Primeira edição do ‘Diálogos do Poder Público com Investidores Sociais’ incentiva o desenvolvimento de parcerias para a solução de desafios nas áreas de Saúde e Desenvolvimento Social

No Brasil, muitas vezes percebemos distanciamento e falta de articulação entre instâncias governamentais e organizações da sociedade civil, em especial os investidores sociais privados. Para contribuir com a transformação dessa realidade, o IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, criou o programa ‘Diálogos do Poder Público com Investidores Sociais’, com o apoio da Fundação José Egydio Setúbal. “Fortalecer a confiança e trabalhar em cooperação são importantes aspectos para o desenvolvimento do país” justifica Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.


A primeira atividade desta primeira edição do ‘Diálogos’, que teve como foco as áreas de Saúde e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, aconteceu no dia 27 de junho e consistiu em um encontro entre representantes do Governo e da Sociedade Civil, incluindo investidores sociais, organizações sem fins lucrativos, especialistas e acadêmicos. Compartilharam seus desafios o Presidente do Fundo Social do Estado de São Paulo, Filipe Sabará, que apresentou o programa Praça da Cidadania, a Secretária Estadual do Desenvolvimento Social, Celia Parnes, e o coordenador de regiões de saúde da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, Dr. Osmar Mikio Moriwaki. Os 50 convidados presentes foram, então, estimulados a identificar sinergias de atuação e gerar propostas para trabalho conjunto. Entre os temas identificados estão a qualificação da cobertura vacinal e a segurança alimentar.

A iniciativa prevê ainda mais 3 etapas. A próxima será um diagnóstico profundo, a ser produzido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir das ideias geradas no encontro inicial. A partir do diagnóstico, será elaborado um plano de ação que permita colocar em prática a solução prevista. “Este programa nasce com a intenção de ser replicado em outras áreas e em outros municípios e estados. A experiência vai gerar aprendizados para que possamos alcançar o impacto que queremos ver” completa Fabiani. Toda a experiência, por fim, será registrada em uma publicação a ser compartilhada com o público.

O evento de lançamento teve apoio institucional do Centro Ruth Cardoso, do GIFE e da Charities Aid Foundation (CAF).

Mosaic Fertilizantes divulga os resultados do Edital da Água, projeto realizado em parceria com o IDIS

Signatária do Pacto Global Brasil, a Mosaic Fertilizantes possui uma agenda de iniciativas de sustentabilidade alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU. Neste contexto desenvolveu, com o apoio técnico do IDIS, o Edital da Água. Por meio da iniciativa, selecionou 10 organizações da sociedade civil e instituições de ensino superior que têm projetos voltados à gestão e disponibilidade de água nos municípios onde a empresa tem atuação. Os prêmios serão destinados à implementação das propostas. Arthur Liacre, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade, acredita que essa ação reforça o compromisso da empresa em apoiar iniciativas que assegurem a disponibilidade de água de qualidade às gerações futuras nas comunidades em que atuamos. “Escolhemos projetos que refletem os valores da Mosaic Fertilizantes em um dos pilares mais importantes: a água. Ficamos positivamente surpresos com a diversidade de propostas, que vão desde ações efetivas até pesquisas para o desenvolvimento de novas soluções”, afirma.

O IDIS foi também o responsável pela gestão do Edital. Apesar da grande especificidade dos requisitos do Edital, mais de quarenta inscrições foram recebidas e avaliadas por um júri de especialistas que contou com a participação de Wilson Cabral, professor associado do Instituto de Tecnologia Aeronáutica e autor do livro “Gestão das águas no Brasil: reflexões, diagnósticos e desafios”, Giuliana Chaves Moreira, pesquisadora associada do Pacific Institute, responsável por pesquisas e análises de gerenciamento corporativo da água no Brasil e Samuel Barrêto, gerente nacional de água do The Nature Conservancy, além de representantes de diversas áreas da empresa. “Acreditamos que a realização de Editais públicos é um processo transparente e democrático para direcionar recursos. Por meio deles, conseguimos criar pontes entre investidores e projetos e ver ideias saindo do papel” avalia Andrea Hanai, gerente responsável pelo projeto no IDIS.

A Mosaic Fertilizantes é uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio combinados. Os vencedores foram anunciados no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. Conheça no site da empresa as organizações contempladas.

Incentivo à Filantropia Comunitária – novos passos de uma jornada

Desde sua fundação, em 1999, a Filantropia Comunitária é um tema caro ao IDIS e considerado prioritário para a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. Em parceria com outras organizações e investidores sociais, temos atuado no sentido de promover um movimento de incentivo à prática no Brasil.

Neste ano, somamos a esta trajetória um novo marco – o lançamento da publicação ‘FILANTROPIA COMUNITÁRIA: Terreno fértil para o Desenvolvimento Social’, fruto de um estudo realizado com o apoio da Mott Foundation e que traz detalhes sobre o processo de mapeamento de organizações comunitárias, os resultados da pesquisa e ideias de estratégias para fortalecer o movimento no Brasil. A publicação, já disponível no site do IDIS, foi lançada no dia 31 de maio em São Paulo, na presença de Nick Deychakiwsky e Carlos Rios-Santiago, Diretores de Programas na Mott Foundation, cuja visita teve por objetivo dar continuidade ao processo de fortalecimento do tema no Brasil e de aproximar os investidores sociais do conceito de Filantropia Comunitária.

Durante sua estadia no país, Nick e Carlos visitaram organizações voltadas ao fortalecimento de comunidades locais. Acompanhados por Raquel Altemani, gerente de projetos no IDIS, os representantes da Mott Foundation tiveram a oportunidade de conhecer de perto o trabalho desempenhado pela Fundação Urbe9 (em Campinas-SP), IBEAC – Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário e Fundação ABH (ambas no município de São Paulo), ICOM – Instituto Comunitário da Grande Florianópolis (em Florianópolis) e Redes da Maré (no Rio de janeiro). Além disso, também foram realizados encontros com organizações que trabalham pelo desenvolvimento da Filantropia no país, como o GIFE, WINGS e a Rede de Filantropia para a Justiça Social.

A visita também inclui um encontro entre investidores sociais e a fundação americana. Nick descreveu o conceito de Fundações Comunitárias, apresentando o trabalho da Mott e seu interesse em implementar esse modelo de organização ao Brasil. Em seguida, Raquel Altemani comentou sobre os resultados e insights adquiridos ao longo da pesquisa de mapeamento de organizações comunitárias no Estado de São Paulo em 2018, estimulando o debate e o compartilhamento de percepções entre os investidores sociais.

Tivemos também o prazer de participar do evento Expandindo e Fortalecendo a Filantropia Comunitária no Brasil, organizado pela Rede de Filantropia para a Justiça Social. Foi um dia dedicado à troca de experiências entre fundações, institutos e organizações comunitárias, e mais um passo para a consolidação do tema no Brasil. Nessa ocasião, integramos o painel “Pesquisas e Tendências da Filantropia Comunitária no Brasil”, no qual apresentamos nossa experiência com a Mott Foundation. Além disso, pudemos aprender com a visão internacional de Jenny Hodgson, Diretora Executiva do Global Fund for Community Foundations, sobre experiências de Filantropia Comunitária ao redor do mundo, e com a perspectiva de representantes de organizações comunitárias no Brasil – como a Associação Indígena da Comunidade Kisêdjê, Caranguejo Uçá, Instituto Baixada, Rede de Bancos Comunitários da Bahia, Casa Fluminense, ICOM – e representantes de fundações e associações no Brasil comprometidas com o apoio a organizações comunitárias. Dessa forma, as iniciativas e a mobilização de atores engajados no campo da Filantropia Comunitária refletem a relevância do tema não só para a agenda do IDIS, mas para o desenvolvimento do país como um todo.

