#FórumIDIS: Contexto Brasil: desenvolvimento e filantropia

Conheça os destaques da edição especial do 10º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

A filantropia deve atender às demandas da sociedade e por isso, conhecer bem o contexto, saber ler os cenários político e econômico e identificar os atores envolvidos, em especial suas prioridades e limitações, é tão importante para uma ação verdadeiramente transformadora.

Apresentar esta leitura da atualidade foi a missão dada ao economista e ex-Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, e a Marcia Groszmann, líder de Investimentos para Instituições Financeiras Brasileiras no BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, que participaram do painel de abertura da edição especial do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais 2021, que teve como tema transversal ‘Capital e a Humanidade’ (leia a notícia completa aqui).

Maílson da Nóbrega no 10º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais | Foto: André Porto

O Estado deve equilibrar seu papel no desenvolvimento econômico e social, especialmente em momentos como esse em que ele tem que amparar os segmentos menos favorecidos da sociedade e assegurar o melhor ambiente possível de geração de emprego e renda, dotando o país das condições para aumentar seu potencial de crescimento há sinais animadores de que estamos mudando.

Confira a sessão na íntegra em nosso YouTube:

 

Recursos advindos de privatizações e concessões deveriam ser destinados a iniciativas de impacto social e à criação de Fundos Patrimoniais, geridos pela sociedade civil com amarras que permitem vigilância e favorecem a transparência, contribuindo para a sustentabilidade de causas. Em sua visão, essa é uma agenda importante para ser trabalhada junto ao Poder Executivo e ao Congresso, que acredita, não tem isso como prioridade e tampouco recursos, mas sugere que o assunto seja cada vez mais debatido –  “Hábitos se mudam pelo convencimento, pelo exemplo, pela informação confiável, e este deve ser um trabalho sistemático”.

Marcia Groszmann, líder de Investimentos para Instituições Financeiras Brasileiras no BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento | Foto: André Porto

Além da leitura como especialista, falou também a partir de sua experiência como voluntário no GRAAC – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, que, segundo ele, é um exemplo do poder transformador das organizações da sociedade civil. Destacou também a importância do avanço da Cultura de Doação no Brasil, citando dados da Pesquisa Doação Brasil, que mostrou que em 2020, 66% dos brasileiros fizeram algum tipo de doação. Lembrou que no GRAAC, pelo menos um terço dos recursos vem de doações individuais inferiores a R$ 30/mês. E se as pequenas doações fazem diferença, é preciso também estimular os detentores de grandes fortunas. Para isso, Maílson lembrou a importância de aprimoramos a legislação sobre heranças.

Audiência  no 10º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais | Foto: André Porto

Em relação ao mercado, Maílson e Marcia concordam que empresas podem fazer mais pela sociedade. Maílson lembrou como este setor vem sistematicamente contribuindo para avanços na educação, saúde, e até política, citando iniciativas de formação de jovens lideranças. Marcia enfatizou a agenda ESG como um dos guias para que isso aconteça, e como o tema tem amadurecido no Brasil. Citou em apenas um ano, os fundos de investimento social passaram de 40 para cerca de 100, e que cada vez mais tem sido estabelecidas regras claras para eles – “Os investidores querem ter certeza dos impactos causados por seu dinheiro. Essa sopa de letrinhas veio para ficar”. Sobre a possível resistência para sua consolidação, Maílson destacou que não há volta, lembrando que estamos na era dos stakeholders e que empresas que mirarem apenas o lucro, sem se atentarem a todos seus impactos, não sobreviverão.

Para saber mais sobre cada uma das sessões, leia as matérias sobre cada uma delas. A gravação de todas também está disponível no perfil IDIS_Noticias no YouTube.

O 10º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais aconteceu em 17 de novembro de 2021, no Jockey Club de São Paulo. Esta é uma realização do IDIS, em parceria com o Global Philanthropy Forum e a Charities Aid Foundation, e esta edição teve apoio prata do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, e apoio bronze da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, Instituto Sicoob, Mattos Filho Advogados e Movimento Bem Maior. Esta foi uma edição especial, que aprofundou as conversas iniciadas no evento online realizado em junho do mesmo ano (saiba mais aqui).

IDIS 2020: Catalisador de Iniciativas

Pensar sobre aonde se quer chegar e planejar as atividades e recursos necessários para atingir os objetivos de forma coerente e sustentável é o que recomendamos a todos nossos parceiros, e no IDIS, não poderíamos fazer diferente. Em outubro, iniciamos nosso processo de planejamento estratégico para 2020.

