É no território que o conhecimento ganha corpo e sentido: cada experiência, cada encontro e cada gesto coletivo se transformam em aprendizagens vivas, que não apenas ajudam a solucionar desafios locais, mas inspiram novas formas de pensar e agir no mundo. É nessa perspectiva que o Programa Transformando Territórios (TT) atua, fortalecendo e apoiando as Fundações e Institutos Comunitários (FICs) de base territorial no Brasil. Durante o ciclo do programa de 2024 e 2025, uma das principais estratégias adotadas pelo TT foi incentivar intercâmbios entre FICs participantes e com organizações estrangeiras. Ao todo, foram realizados 6 intercâmbios que envolveram 10 organizações e mais de 30 lideranças, em 4 países e 7 estados brasileiros.
Entre as premissas está a criação de um ambiente fértil para que essas organizações floresçam e aprendam continuamente. Nesse caminho, os intercâmbios se revelam como uma estratégia potente de desenvolvimento: ao conectar diferentes FICs no Brasil e no mundo, permitem que cada uma reconheça em si e no outro novas formas de avançar, traduzindo experiências em aprendizagens coletivas que ressoam para muito além do território visitado. A prática da troca amplia repertórios, provoca reflexões e gera a confiança necessária para que o aprendizado se transforme em ação concreta, fortalecendo tanto as organizações quanto o ecossistema da filantropia comunitária territorial.
Em 2025, o Programa Transformando Territórios participou de um intercâmbio com a Comunidad de Organizaciones Solidarias (COS), apoiado pelo Connecting Communities in the Americas (CCA). Paralelamente ,acompanhamos algumas FICs do programa em processos de intercâmbio, também viabilizados pelo CCA. Esse movimento acontece em um momento especial de fortalecimento das trocas e aprendizagens dentro do coletivo de FICs, que tem se tornado cada vez mais participativo por meio de grupos de trabalho e iniciativas conjuntas. Nesse contexto, apenas no primeiro semestre, realizamos quatro intercâmbios entre organizações do grupo e, além disso, promovemos um encontro presencial de lideranças do TT na FEAV (Fórum de Entidades Assistenciais de Valinhos) em Valinhos, interior de São Paulo, um marco simbólico para o coletivo, por acontecer justamente no território de uma das próprias FICs.
O “arrumar a casa” – antes e depois do encontro
Assim como quem se prepara para receber uma visita querida, os intercâmbios mobilizam as organizações anfitriãs a revisitar as próprias práticas e repensar o que desejam compartilhar com terceiros. Esse movimento de “arrumar a casa” vai muito além da logística: torna-se um momento de autoavaliação, em que as organizações revisitam apresentações institucionais, organizam documentos e práticas e promovem a aproximação de grupos do território em novas combinações e olhares compartilhados. Esses gestos, que parecem simples, têm efeitos profundos e duradouros: fortalecem a identidade institucional, ampliam a articulação comunitária e geram aprendizados que continuam reverberando mesmo após a despedida dos visitantes, contribuindo de forma concreta para o desenvolvimento da organização.

Fundação Comunitária de Cajamarca em Maceió
Carlos Jorge, presidente da Mundaú Mundo, participou do intercâmbio do CCA com a Fundación Comunitária de Cajamarca, no Peru, e também da visita ao Instituto Comunitário de Sergipe (ICOSE), dentro do intercâmbio triplo de FICs apoiado pelo CCA. Para ele, essas experiências fazem as organizações ressignificarem o próprio papel no território e despertarem um olhar renovado para as oportunidades já presentes no ecossistema das FICs. O relato dele evidencia como os intercâmbios funcionam como uma ação estratégica de fortalecimento institucional: ao praticar a alteridade, as organizações não apenas aprendem com o outro, mas também se enxergam de maneira mais nítida, reconhecendo potencialidades e fragilidades, e transformando esse processo em motor de desenvolvimento.
“Com as trocas de aprendizagem que a CCA conseguiu oferecer a 36 organizações em 9 países, vemos um ecossistema crescente e interconectado que pode superar os desafios que trabalhar sozinho não consegue. Tem sido incrível ouvir as histórias de como os líderes comunitários estão inspirando uns aos outros e compartilhando estratégias e ferramentas para que cada um trabalhe de forma mais eficaz em seu próprio território.”, comenta Lisa Schalla, Diretora de Projetos do Connecting Communities in the Americas Connecting Communities in the Americas
Ao receber a visita do programa Coterráneos (Chile), a equipe do TT realizou a primeira visita ao Fundo Comunitário Perifasul M’Boi, após a aprovação do novo estatuto que formalizou essa FIC como uma organização independente. Esse marco, foi simbólico não apenas pela conquista institucional, mas também por possibilitar que o Coterráneos conhecesse de perto um território de São Paulo conduzido por uma FIC recém-constituída e relacionasse essa vivência ao processo que estão desenvolvendo com as FICs do Chile.