Participantes do Programa de Fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil comentam questões relacionadas a planejamento estratégico, captação de recursos e parcerias

A atuação das organizações da sociedade civil é fundamental no Brasil. Apesar da grande competência e conhecimento das causas e localidades nas quais atuam, o segmento tem desafios relacionados à estrutura e gestão, que interferem em sua capacidade de gerar impactos de longo prazo e no acesso a recursos. Foi a partir dessa necessidade que a Charities Aid Foundation (CAF), o IDIS e o Consulado Geral dos EUA em São Paulo se reuniram para criar o Programa de Fortalecimento de Organizações da Sociedade Civil. Por meio de capacitação presencial e uma série de capacitações on-line, o programa, implementado em junho de 2018, teve como objetivo desenvolver três competências em organizações sem fins lucrativos de pequeno a médio porte com atuação na região metropolitana de São Paulo: (1) Planejamento estratégico; (2) Captação de recursos (tanto no Brasil quanto nos EUA para o Brasil); e (3) Formação e participação em parcerias intersetoriais.

Um ano após a conclusão do programa, dezoito dos vinte participantes se disponibilizaram a responder a uma pesquisa para identificar como as organizações evoluíram em relação aos itens abordados ao longo do curso. Entre os entrevistados, quando questionados sobre planejamento estratégico, 72% indicaram que o tema se tornou mais relevante em suas organizações. O mesmo percentual indicou que no último ano houve uma revisão no portfólio de programas e projetos realizados por meio de metodologias formais de análise. Em relação a parcerias, apenas uma organização disse não ter feito contatos no último ano. A percepção sobre captação de recursos foi também positiva – 13 organizações disseram que o volume de recursos de terceiros aumentou no último ano, proveniente, principalmente, de investidores locais. O acesso a recursos estrangeiros mostrou-se o maior desafio, com 56% dos respondentes indicando não ter feito nenhum contato com investidores de fora do Brasil. “Saber como os temas abordados na capacitação reverberam no mundo real é essencial para nosso trabalho. É certo que não podemos afirmar que as conquistas são resultado unicamente do Programa de Fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil, mas as percepções que identificamos nas conversas nos traz insumos para sermos cada vez mais assertivos e relevantes em nossas iniciativas”, comenta Andréa Hanai, gerente de projetos no IDIS responsável pela condução do processo.

Leia também: IDIS, CONSULADO DOS EUA EM SÃO PAULO E CAF AMERICA REALIZAM DOIS DIAS DE TREINAMENTOS PARA ONGS

IDIS oferece capacitação em Captação de Recursos

 

Aconteceu em maio a oficina de capacitação em captação de recursos aos finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social, iniciativa da Folha de São Paulo. Oferecida pelo IDIS, tem o objetivo de fortalecer os projetos e trazer uma visão estratégica a esta área tão relevante para a sustentabilidade das organizações. Estiveram presentes representantes do Mapa Educação, Fast Food da Política, Vai de Courri, Editora Mol e Simbiose Social.

O IDIS é parceiro do Prêmio Empreendedor Social, promovido também pela Fundação Schwab, que busca selecionar, premiar e fomentar os líderes socioambientais mais empreendedores do Brasil, que desenvolvam iniciativas inovadoras, sustentáveis e com impacto socioambiental positivo.

Todos os participantes avaliaram muito bem a capacitação e ao serem perguntados sobre o que mais lhes agradou, afirmaram ser os conceitos abordados, as dicas práticas e a condução da aula.

E quando questionados sobre o que não gostaram, todos disseram que lamentaram que o treinamento tivesse curta duração porque queriam permanecer mais tempo para se aprofundar nos conteúdos.

Além da capacitação, o IDIS oferece para os vencedores a oportunidade de apresentarem seus projetos e organizações no Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em uma plenária exclusiva.

O IDIS parabeniza a todos os vencedores e finalistas desse prêmio, assim como a Folha de S.Paulo e Fundação Schwab pela iniciativa!

Capacitação em Captação de Recursos é sucesso

Aconteceu em maio a oficina de capacitação em captação de recursos aos finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social, iniciativa da Folha de São Paulo. Oferecida pelo IDIS, tem o objetivo de fortalecer os projetos e trazer uma visão estratégica a esta área tão relevante para a sustentabilidade das organizações. Estiveram presentes representantes do Mapa Educação, Fast Food da Política, Vai de Courri, Editora Mol e Simbiose Social.

O IDIS é parceiro do Prêmio Empreendedor Social, promovido também pela Fundação Schwab, que busca selecionar, premiar e fomentar os líderes socioambientais mais empreendedores do Brasil, que desenvolvam iniciativas inovadoras, sustentáveis e com impacto socioambiental positivo.

Todos os participantes avaliaram muito bem a capacitação e ao serem perguntados sobre o que mais lhes agradou, afirmaram ser os conceitos abordados, as dicas práticas e a condução da aula.

E quando questionados sobre o que não gostaram, todos disseram que lamentaram que o treinamento tivesse curta duração porque queriam permanecer mais tempo para se aprofundar nos conteúdos.

Além da capacitação, o IDIS oferece para os vencedores a oportunidade de apresentarem seus projetos e organizações no Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em uma plenária exclusiva.

O IDIS parabeniza a todos os vencedores e finalistas desse prêmio, assim como a Folha de S.Paulo e Fundação Schwab pela iniciativa!

Terceira edição do programa RenovAção anuncia vencedores

Em 1974, um grupo de professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP) foi para o Campo Limpo – um dos bairros mais pobres e violentos da cidade – levar recreação e aulas de reforço escolar para as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As atividades eram ao ar livre, geralmente em uma rua fechada ao trânsito de carros. Era inverno e a garotada usava touca para se proteger do frio.

Assim, surgiu o nome Turma Touca, uma das duas organizações vencedoras do programa RenovAção, promovido pelo Instituto Cyrela com apoio técnico do IDIS. Realizado anualmente, a iniciativa premia, com o financiamento de reformas e construções, as entidades que desenvolvem importantes ações sociais. Em sua terceira edição, o RenovAção recebeu 91 inscrições dos três municípios contemplados pelo edital – São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A outra vencedora foi o Centro de Assistência e Promoção Social (CAPS) Nosso Lar, também de São Paulo, que atende por dia cerca de 4,2 mil moradores da capital paulista com idade de 0 a 59 anos.

O projeto premiado da Turma da Touca é a ampliação de uma sala para a construção de um fraldário, nos parâmetros da norma Padrões Básicos de Qualidade da Educação Infantil Paulistana, da Prefeitura de São Paulo. A instituição quer oferecer atendimento a 36 bebês de 1 a 2 anos. A reforma visa adequar o espaço para a faixa etária, qualificando o acolhimento. A organização atende ainda jovens e adultos em projetos de inclusão social e promoção de cultura. Sua missão é resgatar a cidadania, a dignidade e a melhoria da vida da criança, do jovem e do adulto da periferia de São Paulo com a certeza de que a solidariedade faz a diferença.

Atuar na comunidade com pessoas em situação de vulnerabilidade social também é o trabalho realizado pelo CAPS Nosso Lar, fundado no ano de 1991 e que atualmente possui 24 unidades de atendimento na zona leste de São Paulo. Uma dessas unidades é o Centro Nosso Lar de Educação Profissional (CENLEP) que oferece formação para 600 jovens e adultos. O projeto premiado pelo Instituto Cyrela vai implantar um sistema de refrigeração em três laboratórios de informática e na sala de multimídia, com o intuito de reduzir a manutenção e a reposição dos computadores por conta de superaquecimento e proporcionar maior conforto aos alunos do centro.

“Ter sido contemplada por esse edital vai possibilitar fortalecer nossas ações junto à comunidade local. Sensibilizados com a carência de vagas e ao encontro de nossa missão – mesmo sabendo que não é de nossa responsabilidade o controle de vagas – é dever da nossa instituição contribuir com a redução da enorme demanda de berçário em nossa região. Agradecemos ao IDIS e ao Instituto Cyrela por escolherem com responsabilidade o nosso projeto”, declara Sheila Brunelli, gerente geral da Turma da Touca.

