergencial, o fundo regenerativo prioriza ações de médio e longo prazo, voltadas à regeneração social, ambiental e econômica do território. Os projetos apoiados pelos fundos da ANC recebem até R$ 3 mil e devem promover reconexão com a natureza, fortalecimento de vínculos e resiliência comunitária. Até hoje, já foram apoiadas 70 iniciativas, totalizando R$ 210 mil investidos diretamente em soluções locais.

“Um caso emblemático foi o da Brigada Voluntária Guará, de Casa Branca, distrito de Brumadinho. Eles precisavam urgentemente de um sistema de combate a incêndios. Em menos de 48 horas após a solicitação, estavam operando com os novos equipamentos”, destaca Orozco.

 

ATUAÇÃO MULTITEMÁTICA

Além de grantmaker, a ANC tem foco multitemático: a organização mantém os fundos de Brumadinho e Grande BH (que apoiam projetos nas áreas de educação, inclusão produtiva, meio ambiente e muitos outros temas) e está estruturando três novos fundos temáticos: o programa de bolsas Nossa Cidade (um programa de formação com bolsa-auxílio para líderes comunitários), o Fundo para Pessoas Migrantes e o Fundo para Pessoas com Deficiência. A característica multitemática também é uma das marcas das FICs, presente na Carta de Princípios para FICs do IDIS:

Multitemáticas: apoiam e investem em outras organizações da sociedade civil e iniciativas sociais de modo a abranger a diversidade de causas e temas relevantes para a comunidade, seu contexto e suas demandas próprias.

 

“Estamos em plena expansão na criação de novos fundos e na prospecção de doadores, tanto dentro quanto fora dos territórios em que atuamos. Sentimos a necessidade de estabelecer parcerias estratégicas para consolidar essa trajetória. Nosso plano é alcançar, até o fim de 2025, um total de dez fundos ativos”, adianta Orozco.

Renato Orozco, Marlúcia Baesse (a Tia Lu), Eduardo Cetlin, Maria dos Anjos Silva e Samantha Feres, dentre outros membros da Associação Nossa Cidade, no retiro da organização, na cidade de Esmeraldas (MG), em 2023

 

Um exemplo recente é o projeto de mapeamento das condições de vida da população migrante na região de Belo Horizonte. Anos atrás, a ANC apoiou o Coletivo Cio da Terra, formado por migrantes que utilizaram os recursos para criar uma feira de comercialização de produtos agroecológicos. Agora, o coletivo é parceiro na nova iniciativa: ouvir e compreender os desafios enfrentados pela população migrante local.

“Dez bolsistas estão conduzindo as entrevistas — cinco são estudantes de um programa de extensão da PUC Minas, o LER, voltado para o letramento de migrantes e parceiro no mapeamento, e os outros cinco são migrantes. O objetivo final é transformar esse diagnóstico participativo em subsídios para sensibilizar a sociedade belo-horizontina e estruturar um fundo exclusivo de apoio à população migrante moradora da região metropolitana da capital”, acrescenta Orozco.

A trajetória de consolidação da ANC como fundação comunitária territorial foi profundamente influenciada pelo programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS em parceria com a Charles Stewart Mott Foundation. “O programa foi um divisor de águas. Por meio dele, aceitamos o desafio de nos reconhecermos formalmente como uma fundação comunitária e buscamos nossa profissionalização institucional”, afirma Orozco.

Ao longo desse processo, a ANC recebeu apoio técnico, participou de eventos estratégicos e passou a desenvolver estruturas mais robustas de governança. “A própria formulação da nossa Teoria da Mudança nasceu de um curso proporcionado pelo programa. O IDIS tem sido uma ponte para acessarmos boas práticas, referências e alternativas viáveis, sempre respeitando nossa essência”, complementa.

Segundo Orozco, a ANC quer manter a alma voluntária de sua atuação, mas reconhece a necessidade de contar com um núcleo profissionalizado para dar conta do crescimento.