Equipe da Coteráneos em visita ao Fundo Comunitário Perifasul M’boi
Outro marco relevante ocorreu em Paraty, quando o Instituto Comunitário de Paraty (ICP) recebeu a equipe da Fundacíon Punta de Mita. A visita coincidiu com a Festa do Divino, celebração profundamente enraizada na cultura local, e ganhou força ao envolver a comunidade em uma gincana tradicional, criando um espaço genuíno de troca entre organizações e comunidade. Para o recém-formalizado ICP, foi a oportunidade de se mostrar à cidade, afirmar a identidade local e fortalecer o reconhecimento junto a diferentes atores sociais.
Territórios e diálogos
A diversidade da América Latina e a singularidade que cada FIC nos levaram à expressão: “conheça uma FIC e você terá conhecido apenas uma FIC”. Essa variedade é, na verdade, fonte de riqueza e potência. A multiplicidade de histórias e contextos, somada a desafios comuns e a semelhanças nos cenários políticos e econômicos, torna os intercâmbios ainda mais valiosos. Eles celebram a diversidade dos territórios e, ao mesmo tempo, constroem pontes de aprendizagem que inspiram, aproximam realidades e abrem caminho para a circulação de saberes locais e a criação de novas tecnologias sociais.
“A participação de FICs em iniciativas como essa é essencial. Muitas vezes, o trabalho cotidiano nos coloca em um ritmo intenso, que nos distancia do olhar estratégico e da troca genuína. Intercâmbios como o do CCA nos tiram desse modo automático e nos lembram que há muito a aprender com quem está do outro lado da ponte. Eles nos renovam, nos provocam e nos conectam — como organizações e como pessoas”, compartilhou Cristine Lenz, do ICOSE.
Como aponta Cristine, sair do ritmo acelerado e adotar uma nova perspectiva nos convida a vivenciar aprendizados transformadores, capazes de impactar a forma como as organizações atuam. Em outros territórios, encontramos organizações que, mesmo em contextos distintos, enfrentam dilemas semelhantes e nos inspiram a enxergar soluções novas e a ressignificar nossos próprios desafios.
Aprendizagens que transformam
Chamamos os intercâmbios de metodologia porque eles não acontecem de forma casual: são pensados e praticados como um processo estruturado que integra preparação, vivência e sistematização de aprendizados. Essa intencionalidade transforma encontros em conhecimento aplicado, fortalecendo tanto cada organização individualmente quanto o ecossistema das FICs como um todo.
O que essa trajetória nos mostra é que os intercâmbios se consolidam como uma estratégia de fortalecimento, pois reúnem, em um mesmo movimento, a oportunidade de olhar para dentro e de abrir-se ao novo. Ao preparar-se para receber ou visitar outra organização, as FICs revisitam práticas, organizam informações e refletem sobre sua atuação no território. No contato com outras realidades, exercitam a alteridade, reconhecendo semelhanças e diferenças que inspiram soluções criativas e adaptadas a cada contexto.

Equipes do ICOSE, FEAV, Mundaú e FUNDAES em intercâmbio em Sergipe, onde está localizada o ICOSE
Esse processo inaugura ciclos de aprendizagem contínua, que vão além do momento da troca e se desdobram em mudanças concretas na gestão e na relação com a comunidade. Mais do que uma atividade, os intercâmbios configuram-se como um caminho de desenvolvimento organizacional de alto impacto e baixo custo, capaz de ampliar repertórios, fortalecer identidades e transformar a diversidade dos territórios em potência de aprendizagem coletiva.
Ao promover inovações em rede, fortalecer relações, abrir novos olhares e estimular a circulação de saberes locais, os intercâmbios revelam que, quando territórios aprendem juntos, enraízam conhecimento, inspiram inovação e constroem o futuro que o Programa Transformando Territórios acredita ser possível.
Por Carla Irrazabal e Rosana Ferraiuolo, analista e gerente do programa Transformando Territórios




O Instituto Comunitário Paraty integra o programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social em parceria com a Mott Foundation e apoio do Movimento Bem Maior, para fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil.





