26Desde a primeira edição do programa RenovAção, o IDIS é o responsável pela elaboração do regulamento, pelo recebimento das inscrições e pela organização da banca examinadora de seleção dos finalistas e ainda pelo monitoramento da aplicação do recurso recebido pelas organizações vencedoras. Os projetos vencedores devem iniciar os trabalhos de melhoria de infraestrutura a partir do mês de agosto.

Diminuição do índice de anemia em Borba-AM repercute na mídia

O projeto Tecnologias Sociais no Amazonas (TSA) foi tema de três reportagens na mídia por conta dos resultados positivos: houve queda no índice de anemia ferropriva entre os alunos da Escola Municipal Francisco Bezerra, localizada na comunidade de Axinim, no município de Borba-AM, após a aplicação da Tecnologia Social Hb.

No dia 28 de junho, a gerente de projetos do IDIS, Andrea Hanai, contou à rádio CBN Amazonas como foi o processo de implantação da Hb em Borba. Desde o diagnóstico realizado pelo IDIS em 2016, que resultou na concepção do projeto, incluindo a importante parceria com o poder público local, passando pelo envolvimento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) durante os três meses de tratamento das crianças. A entrevista foi ao ar no programa Estação de Notícias.

Esses primeiros resultados do TSA também foram destaque no jornal “A Crítica”, um dos mais importantes do estado, em matéria publicada no dia 11 de julho; e no programa Nacional Jovem da Rádio Nacional da Amazônia, no dia 6 de julho.

Confira a repercussão na CBN Manaus e no jornal A Crítica:

https://www.youtube.com/watch?v=mwbKIoGGcEY
http://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/problemas-de-familias-ribeirinhas-podem-ser-resolvidos-com-tecnologia-social-diz-projeto-da-fbb

Evento apoiado pelo IDIS discutiu a criação de endowments para a área cultural

BNDES

 

Nos anos 90, em meio a um processo de privatizações das empresas públicas, a República Tcheca destinou 1% dos recursos gerados para o estabelecimento de um fundo nacional que financiou a formação de endowments – fundos patrimoniais permanentes – de 73 fundações no país. O fundo patrimonial do Museu do Louvre soma hoje US$ 230 milhões reunidos apenas nos últimos sete anos. O Metropolitan Museum of Art de Nova York possui um fundo patrimonial de US$ 2,7 bilhões investido hoje no mercado financeiro.

Exemplos como esses inspiram uma mudança no meio cultural, empresarial e do mercado financeiro brasileiro. Com esse intuito foi realizado o I Fórum Internacional de Endowments Culturais, apresentado pelo BNDES, criado e realizado pela Levisky Negócios e Cultura em parceria estratégica com a Edelman Significa e com apoio do IDIS e do escritório de advocacia PLKC.

“No Brasil, a criação de fundos patrimoniais é importante para promover a sustentabilidade no longo prazo das organizações da sociedade civil. Um dos obstáculos para a disseminação do endowment é a falta de uma legislação específica que facilite sua criação e de incentivos fiscais. O IDIS lidera uma iniciativa de advocacy, trabalhando em rede para promover o desenvolvimento dos fundos patrimoniais no país”, informa a diretora presidente do IDIS, Paula Fabiani.

O Fórum foi realizado nos dias 17 e 18 de novembro no Rio de Janeiro e reuniu representantes do mercado financeiro, governos, gestores de importantes equipamentos públicos e estudiosos para debater como o Brasil pode entrar no ciclo virtuoso dos fundos patrimoniais de longo prazo para a área cultural. Eles participaram de um debate precedido de apresentação de um estudo realizado especialmente para o evento.

Por meio de entrevistas com importantes atores desse mercado, consultoria jurídica e coletas de dados secundários, o estudo apontou algumas questões como, por exemplo, a insegurança do mercado quanto à transparência da gestão das instituições culturais e o medo de se associar a um equipamento que está em constante crise. Por outro lado, o diagnóstico apontou que há compreensão da urgência na formação desses fundos e uma expectativa de que eles contribuam para o melhor planejamento e gestão das instituições.

Foi apresentado ainda o cenário da situação brasileira do ponto de vista jurídico e financeiro. A atual legislação já permite a formação de endowments para instituições particulares, mas não públicas. Daí a proliferação de associações de amigos e outros que permitem essa captação. Fica clara a necessidade de um ambiente legal mais seguro, mas também a preocupação em não engessar o processo. Já existem dois projetos de lei tramitando no Congresso que precisam entrar na pauta para posterior votação.

O Fórum apontou ainda algumas recomendações relacionadas aos temas da cultura de doação; governança; diversificação das fontes de recursos; regulação e tributação com o intuito de facilitar a criação dos fundos patrimoniais – além de sugerir um passo a passo para a sua estruturação.

“Essa é uma agenda importante para o BNDES. Devemos evoluir do modelo atual de dependência do governo ou de patrocinadores institucionais para um formato mais autossustentável, no qual as instituições busquem incrementar a geração de receitas próprias (de bilheteria, venda de produtos, prestação de serviços) e a atração de novos recursos. O endowment é um modelo consagrado em outros países e pode, com a devida governança, atrair inclusive recursos internacionais de filantropia para o país”, disse a presidenta do BNDES, Maria Silvia Marques.

Segundo Ricardo Levisky, idealizador do evento, a gestão cultural no Brasil ainda se organiza por um raciocínio de curto prazo, dependente da sazonalidade de incentivos públicos e privados que garantam a sobrevida de suas instituições. “Buscamos com esse movimento engajar todos os atores envolvidos no processo e efetivamente elaborar o caminho para a constituição de endowments, que podem assegurar a sustentabilidade financeira e excelência das nossas instituições culturais e artísticas, não apenas no presente, mas também como um legado”, afirma.

O I Fórum Internacional de Endowments Culturais teve patrocínio do BNDES, da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal.

Sobre Endowments

Muito difundida no exterior, a prática de criar e gerir fundos patrimoniais permanentes para garantir a sustentabilidade financeira a longo prazo de instituições culturais ainda é rara no Brasil. Nos Estados Unidos é uma realidade e é responsável por parte do financiamento de atividades de equipamentos como a Smithsonian Institution (Washington), a Art Institute of Chicago ou a Boston Symphony Orchestra. Na Inglaterra e na Itália, por exemplo parte dos recursos levantados pela loteria é destinado para fundos de endowment. Outros fundos são criados por doações particulares, de empresas e até dentro de processos de privatização, entre outras fontes de recursos que a pesquisa apontará.

Os endowments têm recursos próprios e são geridos como os fundos de investimento disponíveis no mercado financeiro e dentro das regras legais de mensalmente para a instituição para ajudar na sua manutenção e desenvolvimento de projetos, dentro de um limite predefinido. E o principal do fundo é preservado, sem retiradas, salvo alguma exceção.

Um grande encontro para grandes questões

Por Paula Fabiani, presidente do IDIS

Levamos ao Global Philanthropy Forum uma delegação de doze brasileiros, a maior presente, e trouxemos os principais desafios e tendências do maior encontro mundial de filantropia.

Delegação Brasileira no GPF15

Delegação brasileira no GPF15

A delegação organizada pelo IDIS em parceria com o GIFE levou um importante grupo de brasileiros envolvidos com o investimento social no País para ouvir e compartilhar nossas experiências com filantropos do mundo todo.

“Quando um mundo sem pobreza vai deixar de ser um sonho para começar a ser um projeto?”. Com esta pergunta, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, abriu a 13ª edição do Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em Washington, EUA, entre os dias 22 e 24 de abril. A questão colocada pelo médico e antropologista sul-coreano, que está ao comando do Banco desde 2012, transmite a inquietação daqueles que buscam a solução para os grandes problemas sociais e veem seus esforços se diluírem em uma realidade persistentemente desigual.

Os que participaram do GPF – entre eles, três representantes do IDIS – tiveram a oportunidade de assistir a muitas palestras, depoimentos e debates ricos em conteúdo e questionamentos. Registro aqui algumas das mensagens mais significativas do evento, que representam tendências e desafios da filantropia global.

