O poder da tecnologia no terceiro setor: novos caminhos para a transformação social

Por Ana Paula Otani, analista de projetos no IDIS

 

Nos últimos anos, o avanço da inteligência artificial acrescentou novas camadas de complexidade ao cenário tecnológico, transformando a forma como diversos setores e organizações operam. No terceiro setor, não foi diferente. A revolução tecnológica abriu novas oportunidades para potencializar ações filantrópicas e ampliar o impacto de iniciativas sociais, criando espaços para novas reflexões e estratégias.

Esse tema foi discutido por Luana Genot, fundadora do ID_BR; Daniel Paixão, fundador do Hub Periférico; e Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau, na sessão ‘Tecnologia como Geradora de Transformações Sociais’, mediada por Alex Pinheiro, cofundador e CEO da Ecossistema SQUARE, durante a 13ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.

 

Veja a sessão completa em:

 

Fundado em 2016, o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) dedica-se à promoção da equidade racial por meio da implementação de políticas e iniciativas de diversidade e inclusão em empresas, além de ofertar consultoria, treinamentos e desenvolver campanhas focadas no letramento racial e na educação antirracista para instituições públicas, privadas e a sociedade em geral.

Recentemente, com o intuito de ampliar o debate sobre raça e inclusão, a organização lançou a Deb, uma inteligência artificial generativa especialista em inclusão, que permite que qualquer pessoa possa tirar dúvidas sobre a temática a qualquer momento e sem medo de julgamentos.

“Nos últimos anos a gente veio percebendo que muitas pessoas tinham dúvidas muito pessoais [sobre a temática racial], mas nem sempre conseguiam externar isso numa mesa ampla como essa por sentir medo de ser cancelado, de virar chacota, e ter uma exposição negativa. Então, vendo essa possibilidade de escalar esse debate de uma forma personalizada, a gente lançou a Deb”, disse Luana.

Hoje, com mais de 15 mil seguidores no Instagram, a Deb não só ampliou o alcance do debate racial, engajando novas audiências, como também abriu portas para o ID_BR em espaços anteriormente pouco acessíveis.

 “Estive na Patagônia falando sobre a Deb, e estou indo para Tóquio…Com a tecnologia, nós conseguimos chegar em espaços onde, só por sermos enquadrados como ‘diversidade, equidade e inclusão’, a gente não conseguia chegar. A tecnologia tem sido um potencializador para a gente furar a bolha e levar um debate tão importante para o Brasil e para o mundo.”

No entanto, à medida que a tecnologia avança, fica a questão: em que medida essas inovações chegam a territórios vulnerabilizados, onde o acesso à educação e à inclusão digital é limitado? Foi a partir desses questionamentos que Daniel Paixão, um jovem recifense de 23 anos, fundou o Hub Periférico.

“Somos um grupo, um coletivo, uma startup, um ecossistema de pessoas negras e periféricas que unem suas capacidades, suas potencias e talentos para desenvolver tecnologias que impactem nossa realidade, para que juntos possamos criar cada vez mais uma revolução em Pernambuco, no Nordeste, e no Brasil”, conta.

Mesmo estando próximo a um dos maiores parques tecnológicos da América Latina, o Porto Digital, Daniel e seus amigos perceberam que a periferia permanecia à margem dessas oportunidades. Com a união de diferentes personalidades negras e periféricas de Pernambuco, o Hub Periférico vem atuando no incentivo ao desenvolvimento de soluções tecnológicas no Nordeste do Brasil, especialmente no que se refere à inclusão produtiva no setor tecnológico e às mudanças climáticas.

Daniel destacou ainda que o Hub Periférico enxerga a tecnologia de forma ampla, indo além de sua definição tradicional. A organização valoriza e incentiva o desenvolvimento das chamadas tecnologias originárias — soluções inovadoras criadas pelas próprias comunidades, baseadas em suas vivências e necessidades, e que não dependem necessariamente de uma estrutura digital.

Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau, trouxe para o debate a perspectiva e o papel dos investidores sociais no fortalecimento dessas iniciativas. O instituto tem atuado no apoio a empreendedores periféricos, investindo recursos filantrópicos para impulsionar seus negócios.

Beatriz ressaltou o impacto positivo que a tecnologia pode gerar quando pensada de forma estratégica para o desenvolvimento social, compartilhando sua experiência com o Fundo Regenera RS – fundo filantrópico emergencial lançado para apoiar projetos de reconstrução do Rio Grande do Sul.

“Na época das chuvas, diversos negócios adaptaram suas plataformas de forma imediata para oferecer serviços, inclusive de apoio público como, por exemplo, conectar voluntários a abrigos, e oferecer apoio a saúde mental dos professores. É impressionante como a tecnologia pode ser utilizada em prol do social de tantas maneiras. As oportunidades são imensas, nós temos uma verdadeira mina de ouro à nossa disposição”, falou.

 

Tecnologia e justiça social

A tecnologia tem se mostrado uma ferramenta poderosa para o terceiro setor, no entanto, é importante que essas inovações não fiquem restritas a grupos privilegiados.

“Muitas oportunidades ainda vão surgir com grande potencial de gerar ainda mais inclusão social. Convoco os filantropos a pensarem quais são as inúmeras oportunidades que a gente pode apoiar, com recurso filantrópico, com capacitação, trazendo luz para essas iniciativas”, concluiu Beatriz.

A revolução tecnológica não pode ser apenas sobre avanços técnicos; ela precisa ser sobre pessoas. A tecnologia pode ser a força para a promoção de novos caminhos para a transformação social, mas seu verdadeiro impacto depende de um esforço coletivo. Cabe a cada um de nós – como sociedade, filantropos e líderes – garantir que as inovações tecnológicas não apenas cheguem às comunidades mais vulneráveis, mas também sejam utilizadas para fortalecer seus talentos e vozes. Somente assim, a tecnologia deixará de ser apenas uma ferramenta de inovação para se tornar uma aliada da justiça social.

 

Fotos: André Porto e Caio Graça/IDIS.

Palestra sobre tecnologia do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais é destaque em matéria

No dia 4 de setembro, ocorreu a 13ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizada pelo IDIS, com o tema norteador ‘Filantropia entre nós’. Nós. Uma palavra com múltiplos significados. Enlaçamentos de fios. Vínculos. Obstáculos. Ou simplesmente, a gente, pronome pessoal, sujeito de uma ação coletiva.

As sessões do evento abordaram os diversos nós que desafiam nossa realidade e o como a filantropia pode colaborar para desatá-los.

Em matéria, o Jornal do Commercio de Pernambuco destacou as falas de Daniel Paixão na sessão ‘Tecnologia como geradora de transformações sociais’. Este momento também contou com a presença de Beatriz Johannpeter | Diretora do Instituto Helda Gerdau; e Luana Génot | Fundadora do ID_BR, além da moderação de Alex Pinheiro | Cofundador & CEO na Ecossistema SQUARE. Paixão explicou o motivo de ter criado o Hub-Periférico e ressaltou a necessidade do investimento social privado na criação de oportunidades para aqueles que vivem e atuam nos subúrbios.

 “A gente percebeu que estávamos na cidade de um dos maiores parques tecnológicos do país, o Porto Digital, mas que a periferia não estava ocupando o seu espaço nele”, conta Daniel Paixão.

Foto da sessão ‘Tecnologia como geradora de transformações sociais’ com Luana Genót, Daniel Paixão, Beatriz Johannpeter e Alex Pinheiro. Foto: André Porto e Caio Graça/IDIS.

Confira a matéria na íntegra aqui.