“Estamos num momento de travessia. Se temos uma equipe mais estruturada, também precisamos ampliar nossa capacidade de captação de recursos. Parcerias estratégicas, como o IDIS, são fundamentais para que essa expansão ocorra de forma sustentável”, comenta Orozco.

 


Informações do Território 

  • Território de atuação: Região metropolitana de Belo Horizonte, num total de 34 municípios.
  • Nome da fundação ou instituto comunitário: Associação Nossa Cidade
  • Liderança: Marlúcia Baesse (a Tia Lu), Eduardo Cetlin e Renato Orozco são os diretores entre 2024-27.
  • População: 5,1 milhões de habitantes (Censo 2022, IBGE)
  • Causas prioritárias mapeadas pela FIC: Empoderamento comunitário, cultura de doação e engajamento cívico das pessoas na resolução de nossos problemas coletivos.
  • Desafios regionais: Reconexão, resiliência, resistência e regeneração em um contexto de desafios socioambientais e desintegração do senso de comunidade.

 

A Associação Nossa Cidade integra o programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation para fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil.

 

Quer saber mais sobre a Associação Nossa Cidade? Acesse o site.

Para conhecer mais sobre os Princípios e características das Fundações e Institutos Comunitários, acesse a Carta de Princípios através deste link.

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Resiliência e impacto: a Fundação Gerações no Rio Grande do Sul

A solidariedade foi a principal resposta às consequências da crise climática que afetou o Rio Grande do Sul em 2024. Com o engajamento de diferentes parceiros, a Fundação Gerações (FG) – que havia lançado no ano anterior o Fundo Comunitário Porto de Todos (FCPT), – mobilizou recursos para apoiar projetos sociais de base comunitária que foram diretamente atingidos pelas enchentes de maio.

Organização da sociedade civil criada em 2008, a Fundação Gerações atua para endereçar as principais demandas do território, através de três eixos principais: fomento a negócios sociais periféricos; fortalecimento das OSCs, com iniciativas de formação e networking; e desenvolvimento territorial de comunidades vulneráveis, suas organizações e lideranças.

Com um olhar atento e sensível às problemáticas territoriais da esfera social, em 2022, a organização passou a integrar o programa Transformando Territórios, iniciativa do IDIS e da Charles Stewart Mott Foundation, e no ano seguinte, em dezembro de 2023, nasceu o FCPT, para engajar pessoas e instituições em prol do desenvolvimento social das comunidades mais vulneráveis de Porto Alegre e Região Metropolitana.

Karine Ruy, Diretora Executiva da Fundação Gerações

 

o início da fg como fundação comunitária

No início de 2024, com recursos de matchfunding, foi lançada a 1ª Chamada pública de apoio a negócios de impacto social periféricos do FCPT, com a parceria da Coalizão pelo Impacto Porto Alegre e do programa Transformando Territórios, marcando o início da operação da Fundação Gerações como uma Fundação Comunitária.

Foram contemplados seis negócios com foco em mulheres, comunicação, juventudes e energias renováveis. Cada um recebeu R$ 10 mil para desenvolver soluções às problemáticas socioambientais em seus territórios.

Além do apoio financeiro, todos os empreendedores selecionados pelo FCPT tiveram a oportunidade de participar do programa DUXtec 2024, uma iniciativa de modelagem de negócios de impacto socioambiental realizada pela FG desde 2021. Esta é, portanto, uma das características mais marcantes da Fundação Gerações como Fundação ou Instituto Comunitário: o foco no apoio às organizações locais, um dos 9 princípios que guiam o papel e a operação deste modelo de organizações.

Na Carta de Princípios para FICs do IDIS, sua diretriz é:

Provedoras de apoio institucional e técnico às organizações e iniciativas sociais locais: responsáveis por impulsionar o desenvolvimento e a construção de capacidades das organizações da sociedade civil e iniciativas sociais locais, de modo a elevar padrões de operação e garantir o uso responsável e eficiente dos recursos doados.