 

Desafio: Precisamos aprender a usar o imenso potencial transformador da internet.

Tendência: “A mudança geracional é grande e só quem entende das novas gerações é a nova geração” – Hadeel Ibrahim, diretora executiva da Mo Ibrahim Foundation.

Alerta: “O alto retorno no capital versus o baixo retorno do trabalho está intensificando a desigualdade social”  Sean Cleary, chairman de Conceitos Estratégicos da Future World Foundation.

Desafio: “Sustentabilidade não é uma maneira de mitigar riscos mas de aumentar os negócios, se colocada como central na condução das atividades da empresa” – Alessandro Carlucci, ex-CEO da Natura.

Alerta: “Onde você tiver pobres marginalizados, pessoas marginalizadas, você terá uma oportunidade para a escravidão”  Stella Dawson, responsável pela área de Governança e Anticorrupção da Thomson Reuters Foundation.

Desafio: As cadeias terceirizadas de produção tornam difícil chegar até quem está na ponta final. O trabalho infantil ainda atinge mais de 2 milhões de crianças no mundo todo e as empresas precisam se comprometer com esse controle.

Tendência: “Que tal lançar um selo ‘produto livre de conflito’?” – Justin Dillon, CEO da Made in a Free World.

Tendência: “Somos pobres pela forma como conduzimos nosso país e administramos nossos recursos… Como mudar isso? Melhorando o governo!” – Mo Ibrahim, fundador e CEO da Mo Ibrahim Foundation, filantropo e empresário que abandonou seu país natal, o Sudão, para progredir nos negócios. Criou um índice para avaliar a qualidade dos governos africanos.

Tendência: “A filantropia tem de parar de evitar o governo. Em vez disso, precisa colaborar com ele para aumentar a capacidade dele de solução dos problemas” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

Desafio: “Precisamos fazer da democracia mais do que apenas eleições. Precisamos conseguir monitorar e avaliar os eleitos” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

 

Vale mencionar a última sessão do evento com Peggy Dulany, filha do filantropo David Rockefeller, que morou e fez vários projetos no Brasil. Peggy reforça a importância de consultar os beneficiários, de buscar a solução dos problemas de forma coletiva. E também a atuação de Jane Wales, a incrível condutora deste evento, que consegue juntar nomes tão importante como Jim Yong Kim, do Banco Mundial, e Tony Blair, ex-primeiro ministro da Inglaterra, e que inicia e finaliza o fórum ressaltando que precisamos de todos para realizar a transformação social que buscamos (“it takes us all”): o setor sem fins lucrativos, o governo e o setor privado. O Brasil já possui modelos interessantes de parceria entre os setores, mas como levar à escala estas soluções ainda é uma questão que partilhamos com outros ao redor do mundo.

O GPF inspirou e trouxe conexões com investidores sociais de todo o mundo, com muitas oportunidades de interação e networking, como o “Speed Networking”, uma sessão na qual a cada 6 minutos conversamos com um participante diferente. As experiências musicais ao longo do evento também nos trouxeram mais sensibilidade para conectar com os outros e com os problemas de outras realidades.

As palestras e as histórias nos fizeram pensar como conduzimos nossas ações no Brasil. Além disso, reforçou a importância de refletir sobre qual nosso papel na filantropia global. O País possui um grande potencial de se tornar um celeiro de inovação social, pois possui problemas socioambientais de grande envergadura e a infraestrutura filantrópica para buscar soluções a estes problemas. Construir as parcerias necessárias é o ponto de partida para colocar o Brasil na liderança da filantropia dos países emergentes.

Quem quiser saber mais pode assistir aos vídeos em http://philanthropyforum.org/talks.

 

Membros da delegação brasileira no Global Philanthropy Forum 2015

  1. Adriana Norte – Instituto Estre
  2. Ana Carolina Velasco – GIFE
  3. Antônio Florence – Florence & Advogados
  4. Helena Monteiro – WINGS
  5. Izabel Toro – Editora FTD
  6. Juliana Ramalho – Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados
  7. Marcos Kisil – IDIS
  8. Paula Fabiani – IDIS
  9. Rafael Gioielli – Instituto Votorantim
  10. Raquel Coimbra – IDIS
  11. Vinícios M. Malfatti – Instituto Lojas Renner
  12. Virgílio Vianna – Fundação Amazonas Sustentável

 

 

 

Presidente do IDIS participa de debate sobre Primeira Infância na Dinamarca

Paula Fabiani, presidente do IDIS, participará de um debate sobre Financiamento de Impacto para o Desenvolvimento da Primeira Infância em Billund, Dinamarca. O evento é organizado pelo Center for Universal Education (organização voltada para a melhoria na qualidade da educação oferecida nos países em desenvolvimento).

O objetivo é reunir um grupo diversificado de participantes a fim de debater sobre o potencial de Financiamentos de Impacto Sociais e de Desenvolvimento (Social Bonds) no combate aos problemas de países em desenvolvimento, focados especialmente na Primeira Infância.

Fabiani apresentará o projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), conduzido no Amazonas pelo IDIS em conjunto com a Secretaria de Saúde do Amazonas (SUSAM) e a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e financiamento da Fundação Bernard van Leer. O PIR criou um modelo de promoção ao desenvolvimento na Primeira Infância por meio da visita domiciliar do agente comunitário de saúde, e agora, após realização de piloto em 19 comunidades ribeirinhas pertencentes à Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, procura transpor o modelo para todo o estado do Amazonas por meio da criação de uma política pública.

Programas de Desenvolvimento da Primeira Infância cobrem serviços oferecidos durante a gravidez e os primeiros anos de vida das crianças nas áreas de saúde, nutrição, orientação a pais e proteção social. Tais projetos são extremamente efetivos porque seus impactos favoráveis se estendem por toda a vida adulta, quando bem implementados.

Para saber mais sobre o PIR, assista ao vídeo.

O advocacy como ação fundamental para fortalecer a democracia

Governos de vários países têm limitado a influência das organizações da sociedade civil sobre as políticas públicas. Um dos argumentos é de que o advocacy minaria a democracia, pois as entidades não respondem aos eleitores e, por isso, não teriam legitimidade para negociar com representantes eleitos. Na verdade, porém, a ação das OSCs tem exatamente o efeito contrário: ajuda a fortalecer o sistema democrático, principalmente como instrumento de voz para minorias.

Este é o argumento que o especialista em políticas internacionais Adam Pickering, da britânica Charities Aid Foundation, desenvolve no artigo “Is advocacy and campaigning by not-for-profits undemocratic?”. O texto, publicado no site do Future World Giving – iniciativa da CAF que mapeia oportunidades de fortalecimento do investimento social privado nos próximos anos –, repercute uma pesquisa que demonstrou justamente o avanço de medidas para cercear a ação das OSCs.

Pickering escreve que, ao contrário dos argumentos de vários governos, a atividade de organizações da sociedade civil não é algo novo nem inconsistente com a democracia. Ele lembra diversas campanhas humanitárias, inclusive internacionais, que ocorreram no século XIX, como as que lutaram pela abolição da escravatura. Ou seja, mesmo o fenômeno das organizações de alcance mundial está longe de ser um fruto exclusivo da globalização das últimas décadas.

O autor escreve ainda que, ao contrário de ser uma ameaça à democracia, as OSCs são um fruto deste sistema. “Com o surgimento da esfera pública, desenvolveu-se uma mídia livre e crítica, bem como organizações sem fins lucrativos; por isso, é justo dizer que o advocacy destas últimas é mais responsável por criar do que por minar aquilo que pensamos ser um governo democrático”, defende.

O especialista ressalta que a democracia eleitoral, por ser naturalmente uma imposição da maioria, “não necessariamente representa os direitos e necessidades das minorias”. E acrescenta: “A sociedade civil e, particularmente, o advocacy das organizações sem fins lucrativos têm um papel vital na representação dos marginalizados e em contrabalancear a tirania da maioria”. Pickering rebate, então, a ideia de que estaria havendo uma transferência de poder dos governos para as organizações, como se “a relação entre ambos fosse de soma zero”.