Usando como base o plano trienal, desenvolvido em 2017, envolvemos toda a equipe do IDIS, que olhou para os resultados alcançados e projetos desenvolvidos neste ano, e traçou o plano para concretizar nosso novo posicionamento – IDIS: CATALISADOR DE INICIATIVAS. Por meio dele, reforçamos nosso compromisso com a idealização e o implementação de iniciativas que promovam o Investimento Social Privado no Brasil. Gerar e disseminar conhecimento, influenciar e representar o setor e idealizar, estruturar e implantar projetos próprios, passam a ser, dessa forma, nossos principais pilares de atuação.

Entre os principais projetos para o próximo ano, estão o fortalecimento da cultura de doação, por meio da campanha Descubra Sua Causa; a agenda dos Fundos Patrimoniais, com o avanço do trabalho de advocacy desempenhado na Coalização pelos Fundos Filantrópicos; a valorização da cultura de avaliação; e a promoção de parcerias intra e intersetoriais para a resolução de problemas sociais complexos. Ações específicas serão realizadas também no sentido de qualificar e ampliar a Filantropia Familiar e a Filantropia Comunitária. Seguiremos apoiando iniciativas de famílias, empresas, institutos e ONGs, por meio de atividades de consultoria, em todas as fases de seu investimento – do planejamento estratégico, passando pela gestão das doações, até a avaliação de impacto; e provendo o único Fórum no Brasil destinado exclusivamente a filantropos e investidores sociais.

Aspectos relacionados à comunicação institucional e gestão também foram discutidos. Para dar mais concretude ao novo posicionamento, foi planejada a atualização da marca. Especificamente em relação à sustentabilidade, avançamos no plano de constituição de um Fundo Estruturante, lançado na celebração dos 20 anos do IDIS, em setembro de 2019.

O planejamento, que ainda será validado por nosso Conselho Deliberativo, traça o caminho que seguiremos no próximo ano. Acreditamos na força do investimento social privado para criar um futuro mais justo e solidário, melhorando a vidas das pessoas. Por um 2020 com mais impacto!

Plataforma da Filantropia é lançada no Brasil com apoio do IDIS

Fortalecer as parcerias e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão entre as principais propostas da Plataforma de Filantropia lançada no dia 5 de abril no Brasil. É uma iniciativa global que conecta filantropia a conhecimento e redes para aprofundar a cooperação, alavancar recursos e aumentar o impacto, conectando os ODS a um planejamento de desenvolvimento nacional.

O IDIS participou do lançamento, ao lado de outras personalidades do setor filantrópico no Brasil, e participou ativamente da articulação para o lançamento do projeto. “Queremos apoiar as ações de mapeamento e de engajamento de atores sociais para que incluam na plataforma informações sobre suas iniciativas”, informa Raquel Coimbra, diretora de Projetos do IDIS.

A proposta da Plataforma é reduzir a duplicação de esforços em volta dos ODS, alavancar recursos e fomentar a colaboração entre os participantes, que incluem organizações e fundações filantrópicas, as Nações Unidas e outros parceiros de desenvolvimento, governos, sociedade civil e setor privado (incluindo empreendimentos sociais). A intenção é fornecer aos doadores e beneficiários mais voz no plano nacional para a implementação dos ODS.

“O PNUD Brasil reconhece a liderança das fundações e institutos filantrópicos nos vários segmentos da sociedade, com o desenvolvimento de ações que possuem um papel transformador no país. Estamos confiantes de que o trabalho feito aqui, alinhado com a Agenda 2030, vai se tornar referência no investimento privado e social nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirma Maristela Baioni, coordenadora de programa do PNUD.

As organizações envolvidas no lançamento da Plataforma no Brasil, entre elas o IDIS, vão realizar um ciclo de cinco reuniões que resultará no mapeamento do ecossistema filantrópico brasileiro e na definição dos temas prioritários, regiões e ODS para os investimentos privados e sociais.

A Plataforma já existe no Quênia, Gana, Zâmbia, Indonésia, Colômbia, Estados Unidos e Índia. É liderada pelo PNUD, Rockfeller Philanthropy Advisors e Foundation Center, e apoiada pela Conrad N. Hilton Foundation, Ford Foundation, MasterCard Foundation, Brach Family Charitable Foundation e UN Foundation.