“Doadores Brasileiros e sua relação com a tecnologia: alguns dados e reflexões”

Por Paula Fabiani e Andrea Wolffenbuttel – O artigo integra a publicação “TIC ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS – Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Organizações Sem Fins Lucrativos Brasileiras. Escrito por Paula Fabiani (presidente do IDIS) e Andrea Wolffenbuttel (diretora de Comunicação e Relações Institucionais do IDIS),  focou na avaliação dos doadores brasileiros sobre os recursos tecnológicos disponibilizados para fazerem doações.

O texto,  publicado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), usou como base de dados a pesquisa Doação Brasil, iniciativa coordenada e divulgada pelo IDIS e que revelou quem são e o que pensam os doadores brasileiros.

O NIC.br é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Para acessar a publicação,  basta clicar em

http://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic_osfil_2016_livro_eletronico.pdf

 

 

 

 

Projeto desenvolvido pelo IDIS prevê a implantação de tecnologias sociais em comunidades do Amazonas

IMG_8734O Amazonas é o maior estado do Brasil, conhecido pela sua natureza exuberante e biodiversidade. O estado tem a maior população indígena do país e inúmeras comunidades tradicionais de pescadores artesanais e seringueiros vivendo em locais distantes de centros urbanos, onde o acesso a serviços essenciais é naturalmente complexo. Tendo em vista essa realidade, o IDIS está trabalhando em um projeto piloto de implantação de tecnologias sociais que atendam às necessidades de um desenvolvimento sustentável em comunidades rurais e ribeirinhas. A iniciativa é uma parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

A primeira etapa foi a realização de um diagnóstico situacional no município de Borba-AM com a participação da comunidade e do poder público local. Por meio de pesquisas e análise de dados primários e secundários foi possível entender o contexto em que vivem os habitantes de Borba e também mapear as iniciativas já desenvolvidas na região. A partir das demandas mais prementes foram pré-seleciondadas 16 tecnologias do Banco de Tecnologias Sociais da FBB. O município de Borba foi escolhido para servir de referência ao diagnóstico pois a UEA realiza na cidade um projeto piloto que envolve estudantes universitários, o Programa de Apoio à Primeira Infância (PAPI).

O trabalho de campo foi realizado em fevereiro deste ano com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. Foram aplicados 181 questionários em 17 comunidades – seis rurais, seis ribeirinhas e cinco urbanas. A equipe multidisciplinar de trabalho de campo foi constituída pela UEA, profissionais do IDIS e da área da Saúde da Criança da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas. “Para facilitar a seleção das tecnologias sociais, as prioridades locais foram separadas em quatro categorias: água, saneamento básico, segurança alimentar e saúde infantil”, explica Sofia Rebehy, analista de projetos de investimento social do IDIS e que integrou a equipe de campo.

Os resultados do diagnóstico foram compartilhados com o município com o intuito de orientá-lo na definição das Tecnologias Sociais e respectivas comunidades para a implantação. Esta seleção foi feita pelo poder público local em reunião coordenada pela Secretaria Municipal de Saúde e levou em consideração não somente os dados levantados pelo diagnóstico, mas também as peculiaridades de cada comunidade. As tecnologias foram apresentadas ainda para as comunidades envolvidas para confirmar sua aceitação e interesse.

Desde a finalização do diagnóstico, em junho, o IDIS tem trabalhado no desenho da continuidade do projeto, que prevê a capacitação de equipe da UEA pelos idealizadores das Tecnologias Sociais selecionadas e a implantação piloto em três comunidades de Borba. A UEA será o agente responsável pela replicação das tecnologias em comunidades de outros dois municípios – Nova Olinda do Norte e Itacoatiara – em consonância com suas principais carências e a partir do envolvimento comunitário.

O IDIS atua desde 2011 na promoção do desenvolvimento da Primeira Infância no Amazonas. Em parceria com a Secretaria de Saúde do Amazonas, Fundação Bernard van Leer e Fundação Amazônia Sustentável realizou o Programa Infância Ribeirinha (PIR). Voltado para a melhoria das condições de vida de gestantes e crianças de 0 a 6 anos em comunidades ribeirinhas amazonenses, o PIR inspirou a criação de uma política pública especialmente voltada para a primeira infância. O Programa Primeira Infância Amazonense (PIA) foi sancionado pelo Governo do Estado do Amazonas em março deste ano e está em processo de implantação.