Para o articulista, retomar o uso da palavra “política” ajudaria a melhorar a visão que se tem das OSCs. “Muitas vezes, o termo ‘atividade política’ é usado de maneira pejorativa, mas as organizações são, sempre foram e deveriam continuar a ser políticas”, afirma.

Ainda assim, o autor termina seu texto com uma nota realista, pedindo mais regulação sobre a partidarização das atividades das OSCs, pois “claramente, a situação na qual uma organização se engaja no apoio a partidos e candidatos é inconsistente com o que consideramos filantropia”.

ONU ressalta importância do ISP para metas de desenvolvimento

O prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) está acabando! Os ODM são uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Dois mil e quinze era o prazo limite e, ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo Philantropy as an emerging contributor to development cooperation, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

O próprio investidor se beneficia da cooperação. “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de U$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a Aids, malaria e outras doenças, que recebeu em torno de U$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é sobre como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo, e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de ISP brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

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Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

Encontro internacional de investidores sociais aliou inovação social e histórias emocionantes

Tecnologia e estratégias ousadas estão revolucionando a forma como investidores sociais privados alavancam seus recursos para atingir resultados transformadores. A boa e velha emoção, porém, continua sendo uma excelente força motivadora para os filantropos.

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, mas sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu palestrantes brasileiros e estrangeiros.

Logo na apresentação, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, afirmou que “a criatividade é um ato individual que exige imaginação, já a inovação é coletiva e demanda transpiração”. Disse que a programação havia sido montada para inspirar reflexão e transformação, de modo que os presentes pensassem “fora da caixa”.

O fórum, cujo objetivo era discutir inovação, começou, no entanto, com o coração. A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país.

Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que também expôs as razões pessoais que a fizeram enveredar pelo trabalho social: os problemas de saúde de seu filho.

Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

Se abriu dando espaço à emoção, o fórum fechou mergulhando na inovação. O professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia.

Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon.

Recheando o evento, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do END Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

Ellen, por exemplo, afirmou que a “filantropia fornece o capital de risco necessário para a inovação, criando projetos pilotos que possam ser adotados por governos”. Já Pollara falou sobre a reorganização hospitalar do estado de São Paulo, que tem no IDIS um parceiro para inovar em uma das áreas mais antigas da filantropia brasileira: criar novos métodos de captação para as santas-casas.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do ISP comunitário, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando vencerão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

Um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”, conduzida por Paula Fabiani. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres.

A filantropia, disse Peter Buffet, “é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, contou sua aproximação com o investimento social privado: “Meu pai trabalhou na mesma entidade, e isso foi uma das grandes heranças que ele me deixou”.

Já as falas da norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions, emocionaram o público. Vinda de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola, contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais.

“Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, jovens falam muito sobre isso. Mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

Filantropia luta por um mundo em que ela não seja necessária, diz Peter Buffet

Filho do bilionário Warren Buffet, um dos maiores filantropos do mundo, Peter Buffet tornou-se ele mesmo um grande investidor na área ao receber US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em causas sociais. Com a experiência de sua própria atuação, e da atuação de seus familiares, ele sugere que a filantropia se assenta sobre um paradoxo: trabalha para melhorar o mundo, mas “o melhor mundo seria aquele no qual a filantropia não fosse necessária”, disse ele durante evento promovido pelo IDIS em São Paulo.

O norte-americano, presidente da NoVo Foundation, foi um dos participantes da mesa “Em conversa com…”, uma espécie de bate-papo com investidores sociais durante o 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em 6 de novembro.

Em videoconferência com a diretora-executiva da Worldwide Initiatives for Grantmaking Support (Wings), Helena Monteiro, Buffet afirmou que a ação social “dá um propósito à vida” e que, mesmo que o US$ 1 bilhão doado por seu pai não tivesse obrigatoriamente de ir para a filantropia, alocaria para essa área mesmo assim. “Eu teria feito a mesma coisa, tenho sorte de ter dinheiro e sinto que não preciso de mais”.

Ainda assim, reforçou: “o melhor seria se nada disso existisse. Quero um mundo em que eu não tenha de estar nessa posição de investidor social, e é preciso se lembrar disso”.

O empresário também mostrou uma perspectiva pouco comum ao tratar de um dos temas candentes no setor: a medição de impacto. O bilionário concordou que avaliar os efeitos de um projeto é muito importante, mas destacou que frequentemente programas sociais têm seu próprio prazo. “Falo para as pessoas que trabalham comigo que elas podem estar mortas antes de terem resultados tangíveis.”

Emoção

A segunda parte da mesa “Em conversa com…” foi também a mais emocionante do fórum. Regina Helena Scripilliti Velloso, presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, e Swanee Hunt, presidente da Hunt Initiatives – organização que destinou, desde 1981, mais de US$ 130 milhões para a filantropia –, contaram como se envolveram com trabalhos sociais.
“Meu pai trabalhou na AACD, e essa foi a herança que ele me deixou”, afirmou Regina. Não foi algo forçado. Ao contrário, quando ela mostrou interesse, ele logo alertou: “Quem vai lá ou se apaixona ou nunca mais volta”.

Swanee veio de um ambiente bem diferente. Filha de um agricultor pobre que enriqueceu, seu pai “achava que a contribuição dele era gerar trabalho para os outros”. Ela mesma se dedicou a uma “filantropia mais tradicional” até lidar com a doença mental de um de seus irmãos, o que acabou definindo sua atuação a partir de então.

“Comecei a trabalhar com doentes mentais que não ofereciam riscos para si, e decidi tentar reformar o sistema de saúde de Denver, cidade onde eu morava.” Quando servia como embaixadora dos Estados Unidos na Áustria, engajou-se num trabalho social voltado ao público feminino. “Na época, juntei várias mulheres para discutir a situação humanitária na Guerra dos Bálcãs, que acontecia naquele momento”, disse. “Lidamos com o fato de vivermos num patriarcado e termos de lutar por nosso lugar no mundo.”

Foi a visão de um mundo machista, por sinal, que fez Peter Buffet também voltar sua ação para a melhoria da condição das mulheres. A NoVo Foundation, presidida por ele, tem entre suas metas empoderar adolescentes do sexo feminino.

Encontro internacional de investidores sociais alia inovação social e histórias emocionantes

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu alguns dos maiores nomes da filantropia brasileira, além de importantes palestrantes estrangeiros.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Durante as boas-vindas, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, falou sobre a importância da criatividade (um ato individual que exige imaginação ) e da inovação (algo que é coletivo e demanda trabalho).  “A programação foi montada para inspirar reflexão e transformação. Com isso em mente, eu convido todos vocês a pensarem fora da caixa nesta tarde”, diz Paula. A presidente do GPF, Jane Wales, relembrou o começo do fórum no Brasil e destacou a qualidade do evento, dos palestrantes e dos participantes: “O desenvolvimento do Brasil é rápido, mas não inclusivo. O que faz este grupo memorável é que vocês todos compartilham o comprometimento ao desenvolvimento inclusive neste país maravilhoso”.

A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país. Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que contou que decidiu seguir pelo trabalho social inspirada pelos problemas de saúde de seu filho.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na mesma mesa, Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

A programação foi intensa e diversificada. Ao longo do dia, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do The End Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do Investimento Social Privado na comunidade, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando terminam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na hora do almoço, os participantes se dividiram em catorze mesas temáticas, conhecendo mais sobre diferentes assuntos relacionados ao investimento social privado.