IDIS e Fundação BB lançam projeto que vai beneficiar comunidades do Amazonas

Na manhã do dia 10 de março, o IDIS e a Fundação Banco do Brasil lançaram em Manaus o projeto Tecnologias Sociais no Amazonas (TSA), que tem o apoio da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SUSAM) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Os municípios de Borba, Nova Olinda do Norte e Itacoatiara vão receber tecnologias para o combate e prevenção de problemas nas áreas de saneamento básico, tratamento de água e saúde, beneficiando cerca de 2 mil famílias ribeirinhas e rurais, com foco especial na primeira infância.

“O projeto vem para diminuir carências muito profundas dessas populações, como a necessidade de tratamento da água e de saneamento e também para combater os casos de diarreia e anemia. São questões fundamentais que precisam ser sanadas para a melhoria de vida das famílias e para o bom desenvolvimento das crianças”, afirma a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Tecnologias sociais são soluções desenvolvidas com comunidades locais e que resolvem um determinado problema social. Com o sucesso da iniciativa, outras regiões também poderão ser beneficiadas.
A escolha das tecnologias foi feita a partir de diagnóstico preliminar, realizado com a participação das populações locais, que auxiliaram na identificação das demandas e carências dessas comunidades. As práticas escolhidas já integram o Banco de Tecnologias Sociais (BTS), da Fundação BB, que reúne 850 experiências, capazes de gerar efetiva transformação social.

A comunidade de Axinim, que fica no município de Borba está recebendo entre os dias 20 e 24 de março a Tecnologia Social HB, um método que ajuda na rápida identificação e tratamento da anemia ferropriva (deficiência de ferro no organismo) em alunos das escolas da rede pública de municípios brasileiros.

“A reaplicação dessas tecnologias sociais possibilitará melhorias significativas na qualidade de vidas das populações atendidas. A efetividade da reaplicação poderá ampliar a atuação da Fundação BB para outros municípios com características semelhantes”, declarou João Júnior, gerente de Parcerias Estratégicas, Modelagem de Programas e Projeto da Fundação BB.

O evento de lançamento contou também com a presença do superintendente estadual do Banco do Brasil na Amazônia, Dermilson Garcia, da coordenadora estadual de Saúde da Criança (SUSAN), Katherine Benevides, da médica pediatra, especialista e infectologista, docente da Escola Superior de Ciências da Saúde da UEA, Ana Luisa Pacheco, do secretário de saúde de Itacoatiara, Braz Rodrigues e do secretário de Meio Ambiente de Itacoatiara, Lúcio Barros.

Conheça as iniciativas escolhidas pelo projeto “Tecnologias Sociais no Amazonas”:

HB: Tecnologia Social de Combate à Anemia Ferropriva
Trata-se de um método que ajuda na rápida identificação e tratamento da anemia ferropriva em alunos das escolas da rede pública de municípios brasileiros.

SODIS: Desinfecção solar da água
Por meio de mecanismos sinergéticos [simplificar] de radiação UV-A solar e temperatura, esta técnica trata a água para o consumo neutralizando os microorganismos/ bactérias elementos patogênicos causadores de diarreia e doenças relacionadas.

Banheiro Ecológico: saneamento descentralizado para comunidades ribeirinhas
Tem como objetivo, reduzir a contaminação de recursos hídricos, oferecendo solução de saneamento.

Filantropia em tempos de crise

Logo Fórum 2015O IDIS realizou, em novembro deste ano o IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, cujo tema transversal foi “Filantropia em tempos de crise”. Um tema atual tratado com um olhar diferente. Tivemos um dia inteiro de discussões sobre como investidores sociais podem usar seus recursos e experiências bem sucedidas para ajudar o Brasil a sair fortalecido do difícil momento que está atravessando.  O sucesso do Fórum e a presença de tantos parceiros e pessoas interessadas em fazer o bem só reforça o nosso desejo de trabalhar, cada vez mais, pelo resgate de valores no país.

Veja aqui a opinião de alguns palestrantes.

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A exceção que virou regra

Logo Fórum 2015A diretora -presidente do IDIS, Paula Fabiani, chamou empresários e filantropos para se unirem contra a crise e por um país mais correto e justo. Paula, no seu discurso de boas-vindas ao IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, lembrou que o momento pelo qual passamos requer atenção não apenas pelas questões econômicas, mas pela exposição global de práticas das quais não temos motivos para nos orgulhar. A corrupção endêmica praticamente, é o oposto do que ser quer para o país.