Empresa de energia solar transforma ação em social em incentivo a produtividade

Funcionária da Solar City explica energia solar para estudantes

Funcionária da Solar City explica energia solar para alunos de escola na África

A empresa de energia norte-americana, Solar City, cujo presidente é o empresário Elon Musk, encontrou uma forma inovadora para dar mais energia aos seus funcionários ao levar eletricidade para escolas em países em desenvolvimento.

A SolarCity criou a Fundação GivePower que instala um sistema de iluminação por energia solar em uma escola a cada megawatt de energia que a empresa implanta para seus clientes. Em 2014, a GivePower instalou sistemas de iluminação em 511 escolas na África e na América Central.

E há um bônus para alguns funcionários de melhor desempenho da SolarCity: eles ganham viagens de cinco dias de serviços para instalar o equipamento. A concorrência é dura, pois a SolarCity tem mais de 13 mil funcionários em 80 centros em todo os Estados Unidos e apenas de 10 a 15 são selecionados para cada viagem. Há cerca de quatro viagens por ano.

“Os funcionários realmente se reúnem em torno do significado e do impacto”, diz Hayes Barnard, presidente da fundação.
A Fundação GivePower colabora com outros grupos de ajuda internacional, incluindo o BuildOn, que podem fornecer serviços de tradução e ajudar no gerenciamento da logística.

Ideia do funcionário

Barnard, que entrou na SolarCity há dois anos, diz que sua experiência pessoal ajudando a construir uma escola em um país em desenvolvimento para o BuildOn, o inspirou a sugerir que a Sola City colocasse seu conhecimento de energia solar em prol da causa de iluminação escolar. Eletricidade permite que as crianças estudem mais e que adultos tenham aulas à noite. Isso pode transformar a escola em um centro comunitário.

A SolarCity iniciou seu trabalho social em casos de catástrofe, usando doações da Fundação Musk para construir sistemas de energia solar em áreas devastadas pelo furacão Katrina, no derramamento de petróleo da BP, no desastre nuclear de Fukushima e no furacão Sandy.
De acordo com o Relatório de Impacto do Milênio 2014, os jovens estão interessados em trabalhar para empresas que fornecem oportunidades para que eles que querem ser voluntários.

Lyndon Rive, chefe-executivo da SolarCity, diz que as viagens internacionais têm sido um sucesso com os funcionários, que muitas vezes lhe enviam bilhetes de agradecimento pela experiência, e tem aumentado a retenção de talentos.

Texto extraído de notícia do The Chronicle of Philanthropy: https://philanthropy.com/article/Solar-Companys-Charitable/232453
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Tecnologia de coleta de dados e mapeamento para combater ebola

O número de casos de ebola no ano passado foi o maior desde a descoberta da doença, em 1976. A epidemia começou na República da Guiné e logo se espalhou por países próximos, como Serra Leoa, Libéria e Nigéria, nos quais predominam sistemas de saúde precários.

A situação, no entanto, poderia ter sido muito pior se não fosse pelo uso de uma tecnologia de coleta de dados e mapeamento por parte da Direct Relief, organização norte-americana que entrega remédios e equipamentos médicos em regiões pobres. A iniciativa rendeu à instituição o reconhecimento como uma das dez mais iniciativas mais inovadoras do terceiro setor em 2015.

Acostumada a trabalhar em locais de emergência, a Direct Relief recebeu um pedido do governo da Libéria para mapear o avanço do vírus em uma região com baixíssimo acesso a tecnologia. Saber como a enfermidade estava se espalhando era fundamental para planejar ações e evitar ainda mais mortes.