Logo em seguida, houve um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres. Entrevistado por Helena Monteiro, Peter Buffet disse que “a filantropia é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, e a norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions contaram como ambas se aproximaram do investimento social privado. Enquanto o pai de Regina era engajado e transmitiu a ela o vírus da solidariedade (“quando era mais nova, meu pai já atuava na AACD e me transmitiu o cargo na entidade como uma das suas maiores heranças”), Hunt veio de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola e contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais. “Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Para finalizar, o professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia. Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon. Para comentar o assunto, estiveram presentes o economista brasileiro José Guimar

Esse é o terceiro Brazilian Philanthropy Forum. Segundo Paula Fabiani, a iniciativa, que possui apoio financeiro do Rockefeller Philanthropy Advisors, “tem se consolidado com um importante espaço de discussão e um passo importante para a criação de uma rede de filantropos no país”.

Com soluções de longo prazo e mais efetividade nas doações, milionários estão mudando a cara da filantropia

Não é de hoje que os donos de grandes fortunas figuram entre os principais doadores de projetos sociais, mas uma nova categoria de milionários está mudando a cara da filantropia mundial: são os indivíduos de alto poder aquisitivo.

Detentores de ativos líquidos no valor de US$ 30 milhões ou mais, estes indivíduos se caracterizam cada vez por investimentos em iniciativas filantrópicas que promovam soluções de longo prazo e pelo uso de seus conhecimentos empresariais para medir a efetividade dos projetos e maximizar seus retornos.

Isso é o que diz o relatório Philanthropy Report 2014, realizado pelas consultorias Wealth-X e Arton Capital com o objetivo de apresentar o perfil dos filantropos de alto poder aquisitivo e mostrar como eles estão impactando o ambiente do investimento social privado.

De acordo com o levantamento, o “ultra wealthy” (como é chamado em inglês) típico tem 64 anos e uma fortuna de cerca de US$ 240 milhões. Suas decisões acompanham a tendência de deixar de lado a filantropia tradicional em prol de um investimento social privado cada vez mais preocupado com seus impactos na sociedade. Nos próximos 30 anos, esses indivíduos devem fazer investimentos sociais privados (ISP) de US$ 300 bilhões.

Normalmente, a escolha de investimentos possui ênfase no empreendedorismo como instrumento de combate a desigualdades socioeconômicas e isso não é por acaso: o estudo aponta que 69% dessas pessoas criaram seus negócios a partir do zero.

“O debate vai além da ideia de ‘ensinar a pescar’ e se estende para garantir a infraestrutura financeira e institucional necessária para apoiar o surgimento de novos empreendedores”, afirma o relatório.

O desenvolvimento de metodologias de avaliação de impacto também teve um efeito importante sobre o novo perfil da filantropia. “Os novos retornos quantificáveis tornaram possíveis novos tipos de ação filantrópica, como a venture philanthropy e os investimentos de impacto.”

Um dos casos estudados pelo relatório é a atuação da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica de apoio ao setor de investimento social privado representada pelo IDIS no Brasil. “Vários filantropos com os quais trabalhamos querem doar recursos para o fundo de impacto social da CAF, que já investiu em 46 organizações no mundo todo nos últimos dois anos, e cujos recursos retornam aos doadores ou são reinvestidos em outras entidades”, diz o relatório.

IDIS e Gife reúnem investidores e organizações para apresentar o PL de Fundos Patrimoniais Vinculados

A sustentabilidade financeira é um desafio de toda organização social, mas, em países como Estados Unidos, Inglaterra ou França, os Fundos Patrimoniais Vinculados (ou endowments) funcionam como uma das formas de amenizar esse problemas e garantir recursos.

Por acreditar nos benefícios que os fundos patrimoniais podem trazer para as organizações, o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) é uma das organizações que mais incentiva a criação dos endowments no país e, juntamente com o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), promoveu encontros com instituições do terceiro setor e financiadores para apresentar e debater o projeto de lei 4643/2012, que trata dessa questão e atualmente está tramitando no Congresso.

Originalmente, o projeto, de autoria da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), tinha alcance restrito: previa a criação de endowments  exclusivamente para universidades federais. Um grupo formado por entidades da sociedade civil e membros do Ministério Público sugeriu um texto substitutivo, que foi apresentado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

“Antes, os fundos seriam apenas para instituições de educação, mas ampliamos o projeto para que ele contemplasse associações e fundações de qualquer tipo”, comentou o advogado Felipe Sotto-Maior, sócio da Vérios Investimentos e um dos participantes do grupo que elaborou o substitutivo.

“O fundo patrimonial é uma estrutura de doação com a condição de que o valor principal seja investido para financiar as atividades de uma organização social com os ganhos do investimento”, explicou a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, acrescentando que um dos principais efeitos desse instrumento é dar mais previsibilidade orçamentária para as organizações da sociedade civil. “As entidades corporativas, por exemplo, dependem do orçamento das empresas a que estão vinculadas e sofreram com a crise de 2008”, relembra.

Algumas organizações brasileiras da sociedade civil, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, já têm fundos patrimoniais, mas sem as regras de transparência e investimentos específicas, que dão mais segurança ao investidor e ajudam a garantir a perenidade da organização. Já com o projeto de lei, cria-se uma “figura jurídica autônoma e critérios mínimos de administração, o que significa”, afirmou Sotto-Maior.

A aprovação do projeto de lei, entretanto, não significa que todas as organizações precisem aderir ao novo sistema. “Essa é uma opção a mais”, enfatiza Paula.

Nesse momento, um dos principais empecilhos para os fundos patrimoniais é a questão fiscal. O secretário geral do Gife, André Degenszajn, avisa que as empresas que já têm fundos patrimoniais e queiram adequar-se à nova lei teriam de pagar o tributo de doação para o fundo constituído e que o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é estadual. “Essa é uma batalha que deve ser travada nos estados. A Assembleia de São Paulo já apresentou uma moção para que haja isenção em doações”, lembrou.

Após as eleições, a tramitação continua. A Secretaria-Geral da Presidência é um dos grandes incentivadores do projeto, que inclui como pontos o fim do título de utilidade pública, ponto defendido por grande parte das organizações. Para acompanhar as novidades, siga as redes sociais do IDIS.

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Doação ainda não é tratada como tema relevante no Brasil, diz Carol Civita

A necessidade de doar para entidades sociais é assunto ignorado no Brasil, avalia a investidora social Carol Civita, conselheira de uma das principais instituições sociais familiares do país, a Fundação Victor Civita, ligada a educação. “A cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação”, afirma ela em entrevista ao site do IDIS.

Entre os obstáculos para tal cultura se disseminar está o fato de que poucos doadores divulgarem que doam. “Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender.” O investimento social privado, no entanto, não depende apenas dos doadores, mas também das entidades, que, muitas vezes, falham na captação. Um dos erros, segundo Carol, é basear a captação em projetos. “Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer.”

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

 

IDIS: Como você vê o ambiente para o investimento social privado no Brasil?

Carol Civita: Temos alguns players, e continuam sendo os mesmos há bastante tempo. São muito poucas as pessoas engajadas em fazer doações, ou em se modernizar e fazer um endowment, ou se organizar com uma filantropia focada e direcionada. Continuamos com assistencialismo, caridade, mas muito pouco de doação organizada e focada. São sempre os mesmos players.

IDIS: Por que há esta limitação, a manutenção dos mesmos, sem a entrada de novas pessoas no mundo do investimento social privado?

Carol Civita: Muita gente diz que é porque o campo não é propício para a doação. Você pode, sim, alegar que não existem benefícios estabelecidos em leis. Mas eu não acredito que seja por isso. É muito mais uma questão cultural. Ainda não existe cultura da doação. Em outros países, a questão da doação – e eu não digo apenas financeira, mas também pessoal, o voluntariado, o engajamento com alguma causa – vem desde criança. Há escolas na Europa e nos Estados Unidos nas quais o serviço comunitário é obrigatório. Nós estamos muito longe disso. Não acho que temos de ter serviço comunitário obrigatório nas escolas, mas a cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação e que falam entre si.

IDIS: Existe um receio dos grandes players de exporem suas doações, de se colocarem como exemplo do investimento social privado para atraírem outras pessoas?