Empreendedores selecionados pelo FCPT participaram do programa DUXtec 2024, iniciativa de modelagem de negócios de impacto socioambiental

enfrentando emergências 

Diante da calamidade, em maio de 2024, foi engajada com os processos de reconstrução dos territórios mais vulnerabilizados atingidos pelas chuvas na região de Porto Alegre.

“Iniciamos uma convocação para empresas, institutos e famílias brasileiras que desejassem se somar a essa corrente de ressignificação com a Linha Emergencial. Para essa atuação, nos inspiramos e estivemos próximos de instituições com expertise na mobilização de fundos emergenciais, como o Instituto Comunitário da Grande Florianópolis (ICOM) e a Associação Nossa Cidade (Fundo Brumadinho), pares da Fundação Gerações junto ao IDIS no programa Transformando Territórios”, conta Karine Ruy, diretora executiva da Fundação Gerações.

 

Assim, em maio e em setembro, respectivamente, foram lançadas a 1ª e a 2ª Chamadas Públicas Emergenciais do Fundo Comunitário Porto de Todos. Ao todo, foram selecionadas 10 organizações de base comunitária para receber, cada uma, aportes iniciais de R$ 20 mil em capital semente, destinados a reformas ou aquisição de insumos necessários para a garantia do atendimento à comunidade.  Até maio de 2025, R$ 469 mil haviam sido repassados pela FG às OSCs beneficiadas em diferentes rodadas de apoio da Linha emergencial.

“Optamos por iniciar um ciclo de apoio mais longo, combinando repasse de recursos com autonomia no uso e assessoramento técnico. Exemplos incluem a reforma elétrica da Adevic, a compra de portas de sala de aula pela Acompar e a construção do novo telhado e instalações elétricas na Cabo Rocha”, detalha Karine. “Para muitas dessas organizações, foi o primeiro recurso que chegou após a tragédia. O diferencial está na relação de confiança”, acrescenta.

Reconstrução do Chimarrão da Amizade, em Canoas, município que ficou submerso

Outras rodadas de investimento já foram realizadas e mais repasses estão previstos para o decorrer de 2025, mas de forma customizada às demandas de cada organização. As lideranças das organizações beneficiadas também contam com assessoramento e apoio para o desenvolvimento de novos projetos. Para o próximo ano, o objetivo é contribuir com a formação de lideranças para que as organizações se tornem “Hubs de Regeneração Comunitária”, capazes de impactar ainda mais seus territórios.

Desde sua criação, já foram captados mais de R$ 1 milhão pelo Fundo Porto de Todos. O objetivo da organização é ampliar a prática de grantmaking – ou seja, financiar iniciativas e projetos de organizações locais. Esta também é uma característica marcante das atividades de uma Fundação ou Instituto Comunitário.

Na Carta de Princípios para FICs, define-se que:

“Majoritariamente grantmakers: captam, gerenciam e realizam doações de recursos financeiros para organizações sem fins lucrativos e iniciativas sociais do território, que atuam na linha de frente do atendimento às demandas comunitárias, de modo a assegurar a vitalidade do setor social local.”

 

Karine explica que o diferencial do Fundo está na sua arquitetura de funcionamento, com; mapeamento de iniciativas vindas dos territórios, inclusive de lideranças ou empreendedores; capacitações; monitoramento na execução e avaliação de impacto. Todo esse fluxo é mediado pelo diálogo, construção colaborativa, respeito aos saberes locais e transparência:

“A intermediação de recursos financeiros, o assessoramento técnico e a ativação de redes oferecem segurança e credibilidade às OSCs, mas, principalmente, identifica – a partir de uma escuta muito cuidadosa – quais são as demandas das comunidades e territórios. Não queremos protagonizar projetos, mas fazer com que organizações que já têm seu conhecimento local consigam rodar suas propostas”, diz Karine, ressaltando que a Fundação Gerações tem um Conselho Curador e uma diretoria voluntários, mas uma equipe operacional e de gestão profissionalizada, dedicada a conduzir os processos.