A OSC distribuiu dispositivos GPS para uma organização liberiana e agrupou informações de outras entidades para elaborar um banco de dados georreferenciado sobre o ebola. Graças aos aparelhos, foi possível detectar a incidência em nível detalhado (casa a casa), mostrar como era o avanço territorial da doença, onde estavam os postos de saúde e para onde era necessário enviar auxílio.

O mapeamento permitiu à Direct Relief fazer um trabalho mais eficiente na entrega dos equipamentos clínicos e medicamentos. Ao mesmo tempo, foi um instrumento de transparência para que os doadores pudessem ver com exatidão para onde estavam indo os recursos que haviam repassado.

A ambulância chegou a tempo?

A chamada big data – coleta massiva de dados – parece ter se tornado uma espécie de mapa do tesouro para quem pretende aumentar a eficiência de suas ações. Afinal, quanto mais se sabe, melhor se pode avaliar se uma atuação está correta ou precisa de ajustes. Produzir informações, no entanto, pode ser muito caro, quase proibitivo para muitas organizações da sociedade civil.

A Acumen – instituição que financia projetos de impacto social em várias partes do mundo – lançou uma nova forma de coleta, barata e com grande capilaridade: o uso de celulares de seus beneficiados, aos quais envia torpedos com perguntas sobre o serviço prestado. Assim, cortou radicalmente o custo de angariar subsídios sobre suas iniciativas. Por isso, foi considerada pela revista Fast Company uma das dez instituições sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015.

A estratégia, batizada de Lean Data Initiative, começou em um projeto que a Acumen financia na Índia, um negócio social que oferece serviços baratos de ambulâncias para milhares de pessoas. O desafio era ter certeza de que o atendimento de urgência estava chegando aos mais pobres.

O pilar dessa tática é o fato de que o acesso a celulares hoje é quase universal. Utilizando instrumentos como SMS e mensagens automáticas de voz, o projeto na Índia conseguiu obter respostas de mil pessoas atendidas – e constatou que, de fato, chegava ao mais carentes.

Organização doa equipamentos de laboratório para promover inovação em saúde

Inovações em saúde dependem basicamente de duas coisas: boas ideias e condições materiais de pesquisa. As primeiras podem aparecer em qualquer lugar do mundo. Já as segundas estão concentradas em um punhado de países. Foi por ampliar esse grupo de beneficiados, e dar equipamentos a cientistas inovadores de países em desenvolvimento, que a organização Seeding Labs está entre as iniciativas mais inovadoras de 2015 destacadas pela revista Fast Company.

Sua estratégia é doar, para centros de pesquisa em nações emergentes, equipamentos de países ricos que estão sendo trocados por outros mais novos. A iniciativa, fundada em 2007 pela norte-americana Nina Dudnik, já encaminhou cerca de U$ 2,2 milhões em maquinário de laboratório para mais de 20 mil estudiosos em 23 mercados, incluindo o  Brasil.

O projeto busca um impacto duplo. Permite inovações em saúde para resolver problemas locais e, também, tenta evitar a fuga de cérebros de países com condições mais precárias para a prática científica ao dar condições materiais para o desenvolvimento local de pesquisas.

A perspectiva é de que a Seeding Labs consiga um impacto ainda maior nos próximos anos: em 2014, a organização fechou uma parceria de U$ 3 milhões com a Usaid, agência norte-americana de apoio ao desenvolvimento internacional.

Fundação transforma segurança na internet em causa filantrópica

O desenvolvimento do automóvel revolucionou o transporte e as cidades, mas exigiu a criação de inúmeras regras para tornar o trânsito mais seguro. Do mesmo modo, a internet está pondo de cabeça para baixo muitos meio de produção e hábitos de consumo, e igualmente requer medidas para garantir a privacidade e a segurança das informações.

Foi com essa premissa que a The William and Flora Hewlett Foundation trouxe para o terceiro setor uma preocupação antes restrita a governos e empresas. Criou uma iniciativa para estudar como proteger a intimidade e os dados nos meios on-line. Por isso, foi considerada uma das dez organizações sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015 pela revista norte-americana Fast Company.