Carol Civita: Muita gente confunde a exposição com vaidade, e as pessoas não gostam de se mostrar dessa maneira. Se as pessoas não começarem a expor aquilo que fazem, fica difícil ter escala e seguir exemplos. Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender. Todo mundo quer fazer parte de um time que está ganhando. Se vejo que uma doação ou algum movimento em prol de uma causa está surtindo efeito, vou querer fazer parte disso. Agora, se eu for pensar sempre num projeto, num futuro, numa coisa que pode vir a acontecer, não me sinto tão empolgada com a história. A gente se empolga muito vendo os resultados. As pessoas podem ter receio do fisco, de ser mal interpretadas com as suas doações, mas tudo depende do seu ativismo e do seu discurso. Se tiver medo, não faz nada, porque tudo pode ter várias interpretações.

IDIS: Também falta às organizações “saber pedir”?

Carol Civita: Sem dúvida alguma. Vai cair uma enxurrada de críticas no que eu vou dizer: eu não acredito em projeto. Toda organização foi um projeto que se concretizou e se viabilizou. Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer. É muito complicado dizer o que se vai fazer, pois se está oferecendo para a pessoa comprar uma promessa, uma possibilidade. Hoje, o grande problema está nos projetos, especialmente aqueles feitos para agradar ao doador, e não necessariamente para beneficiar a instituição. Outra coisa: pedir não é vergonha. Temos no Brasil a questão de que aquele que está pedindo é um necessitado. Não, aquele que está pedindo é uma pessoa que está vislumbrando melhorias, não está necessitado.

IDIS: Além dos exemplos, que outras iniciativas poderiam ajudar a despertar a cultura de doação no Brasil?

Carol Civita: Muitas vezes, as pessoas captam recursos com dados, números, projetos, mas não envolvem o doador. Conhecer a causa que você abraça é fundamental. O que te move? Pelo que você quer ser lembrado? Qual o seu legado? Tenho muito medo das doações esporádicas e não focadas. A pessoa que doa uma vez para a saúde, depois para educação, outra para o meio ambiente acaba não se envolvendo com a causa. Cedo ou tarde ela para de ser uma doadora. É fundamental conhecer sua causa e ficar com ela, pelo menos por um bom tempo. Mesmo porque, dentro de famílias, quando se abraça uma causa deixa-se para os filhos e para as próximas gerações um legado de ativismo naquilo em que você acredita.

IDIS: Qual seria a diferença entre fazer investimento social como família e pela empresa da família?

Carol Civita: Se você atrela a doação à empresa, ela fatalmente vai ter outro sabor, o de estar ligada ao negócio, e não à causa da família. Quando consegue sentar para conversar sobre a doação como família, você raramente traz à tona algum assunto da empresa. Como empresa, fatalmente alguma coisa vai acontecer: estamos com problemas de caixa nesse mês, não podemos nos envolver nisso porque não combina com a linha de pensamento da empresa. Doar como família é uma excelente razão para juntar os familiares. Assim que as gerações vão passando, os membros vão aumentando, e isso faz com que cada vez menos eles se encontrem. Mas, se eles se encontrarem por uma causa, por uma paixão em comum, a vontade de ir ao encontro familiar é muito maior.

Cresce número de fundações que esgotam os recursos ainda durante a vida dos doadores

Algumas fundações criadas por famílias e indivíduos norte-americanos e as doações feitas por eles têm passado por uma mudança importante nos últimos anos. É cada vez mais comum que, em vez de deixar a administração de seus recursos também para as próximas gerações, eles invistam tudo enquanto estão vivos.

“Há cerca de 50 anos, apenas 5% do total dos recursos das 50 maiores fundações norte-americanas estava previsto para ser integralmente utilizado. Em 2010, a proporção é de 24%”, constata a colunista Veronica Dagher em artigo publicado no The Wall Street Journal.

A articulista cita uma conversa com o consultor financeiro Cassidy Burns, que lhe falou sobre um casal que tentava encontrar um sucessor para seu investimento social privado. “Seus filhos adultos tinha carreiras bem-sucedidas, estavam criando família em diferentes partes do país e simplesmente não tinham interesse nas mesmas causas que moviam seus pais”, escreve Veronica.

Assim, o casal decidiu gastar todos os recursos da fundação. “Eles não queriam que a organização social se tornasse um fardo”, relatou Burns. Mais do que uma história isolada, isto parece estar se tornando uma tendência. O mais famoso – e mais pródigo – casal do mundo filantrópico, Bill e Melinda Gates, é um dos exemplos dessa opção.

A colunista vê no desinteresse dos herdeiros um dos motivos para a mudança comportamental. Além disso, nota um interesse crescente dos filantropos em alcançar maior impacto com seu investimento social privado. “Há o desejo da parte deles de alcançarem mudanças efetivas ainda durante suas vidas.” Um terceiro motivo seria o controle maior que os doadores teriam sobre seus investimentos sociais.

Conselheiros entrevistados por Veronica alertam, porém, que a prática pode acarretar alguns problemas. Organizações que queiram esgotar seus recursos trabalham com um prazo limitado e não têm tempo de aprender com os erros. Tendem, ainda, a ter aversão ao risco, afastando-se de causas em que se leva mais tempo para obter resultados.

As fundações que fazem doações também têm de preparar seus beneficiários para o momento em que não mais poderão contar com os recursos. “Comunicar-se com os beneficiários os ajudaria a se preparar para quando as doações se encerrarem”, diz Veronica.

Essas fundações deveriam ainda se comunicar com outros doadores que possam levar adiante a missão quando aquelas tiverem usado todos os seus recursos.

Relatório da ONU ressalta importância do investimento social privado para metas de desenvolvimento

Em 2015, termina o prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) – uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo “Philantropy as an emerging contributor to development cooperation”, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

Para isso, aponta o material, o investimento deve ser feito de forma estratégica e com metas bem traçadas: “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de US$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a AIDS, malária e outras doenças, que recebeu em torno de US$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de investimento social privado brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

 

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Organizações sociais familiares também devem ser transparentes, diz especialista

A sucessão de gerações é um desafio no investimento social familiar. O envolvimento dos membros da família é fundamental, mas traz consigo dificuldades para a gestão de projetos, para um consenso entre visões de mundo diferentes e para o convívio pacífico entre os parentes. Nada disso, no entanto, afasta a necessidade de transparência nesse tipo de investimento.

Jean Whitney, membro da Associated Grant Makers e experiente consultora de filantropia familiar, escreveu sobre o assunto no site Family Giving News. Em seu artigo, ela pondera que muitas famílias preferem investir na área social de forma reservada, sem chamar atenção. Por outro lado, existe a necessidade de que todas as organizações da sociedade civil prestem contas ao público, o que obriga a algum grau de abertura.

De acordo com Jean, a discussão interfere até no impacto das ações do investimento social familiar. “Será que uma fundação pode ser confiável, criar parcerias e conseguir seus objetivos sem transparência?”, questiona a autora, que deixa bem clara sua posição: “com os avanços da tecnologia e das mídias sociais, a questão hoje não é ser ou não ser transparente, mas sim como ser transparente”.

No artigo, ela apresenta o site Glasspockets (http://www.glasspockets.org/), que elenca 23 indicadores de transparência para organizações da sociedade civil de perfil familiar e cujo nome vem de uma frase do banqueiro Russell Leffingwell, membro da diretoria da Carnegie Foundation e que afirmava que todas “as fundações deveriam ter bolsos de vidro”, (glasspockets, em inglês).

Relembrando um fórum de que participou recentemente, Jean citou que um dos temas discutidos foi se a transparência deveria envolver os “produtos” das organizações familiares (doações para projetos, resultados das estratégias) ou os “processos” (deliberações da diretoria, forma de tomada de decisões, planejamento interno).