 

Informações do Território 

  • Território de atuação: Região Metropolitana de Porto Alegre
  • Nome da fundação ou instituto comunitário: Fundação Gerações
  • Liderança: Karine Ruy, diretora-executiva
  • População: A RMPA é a maior área metropolitana do Sul do Brasil, com uma população estimada de 4,3 milhões de habitantes.
  • Causas prioritárias mapeadas pela FIC: Apoio a organizações sociais de base comunitária; fomento a negócios e coletivos de impacto social; formação de lideranças.
  • Desafios regionais: Desigualdade socioeconômica, acesso limitado à educação e saúde de qualidade, infraestrutura urbana precária, violência e insegurança, escassez de transporte público adequado e a marginalização das comunidades.

 

A Fundação Gerações integra o programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation para fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil.

 

Quer saber mais sobre a Fundação Gerações? Acesse o site.

Para conhecer mais sobre os Princípios e características das Fundações e Institutos Comunitários, acesse a Carta de Princípios através deste link.

Saiba mais sobre o programa Transformando Territórios e como apoiá-lo.

 

Você já ouviu falar em Institutos e Fundações Comunitárias?

O conceito de Fundação Comunitária ou Community Foundations surgiu nos Estados Unidos, mais precisamente em Cleveland/Ohio, como uma solução para a dificuldade que os bancos encontravam em satisfazer o desejo de seus clientes de doar parte de próprios patrimônios em testamentos para endereçar demandas sociais da cidade. À época, não existiam estruturas jurídicas nem modelos consolidados que permitissem doações flexíveis voltadas a demandas locais de maneira organizada e permanente. A fundação comunitária foi uma inovação justamente por oferecer essa governança comunitária e flexibilidade.

Desde então, as Fundações Comunitárias se espalharam pelo país e se tornaram populares no resto da América do Norte, Europa e, nas últimas décadas, nos outros continentes. De acordo com o Community Foundation Atlas, em 2014, cem anos após o surgimento da primeira fundação comunitária, existiam mais de 1.800 dessas organizações no mundo, que movimentam anualmente mais de USD 5 bilhões (ou 25 bilhões de reais).

EXPLORANDO O CONCEITO

Mas o que são Fundações e Institutos Comunitários (FICs)? Certamente você conhece ou já ouviu falar de organizações da sociedade civil (OSCs) que atuam em prol de causas como saúde, combate à fome, educação, meio ambiente, entre outras. Diferente das OSCs tradicionais, as FICs atuam em um território geográfico definido — seja um bairro, distrito, cidade ou região — e trabalham para solucionar os problemas prioritários daquela localidade. A causa central das FICs é o próprio território em que atuam. Por isso, sua atuação é multitemática, abrangendo uma diversidade de temas e questões relevantes para a comunidade local.

Há um ditado na área da filantropia comunitária que diz “conheça uma fundação comunitária e você terá conhecido apenas uma”. Não há duas fundações comunitárias iguais em nenhum lugar do mundo, apesar das características, valores e princípios serem os mesmos ou muito similares.

As FICs se diferem das organizações tradicionais também em outros princípios como:

  • Organizações locais
  • Representadas por membros da comunidade
  • Organizações juridicamente estabelecidas e perenes
  • Multitemáticas
  • Financiadas por fontes de recursos diversas
  • Visão de longo prazo
  • Majoritariamente grantmakers
  • Assessoram a jornada filantrópica do doador
  • Provedoras de apoio institucional e técnico às organizações e iniciativas sociais locais.