“Hoje a exceção virou regra”, lembrou a presidente, que alertou que os filantropos não podem assistir quietos os agravamentos sociais e as rupturas de valores que estamos presenciando, e que é preciso, mais do que nunca, a união de forças.

 

Assista à mensagem de Paula Fabiani

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IDIS articula apoio de lideranças empresariais brasileiras em carta à ONU

ONG norte-americana Ready Nation envia carta ao Secretário-Geral da ONU, Ban-Ki-moon, pedindo que Primeira Infância tenha espaço próprio nas Metas do Milênio Pós-2015. Lideranças empresariais assinaram a carta, destacando a importância dos cuidados na Primeira Infância para a preparação de uma geração mais saudável e produtiva. O IDIS articulou o apoio de 4 líderes brasileiros que endossaram a carta, junto com outros 47 grandes líderes do mundo todo. Clique aqui para ler a carta.

 

 

Investidores sociais do Amazonas debatem desenvolvimento, doação e filantropia

O IDIS realizou, no dia 29 de maio, o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, reunindo mais de cinquenta participantes que debateram sobre o investimento social privado e políticas públicas, desenvolvimento local, o papel das empresas e as inspirações dos doadores, dentre outros assuntos.

eisamazonas.jpgO Encontro foi realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e contou com a presença de especialistas e filantropos na mesas de debate, dentre os quais Denis Minev, investidor social local; Aristarco Martins Neto, do Grupo Simões; Armando Ennes do Vale, da Whirpool Latin America; Wilson Duarte Alecrim, da Secretaria de Saúde do Governo do Amazonas; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation, Marcos Kisil e Paula Fabiani, do IDIS, e Virgilio Viana e Rhamilly Amud, da FAS.

Encontro de Investidores Sociais do Amazonas é uma iniciativa do IDIS que faz parte do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. Desde 2013, o IDIS realiza três encontros regionais que antecedem o Fórum, e o do Amazonas foi o primeiro de 2014. As duas próximas edições serão no Rio de Janeiro e Cuiabá.

Na edição do Amazonas o IDIS contou com parceria estratégica com o Instituto C&A, parcerias locais com a FIEAM, Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) e a Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller. O IDIS é parte da Aliança Global da Charities Aid Foundation (CAF), apoiando filantropos e investidores sociais nos principais países do mundo.

Assista a um curto vídeo sobre o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas na nossa página do YouTube, clicando aqui.

 

Processo e Resultado

Publicado originalmente na Rede GIFE online, o artigo de Célia Schlithler fala sobre resultados em projetos de investimento social privado. Para a assistente social especialista em formação de grupos e redes sociais, o processo de desenvolvimento desses projetos já é resultado. Leia o artigo completo.

Nem tudo o que conta é contável. Nem tudo o que é contável conta.
(Albert Einstein)

Célia Schlithler*

A preocupação com a demonstração de resultados é assunto recorrente em encontros de profissionais de empresas, institutos e fundações que fazem investimento social. O mesmo acontece quando Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que têm projetos financiados por meio desses investimentos, estão reunidas.

É natural que todo investidor decida onde aplicar seus investimentos baseado nos resultados projetados. Do mesmo modo, a manutenção do investimento está diretamente relacionada aos resultados obtidos. Quando o objetivo de um investimento é o lucro, é fácil aferir os resultados, porque não há dúvida quanto ao que é esperado. Mas, e no caso do investimento social? Como expressar claramente quais são os resultados esperados?

Embora continuem bastante interessados em números, os investidores sociais já sabem que os resultados de projetos sociais nunca são apenas quantitativos. Por este motivo, a definição de indicadores também leva em conta os resultados qualitativos, com a ciência de que a verificação deste tipo de indicador sempre terá um componente subjetivo. O que, aliás, é bastante positivo, pois não se está mensurando a produtividade de robôs ou máquinas (e até eles são operados por seres humanos, o que interfere em seu desempenho).

É fato, também, que os projetos sociais prevêem avaliação ou monitoramento de processo. Entretanto, penso que o que todos nós precisamos entender é que o processo já é resultado.