O Programa Transformando Territórios é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation para fomentar a criação e fortalecimento de 



































Estas organizações atuam como grantmakers, ou seja, financiam projetos e iniciativas sociais em múltiplas causas para endereçar as demandas e prioridades da região. Além disto, Institutos e Fundações Comunitárias fortalecem o terceiro setor da região com capacitações e apoio técnico, investem na produção de conhecimento e fomentam a cultura de doação no território onde atuam.
O Programa Transformando Territórios é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation que tem como missão fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil, com o engajamento de doadores e sociedade civil, compartilhamento de conhecimento e apoio técnico. São parceiros institucionais BrazilFoundation e GIFE.

ar na sede fazendo atendimento ao público, presencialmente ou por telefone e e-mail. Estamos trabalhando em criar canais de comunicação com nossos públicos, construindo uma trajetória de transparência nos resultados. Podemos dizer que, hoje, a credibilidade é um de nossos pontos fortes”, conta, ressaltando que a FEAV tem parcerias não somente com a administração municipal, mas com empresas, instituições de ensino, condomínios, escolas e outras entidades de Valinhos. Atualmente são 10 OSC´s associadas a FEAV.












Das cinco subprefeituras de São Paulo com o maior número de favelas, três estão localizadas na periferia sul da cidade. M’Boi Mirim é uma delas, com 42.350 casas em favelas. Além disso, a subprefeitura da região apresenta uma grande diversidade de necessidades e potencial de desenvolvimento, além de ser familiar a grande parte dos integrantes do Comitê, um campo fértil para a atuação em rede. A área também reúne movimentos culturais muito fortes e abriga duas fábricas de cultura, a do Capão Redondo e a do Jardim São Luís.
O Fundo Comunitário Perifasul M´Boi Mirim integra o Programa Transformando Territórios, uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – com a Charles Stewart Mott Foundation para fomentar a criação e o fortalecimento de Institutos e Fundações Comunitárias no Brasil.





















Em dezembro de 2022, com as tempestades que atingiram o estado de Santa Catarina, foi declarada situação de calamidade pública em inúmeros municípios. A Grande Florianópolis foi fortemente atingida pela catástrofe, especialmente as áreas de maior vulnerabilidade social. Com a reputação e a legitimidade de quem atua na região há quase duas décadas, o
2018, a organização criou o importante
A história do ICOM começa em 2005, a partir da reunião de um grupo de mulheres – profissionais liberais, empresárias, professoras universitárias, lideranças do terceiro setor e profissionais com experiência no setor público – inspiradas pelo movimento das fundações comunitárias em outros países. Fazia parte do grupo, Lucia Dellagnelo, fundadora do ICOM e embaixadora do programa 











, promovendo transparência e engajamento.
Instituto Baixada 
Rede de Organizações do Bem
Fundação ABH
FEAV: Fórum das Entidades Assistenciais de Valinhos 
ICOM: Instituto Comunitário Grande Florianópolis 
















Para disseminar o conceito da filantropia comunitária e engajar doadores, o Transformando Territórios conta com cinco embaixadores: Beatriz Johannpeter, Helena Monteiro, José Luiz Egydio Setúbal, Lúcia Dellagnelo e Maria Alice (Neca) Setúbal. Ao longo do ano, com apoio do IDIS e da Levisky Legado, dois embaixadores e a filantropa Betty Feffer promoveram eventos para um número restrito de convidados, que puderam debater o tema, conhecer exemplos práticos e planejar estratégias de apoio.


A visita também inclui um encontro entre investidores sociais e a fundação americana. Nick descreveu o conceito de Fundações Comunitárias, apresentando o trabalho da Mott e seu interesse em implementar esse modelo de organização ao Brasil. Em seguida, Raquel Altemani comentou sobre os resultados e insights adquiridos ao longo da pesquisa de mapeamento de organizações comunitárias no Estado de São Paulo em 2018, estimulando o debate e o compartilhamento de percepções entre os investidores sociais.