Segundo ela, “muitas organizações familiares diriam que divulgar publicamente muitos de seus processos internos é difícil e desnecessário”. Porém, buscar a transparência pode ser um processo bem mais simples do que se pensa: “deve-se começar criando um site no qual a família conta sua história, fala sobre seus interesses e divide suas inspirações”, diz Jean, lembrando que muitas vezes estas histórias acabam sendo, de fato, muito inspiradoras.

 

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Jogo de dinheiro escondido vira febre nos EUA, mas está longe de ser investimento social

Parece cena de ficção. Num dos municípios mais populosos da Califórnia, São Francisco, uma pessoa esconde dezenas de pacotes de dinheiro com de US$ 20 a US$ 200 e dá pistas do “tesouro” por meio do Twitter. Centenas de internautas saem correndo por ruas e parques, seguindo as dicas postadas na rede social.

Foi assim que começou uma das febres recentes nos Estados Unidos, o @HiddenCash, que já tem mais de 700 mil seguidores. O autor da ideia, logo chamado de “filantropo anônimo” por parte da mídia norte-americana e europeia, repetiu a iniciativa em outras cidades: Sacramento (também na Califórnia), Los Angeles, Nova York, Cidade do México, Londres, Madri.

Sua identidade foi revelada em junho. Trata-se de Jason Buzi, um empresário do setor imobiliário. Durante suas manifestações, anônimas ou não, ele fez diferentes tipos de declarações: já classificou o @HiddenCash como apenas um jogo divertido, como algo que “não substitui o investimento social privado” e como um movimento para estimular outros ricos a fazerem o mesmo. Na página na rede social, a ideia é oficialmente autodenominada “uma experiência social anônima em prol do bem”.

“Retribuir é pelo menos tão recompensador quanto fazer um bom investimento, receber grandes pagamentos ou fazer muito dinheiro”, disse Buzi em entrevista à CNN. Em outro momento da conversa, afirmou: “não tem nada de movimento político, não tem nada de movimento religioso, não tem nada de movimento empresarial. O movimento é distribuir atos de bondade e pôr um sorriso no rosto das pessoas”.

Ainda que a iniciativa tenha sido chamada várias vezes de filantropia anônima, está claro que não se trata disso. “Deixar quantias relativamente pequenas de dinheiro para pessoas aleatórias (que estão no Twitter com tempo de sobra) pode não ser classificado como ‘retribuir’ na avaliação de todos”, escreve a colunista Susan Berfield, da Bloomberg Businessweek. Ela cita, por exemplo, que as pessoas postam no Twitter que gastam o dinheiro com ingressos para jogo de beisebol, pizza com colegas de trabalho ou uma noite num bar.

O professor Richard Marker, da Universidade de Nova York, resumiu bem a questão, explicando que a filantropia envolve três estágios: compaixão, estratégia (em que se pergunta: está dando certo?) e sistematização (em que se pergunta: minha ação está impactando todo o contexto do problema?). “O @HiddenCash está apenas no primeiro estágio”, diz Marker.

 

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Burocracia, falta de exemplos e de incentivos travam doações no Brasil, dizem investidores sociais

Quais são os principais desafios do investidor social? O site do IDIS fez essa pergunta a duas personalidades da área: Fernando Stickel, diretor da Fundação Stickel, e Denis Minev, um dos fundadores da Fundação Amazonas Sustentável. Entre os pontos mencionados estão burocracia, incentivos legais ainda limitados e falta de doadores que sirvam de exemplo para a sociedade.

Segundo Stickel, faltam incentivos e a questão burocrática é tão grave,  que ele chegou a pensar em desistir do trabalho social depois de dois anos à frente da organização, fundada por seus pais em 1954.  Ele assumiu a entidade em 2004, e avalia que nada mudou nesse sentido desde então.

Já Denis Minev, que faz investimentos sociais variados no Amazonas, estado em que vive, lembra que existem incentivos para temas como cultura, mas faltam ainda normas para estimular, por exemplo, o trabalho voluntário. “Incentivos fiscais são importantes e certamente ajudam um ambiente filantrópico”, comenta.

Stickel diz que é preciso uma legislação que efetivamente fortaleça o investimento social privado. “Tem que implementar várias coisas que são apenas faladas para, assim, mudar o padrão do comportamento”, diz, acrescentando que o projeto de lei para regulamentar os fundos patrimoniais foi um importante passo nessa direção.

Minev ressalta a necessidade de casos que sirvam de modelo para outras pessoas. “A liderança pelo exemplo é, em geral, mais eficiente do que pelo discurso. Precisamos de exemplos de porte como catalisadores. A inclinação geral para doar é baixa.”. Na mesma linha, Stickel diz que as “instituições sérias que recebem doações e conseguem mostrar seu trabalho acabam servindo de exemplo para incentivar a cultura de doação no Brasil”.

Mas ressalta que há problemas também no modo de pensar da elite. “Acredita-se que é suficiente pagar impostos, e o governo deve cuidar do resto”, afirma Minev. “Nossas elites não têm bom conhecimento de nossa própria sociedade. A classe A se isolou, a distância entre as classes é grande e impede a formação de empatia social.”

Stickel, porém, vê alguns avanços importantes. “O terceiro setor tem se movimentado mais, há várias iniciativas interessantes de entidades como o Gife e o IDIS, que estão realizando encontros e também têm pressionado o governo para que se façam mudanças que beneficiem o setor”.

Três Passos para o Planejamento Sucessório

O processo de sucessão em organizações que realizam investimento social familiar é tema do artigo “Three steps in planning for succession”, escrito por Amy Ellsworth, membro da The Philanthropic Initiative (TPI).

artigo foi publicado na edição de dezembro de 2007 da revista eletrônica Essentials, organizada trimestralmente pela Association of Small Foundations, e destaca que o envolvimento das gerações mais jovens é um dos principais desafios das fundações familiares.

A autora determina três etapas que facilitam a criação de uma cultura filantrópica nos possíveis sucessores e garantem que o compromisso proposto pela organização seja mantido.

O primeiro passo é a determinação dos objetivos da fundação em relação à próxima geração. Nesse quesito, a manutenção da missão estabelecida pelo doador é uma das principais preocupações das fundações familiares. Muitos doadores consideram importante escrever uma carta de intenção, isto é, um documento que explica o que levou os fundadores da organização a alocar recursos da família para benefício público.

A união familiar também é uma característica importante nesse processo. A autora aponta, porém, que é necessário determinar os limites da relação pessoal e o início da responsabilidade em relação à fundação. “Ajude você mesmo e sua fundação ao definir limites cedo, e com clareza”, destaca.

O roteiro de sucessão também deve prever a criação de habilidades e competências em integrantes da próxima geração. Esse processo facilita a gênese de sucessores mais bem preparados.

A próxima etapa é a definição de quem será envolvido no processo. Escolher os integrantes – crianças, netos, pessoas não-pertencentes à família –, além de tomar decisões sobre elegibilidade são difíceis. Os responsáveis devem levar em consideração os objetivos, características e cultura da organização e da família.

O último item está relacionado à criação de um processo interno que seja compatível com a família. A forma pela qual as decisões serão tomadas, a importância dos membros mais antigos ou dos não-familiares são questões técnicas e fundamentais na longevidade de uma fundação familiar.

A autora conclui esclarecendo que as questões sucessórias são sempre delicadas. A implementação de um roteiro de sucessão permite ao restante da família clareza de quem será envolvido e por que, além da oportunidade de continuar a gerar impacto na comunidade.

Veja o texto original, em inglês.

 

Saiba mais

O planejamento de doações familiares é objeto de estudos e orientações em várias instituições. A The Philanthropic Initiative planeja, desenvolve e valida programas filantrópicos tanto de doadores individuais e famílias, além de projetos corporativos.

Também nesse sentido, a The Columbus Foundation oferece um guia para aqueles que pretendem realizar investimento social familiar. Embora esclareça que o processo é único para cada família, o site disponibiliza cartilhas que discorrem sobre a criação de uma cultura de filantropia no núcleo familiar, principalmente no engajamento de crianças. Conheça os textos da The Columbus Foundation aqui.