Há dez anos trabalho com a formação de redes sociais, principalmente as redes de desenvolvimento comunitário, e constato freqüentemente que essa visão sobre o processo ainda não é compartilhada por inúmeras pessoas. As perguntas que me fazem sobre os resultados das redes sempre se referem ao que elas estão realizando e em benefício de quantas pessoas. Sem dúvida estas questões são importantes, pois é essencial que as redes sociais realizem ações colaborativas e projetos coletivos, definidas a partir da contribuição que trarão para o cumprimento dos objetivos da rede os quais, necessariamente, se referem a mudanças sociais.

No entanto, é preciso perceber que o processo de formação de uma rede já é um importantíssimo resultado! Conseguir reunir, e manter unidas, pessoas de diferentes organizações e setores em uma configuração horizontal, multiliderada, participativa e cooperativa é um resultado e tanto. A existência da rede em si provoca, por exemplo, mudanças na qualidade do diálogo entre moradores de uma comunidade e as empresas que dela fazem parte e, também, entre as OSCs e o setor público.

Em vez de reivindicações e, por que não dizer, exigências, decide-se coletivamente o que fazer diante de situações que afetam a todos. As forças existentes na comunidade são potencializadas por meio da união e articulação promovida pela rede. Por conseqüência, ações coletivas e mudanças em políticas públicas são efetivadas, o que poderia demorar anos pelos caminhos “tradicionais”.

Creio que esta mesma visão pode ser compatível com qualquer (bom) projeto social. Em projetos de geração de renda, por exemplo, o resultado no aumento da renda e o impacto na melhoria de qualidade de vida são, obviamente, sempre esperados. No entanto, quem já teve a oportunidade de conversar com moradores de uma comunidade, participantes deste tipo de iniciativa, sabe que raramente é disso que eles falam quando opinam sobre o projeto.

Seus depoimentos falam dos conhecimentos adquiridos, da união da comunidade, da auto-estima resgatada, mesmo quando ainda não houve aumento na renda. Esses resultados fazem parte do processo e são mudanças que permanecerão, pois ninguém poderá tirar o conhecimento adquirido por uma comunidade.

Os projetos de formação para o trabalho de jovens, que incluem a educação integral, também são um ótimo exemplo. Ao longo da formação, os jovens mudam de atitude, passam a ser mais participativos, repensam seus valores, amadurecem. A inserção no mercado de trabalho é apenas um dos resultados que virá depois.

Se considerarmos que o processo é resultado, a própria elaboração dos projetos pode ser mais criteriosa nas escolhas das estratégias e atividades que serão adotadas, de modo a contribuir para um processo muito mais rico para todos os envolvidos.

O Glossário Social do GIFE define impacto social como ”a transformação da realidade de uma comunidade ou região a partir de uma ação planejada, monitorada e avaliada”. E afirma que “só é possível dimensionar o impacto social se a avaliação de resultados detectar que o projeto efetivamente produziu os resultados que pretendia alcançar e afetou a característica da realidade que queria transformar”. Portanto, se o processo for levado em conta com mais atenção, os indicadores de resultados, definidos antes de o projeto ser implantado, serão ampliados.

Quando os financiadores de projetos sociais se apropriarem da visão de que o processo é resultado, certamente haverá muito mais percepção de retorno durante a execução dos projetos. Será possível, também, detectar precocemente que seu investimento não está dando resultados, a tempo de mudar o processo para se obter o impacto esperado em prol do desenvolvimento social.

*Célia R. Belizia Schlithler é assistente social formada pela PUC-SP, com formação e aperfeiçoamento em Coordenação de Grupos Operativos pelo Instituto Pichon-Rivière de São Paulo. De 1998 a 2003, atuou em projetos de formação e desenvolvimento de grupos e redes sociais como consultora de organizações tais como Instituto C&A, GIFE (PTG), Unicef e IDIS.

Desenvolveu também projetos específicos para entidades sociais, como cursos e seminários de capacitação para trabalho em grupo, e assessoria para coordenadores de equipes.

Em 2004, assumiu a coordenação da área de Investimento Social Comunitário do IDIS, organização que empreende projetos de desenvolvimento comunitário e presta consultoria a empresas, onde permaneceu até setembro de 2008, na função de Diretora de Desenvolvimento Comunitário.

Desde outubro de 2008, voltou a atuar como consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades para OSCs, institutos, fundações e empresas. É autora do livro Redes de Desenvolvimento Comunitário – Iniciativas para Transformação Social, da Coleção IDIS de Investimento Social.