A entidade decidiu dedicar-se ao assunto por avaliar que os setores público e privado atuam no tema de forma fragmentada e têm dificuldade de olhar para além de seus problemas e interesses imediatos. A Fundação Hewlett comprometeu-se a investir US$ 65 milhões para conceber soluções bem planejadas e de longo prazo para as questões trazidas pela popularização dos meios eletrônicos e da internet, combinando esforços dos três setores. Mais que isso, o objetivo é catalisar novos investimentos, ajudando a ampliar a rede de especialistas no tema.

Para Estimular Filantropia, Campanha Coleta Depoimentos de Quem Faz Doações

Falar sobre suas ações sociais é fundamental para estimular uma cultura de doação. Ainda assim, muito pouca gente no Brasil expõe publicamente quanto investe nessa área. Uma nova iniciativa pretende mudar isso. “O que a gente quer é estimular que as pessoas venham à frente, coloquem o rosto e mostrem a organização que escolheram, a causa que escolheram e por que doam”, afirma o coordenador da campanha Doe Mais, Doe Melhor, Ricardo Martins.

O pontapé inicial foi dado em 24 de março, com o lançamento de uma plataforma virtual em que há depoimentos de brasileiros e estrangeiros sobre ações sociais. “São histórias curtas, mas que focam na dinâmica emocional por trás do gesto”, afirma Martins. Ele acrescenta que dispõe de um banco de dados com mais de 100 depoimentos, das quais 60 já estão no site.

A internet foi fundamental para ajudar a encontrar pessoas dispostas a falar sobre seu próprio investimento social. O convite para expor histórias foi postado na comunidade do Facebook “Movimento por uma cultura de doação no Brasil”, que estimula debates e projetos que possam promover esse tipo de filantropia. “O Movimento funciona como uma rede de suporte. Então, quando precisei de histórias, coloquei lá e imediatamente houve respostas”, relata Martins.

A ideia da campanha veio de Leonardo Letelier, fundador da Sitawi Finanças do Bem, organização que desenvolve soluções financeiras que tenham impacto socioambiental. “A impressão do Léo é que as pessoas falam pouco de doação, às vezes, têm vergonha de falar, se sentem um pouco pedantes”, diz o coordenador da campanha. O próprio Martins se envolveu com a Doe Mais, Doe Melhor porque participava da comunidade do Facebook.

A iniciativa é recente, mas os objetivos são ambiciosos. “Começamos a pensar no final do ano passado. Com o lançamento, a gente espera receber muito mais histórias, porque eu tenho certeza que tem muita gente interessada em contar, mas ainda não encontrou o canal”, continua Martins.

Há até a possibilidade de a campanha extrapolar o ambiente virtual e chegar à televisão. “Temos algumas conversas, a possibilidade de gravar o vídeo é grande”, afirma o coordenador. O conceito de uma eventual campanha televisiva já começa a ser desenhado. “Queremos visibilidade pública, mas é difícil falar de frente pra câmera, dar entrevista. Por isso, a ideia é que a gente pegue atores ou atrizes que contem a história em primeira pessoa, mesmo que não seja a deles.”

Por fim, o coordenador ressalta que o importante mesmo não é sobre o que se fala, mas apenas falar: “O ponto não é quanto doa, e sim ter uma causa, uma organização para a qual se doa. A gente achou que divulgar histórias de doação seria a melhor forma de estimular as pessoas a contarem as suas e até viverem as suas”.

 

 

OSCS Brasileiros Ainda Usam Muito Pouco as Novas Tecnologias

O acesso a computadores e internet é quase universal entre as empresas: 97% estão conectadas à rede mundial de computadores, segundo o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br). O quadro nas organizações sociais brasileiras (OSCs), no entanto, é outro. “Cerca de 30% das entidades que pesquisamos nem computador têm”, relatou o pesquisador Fábio Senne, do Cetic.br, em seminário durante a ONG Brasil, evento de responsabilidade social que aconteceu em São Paulo entre 28 e 30 de novembro.