 

As FICs são protagonistas da interlocução entre organizações sociais e doadores, sociedade civil e poder público, promovendo transparência e engajamento. Esse modelo de organização social fomenta o protagonismo local e empodera a comunidade reduzindo desigualdades, promovendo o desenvolvimento local sustentável e agindo como interlocutora dos diversos stakeholders (parte interessadas). Veja o funcionamento:

VALORES DAS FICS

As FICs contribuem para a defesa de interesses públicos e da melhoria na qualidade de vida da sociedade como um todo, não à toa possuem valores imprescindíveis para sua atuação:

  • Protagonismo Comunitário: valorização dos ativos locais e engajamento cívico local como as principais forças condutoras do processo de desenvolvimento de comunidades, no qual cidadãos são investidores e responsáveis pela transformação positiva da própria realidade, garantindo a legitimidade das ações promovidas, a defesa dos direitos e interesses comunitários, e a perpetuidade do movimento de melhoria da qualidade de vida local.
  • Defesa dos valores democráticos: como iniciativas coletivas, é imprescindível para o sucesso das FICs que elas defendam e promovam valores democráticos referentes ao direito à vida digna, à justiça social, à instituição de processos participativos, à garantia da liberdade de expressão e ao respeito à diversidade e defesa dos direitos humanos.
  • Transparência: a construção de relações de confiança a partir de comunicação transparente entre atores sociais, da abertura organizacional para o compartilhamento de informações e da divulgação de dados referentes às atividades, processos, tomadas de decisão e à gestão de recursos executadas pela FIC ao longo do tempo.
  • Práticas Sustentáveis: é fundamental o comprometimento das FICs com o uso consciente e sustentável dos recursos naturais do território.
  • Atuação em rede: crença na força das ações colaborativas como meio para se alcançar o desenvolvimento de longo prazo das comunidades sendo, desta forma, amplamente valorizada a articulação e o cultivo de parcerias com representantes dos setores público, privado e social.

INSTITUTOS E FUNDAÇÕES COMUNITÁRIAS NO BRASIL

No Brasil, juridicamente, as FICs podem ser formalizadas como associações — muitas vezes denominadas institutos — ou como fundações. Por isso, utilizamos localmente ambos os termos como sinônimos e nos referimos a elas como Fundações ou Institutos Comunitários, ou, simplesmente, FICs.

Reconhecendo a relevância dessas organizações para o desenvolvimento social inclusivo — com protagonismo da própria comunidade local — o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), em parceria com a Charles Stewart Mott Foundation, criou o programa Transformando Territórios. A iniciativa fomenta a criação, o fortalecimento e o desenvolvimento de Fundações e Institutos Comunitários no Brasil. Lançado em 2020, o programa atua em conjunto com diversos parceiros e apoiadores, oferecendo suporte técnico, institucional e financeiro às FICs, tanto de forma individual quanto ao coletivo, além de incentivar o engajamento de doadores e da sociedade civil.

Em 2025, 15 organizações de 10 estados brasileiros fazem parte do Programa. Desde o início do projeto, 18 organizações já foram apoiadas, das quais três previamente já se identificavam com o conceito de Fundação Comunitária. Ao participar do Programa, cada organização define sua trilha de desenvolvimento, com metas, objetivos e esforços alinhados com seus territórios, conhecimento e história. Com amplos diálogos, é definida uma estratégia de apoio para cada uma delas, respeitando os saberes, demandas e potenciais locais.


A partir da experiência de quatro anos na condução do programa Transformando Territórios, o IDIS lançou em 2024 um guia a partir de exemplos de quem já transforma territórios. Os conteúdos abordam desde os aspectos legais e estruturais de uma fundação ou instituto comunitário até as melhores práticas para envolver a comunidade local. Baixe agora!


SOBRE O TRANSFORMANDO TERRITÓRIOS

O Programa Transformando Territórios é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation para fomentar a criação e fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil, com o engajamento de doadores e sociedade civil, compartilhamento de conhecimento e apoio técnico.

Saiba mais sobre o programa e os participantes em www.transformandoterritorios.org.br