A pesquisa, chamada “TIC – Organizações sem fins lucrativos”, mapeou pela primeira vez a infraestrutura tecnológica de 3.546 entidades sem fins lucrativos. O estudo foi apresentado no “Seminário Web Social – nós somos as ponto org ponto br”, organizado pelo Instituto Doar.

O resultado mostra que muitas organizações passam pelas redes sociais antes de criarem um site próprio. “Entre a conectividade e o uso expressivo ainda resta um longo caminho a trilhar”, disse Senne. Para ele, faltam planos de ação para “trabalhar a capacidade e a habilidades das OSCs” em lidar com a internet.

Um dos usos da rede ainda negligenciados pelas entidades brasileiras é a chamada telefonia voice over internet protocol (VoIP), ou seja, usar a internet para fazer ligações. “É uma maneira ótima de trabalhar em redes e conferências, e é barata”, afirmou Senne.

“As organizações têm dificuldade de se apropriar da tecnologia”, acrescentou o diretor de operações da Associação Telecentro de Informação e Negócio, Valter Cegal. As entidades, destacou, amargam falta de experiência no uso de tecnologia com baixa capacitação de seus funcionários.

Essa carência tem impacto direto na administração das OSCs. “As tecnologias de informação melhoram a gestão, a contabilidade, o marketing, a comunicação e a realização de projetos”, apontou Cegal.

Planejamento

A gestão foi tema de outras duas falas no seminário. O diretor presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), Roberto Barth, apresentou a pesquisa “Planejamento estratégico em ONGs”. O levantamento mostrou que, das 38 entidades pesquisadas, 70% disseram ter feito planejamento estratégico nos últimos dois anos. “Só que se trata mais de pensamento do que de planejamento”, comentou Barth.

É que, justificou, frequentemente o plano até existe, foi escrito, “mas ninguém sabe onde está, não foi nem colocado no site da entidade”. Segundo Barth, as grandes entidades até estão mais avançadas em termos de planejamento, mas as pequenas e médias ainda têm muito a avançar.

A apresentação do consultor Eleno Gonçalves Júnior abordou a necessidade de as OSCs terem superavit. “Não ter fins lucrativos é diferente de ser deficitário”, resumiu.

O principal problema, avalia, são as despesas com a manutenção da estrutura das entidades. “Investidores querem financiar projetos”, ressaltou. Ele criticou a prática das entidades de sempre colocarem um valor de 10% acima do preço do projeto para conseguir recursos para infraestrutura. Não faz sentido trabalhar com um percentual fixo para todas, argumentou. “Tem de abandonar esse paradigma, parece garçom; 10% pode ser muito ou pouco”.

Gonçalves Júnior defendeu que as organizações construam uma relação diferente com os financiadores, baseada principalmente na transparência, para que se possa negociar recursos com eles.

Novas ferramentas

O seminário também serviu para apresentar novas ferramentas tecnológicas que estão à disposição das OSCs. Graziela Tanaka, por exemplo, falou sobre a Change.org, plataforma de abaixo-assinados que ela dirige. “A coleta de assinaturas complementa táticas tradicionais de mobilização e advocacy, além de ajudar a conquistar apoiadores que podem se tornar doadores.”

Outra forma de atrair doações é o crowdfunding, um microfinanciamento de iniciativas. “A ideia é viabilizar projetos com muitas pessoas doando pouco”, explicou o CEO do Mobilize, André Gabriel. Segundo ele, o crowdfunding é muito baseado em uma relação de confiança entre doador e organização, e é preciso uma mobilização constante das entidades para conseguir os recursos de que necessitam.

 

 

Plataforma Virtual Incentiva Transparência e Fortalece Organizações de Sociedade Civil

Dois dos principais desafios das organizações da sociedade civil (OSCs) no País são comunicar-se bem e mostrar-se idônea num ambiente com muitos escândalos envolvendo repasses suspeitos de dinheiro público ao Terceiro Setor. Para enfrentar essas dificuldades, 30 entidades de Santa Catarina, apoiadas pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom), criaram uma plataforma virtual em que as organizações inserem inúmeros dados sobre suas atividades e sua estrutura e o sistema gera automaticamente um relatório de atividades consolidado.

Trata-se do Portal Transparência, lançado em 2010. Seu objetivo é justamente facilitar a comunicação entre as OSCs e a sociedade e estimular as ONGs a aplicarem a si mesmas um rigoroso processo de transparência pública, aprimorando sua gestão.

“Havia uma questão: como mostrar que eram diferentes de outras organizações e que faziam um bom trabalho?”, lembra a coordenadora de projetos do ICom, Renata Pereira Machado, ao falar sobre as motivações da iniciativa.

A resposta não veio facilmente. Foi ainda no Fortalecer, projeto do ICom  para fortalecimento institucional das organizações, que o portal começou a ser gestado. Depois, as entidades passaram 2009 discutindo os parâmetros de funcionamento da plataforma. “Consultamos outros portais e fizemos oficinas para criar os indicadores do site”, conta Renata.

Os indicadores são coletados a partir de uma extensa lista de perguntas a que as organizações devem responder. Dividem-se em quatro eixos: identidade, gestão, resultados e parcerias. “A ideia é que as organizações repensem sua estrutura e atuação enquanto respondem ao questionário. Ele faz com que elas voltem a seus estatutos, levantem seus resultados e mobilizem vários setores internos, como diretoria e coordenadores de projetos”, explica a representante do ICom.

Quem passa pelo trabalhoso processo de inscrição ganha não só um importante instrumento de comunicação, mas também de gestão. Pela plataforma, as organizações conseguem gerar um relatório completo de atividades, inclusive com gráficos e tabelas que facilitam a visualização dos dados.

“Algumas OSCs adotaram o documento do portal como sua publicação oficial, e elas entregam os relatórios para possíveis investidores quando vão buscar recursos”, diz Renata. O site serve, assim, para criar o chamado relatório de atividades consolidado, documento exigido, por exemplo, em inscrições para prêmios ou para prestação de contas em algumas instâncias públicas.

Não é toda entidade que se dispõe a (ou que tem condições de) passar por todas as etapas. Há cerca de 200 organizações que já têm login e senha na plataforma, mas não publicaram suas informações. “Nem todas conseguem levantar dados com facilidade. A rapidez do processo depende muito da estrutura interna da entidade”, constata Renata.

Uma avaliação de impacto realizada pela Fundação Itaú Social apontou que o projeto, de fato, faz diferença. “O estudo mostrou que as organizações que participam têm maior clareza de identidade, melhores processos de governança e gestão e maior quantidade de parceiros”, declara a coordenadora do ICom.

Nacionalização
O Portal Transparência concentrou-se, nos seus dois primeiros anos, em entidades da grande Florianópolis. Isso aconteceu em parte porque o ICom, cuja sede fica na região, faz visitas in loco às organizações inscritas, para ajudá-las a se adequar aos parâmetros da plataforma. Depois desse período, foi iniciado um processo de nacionalização da iniciativa.

Se a distância impossibilita as visitas, a rede virtual apareceu como solução. “Nós criamos um curso à distância com a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), voltado para gestores de ONGs, e que tem como linha mestra os quatro eixos abordados pelo portal”, explica Renata. Além de abordar conceitos teóricos do setor, o trabalho prático é inscrever a OSC na plataforma.

O resultado é que hoje há 70 organizações cadastradas no Portal Transparência. Por participarem da plataforma, recebem o selo “Compromisso com a Transparência”. Renata ressalta que isso não significa que o ICom certifique os participantes, até porque eles são inteiramente responsáveis pelas informações que prestam. O importante é, na verdade, as OSCs terem assumido voluntariamente um compromisso de se mostrarem claramente à sociedade.

Para saber mais, visite o Portal Transparência.